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2121 por Cristiane Schwinden

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Palavras: 4550
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Capítulo 12 - Exegese

Sam andava de um lado para o outro, longe do carro, esperando a ligação ser atendida.

– Lynn? Pode falar agora?

– Posso, aconteceu alguma coisa?

– Eu estou surtando. – Falava com sofrimento.

– Você não pode surtar, você não tem tempo para surtar.

– Eu… Eu não sei o que está acontecendo, não estou me reconhecendo, estou explodindo por dentro.

– É a situação, irmã. Você está com uma carga muito pesada, e ainda por cima tem essa data limite. Tente não pensar nisso agora, mantenha o foco na busca, você me disse que está no caminho certo.

– E estou, não sei se o problema realmente é esse. Eu estou diferente. – Sam ficou em silêncio. – Lynn, acho que você tinha razão, eu não deveria ter me apegado à Theo.

– O que ela aprontou com você?

– Nada. Quer dizer, nada que eu tenha percebido. Mas a situação está fora do controle, eu estou sentindo umas coisas estranhas.

– Que coisas estranhas?

Sam hesitava em falar.

– Estou tendo uns pensamentos… Você sabe. Pensamentos com ela. Inclusive sonhei com isso.

Foi a vez de Lynn ficar em silêncio, antes de falar.

– Isso é loucura, é a coisa mais absurda que poderia me contar.

– Eu sei!

– Escute, você está dando atenção demais à isso, e à ela. Mantenha uma distância emocional, não se envolva mais. Não supervalorize isso, é apenas carência sua, por estar longe da família a tanto tempo, e carência afetiva por estar longe de Mike, você está projetando essas carências nela, porque ela está ao seu lado nesse momento, e você está numa situação delicada.

– É grande Lynn, é algo que eu não estou sabendo lidar.

– Procure por Deus, Ele é o único que pode te ajudar agora, ore, peça à Ele sabedoria para lidar com essa garota e com toda a situação, para te afastar de pensamentos pecaminosos. Ligue com mais frequência para Mike, você está com saudades dele, é normal sentir falta e ficar assim sensível, é seu noivo que você tanto ama, seu porto seguro.

– Farei isso.

– Mantenha a cabeça fria, pense racionalmente. E mantenha-se longe dessa garota, você não tem culpa do que está acontecendo, a culpa é da situação e dela.

– Obrigada por me ouvir, Lynn, você sempre tem algo sábio para me acalmar.

– É Deus trabalhando através de mim, sou apenas um instrumento Dele.

***

Viajaram novamente em silêncio, cada vez mais estes silêncios eram dolorosos e incômodos.

– Eu estive pensando… – Theo ousou interromper o silêncio no início da tarde. – Se o cara que procuramos, Odín, foi mandado embora por falar demais, ele deve ser persona non grata para quem está por trás destas vacinas e do Beta-E.

– Sim. E?

– Talvez ele tenha ligação com o outro lado, talvez ele faça parte ou conheça pessoas da militância anti governo.

– Anti governo? A militância que você fazia parte, ou diz fazer parte.

– Eu estive envolvida por um tempo, menos do que gostaria, não tenho contatos importantes. Mas talvez Odín tenha bons contatos, acho que é isso que precisamos arrancar dele.

– Eu quero arrancar a localização do laboratório que fabrica o Beta-E. – Sam já não estava mais com a testa enrugada, como estava até então.

– Ele não vai ter. Desculpe, não é pessimismo, mas se ele soubesse já estaria morto.

Sam dirigiu pensativa em silêncio por um instante.

– É, é provável.

– Acho que ele não vai ser resistente em nos ajudar, mas temos que abordá-lo de forma discreta, tenho certeza que ele é monitorado dia e noite.

Sam concordou, assentindo com a cabeça.

– O que é Beta-E? – Perguntou de forma direta.

– Eu não sei. – Theo respondeu prontamente.

– Sabe, mas não quer me falar por medo que eu te abandone, é seu trunfo, não é? Sua carta na manga.

A animação de Theo foi embora novamente.

– Eu não sei o que é, ouvi boatos sobre as vacinas, mas não faço ideia do que seja Beta-E, nunca ouvi falar.

– Então me conte os boatos.

– É melhor eu não te contar, são várias vertentes, já disse isso, pode te orientar para suposições erradas.

– Balela. Mas saiba que isso não vai me impedir de te largar em algum lugar.

Theo riu.

– Sam, você é mais inconstante que uma rapsódia de Liszt.

– Vou tomar como elogio.

Theo apenas suspirou, fechou os olhos e deitou a cabeça no banco.

Sam não estava se comportando desta forma com total ciência do que fazia, era seu modo de lidar com o desconhecido, morria de medo do que desenvolvera dentro dela, um monstro sem face. A cada palavra esbravejada, sentia-se mal e culpada, estava odiando a si própria, mas naquele momento evitar qualquer aproximação de Theo era o objetivo, afastar o problema o tirando de vista.

– Você deve estar com fome. – Sam comentou, com a voz comedida.

Theo balançou a cabeça, confirmando.

Comeram num restaurante anexo à um posto, de forma rápida e sem trocar palavras, logo já estavam novamente na estrada.

– Tome. – Theo tirou um monte de notas amassadas de dentro da jaqueta.

– O que é isso?

– Você está ficando sem dinheiro.

– Onde conseguiu?

– Do caixa.

– Vamos devolver.

– Quem você acha que precisa desse dinheiro no momento? Você ou o dono de uma rede de postos e restaurantes?

Sam tomou com grosseria as notas da mão dela, deu uma olhada e guardou no bolso da calça.

– Onde aprendeu a roubar? No bordel? Roubava os clientes?

– Não comece. – Theo fechou o semblante.

Tarde da noite, mais tarde que o usual, Sam finalmente parou o carro dentro de um galpão industrial desabitado, não havia muito mais que paredes de concreto nuas e restos metálicos.

Era visível o desconforto de ambas, Sam policiava-se o tempo todo para não olhar para sua companheira de viagem, e Theo queria uma forma de acabar com aquele clima ruim. Ela faria sua última tentativa, enquanto jantavam sentadas lado a lado numa viga metálica.

– Sam… Não sei o que te fez mudar da noite para o dia, mas saiba que pode conversar comigo, seja o que for. Prometo te entender e não fazer julgamentos. – Theo começava, de forma cuidadosa.

– Não vou conversar sobre isso com você.

– Está com medo de não conseguir o coração novo? Medo faz parte, eu te entenderia se de repente você percebesse do quão real é o risco de não conseguir sobreviver, e um desespero surgisse do dia para a noite. Tem um ditado que diz que a única coisa mais forte que o medo é a esperança, você deveria acreditar nisso.

Sam apenas exasperou, fitando o chão. Theo continuou, no mesmo tom.

– Só não entendo porque você começou a me tratar assim, não entendo como isso pode amenizar seu desespero. Fiz algo que não devia? Eu não sou sua inimiga, não te quero mal, nem estou te usando.

– Não? – Sam perguntou com ironia.

– Não. Ok, eu não enxergo e sua ajuda é bem-vinda, sou imensamente grata, mas não tenho culpa disso. Talvez eu devesse ter pedido à você para me deixar em algum abrigo, mas eu quero continuar ao seu lado, não apenas porque acho que posso te ajudar, mas porque gosto.

– De mim?

– Ãhn… Sim, eu gosto de você.

– Como amiga?

– Claro, como amiga e parceira de viagem.

Sam balançou a cabeça, assimilando. E era tão fácil aquela enxurrada de sentimentos brutos e confusos surgirem. Percebeu o escudo baixando, e voltou a erguê-lo.

– Isso não muda o fato que você é um fardo para mim.

– É assim que você me enxerga? Só isso, um fardo?

– Um desajeitado e pesado fardo. – Sam levantou-se impaciente, começou a guardar as coisas, Theo permaneceu ainda algum tempo sentada e pensativa.

– Levante-se, já é tarde, temos que dormir.

– Já vou. – Falou sem mover-se, mantinha o mesmo olhar perdido adiante.

– Vai ficar pensando na morte da bezerra? Vá logo para a cama, já não basta me atrasar todas as manhãs? Vai me atrasar as noites também?

Theo movia agora seus olhos na direção de Sam, como se a procurando.

– Oficial, prometo que não irei mais atrasar suas manhãs. – Falou firme, e foi para o colchão.

***

O comunicador despertou quinze para as sete, como todas as manhãs. Sam havia incorporado o hábito de acordar quinze minutos antes para preparar o café, sem acordar Theo. Eram os minutinhos extras que ela lhe dava de presente para que dormisse.

Virou-se com preguiça no colchão, e imediatamente estranhou o vazio ao seu lado. Levantou-se, olhando ao redor com as sobrancelhas baixadas.

– Theo?

Continuou olhando, mas não havia muito o que olhar, era um galpão simples e sem divisórias.

– Theo? Onde você está? Theo?

Foi correndo até o carro, mas não havia ninguém lá. Circulou por todo o galpão, e ainda com os pés descalços foi para o lado de fora. Nada por lá também. Voltou ao canto onde estava o carro e o colchão, uma sensação ruim subia pelo estômago.

– Theo! – Gritou o mais alto que pode.

Levou as mãos à cabeça quando se deu conta do que significava a última frase de Theo antes de dormir. “Prometo que não irei mais atrasar suas manhãs.”

Theo havia ido embora.

– Você não fez isso. Você não faria uma estupidez destas. – Falava sozinha, tentando controlar o pânico.

Agora olhava ao redor como numa câmera lenta, assimilando, se dando conta de como seria sua busca a partir de agora, solitária. Viu o carro vazio, a cama vazia, um silêncio que apontava o dedo em riste, a culpando pelo abandono de sua companheira de viagem.

– Não… Não… – Balbuciou.

Guardou tudo rapidamente na caminhonete, e saiu do galpão. Ao chegar na estrada, não sabia sequer para qual lado ir, não fazia ideia de onde procurar por ela.

– Garota… Para onde você foi? Ok, se eu fosse cega e não tivesse para onde ir, o que faria?

Olhou ao redor, pensativa, tamborilando os dedos no volante.

– Buscar abrigos. – Ordenou ao localizador do carro.

O sistema mostrou meia dúzia de lugares com a alcunha de abrigo num raio de duzentos quilômetros. Tomou o rumo à sua direita, para o sul, onde ficava o abrigo mais próximo, andava lentamente, observando os acostamentos, em busca de Theo.

“Talvez ela ainda esteja andando por aí, sem rumo. Ou talvez tenha tomado uma carona. Se pegou uma carona, já deve estar longe. Que horas será que ela saiu?”

Esfregava a mão no rosto, tentando organizar os pensamentos, mas quando imaginava que ela poderia estar vagando sozinha, ou pior, que algo de ruim lhe acontecera, o coração palpitava.

Nada no caminho, nada no primeiro abrigo investigado. Nem no segundo. Naquela direção não haveria nada parecido nos próximos duzentos quilômetros. Voltou ao ponto de origem, chegando à proximidade do galpão por volta do meio-dia.

Fez uma nova busca no galpão e nas adjacências, voltou para o carro e comeu uma refeição pronta rapidamente, antes de retomar a estrada.

Tomava agora o rumo norte, onde encontraria mais dois abrigos. A via sacra pelos abrigos tomou a tarde inteira, não percebeu o tempo passando e a noite chegando, nunca esteve tão focada em algo como nesta busca por Theo.

Quatro tentativas e nenhum sinal dela, os outros dois que restavam eram em lugares afastados e distantes um do outro, não chegaria em nenhum deles num horário decente, resolveu parar para dormir, retomaria na manhã seguinte.

Passava alguns minutos das dez da noite, já havia ajeitado sua cama, tomado banho, terminava de comer alguma coisa para enfim descansar. Correu os olhos para dentro do carro e pode ver pela janela a bolsa marrom aberta, com os poucos pertences de Theo. Foi o suficiente para que pensamentos ruins impedissem que ela terminasse a refeição, a garganta fechou-se, imaginou onde Theo poderia estar agora, todas as situações que ela poderia ter se metido. Ligou para sua irmã.

– Por que está me ligando essa hora? É madrugada aqui, tive que vir para a sala te atender.

– Desculpe, estou em pânico e não sei o que fazer, precisava conversar com você. – Falava esfregando a mão no peito, como se lhe faltasse ar.

– Ok, me diga o que aconteceu. – Lindsay bocejou.

– Ela foi embora.

– Que bom, isso não é bom?

– Não, não é! Ela fugiu no meio da noite passada, passei o dia inteiro à procurando pelas ruas e em abrigos, mas não a encontrei.

– Vai ser melhor para você seguir sozinha.

– Eu quero Theo ao meu lado de novo, Lynn… – Sam começava a chorar.

Sua irmã deu um longo suspiro antes de falar.

– Há males que vem para o bem, ela deve estar bem melhor agora, em algum albergue ou algo parecido, sendo cuidada por pessoas especializadas. Essa menina era uma pedra no seu sapato e você deveria estar feliz por ter ido embora.

– Por favor, não fale assim… – Sam chorava copiosamente à esta altura. – Eu não quero continuar sem ela… Eu a expulsei sem querer, eu a tratei mal, a ofendi, ela não aguentou e foi embora. A culpa é minha.

– Foi a vontade dela, você tem que respeitar.

– Não, a vontade dela era de continuar comigo, ela me disse. Lynn… Ela pode estar sozinha na rua agora, ou alguém pode ter lhe feito mal, ela nem enxerga, é tão fácil lhe fazer mal. Não sei se está bem, se está com fome, ou machucada, isto está me matando. – Soluçava.

– Ok, acalme-se. Eu sei o quanto você se apegou à ela, então vou evitar essa parte. Eu acho que você precisa continuar sua jornada como havia programado, você não pode perder tempo e sabe disso. Depois que você conseguir o coração novo terá todo tempo do mundo para procurá-la, não concorda?

– Não. – Parecia uma criancinha chorando desesperada. – Eu não quero procurá-la depois, eu quero agora, eu preciso dela agora.

– Não perca tempo a procurando, ela deve estar longe, você não vai encontrá-la.

Lynn pode ouvir Sam chorando do outro lado, e continuou.

– Tá bom, tire amanhã para continuar suas buscas por ela, mas apenas amanhã, e se não encontrá-la, desista e siga seu rumo.

– Ok.

– Promete que só vai perder mais um dia?

– Prometo.

– Essa garota não é ninguém, Sam, não perca suas energias e seu foco com ela.

– Ela é importante para mim. E tem nome, eu já te falei isso várias vezes, é Theo, não é uma garota qualquer, é a minha Theo! – Ela própria assustou-se com suas palavras, pronunciar aquilo em voz alta teve um efeito mais do que perturbador, foi motivador.

– Eu sei que é Theo, vá dormir agora, descanse, e amanhã faça suas buscas com calma, você vai encontrá-la, ok?

Sam demorou a dormir, até a respiração havia se tornado algo pesado, o vazio ao seu lado lembrava o tempo todo da ausência de alguém que havia se tornado seu novo porto seguro, tinha a sensação que aquela missão não fazia sentido sem ela. Mas pretendia cumprir com o prometido à irmã, o dia seguinte seria o último de buscas.

***

Logo cedo já estava na estrada, continuava dirigindo numa velocidade reduzida, olhando para os lados, mesmo sabendo que seria pouco provável encontrá-la ainda perambulando à esta altura.

Alguns bips chamaram sua atenção, olhou no painel e viu de quem era a ligação, e era da última pessoa com quem queria falar agora.

– Oi Mike.

– Se eu não te ligar ou mandar mensagem, você não me procura, sempre eu que tenho que procurar, não é?

Sam suspirou pesadamente.

– Estou passando por dias ruins, desculpe não ter mandado nenhuma mensagem.

– Está com problemas?

– Mais ou menos, algumas coisas saíram de controle, mas eu vou resolver, não se preocupe.

– Você sabe que se eu pudesse estaria com você, tomando frente nessa sua investigação, e tenho certeza que estaria mais avançada, eu tenho sempre boas ideias nos momentos críticos.

– É, eu sei. Como anda o pedido de licença?

– Na mesma, me disseram que ainda estão analisando, porque não encontraram nenhum militar à minha altura para me substituir no comando do pelotão. Você sabe como são essas coisas, muita burocracia, protocolos… E não é qualquer pessoa que pode assumir um pelotão, tudo bem que não precisa ser major como eu, pode ser um 1º tenente, mas mesmo assim tem que ter pulso firme e uma visão tática brilhante. São sessenta homens sob minha responsabilidade, você já esteve sob meu comando, sabe o quanto eu me esforço para fazer um bom trabalho. Lembra aquela vez que fomos atacados pela retaguarda no leste?

Silêncio.

– Sam? Está me ouvindo?

Sam havia reduzido a velocidade porque teria visto uma garota andando numa rua marginal à estrada onde seguia.

– Estou. Desculpe, pensei ter visto algo aqui.

– Está dirigindo?

– Sim. Tudo bem se nos falarmos outra hora? Preciso focar no que estou fazendo agora.

– É tão importante assim?

– É sim, é importante. Eu te mando uma mensagem mais tarde, nos falamos por texto depois, ok?

Mesmo resignado, Mike desligou a ligação. Sam retornou para verificar a garota que vira na outra rua, aproximou-se mas não era Theo. Voltou para a estrada, uma hora depois já estava no primeiro abrigo do dia.

– Não aceitamos pessoas com deficiências aqui. – A jovem que atendia no escritório do local foi enfática.

– Mas nenhuma garota com problemas visuais apareceu aqui ontem ou hoje?

– Que eu saiba não, segundo o nosso cadastro não tivemos admissões nos últimos dias.

– E se aparecer alguém com deficiência o que vocês fazem? Mandam embora?

– Sim.

Sam bateu com as mãos espalmadas sobre o balcão alto à sua frente, com impaciência, chamando a atenção da garota que a atendia.

– Desculpe, é que estou a procurando desde ontem cedo, eu preciso encontrá-la e estou ficando sem opções. – Sam falava, sem jeito.

O último abrigo da lista ficava do outro lado do mapa, Sam dirigia com atenção, parava em alguns lugares para perguntar às pessoas se haviam a visto, chegou ao seu objetivo no meio da tarde.

– Sim, temos algumas garotas cegas aqui. – O senhor bigodudo que tomava conta do grande abrigo gerenciado pelo governo lhe respondeu.

– Mas alguma que tenha chegado ontem ou hoje? Ou ainda na noite retrasada?

– Sim, só um instante.

Lentamente ele sentou-se em sua escrivaninha, olhava os registros na tela com dificuldade, testando os nervos de Sam.

– Uma garota chegou ontem, mas aqui não diz se tem deficiência. O nome é Sandra, é ela?

Theo poderia ter usado nome falso, o que seria o mais provável.

– Ãhn, ela pode ter dado o nome do meio, posso vê-la?

– Claro, a maioria dos internos está no pátio externo, me siga.

Sam seguiu com ansiedade atrás do velho homem, olhando com curiosidade para todos os cantos daquele abrigo cheio de pavilhões e salas. Saíram numa espécie de jardim decadente, onde só havia um pouco de mato onde seriam as floreiras.

– Ali, aquela é a garota nova.

Ela nem precisou aproximar-se da garota, de longe já percebera que não era Theo.

– Não, não é ela… – Disse com desapontamento.

– Sinto muito, mas tem outros abrigos na província, continue sua busca. Tem outro abrigo do governo na província de Mendoza.

– Estive lá ontem, mas obrigada de qualquer forma.

Assim encerrou-se as buscas pelos seis abrigos localizados nas proximidades, Sam saiu cabisbaixa do local, entrou no carro e ficou um tempo sentada encarando o volante, pensando no que faria agora que as opções haviam se esgotado.

Eram quatro da tarde e nem sabia para onde apontar o carro ao sair dali, seria como procurar alguém na escuridão, ela poderia estar em outra cidade, outro país, poderia nem estar mais entre nós. Esse pensamento fez com que Sam arrancasse com o carro e saísse sem rumo, continuaria procurando visualmente, por mais improvável que isso gerasse algum resultado.

Às vezes saía da estrada e entrava em algum vilarejo ou cidade, procurava nas calçadas, perguntava às pessoas, estava de certa forma fazendo o caminho de volta ao galpão onde tudo começou.

Mal havia beliscado algo de manhã, mas não sentia fome, a noite chegou e as esperanças diminuíam à medida que chegava a hora de encerrar de vez as buscas. O dia seguinte seria de viagem solitária em direção à Colômbia, e isso a apavorava.

Entrou numa cidade com ares de cidade do interior, com um pequeno centro, comércio e uma praça, considerou um bom lugar para passar a noite. Estacionou o carro na igreja e resolveu fazer sua busca a pé, seria a última busca antes de procurar um lugar para dormir.

A caminhada foi se tornando algo melancólico, quase decepcionado, com passos lentos e cansados, até o final da rua, fez então o caminho de volta, até a igreja. Leu o que dizia o letreiro entalhado em letra cursiva no próprio concreto acima da grande porta frontal. Era uma igreja batizada com o nome do santo o qual era devota: São Francisco de Assis. Deu uma espiada, percebeu que estava sendo celebrada uma missa, eram 8:30 da noite e a missa deveria estar na metade.

Entrou, caminhou pelo vão central até um dos bancos do meio, assistiu uma parte da missa, onde o padre fazia a homilia. Sam prestava atenção, e ao ouvir o encerramento, sentiu o desespero tomar conta novamente, foram inevitáveis as lágrimas.

– Alegrai-vos na esperança, sede pacientes na tribulação, perseverai na oração.

– Romanos, 12:12. – Sam murmurou para si.

Num momento em que todos ajoelharam-se, uniu as mãos à sua frente, com os cotovelos acima do encosto do banco da frente, repousou sua testa em suas mãos, fechando os olhos, e fez suas preces, pedindo para que Deus iluminasse seus próximos passos. Estava encerrando a busca por Theo, entregando nas mãos de Deus.

Todos voltaram a sentar-se, mas ela permaneceu de joelhos, ficando assim até as palavras finais da missa.

Ao sair, duas freiras franciscanas estavam ao lado da porta, despedindo-se todos de forma sorridente, ao lado havia uma caixa que recolhia doações.

Sam as fitou, recebendo prontamente um sorriso e uma saudação.

– Ide na paz de Cristo.

– Amém. – Sam olhou para o lado, para a caixa de doações, e havia um pequeno cartaz que dizia “Ajude o abrigo São Francisco de Assis”.

– Onde fica esse abrigo? – Sam perguntou, intrigada.

– Nos fundos da nossa igreja, estamos passando por um momento difícil, por isso estamos recolhendo doações.

Sam tirou uma nota do bolso e depositou na urna de madeira.

– Que tipos de pessoas vocês abrigam?

– A casa de Deus recebe todos que necessitarem de ajuda, sem distinção.

Sam resolveu ir até os fundos da igreja, e apesar do horário, tentaria falar com algum responsável.

Era uma construção relativamente nova, contrastando com a arquitetura da igreja que datava de séculos atrás. Sem bater, entrou numa pequena sala onde uma freira estava sentada atrás de uma mesa bege, lia alguma coisa.

– Boa noite, desculpe incomodar neste horário, mas é algo urgente.

A irmã ergueu os olhos, soltando o que lia na mesa à frente.

– Procuro uma garota cega que pode ter dado entrada aqui nos dois últimos dias, a senhora sabe de algo?

– Não sei, eu apenas cuido aqui algumas noites, não tenho conhecimento de quem entra ou sai.

– E como posso conseguir essa informação? Tem algum sistema onde possa consultar esta informação para mim?

– Claro, retorne amanhã de manhã, a irmã Glaucia que cuida da administração dos internos vai fazer essa busca para você.

– Mas a senhora não poderia me ajudar hoje? Só preciso saber se minha amiga está aqui, houve um equívoco e ela acabou se perdendo de mim.

– Infelizmente não posso fazer nada, neste horário não temos como verificar.

– Então me deixe entrar, e procurar por ela.

– Visitas apenas das dez da manhã às quatro da tarde.

– Não é uma visita, só preciso saber se ela está aqui, estou em viagem e ela está me acompanhando.

Sam foi até a porta que havia logo atrás da freira, mais à direita.

– Não, são as regras, não posso deixar ninguém entrar à noite. – A freira levantou-se da cadeira.

– Por favor, não vou demorar, só quero dar uma olhada rápida. – Sam insistiu na direção da porta.

– Por gentileza, se afaste da porta.

Sam a fitou hesitante por alguns segundos, e abriu a porta, esbarrando na freira. Entrou num grande pavilhão que parecia um refeitório, com mesas compridas e bancos. Alguns poucos internos estavam sentados conversando. Olhava ansiosa pelo recinto, a procurando.

– Minha senhora, a essa hora eles já estão em seus aposentos, poucos ficam por aqui a noite, vendo TV. – A freira dizia ao seu lado.

– TV? Onde fica a TV?

– Por favor, peço que se retire, senão terei que chamar reforços.

Sam correu os olhos procurando alguma TV, e viu no final do pavilhão, num canto separado do ambiente maior, uma TV e algumas cadeiras em frente.

– Theo! – Sam não conteve a alegria e o sorriso.

Ela ouviu seu nome, e moveu a cabeça na direção do som, com a testa franzida.

– É ela! Eu achei, é ela, lá na frente da TV, é a garota que procuro, vou buscá-la.

– Não, ninguém pode sair daqui desse jeito, e se ela veio até nós, é porque ela quer ficar aqui, e não com você. E se continuar insistindo chamarei a polícia.

– Não, não, foi um engano, ela tem que vir comigo, o lugar dela é comigo, seguindo viagem.

E Sam desvencilhou-se da irmã, indo a passos largos na direção de Theo.

– Theo, sou eu, temos que ir. – Sam colocou a mão em seu ombro.

– Não vou com você. – Theo respondeu enfática, deixando Sam perplexa.

– Claro que vai, foi um engano, não era para você ter ido embora. Por favor, podemos discutir isso depois? Aquela freira vai chamar a polícia.

Mas Theo não foi. Sam a ergueu da cadeira pelo braço, grosseiramente.

– Para isso? Eu não quero mais. – Theo reclamou.

– Ok, desculpe, eu prometo tratar você melhor. Venha comigo.

As sirenes da polícia puderam ser ouvidas.

– Vamos. – Theo segurou a mão de Sam.

Ao passarem pela freira, Sam comentou.

– Eu disse que não precisava chamar a polícia, ela está indo por vontade própria, mas tudo bem, entendo sua preocupação, que Deus abençoe você e o abrigo, desculpe a falta de jeito.

Saíram em alta velocidade pela rua principal, em instantes já estavam numa rodovia e as sirenes haviam ficado para trás, o que Sam não sabia era que o resgate ainda não havia terminado de fato.

 

Exegese: s.f.: Explicação ou interpretação crítica de um texto, particularmente de um texto religioso ou da Bíblia.

Fim do capítulo


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Comentários para 12 - Capítulo 12 - Exegese:
Ana_Clara
Ana_Clara

Em: 09/12/2015

Esse desespero todo foi pouco para a Sam. Ela deveria sofrer mais um pouquinho. rsrs Tratou muito mal a nossa menina, merece uns tabefes pra aprender. kkkkkkk Estou muito feliz em saber que as duas estão juntas novamente, sinto que novos ares estão próximos. Torcendo muito! 

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