Capítulo 13 - Lisztomania
– Acho que já estamos numa distância segura, vou reduzir a velocidade. – Sam disse, olhando pelas telas dos retrovisores.
– Talvez aquela sirene nem fosse da polícia. – Sam continuou.
– Vamos dirigir mais uns cem quilômetros e então paramos para dormir. Eu perdi dois dias te procurando. – Continuava.
Theo permanecia quieta, com semblante fechado.
– Já jantou? – Sam perguntou, a fitando.
Nada de resposta.
– Não vai falar comigo? – Sam disse, aborrecida.
– O que você quer que eu fale?
– Pelo menos que me responda o que eu pergunto, é o mínimo de educação que espero.
– Não, não comi no jantar que colocaram às cinco da tarde, não estava com fome.
– Então vamos parar no caminho, para comermos uma refeição de verdade, também não comi nada hoje.
– Você que manda, oficial. – Theo bateu continência, ainda de cara fechada.
– É com a mão direita.
– Eu faço com a mão que eu quiser.
A alegria de reencontrar Theo transformava-se em angústia, pela hostilidade que recebia. Sam sentia a cabeça pesada, um desejo de consertar aquela situação, ela queria comemorar o retorno de sua companhia, mas Theo não parecia disposta à comemoração.
– Theo… Esqueça aquelas coisas que falei à você, não foram dias fáceis para mim. – Sam tentava novamente. – Eu prometo tratar você melhor.
Theo continuava com o olhar perdido pela janela ao lado.
– Desculpe ter falado que você não voltaria a enxergar. Você vai, vai sim. – Deu uma olhada de relance nela. – E eu estarei lá nesse dia.
Não houve reação de Theo, não falaram mais nada, até o carro parar num estacionamento.
Theo descia devagar do carro, Sam apressou-se em sair e ir em sua direção, lhe dando um abraço, a assustando.
– Desculpe… Me perdoe. – Sam murmurou em seu ouvido. Theo correspondeu ao abraço de forma mecânica.
Sam a soltou, mas pousou as mãos em seus ombros.
– Não faça isso de novo, não vá embora, eu não queria que você fosse. – Sam tentava controlar a fala, para que não saísse alterada pelo seu estado emocional.
– Você estava me mandando embora o tempo todo. – Theo tirou as mãos dela de cima de seus ombros.
– Não, não estava, eu… Eu nem sei o que estava fazendo e falando, me parecia o certo a fazer, mas descobri da pior forma que não consigo continuar sem você.
– De certa forma talvez você tenha razão, é o mais sensato a fazer, tirar esse fardo de cima de você. Siga sozinha, é o melhor para você, que eu te deixe agora.
– Não, não é. O melhor para mim é ter você do meu lado. – Sam se aproximou ainda mais, a fitando, e começou a falar com uma voz terna. – Eu quero você do meu lado, até o fim.
Theo apenas moveu a cabeça, incomodada.
– Você não é um fardo, eu nunca deveria ter falado isso. – Sam tentou.
– Mas é o que você acha, aí dentro. – Theo bateu com o dedo indicador no peito de Sam. – E quando criou coragem falou o que realmente pensa.
Sam baixou a cabeça, pensativa.
– Não, você está enganada. Eu falei aquelas coisas porque perdi a coragem. Eu te tratei daquela forma por covardia. Mas eu sou mais do que aquilo.
– Você não pode tratar as pessoas daquela forma e achar que um pedido de desculpas resolve tudo.
Sam voltou a lançar um olhar desesperado para Theo.
– O que você quer? Como eu posso me redimir? Minha busca por você não prova nada?
– O que eu quero? Apenas que você sobreviva, que lute até o fim, eu não quero nada de você.
– Lute comigo. – Sam voltou a colocar as mãos em seus ombros. – A não ser que você não queira, e eu respeitaria sua vontade, procuraria um lugar para você ficar.
Theo ergueu a cabeça, os olhos corriam pelo espaço onde ela julgava estar Sam.
– Eu quero, eu falei que queria.
– Então você vai continuar comigo? – Sam animava-se.
– Eu vou até o fim com você.
Sam sorriu. Era apenas uma pequena demonstração do quanto seu coração vibrava. Colocou delicadamente a mão direita em seu rosto, aproximou-se devagar e entregou um beijo em sua face, a abraçando em seguida. Desta vez Theo correspondeu de forma amorosa ao abraço.
Quando se soltaram, Sam enxugou o rosto, e confirmou.
– Até o fim?
– Até o fim, oficial.
– Venha, vamos ter uma refeição decente. – E a conduziu pela mão para dentro do restaurante.
Sentaram-se ao balcão do restaurante, que estava cheio.
– Você perguntou o que poderia fazer para se redimir. – Theo iniciou.
– Só não me peça nada impossível.
– Bife com batatas fritas.
– Seu pedido é uma ordem. – Sam ergueu a mão. – E hoje dormiremos num lugar decente também, com água quente.
– Roubou um banco?
– Não, você arranjou esse dinheiro, lembra?
– Tinha o bastante para isso?
– Bem mais, você não poderia ter escolhido notas melhores. – Sam riu.
Theo terminava de comer um dos dois bifes que vieram em seu prato, e Sam não resistiu a pregar uma peça. Silenciosamente roubou o outro bife.
Assim que terminou, procurou com o garfo pelo outro pedaço de carne, mas não encontrou em seu prato. Não entendia o que havia acontecido, enquanto Sam olhava segurando o riso.
– Nossa, como você come rápido. – Sam zombou.
– Foi você. Eu sabia. – Theo deu aquele sorrisinho de quem se dá conta do que aconteceu, largando os talheres na mesa.
– Não sei do que está falando, eu ainda tenho vários bifes no meu prato.
– Inclusive o meu. Sam, pessoas que zombam de deficientes não vão para o céu, você sabia disso, não sabia?
Sam riu, devolvendo seu bife.
– Tome, não estava com fome mesmo.
– Quando eu voltar a enxergar, vou devolver todas estas brincadeiras, fique sabendo.
Terminaram suas refeições e voltaram para o carro, Sam mal continha o sorriso constante no rosto. Assim que Theo entrou, Sam colocou o boné em sua cabeça.
– Olha o que achei.
– Você que sumiu com meu boné, eu sabia que tinha sido você.
– Não sei de nada. Ok, próxima parada: um hotel. Com água quente e TV.
Minutos depois já jogavam suas coisas num quarto de motel de beira de estrada, não era tão ruim quanto os outros do mesmo tipo, as roupas de cama pareciam limpas e não havia sinal de insetos.
Sam havia resolvido se esforçar ao máximo para ignorar todas aquelas sensações conflitantes e novas, estava decidida a voltar a ter uma boa relação com Theo e convenceu-se de que havia confundindo os sentimentos.
Após Sam contar toda sua saga na busca por Theo, com empolgação, agora já estavam deitadas, prontas para dormir. Sam apagou a luz e apenas uma claridade vinha pela janela. Era o suficiente para sua atividade noturna preferida, deitar de lado e perder seus pensamentos enquanto observava Theo.
– Já dormiu? – Theo perguntou.
– Não.
– Você está quietinha.
– Não, estou em paz.
Theo deu um sorriso de lado.
– Senti sua falta. – Theo falou quase num sussurro.
– Eu também. – Sam buscou a mão de Theo embaixo das cobertas, a segurou com ambas as mãos.
– As mãos das crianças que me conduziam não eram quentes como a sua.
– Eram as crianças que te ajudavam?
– Sim, inclusive eu dormi no mesmo quarto que elas.
– Por que?
– Os cegos dormem com as crianças, regra da casa.
– Conseguiu dormir?
– Não muito.
– É, eu também não… Como foram esses dois dias lá?
– Tranquilos. E intermináveis. A única coisa boa era ter acesso aos pirulitos e balas, as crianças me usavam para pegar para elas, porque estava escondido em cima do armário, e elas não alcançavam.
– E você adora pirulito.
Theo apenas riu.
Sem se dar conta, Sam já estava deslizando seu polegar pela mão de Theo, que estava sendo vencida pelo sono.
Mas Sam não queria dormir, depois de algum silêncio, voltou a falar.
– Qual rapsódia eu sou?
– Raposa?
– Você disse que sou uma rapsódia de Liszt. Qual?
Theo riu, mesmo sonolenta.
– A número dois, você deve conhecer.
– Devo?
– É a mais famosa, coloque para tocar aí no seu comunicador.
Sam colocou a música para ouvirem, e prestava atenção.
– Sabe tocar?
– Essa? Não por completo. Liszt era um pianista virtuoso, tinha milhares de fãs que enlouqueciam com suas apresentações. Daí que surgiu o termo Lisztomania.
– E o que é isso?
– Hoje em dia define quem é viciado em ouvir música, ou alguém fanático por algum artista.
– Sente falta? De tocar piano?
– Bastante.
– Acho um instrumento tão bonito.
– Posso te ensinar, um dia.
– Não acho que tenho aptidões. Se bem que depois daquela transformação que fizeram comigo, ganhei umas aptidões que não tinha.
Theo ficou um instante em silêncio, pensativa, e virou de lado, ficando frente a frente com Sam.
– Você morreu uma vez, isso é um tanto quanto surreal. – Enfim falou.
– Morri.
– Uma bomba explodiu em você. Foi por hemorragia, não?
– Foi sim.
– Interna?
– Não, um corte no pescoço.
– Ficou cicatriz?
– Ficou.
– Posso ver? – Theo disse já erguendo sua mão.
Sam levou a mão dela até seu pescoço.
– É grande, mas suave. – Theo ainda mantinha seus dedos sentindo aquela marca que sempre fazia Sam lembrar do ocorrido, quando se olhava no espelho.
– É, e visível.
– Tem outras cicatrizes de guerra?
– Tenho, aqui, no braço. – Sam levou a mão dela até um corte no braço direito.
– O que foi isso?
– Um tiro de raspão.
– Numa batalha?
– Não, num treinamento, fogo amigo.
– Que droga. – Theo riu.
– Nem me fale…
– Você deve ter uma grande no peito, da cirurgia do coração.
– Tenho, quer ver?
– Quero.
Sam sentou-se e tirou a camisa, tomou a mão de Theo e colocou no centro do seu peito.
– Nossa, essa é extensa. – Theo ergueu as sobrancelhas.
– É sim.
Theo tirou sua mão.
– Mais alguma?
Sam vestiu a camiseta, e demorou para responder.
– Tem. – Falou, sem segurança.
– Onde?
– Sente-se. – Sam destampou-se, e subiu a calça na perna esquerda. Theo sentou e aguardou ter sua mão guiada à algum lugar.
– O que é isso? – Theo perguntou confusa, com a testa enrugada.
– O que deveria ser minha perna.
– É uma perna mecânica?
– Sim. – Sam aguardava com apreensão a reação dela.
– Que incrível. – Theo sorriu, e deslizava os dedos por toda a extensão.
– Incrível?
– Ela é quente.
– É da mesma temperatura do meu corpo.
Theo correu a mão para cima.
– O joelho é seu?
– Parte dele. Perdi a perna do joelho para baixo.
– No dia da explosão?
– Foi.
Theo continuava conhecendo a perna, deslumbrada.
– Eu sinto isso, sabia? – Sam disse, timidamente.
– O que? O toque dos meus dedos?
– Sim, a prótese tem sensibilidade. Não é a mesma que eu teria numa perna normal, mas eu consigo sentir seus dedos. Isso é alta tecnologia, também é um experimento do exército.
– Sente isso? – Theo se animava, fazendo cócegas no seu pé.
– Sinto. – Ambas sorriram ao mesmo tempo.
– Que cor é?
– Bom, é da cor da liga metálica, cinza escuro.
– Por que não me mostrou antes?
Sam deu de ombros.
– Não sei, pensei que você acharia estranho demais, sei lá.
– Estranho? Eu adoro o diferente.
– Nem todos gostam.
– Faz parte de você, de quem você é.
– Ok, acabou a diversão, não tenho mais nada para mostrar. – Sam baixou a parte da calça que estava erguida e voltou a deitar, Theo fez o mesmo.
– Deixa eu adivinhar: Mike não gosta. – Theo disse.
– Não. Sequer consegue olhar para ela. – Sam respondeu num tom triste.
– Um dia ele vai se acostumar.
– Quem sabe…
Foi a vez de Theo buscar a mão de Sam por baixo das cobertas.
– Nada como a certeza física… – Theo murmurou.
Silêncio.
– Você vai comigo, quando a busca terminar, não vai? – Sam perguntou.
– Para onde?
– Para a zona morta, quando eu for fazer o transplante.
– Vou.
– E vai ficar lá, enquanto eu me recuperar da cirurgia?
– Ficarei, até você voltar para casa.
Sam ficou por um momento reflexiva, encarando o teto.
– E depois?
Theo deu um longo suspiro, e então respondeu.
– Depois você vai recomeçar sua vida, e eu vou recomeçar a minha.
– Em San Paolo?
– Sim.
– Estaremos tão longe uma da outra.
– Não pense nisso, você terá seus amigos por perto de novo e não vai sentir minha falta. Pense que você vai ter uma nova chance para realizar seus sonhos, vai se casar com o homem da sua vida, vai estar perto da sua família e vai começar a sua própria, vocês terão vários filhinhos e vou querer batizar um deles.
Sam sorriu torto.
– Não posso ter filhos, provavelmente iremos adotar.
– Por causa do que o exército fez em você?
– Não, problemas que tive na adolescência.
– Sinto muito…
– Não poderei vir te visitar, por causa da minha situação com o exército, você irá me visitar?
– Irei sempre que possível. – Theo respondeu.
– Por que não mora em Kent? Poderíamos ser vizinhas. Eu te levaria para conhecer o Stonehenge, fica a 150km de casa – Sam ergueu-se de lado, num cotovelo, ficando quase em cima de Theo.
– Você está aqui em cima? – Theo tateou o rosto dela, que estava próximo.
– Estou. – Respondeu se desvencilhando dos seus dedos. – E então, que tal morar na Inglaterra?
– Desculpe, não me vejo morando na Europa, até porque lá eu não teria os mesmos direitos que tenho aqui.
– Por ser estrangeira? Os estrangeiros tem os mesmos direitos, só não votam.
– Por ser gay.
– Ah… Você tem pessoas aqui?
– Alguns amigos, parentes.
– Tem namorada?
– Não.
– Mas teve?
– Algumas.
– Várias. – Sam riu.
– Não, não, algumas. Lá vem você me julgando. – Theo também sorriu. E esse foi o início de uma catarse dentro de Sam, aquela proximidade não era segura.
– Namoros longos?
– Apenas um longo, durou pouco mais de três anos. Os outros não passaram de seis meses.
– Qual o nome dela?
– A que durou três anos? Letícia.
– Vai procurá-la quando voltar para San Paolo?
– Sim, ela se tornou uma grande amiga.
– Não sente mais nada por ela?
– Carinho, muito.
– Gosta de alguém? – Sam a fitava de perto.
Theo não respondeu, apenas sorriu, foi seu jeito de desconversar.
Sam sentia alguma força maior a tirando do controle, novamente teve um impulso além da sua racionalidade, e a única coisa que passava por sua cabeça naquele momento era que queria beijar Theo. Estava prestes a fazer isso, porém seu movimento foi interrompido pela mão de Theo, a procurando no ar.
– Você ainda está em cima de mim? – Theo perguntou, com estranheza. Foi o bastante para tirá-la daquele estado e se dar conta do que estava fazendo.
– Sim, mas já estou saindo, vou virar para o outro lado e…
– Não, venha cá. – Theo a impediu de sair de cima dela, passou seu braço em volta do seu pescoço e à trouxe para seu peito.
– Fique aqui, me esquente um pouco. – Theo disse a acomodando gentilmente, deixando a mão em seus cabelos, e prontamente começou a correr seus dedos por eles.
Sam estava sem reação, tudo embaralhou-se novamente em sua mente, não recuou nem falou nada, apenas sentia ondas de arrepios com aquela quantidade múltipla de contatos com o corpo de Theo.
– Desculpe te dar essa preocupação. – Theo falava baixinho, próximo ao seu ouvido. – Eu não achei que você me procuraria, pensei que te abandonando estaria te fazendo um favor.
Sam não tinha condições de responder ou falar alguma coisa, apenas assentiu com a cabeça.
– Mas estou feliz que você tenha me procurado e me encontrado. – Theo continuava mexendo em seus cabelos, Sam mantinha o corpo tenso, os olhos abertos quase desesperados com a situação.
Até que sentiu como se houvesse um vulcão entre suas pernas.
– Foi difícil ir embora… Te deixar dormindo lá. – Theo refletia.
Silêncio.
– Sam? Dormiu?
– Não, eu preciso ir ao banheiro. – E saiu correndo para o banheiro.
Chegando lá, baixou suas calças e percebeu o estrago que aquela situação havia feito com ela.
– Mas o que… – Balbuciou espantada.
Enxugou-se e foi até a pia, onde jogou uma boa quantidade de água fria em seu rosto. Ficou ainda alguns minutos esperando seu corpo voltar ao normal, o rosto já começava a perder o tom vermelho.
Quando voltou para a cama, Theo já dormia. A cobriu e tentou dormir, o estado de tensão não permitia que adormecesse, mas finalmente a exaustão venceu. E mais sonhos confusos vieram.
***
Sam acordou com seu comunicador tocando, um pouco antes do horário em que acordaria, era sua irmã. Silenciou e o atendeu no banheiro, para não acordar Theo.
– Recebi sua mensagem ontem à noite. – Lindsay disse, num tom informativo.
– Desculpe o horário, foi quando pude finalmente descansar.
– Então a encontrou.
– Sim. – Sam disse, sorrindo. – Num abrigo de uma igreja, foi obra divina, eu nem sabia que havia abrigo ali, só entrei na igreja para rezar um pouco, e acabei a encontrando.
– Espero que você saiba o que está fazendo.
Mas ela não fazia ideia do que estava fazendo, olhou na direção da cama, onde Theo ainda dormia, de bruços, com uma blusa branca de mangas compridas.
– Estou tentando focar no meu objetivo, e que apesar de tudo, ela é uma companhia, alguém que me ajuda a manter minha sanidade. – Falava em voz baixa.
– Não teve mais aqueles pensamentos errados então.
Sam ficou em silêncio antes de responder.
– É complicado, Lynn… Mas eu sei que vai passar, quando isso acabar eu voltarei para minha vida normal, e eu terei ganho uma amiga para o resto da vida.
– Não se desvie.
– Está tudo sob controle, minha irmã. Como estão as crianças? – Desconversou.
Depois da ligação, Sam ainda estava se enchendo de determinação para tratar Theo bem, apesar de sentir-se estranha pelo que havia acontecido na noite anterior. A olhava pensativa, recostada na pia. Tinha duas opções: mantinha-se fria e distante até que aquelas sensações parassem, o que a afastaria novamente. Ou esforçar-se para manter tudo aquilo trancafiado dentro de si, torcendo para que não explodisse a qualquer momento.
Após usar o banheiro, tirou o comunicador do bolso e o deixou na mesinha ao lado de Theo, tocando a música de Grieg que ela havia tocado no piano, e foi preparar o café, mas a observando, queria vê-la acordando.
Theo acordou confusa, ergueu a cabeça, procurando a origem do som de um lado para outro.
– O que está acontecendo?
– Posso voltar a te acordar sacudindo seu ombro, se quiser. – Sam disse, com um sorriso irônico.
– Música, prefiro música. – Finalmente acordava e entendia o que acontecia, deu um longo bocejo e virou-se, pegando o comunicador, colocando em cima do seu peito, agora com feições agradáveis, movia a mão como se regesse uma orquestra.
– Quando terminar apronte-se e venha comer.
– Sim, oficial. – Falou batendo continência.
– É com a mão direita.
– Ok, venha aqui me ensinar então.
Sam sentou-se na beirada da cama, e deu dois tapinhas em sua mão direita.
– É com essa mão, mantenha os dedos unidos. – Sam disse.
Theo ergueu sua mão direita, procurando pelo rosto de Sam.
– Com a direita, certo?
– Sim.
Tateou até encontrar sua orelha, lhe aplicando um sonoro peteleco.
– Ai!
– Acertei a mão agora?
***
Já na estrada, Sam cantarolava baixinho a música que tocava no carro, chamando a atenção de Theo.
– Achei que esse tipo de música havia sido banida na Europa, rock ainda é permitido por lá?
– Muito engraçada você. Conhece? Isso é bem velho.
– Você acha que Grieg, Mozart, e Vivaldi não são mais antigos que Bowie? E eu não gosto apenas de música clássica, também gosto de rock.
Enquanto Sam batucava com os polegares no volante, Theo passou a cantar a música.
– I, I will be king
E Sam entrou no coro.
– And you, you will be queen
– Though nothing will drive them away
– We can be heroes, just for one day
Aquele carro acabou se tornando um karaokê ambulante, cantavam alto e sem reservas. E Sam deixou todas as preocupações sumirem por algumas horas.
Fim do capítulo
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Ana_Clara
Em: 09/12/2015
Pensei que o fanatismo da Sam a impedia de sentir tesão e molhar a calcinha por isso. Kkkkkkkk Bom, este capítulo foi suave e muito gostoso de ler. As meninas se entenderam e isso foi muito bom de presenciar. Aliás, sinto que a Theo só perdoou a Sam pq na verdade ela já a ama incondicionalmente. Linda demais!

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