Capítulo 14
As Cores do Paraíso - Capitulo 14
Gabriela voltou para a sala muito triste. Não queria que as coisas chegassem a esse ponto. Alice não merecia passar por isso.
-- A gente não agiu de forma correta - Gabriela sentou no sofá desanimada -- Quem é de bem, não trai o amor que lhe quer seu bem.
Larissa estava parada no meio da sala, as lágrimas escorrendo pelo rosto. Tinha medo que Gabriela estivesse realmente apaixonada por Alice. Sentiu pela primeira vez na vida a dor do amor.
-- Vai atrás dela, Gabi - suas próprias palavras lhe causavam dor - Tenta concertar esse erro. Ela te ama, com certeza vai te perdoar.
Gabriela levantou deu alguns passos e ficou em frente a ruiva.
-- Eu vou. Preciso conversar com ela - pegou as mãos da empresária e segurou entre as suas -- Algumas vezes a honestidade pode ser incrivelmente complicada. Mas mesmo assim é necessária.
-- Posso voltar a te procurar? - Secou as lágrimas e respirou fundo.
-- Claro que pode, Larissa - sorriu carinhosa - Você é sempre bem-vinda no meu paraíso -- Sua expressão alegre rapidamente mudou para uma expressão de falsa seriedade - Desde que não seja para querer compra-lo. É lógico.
Larissa foi tomada por um sentimento de tristeza muito grande. Tudo ficou cinza, vazio e uma imensa tristeza...sem razões ...sem porquês...sem querer.
Gabriela beijou a sua face e fez um carinho em seu rosto.
A empresária saiu em silencio. A pintora respeitou. O silêncio oportuno é sempre mais eloquente do que um discurso.
Larissa chegou em casa, jogou a bolsa sobre o sofá e foi até a cozinha procurar por Mauricio.
O rapaz estava sentado em uma cadeira, de pernas cruzadas e mexendo em seu celular.
-- Como está Mauricio? - Sentou em frente ao amigo.
-- Imagino que melhor do que você.
-- É tão evidente assim? - Juntou as mãos sobre a mesa, estralando os dedos.
-- Alice me ligou contando o ocorrido lá na praia do Encanto.
Larissa olhou para Mauricio com os olhos avermelhados.
-- Ela falou aonde está?
-- Na casa da Fernanda - Mauricio colocou o celular de lado e encarou Larissa - Alice está muito revoltada. Ela falou que você está tentando conquistar a garota, por puro capricho de mulher mimada. Que não se conforma por Gabriela ter escolhido a ela e não a você.
O amigo parecia ter a mesma opinião que a corretora e isso feriu profundamente Larissa.
-- Por favor, minha deusa. Se isso for realmente verdade, desiste. Você não precisa provar nada para ninguém.
Larissa levantou-se da cadeira com violência, chegando a derruba-la.
-- Sabe de uma coisa. Cansei - foi até a porta e de lá falou para o rapaz - Vou até a casa da Fernanda falar com a Alice. Depois vou até o paraíso. Eu não sou a poderosa? A gostosona? A durona? - Jogou os cabelos para trás - Então não vou ficar de nhenhenhém com uma garota de 19 anos que mal saiu das fraldas.
Mauricio estava assustado.
-- O que você vai fazer?
-- Você terá notícias minha - saiu rebol*ndo - Vou tomar um banho de uma hora. Não me interrompa - berrou da sala.
O amigo balançou a cabeça. Larissa iria aprontar.
Na praia do Encanto.
-- Não encontrei a Alice em lugar algum - Gabriela entrou em casa e foi direto para o ateliê - Fui até a casa dela, falei com a mãe dela, liguei para alguns amigos e nada. Com certeza mentiram para mim.
-- Quando você me contou que Larissa estava aqui, logo previ problemas - Talita sentou em uma banqueta ao lado da amiga.
-- Eu também sou uma cabeça de batata. Tenho consciência que aquela mulher me domina e mesmo assim a deixo tão próxima.
-- Também não é assim. Vai ficar fugindo? - Tocou no ombro da loira - Posso pintar?
-- Pode. Usa aquela tela alí - apontou para um cavalete próximo a janela - Bem. Nas horas difíceis da vida, você deve levantar a cabeça, estufar o peito e dizer de boca cheia: Agora Fudeu!
Gabriela foi até o quarto e buscou a sua jaqueta com capuz.
-- Hiiii...o espirito da dona Munique já está por aqui?
-- Ela está me orientando a pintar um quadro muito especial - preparou o material e sentou na banqueta de pintura de Munique.
-- Eu não entendo essa sua tranquilidade em lidar com essa presença do além. Me arrepio só de pensar.
-- Independente da crença religiosa, todos possuem guias espirituais, Talita. O que varia, conforme a religião, são os nomes dados a eles: amparadores, protetores, conselheiros, mentores, mestres etc.
Francisco Cândido Xavier, o mais famoso médium sensitivo brasileiro, também tinha seu próprio guia espiritual: Emmanuel, que significa "Deus conosco".
Quase todos eles são almas humanas que, em um longo ciclo de encarnações, sempre estiveram em busca de conhecimento e o utilizaram em prol do bem da humanidade.
São os seguintes espíritos que foram pintores e hoje trabalham para o bem da humanidade: Os impressionistas: Renoir, Monet. Sisley, Matisse, Alex
Os expressionistas: Vincent Von Gogh, Igor, Tyo, Danilo e Taís
Os clássicos: Rembrandt, Velázques
Os modernos: Picasso, Portinari
-- O nome dado a esse trabalho é pintura mediúnica.
-- Quer dizer que a Munique vai te ajudar a ser uma grande pintora?
-- Resumindo, como disse Chico Xavier, a pintura mediúnica nada mais é do que a evangelização através das cores - sorriu - Se você pensa que ficarei famosa? Pode ser. Se você pensa que ficarei milionária? Tire isso da cabeça. Conheço minha capacidade e vou desenvolvê-la com a ajuda de Munique, mas sempre orientada pela base da filosofia contida no Evangelho de Jesus Cristo.
-- Então tá. O meu guia deve ter sido o fundador da marca de fósforos Fiat Lux. Só consigo desenhar Zé palito.
Na casa de Fernanda.
-- Acho que não foi uma boa ideia, Larissa - Fernanda fechou a passagem, impedindo que empresária entrasse.
-- Pois eu acho que foi a melhor ideia que tive nos últimos anos - empurrou a amiga e entrou a força - Preciso conversar com ela.
-- Ela não vai querer falar com você.
-- Há, mas vai ter que querer - entrou, não dando a mínima para Fernanda.
Foi a sala de televisão. Era o lugar que costumavam ficar quando se reuniam para conversar. Tinha certeza que ela estaria lá. E acertou. Alice estava deitada no sofá. Seus olhos estavam vermelhos. Sinal que havia chorado.
-- O que você faz aqui? - Levantou assim que viu a empresária entrar - Não tenho nada para conversar com você - tentou sair da sala, mas foi impedida.
-- Você vai ficar, sim - segurou a amiga pelo braço e fechou a porta - Senta e me escuta.
Alice a encarou com sangue nos olhos. Mas sentou.
-- Quero deixar uma coisa bem clara: Você tem todos os motivos do mundo para me odiar, me achar uma traidora, uma vaca, uma cadela e sei lá mais o que. O que você não pode afirmar é que estou tentando conquistar a sua namorada por puro capricho, ou para provar que sou a gostosona pegadora. Isso não.
-- Você...
-- Me escuta - não deixou a corretora a interromper - Eu nunca amei ninguém Alice, não sei o que é amor. Mas sei dizer o que estou sentindo. Eu sinto saudades dela só de pensar que tenho que ir embora, acho engraçado até aquelas piadas sem graça que ela conta, acho ela linda até vestida com aquela jaqueta suja de tinta, o meu coração dói quando ela está triste, meus problemas, minhas tristezas, desaparecem com um único sorriso dela. Sinto que juntas nada é impossível, sou capaz até de dividir uma fatia de bolo prestigio com ela. Por ela serei capaz de renunciar a tudo, até mesmo deixa-la em paz se ela realmente te amar - chorou só de pensar nessa possibilidade.
-- Ninguém ocupa um coração que já está ocupado, Alice. Se você estiver lá, não vou conseguir entrar, então eu me afastarei e deixarei vocês em paz.
Larissa abaixou a cabeça e caminhou em direção a porta. Já havia falado tudo o que estava engasgado.
-- A Gabriela te ama, Larissa - a corretora falou em meio ao choro - Eu sinto isso.
-- Não sei. A Gabi está muito temerosa. A minha fama a assustou - sorriu - Ela está muito arisca - olhou para a amiga e sentiu um misto de tristeza e alivio.
-- Boa sorte - Alice secou as lágrimas com a manga da blusa.
-- Obrigada.
Larissa olhou para trás e suspirou aliviada. Sentia-se bem mais aliviada, por ter tido aquela conversa com Alice. Seu coração estava mais leve e há tempos não se sentia tão feliz.
Ligou o carro, colocou o som no último volume e foi em direção ao PARAÍSO.
Fim do capítulo
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