Marcella

Droga! O que eu estava fazendo? Essa pergunta estava martelando em minha cabeça quando sai do quarto de Bianca. Sentir seu corpo encostado ao meu tinha provocado um fogo intenso em mim. Tive que me conter para não beijá-la, principalmente quando olhando para mim passou a língua sobre os lábios ressequidos. Senti que algo estava acontecendo com ela também, provavelmente medo por se ver presa em meus braços. Só de lembrar a cena estava ficando novamente acessa. Precisava tirar isso da minha mente.

Resolvi dar boa noite para minha avó como era meu costume. Batia à porta e entrei

- Oi querida. Tudo bem? – Caminhei até ela e beijei sua testa.

- Oi Cella. Estou bem filha. O dia hoje foi tranquilo para mim. Li bastante.

- Vim te desejar boa noite.

-  Já soube o que Zanne aprontou. Amanda me contou.

- Melhor nem falarmos sobre esse assunto. Quando me lembro do cabelo dela entro em parafuso como se diz por aí. Mas não há mais nada que possa ser feito quanto a isso.

- Fora Roxanne o resto esta bem? – Perguntou fixando seus olhos em mim

- Sim. Tudo caminhando. Aos poucos as coisas estão voltando aos eixos.

- Sua boca diz uma coisa, mas não é o que seu rosto esta me contando. Sente-se aqui e me fale o que está te preocupando.

- Não há nada me preocupando. São as coisas do dia a dia. E além da minha adolescente implicante preferida, nada está fora do lugar.

- Marcella, você não consegue me enganar meu amor. Vamos abra esse coração para uma velha que no momento tem todo o tempo do mundo para te escutar.

- Não fala assim, você não é velha. Pelo menos não pra mim. É só uma bela e charmosa senhora. – E sorri

- Ah querida! Posso ser o que você quiser, mas também sou velha sim. Agora diz pra mim o que está te deixando com essa ruga entre os olhos e com o semblante pensativo?

Pensei antes de responder. Minha sexualidade era de conhecimento de toda a  família, então quanto a isso não havia problema, mas será que deveria expor para minha avó o que estava sentindo? Bom não precisava contar tudo então resolvi falar.

- Intrigada apenas. Sabe Bianca?

- Sim. Uma menina linda e muito prestativa. O anjo que veio trazer luz para esta casa.

- É. Ela é um anjo mesmo. Está até tentando me ajudar com o caso de Roxanne.  – Respondi

- Se alguém tem capacidade para isso com certeza é Bianca, pois é calma e paciente. Mas o que tem ela?

- Você acredita vó que ela nunca namorou antes? Nem beijou na boca. É uma menina inocente. Completamente pura.

- Ela te disse isso? Nossa, que estranho, me parece uma pessoa tão recatada que não sai comentando de sua vida por aí.

- Não foi ela. Eu escutei uma conversa dela com Carla se querer.

- Humm. Entendi. E porque isso esta te incomodando?

- É claro que não me incomoda. Eu só fico pensando...

- Pensando...

- Hoje em dia é tão raro vó uma mulher, você sabe, virgem. Quanto mais... ah deixa pra lá. Besteira da minha parte. Só acho ...

- Você está encantada por ela! Esta estampado na sua face! – Ela exclamou feliz

- Que é isso vó! Estou apenas intrigada, nada mais. De onde você tirou essa ideia? Não tenho nada estampado na cara não.

- Filha, você pode mentir pra todo mundo, até para você mesma, mas não para mim. Leio o seu rosto com muita facilidade desde que era criança. Você esta gostando dessa menina. Minha querida, isso é muito bom. Por que não aceita o fato?

- Vó, com todo o respeito, não alucina, para com isso. Não estou gostando de ninguém. Só fiquei...sei lá, imaginando o porquê disso, dela se manter assim. E depois você sabe muito bem que eu não posso, não quero, não vou me apaixonar por mais ninguém. Isso é fato. Está decidido.

- Faz tanto tempo que aquilo aconteceu em sua vida minha neta. Você tem que se abrir novamente. Esqueça o passado. Deixe seu coração a vontade.

- Não posso vó. E depois mesmo que eu conseguisse, jamais poderia ter alguém tão puro. Macular uma alma como a de Bianca seria mais um dos pecados para a minha lista. Você sabe muito bem que eu não tenho o direito de amar.

- Não diga isso! Você tem todo o direito do mundo. E depois amar não é pecado.

- Digo sim! – Me levantei e comecei a andar pelo quarto. – Todos os que amei sofreram, morreram, se perderam, eu sou amaldiçoada!

- Marcella! Não use essa palavra! – Disse alterada

- Mas é verdade. Sou mesmo! Uma esquecida de Deus! – As lágrimas caíam dos meus olhos.

- Você me deixa muito chateada falando essas coisas. Não pode se culpar pelas fatalidades. E não fale assim sobre Deus! Ele jamais te esqueceria.

- Eu tenho que aceitar minha sina. Não quero te deixar chateada, nem magoada comigo então vamos mudar de assunto. – Respondi secando minhas lágrimas.

- Minha filha...

- Por favor, vovó. – Praticamente implorei

- Você quem sabe. Mas uma hora terá que aceitar a verdade. Abrir os olhos e ver o que realmente aconteceu. – Falou desanimada

- Pode ser. Veremos. Boa noite durma bem. – Dei outro beijo nela e fui embora.

Entrei em meu quarto ainda transtornada pela conversa que acabar de ter. Minha avó nunca conseguiria entender que eu era uma alma carregada. Algumas pessoas nascem para amar e ser amadas, serem felizes. Eu não. Fui uma das escolhidas para perder tudo. O que eu tocava apodrecia e morria. Não faria aquilo com aquela menina meiga, doce, inocente e tão linda. Meu Deus, a quem eu queria enganar? Estava me sentindo muito atraída por ela. Meu corpo já estava dando sinais disso. Mas mesmo que eu quisesse, que aceitasse abrir meu coração, de que adiantaria? Ela era hetero, e além de tudo com a criação que devia ter tido jamais aceitaria se relacionar com outra mulher. Para ela indubitavelmente eu era o pecado encarnado.

Com certeza haviam incutido em sua cabeça que aquilo era errado, perversão, coisa do demônio ou o que o valha. Estava cansada de ouvir essas coisas por aí. Pessoas hipócritas que viviam vidas duplas tinham amantes, ou mesmo relações com pessoas do mesmo sex*, tudo por baixo do pano. E saiam falando um monte de besteiras e mentiras. Esse mundo me dava nojo às vezes. Eles haviam decido o conceito de família como sendo apenas a relação entre um homem e uma mulher, como se outros modos de vida fossem falsos e imorais. Só que a maioria desses “casais” mantinha a sete chaves seus segredos sujos. Eu tinha asco de pessoas assim.

Fui para o banheiro e tirei minhas roupas, parei em frente ao espelho e observei o que ele me mostrava. Tinha cintura bem marcada, seios redondos e cheios, como minha pele é clara as aureolas são rosa, meu ventre é liso, os quadris bem formados, pernas torneadas. Sim eu era uma linda mulher para os padrões atuais da sociedade. Padrões esses que considero ridículos e preconceituosos, novamente envolvendo a opinião de pessoas que se julgam acima do bem e do mal, e que com isso acham que podem dizer o que é certo ou errado.

Muitas mulheres acabam por se matar ou mesmo se mutilar por conta disso, ficando doentes e cadavéricas às vezes. Adquirindo doenças como anorexia e bulimia. E a troco de que? Além as cirurgias plásticas absurdas que por vezes deformam. Esse tipo de imposição é maligna, doentia e vulgar. Todas as mulheres são lindas com seus biótipos e mesmo assim muitas são massacradas por pessoas preconceituosas, racistas e imbecis. Bom era melhor ir tomar banho de uma vez, pois estava muito critica para uma noite só, e de nada adiantaria visto que a sociedade não mudaria de uma hora para outra. Ainda haveria muito que se lutar para que conseguíssemos chegar ao verdadeiro sentido da palavra democracia.

Virei às costas para minha imagem e liguei a ducha. Entrei de cabeça, pra ver se a água conseguia levar embora aqueles pensamentos que varriam a minha mente. Coloquei o shampoo nas mãos e comecei a esfregá-lo nos cabelos, deixei meus dedos correr entre os fios, e depois enxaguei fiz a mesma coisa com o condicionador. Depois coloquei sabonete líquido na esponja e comecei a lavar meu corpo, a sensação do atrito percorrendo minha pele começou a me causar um formigamento gostoso, passei em minha nuca, depois desci e circulei meus seios que estavam intumescidos, os bicos duros, desci pelo meu ventre até encontrar o meu sex*. Aquela altura eu já estava ardendo de tesão, e o pensamento me levou direto até Bianca, então eu travei. Jesus onde eu estava com a cabeça? Pensando em uma mulher hetero e virgem. Estava por acaso desvairando? Rapidamente terminei de me enxaguar e sai do chuveiro.

Já na cama comecei a me lembrar de tudo o que acontecera aquele dia. Estava muito preocupada com Roxanne. Tinha dito que a mandaria para um internato, mas não era verdade, jamais conseguiria fazer isso com minha sobrinha. E depois eu sempre havia prometido para minha irmã que se algo acontecesse a ela eu cuidaria de suas filhas como se fossem minha. Porém nunca imaginei precisar cumprir aquela promessa. Fechei os olhos e me lembrei de seu rosto querido. “ Ah Marina, que falta você faz minha irmã.Por que nos abandonou tão cedo?”. Agora estava com aquele problema nas mãos, eu sabia que precisava ter mais paciência com Zanne, mas não era muito boa nisso. Sempre fora uma pessoa explosiva. Ainda bem que Bianca havia se proposto a ajudar, ela sim saberia lidar com a situação com calma e serenidade. Ajeitei-me melhor nos travesseiros e deixei aquele belo rosto permear meus pensamentos.

Caminhei a passos lentos e parei em frente ao seu quarto. Hesitei um momento antes de entrar, mas minha vontade era maior que eu. Mansamente abri a porta e caminhei em direção ao seu leito. Ela estava adormecida, seu rosto meigo e belo, os lençóis jogados de lado. A camisola simples mantinha seu corpo escondido do meu olhar faminto. Lentamente me aproximei e sentei na beira da cama. Baixei meu rosto e delicadamente toquei seus lábios com os meus. Ela entreabriu os olhos e ao me ver ficou surpresa e espantada.

- Dona Marcella! – Disse tentando se sentar

Coloquei um dedo em seus lábios.

- Não diga nada. Eu estou aqui porque não consigo mais parar de pensar em você. Eu te desejo como nunca desejei alguém antes. Isso esta me consumindo. Estou apaixonada por você meu anjo.

- Não. Isso é errado! Por favor, eu não quero. Não faça isso comigo. Eu não sou como você. - Seus olhos estavam esgazeados

- Eu vejo em seu olhar. Você me quer também. Não tenha medo. Nenhum tipo de amor é errado. E eu vou te mostrar isso. Apenas relaxe e sinta.

Afundei minhas mãos em seus cabelos e busquei sua boca. Minha língua a invadiu e senti a doçura da sua. O beijo começou manso, mas com a fome que eu estava não demorou para que eu começasse a devorar seus lábios. E ela correspondeu. Então comecei a tocá-la. Minhas mãos buscaram seus seios macios, que acarinhei até sentir os bicos duros, então deixei meus lábios escorregarem por seu queixo, pescoço, levantei sua camisola e minha boca encontrou os bicos e comecei a suga-los com gula, enquanto me posicionava sobre ela entre suas pernas.

Minha língua desceu por seu ventre, encontrou seu umbigo e afundou ali por uns minutos antes de seguir caminho. Devagar abaixei sua calcinha, ouvia sua respiração se alterar cada vez mais, então senti seu cheiro e comecei a tocar seu sex*, seu clit*ris entumecido na ponta da minha língua, tão gostoso, me perdi em movimentos lentos, e os gemidos começaram a escapar de seus lábios me incentivando a continuar, de repente eles se tornaram soluços altos e tristes, queria sair dali e olhar em seus olhos para dizer que não ficasse assim que parasse de chorar, mas não conseguia me levantar, então os soluções se tornaram gargalhadas medonhas e mãos prendiam minha cabeça com força, senti que estava sufocando, e desesperada queria gritar, me soltar, eu me debatia mas não conseguia escapar. Estava morrendo. “Você é minha Marcella, minha e nunca terá ou será de outra”. Aquela voz... de novo não. Tudo escureceu e só o som da risada permaneceu enchendo meus ouvidos.

Acordei com o coração aos pulos, o corpo coberto de suor, pude sentir meu sex* ainda molhado pelo início do sonho, mas o final havia me aterrorizado. Até quando Meu Deus? Um tremor me percorreu. Meus pecados me perseguiriam pelo resto da vida. Aquela minha doença não teria cura. Aquela voz horrenda havia dito a verdade: nunca mais poderia ter outra.

Fim do capítulo