Capítulo 5 - Sserá o começo do fim?
Júlia chegou em casa ainda tentando entender oque se passará com ela minutos antes. Dona Dulce que passava algumas peças de roupa notou sua entrada em casa e não quis importuna-la, já que ela se trancou no quarto.
Veridiana chegou duas horas depois, estava cansada tivera um dia cheio no restaurante.
-- Oi Dulce, como está? – Perguntou pegando a jarra de água na geladeira.
-- Tudo bem minha menina, e você parece abatida? – Dona Dulce a olhou observadora como sempre.
-- E estou Dulce, estou um trapo! – Veridiana encheu um copo de água e bebeu de um gole somente. – Só quero um banho e cama! – Disse saindo em direção ao quarto.
Nervosa Júlia havia tomado um banho e estava deitada tentando dormir, mas estava impossível.
- - Oi amor! – Veridiana entrou no quarto já tirando a roupa. – Tive um dia difícil hoje, acredita que um cliente pediu para fazer um prato que não estava no cardápio? E a minha assistente que cortou dois dedos e agora não vai poder trabalhar por cinco dias? – Ela contava seu dia no trabalho e Júlia nem lhe ouvia. – Júlia! – Gritou.
- - Oi Veri! – Júlia a olhou com calma. – Já chegou?
-- Como assim já chegou? Faz um tempão que estou falando contigo! – Veridiana a olhou sem entender nada. – Oque está acontecendo?
-- Nada amor, eu só estou cansada. – Inventou Júlia uma desculpa qualquer.
-- Foi nadar? – Veridiana se aproximou da cama, estava agora apenas de lingerie preta.
--Fui. – Júlia não conseguia olhar nos olhos de sua companheira.
-- Tem que maneirar amor ou vão acabar em exaustão. – Veridiana lhe deu um beijo casto nos lábios e foi para o banheiro tomar seu banho, quando voltou Júlia estava dormindo.
Pelo menos era o que Veridiana pensava, pois Júlia estava apenas fingindo dormir. Ela não queria conversar assunto algum, e preferira fingir um sono que não existia.
Quando Veridiana dormiu, Júlia deixou a cama e foi para a varanda. Seu corpo ainda ardia de desejo por aquela mulher doida e linda que quase lhe tomara a força no vestiário da academia.
Oque fora aquilo? Porque correspondera aos beijos dela? E porque ainda não conseguira parar de pensar nela?
Confusa ela foi até a sala e no pequeno barzinho serviu-se de uísque, voltando para a varanda em seguida.
Há tempos não sentia o que sentiu com aquela desconhecida com Veridiana. O relacionamento já não ia bem e no último mês elas mal tinham se tocado.
Pela primeira vez em tempos se sentia viva, se sentia mulher.
-- Perdeu o sono? – Era Veridiana que chegara a varanda vestindo apenas um robe de seda preto.
-- Pelo jeito não foi só eu?! – Júlia a olhou pela primeira vez nos olhos. Amava Veridiana, mas não sentia mais aquele desejo que a enlouquecera e fizera se mudar para o Sul do país.
-- Eu acordei e não a encontrei na cama. – Veridiana se aproximou e enlaçou Júlia pela cintura a puxando para si. – Senti falta do teu calor!
-- Agora não Veri. – Júlia se afastou rapidamente da sua companheira que a olhou surpresa. – Eu estou com dor de cabeça.
Veridiana riu ironicamente, sabia que esta era uma das desculpas mais usadas para evitar uma trans*. Preferiu então voltar para o quarto e deixar a companheira sozinha.
Sabia que algo estava errado, mas não sabia oque seria. Talvez necessitasse de mais tempo livre para dar atenção a Júlia, ela era muito carente, e ultimamente por causa do trabalho não estava tendo tempo para ela. Pensaria em algo para fazer para agrada-la. Pensou consigo mesma antes de entregar-se ao sono que chegava com tudo.
*******
Laísa quando chegou em casa naquela noite estava sorridente, e até trouxera flores para sua irmã mais nova que morava com ela.
-- Nossa viu passarinho verde, viu? – Lígia brincou ao receber as flores.
-- Pare de bobagens! Não posso ser gentil? – Perguntou Laísa sentando-se no sofá de frente para sua irmã.
-- Você não é gentil sem segundas intenções minha irmãzinha. – Lígia conhecia muito bem sua irmã.
Uma advogada linha dura, que não aceitava perder uma causa, mesmo que para isso precisasse usar de métodos nada convencionais.
Era conhecida no meio do direito como “águia devoradora”. Que abatia suas presas com um único bote que quase sempre era infalível.
No amor não era muito diferente. Sua homossexualidade nunca foi empecilho em sua carreira. Era discreta e sempre tinha ao seu lado belas mulheres. Mas não se envolvia profundamente com nenhuma.
Mas com Júlia a coisa parecia que seria diferente. Ela não fora uma apenas uma “presa”, ela sentira algo diferente quando a beijara e com certeza não deixaria isso passar assim despercebido.
Sim, ela era casada, mas se correspondeu era porque algo não estava tão seguro assim em seu relacionamento.
Pensava enquanto sua irmã lhe contava do seu dia na faculdade e ela nem prestava atenção.
O dia chegou invadindo o quarto de Júlia que se espreguiçava na cama.
-- Bom dia dorminhoca! – Veridiana estava sentada em uma poltrona no lado da cama. Estava vestida para ir trabalhar.
-- Acordou faz tempo? – Júlia sentou-se na cama ajeitando os cabelos com as mãos.
-- Sim, mas adoro ficar te olhando dormir. Já te disse que é linda amor? – Veridiana estava sentada na ponta da poltrona de pernas cruzadas. Vestia bermuda jeans branca, tênis all star vermelho e uma regata branca. Na cabeça estava seus óculos escuros estilo aviador.
-- Você que é linda Veri. – Júlia sorriu ao observa-la direito.
-- Olha só, estou com umas ideias e acho que vai adorar.
-- Que ideias? – Júlia estava mais tranquila.
-- Vou acertar algumas coisas no restaurante e depois estava pensando em irmos viajar, que acha? – Veridiana estava tentando achar uma forma de dar mais atenção a sua esposa.
-- Sério isso? – Júlia surpreendeu-se, afinal fazia dois anos que Veridiana não tirava férias, no máximo tirava uns dias de folga.
-- Seríssimo! – Veridiana sorriu ao ver a alegria de sua esposa. – Acho que estou em falta contigo.
-- Nossa eu nem sei oque dizer Veri.
-- Não precisa dizer nada amor. – Veridiana aproximou-se de Júlia e a beijou com desejo. – Precisamos de um tempo para nós, precisamos disso entende?
Júlia nada falou apenas abraçou a esposa e chorou.
Doía em sua alma ver a esposa se esforçando tanto para resgatar aquela relação e ela ter se deixado levar e ter se rendido aos toques daquela mulher.
-- Amor não precisa chorar. – Veridiana se afastou da esposa e a olhou nos olhos. – Bem agora vou trabalhar nos vemos a noite? – Ela alevantou-se e ajeitou a roupa.
-- Claro. – Júlia limpou as lágrimas do rosto.
-- Te amo minha linda! – Veridiana beijou de leve sua boca e saiu.
Júlia não respondeu, apenas baixou a cabeça pensativa.
Laísa acordou e foi logo para o escritório trabalhar. Ela tinha dois escritórios na capital gaúcha.
-- Bom dia Doutora! – Saudou a sua secretária Vania ao ver sua chefa chegar.
-- Bom dia Vania. – Laísa entrou em sua sala seguida pela secretária. Vestia um terninho azul escuro com riscas de giz e sandálias de salto alto, o cabelo estava preso em um rabo de cavalo.
-- A senhora tem um cliente daqui à uma hora. – Informou Vania conferindo a agenda da Doutora.
-- Ok Vania, agora providencie descobrir onde mora e o telefone daquela jogadora de vôlei famosa a Júlia Stefanni. – Pediu Laísa sentando-se em sua mesa. – Assim que descobrir mande uma dúzia de rosas vermelhas junto deste cartão. – Ela escrevia algo em uma pequeno cartão que depois colocou em um envelope entregando a sua secretária.
-- Certo Doutora. – Vania pegou o envelope e deixou a sala com um sorriso malicioso nos lábios. Sabia da opção sexual de sua chefe e constantemente mandava presentes a mulheres em seu nome. Imaginava que seria mais uma das conquistas de sua chefe.
Júlia pegou o seu carro e foi até o supermercado mais próximo e fez algumas compras. Queria que Dulce fizesse um jantar especial. Também passou no salão de cabelereiros e fez uma hidratação nos cabelos e depilação.
Quando voltou para casa já passava das três da tarde e estava carregada de sacolas e pacotes. Dona Dulce a ajudou a subir com as compras.
Elas moravam em um apartamento no Bairro Lindóia, zona norte de Porto Alegre. O lugar tinha dois quartos, sendo um uma suíte. Havia também o quarto de empregado, lavandaria, cozinha, uma sala bem ampla e um banheiro com direito a banheira de hidromassagem, que Veridiana fizera questão de mandar colocar.
-- Dulce prepara tudo do jeito que a Veri gosta, eu vou ao shopping que me esqueci de comprar uma lembrança para ela. – Júlia estava empolgada com seu jantar.
-- Pode deixar menina, que vou caprichar. – Dona Dulce sorriu e começou a organizar as compras nos seus devidos lugares. E Júlia saiu apressada para o shopping.
Veridiana havia recebido um SMS de sua esposa avisando que faria um jantar especial para comemorar as férias que ela tiraria. Por isso resolveu ir mais cedo para casa. Antes porem passou em uma floricultura e comprou um botão de rosa vermelho. Júlia sempre reclamara que ela nunca lhe dera flores.
Assim que chegou do shopping Júlia tomou um banho de banheira com sais de banho. Depois passou creme por todo o corpo e finalizou colocando o perfume preferido de Veridiana.
Em cima da cama um vestido curto de alcinha fina na cor lilás clarinho e sandálias rasteirinha na cor preta.
Vestiu-se com aprumo e deu uma última olhada no espelho.
-- Perfeito! – Ela disse ao conferir o seu visual.
-- Menina tem um moço na portaria, diz que é uma entrega para a você. – Informou Dona Dulce entrando no quarto.
-- Manda subir Dulce já vou ver isso. – Júlia terminou de passar batom e foi ver que entrega era.
Ao chegar à sala viu o entregador com um buquê de rosas vermelhas enorme nas mãos.
-- Senhorita Stefanni? – Ele perguntou sorridente.
-- Sim sou eu. – Júlia se aproximou curiosa. Será que Veridiana teria sido tão romântica ao ponto de lhe mandar flores? Pensou enquanto assinava o recibo de recebimento.
-- Parabéns! – Parabenizou o entregador se retirando do apartamento.
-- A Dona Veridiana sempre surpreendendo, hein? – Dona Dulce olhava as flores encantada.
-- Sempre Dulce, nunca imaginei que ela um dia me mandaria flores. – Júlia pegou o cartão para ler.
-- Então oque ela diz? – Dona Dulce estava aflita.
Mas Júlia nada disse, ficou parada olhando com os olhos arregalados para o cartão.
“ Que estás flores te encontrem em segurança...
Achou que não te encontraria?
Ledo engano minha linda. Quando quero algo eu tenho!
Essas flores são apenas uma singela demonstração disso.
Um beijo como aquele que trocamos...
Saudades...
Sua
Laísa Martins”.
-- Menina está se sentindo bem? Quem mandou as flores? Não foi Dona Veridiana? – Dona Dulce olhava para Júlia totalmente pálida segurando o buquê de rosas em uma mão e o cartão na outra.
-- Não foi a Veri. – Foi oque Júlia conseguiu dizer.
-- E quem foi então?
As duas se viraram para a porta do apartamento.
Veridiana perguntava parada na entrada segurando um botão de rosa vermelho.
-- Então Júlia de quem são as flores? – Veridiana a olhava seriamente. Seu semblante aparentava decepção.
Como Júlia nada falava, Veridiana caminhou até ela arrancou-lhe o cartão da mão e o leu atentamente.
-- Oque significa isso? – Gritou Veridiana com os olhos chispando de ódio.
Totalmente muda Júlia olhava a esposa sem saber oque fazer, oque dizer.
-- Fala alguma coisa Júlia! – Veridiana cuspia ao falar de tanta raiva. – Me explica isso, pelo amor de Deus!
-- Dona Veridiana se acalme a menina deve ter uma explicação. – Pedia Dona Dulce nervosa com oque poderia ocorrer naquela sala.
-- Por favor, saia Dulce! – Veridiana pediu com mais delicadeza já que tratava da empregada.
Quando Dona Dulce se retirou. Veridiana arrancou o buquê de rosas da mão de Júlia e atirou ao chão pisoteando-o em seguida.
-- Eu não acredito nisso Júlia! – Veridiana gritava descontrolada. – Eu me matando de trabalhar para a gente ter uma vida melhor, pensando em a gente fazer uma viagem para termos um tempo para nós e você me chifrando?! Porque fazer isso? Oque eu te fiz ou oque eu não fiz para você fazer isso comigo, com nós?
-- Veri eu nem sei oque te dizer...
-- Como não sabe oque dizer? Quem é essa Laísa?
-- Veri eu não tenho nada com ela...
-- Chega de conversa Júlia! Chega para mim dessa história, acabou! – Veridiana passou as mãos nos cabelos nervosa. – Acabou!
-- Oque você está dizendo? – Júlia desesperou-se.
-- Não posso continuar com alguém que me trai. – As lágrimas desciam pelo rosto de Veridiana.
-- Vamos conversar eu vou te explicar tudo direitinho. – Júlia caminhou até Veridiana e tentou lhe tocar o braço, mas ela se esquivou rapidamente.
-- Não me toca eu tenho nojo de você sua mentirosa! – Veridiana a olhou com desprezo. – Eu vou sair. – Ela deu meia volta e saiu porta a fora.
Enlouquecida Júlia chamou e correu atrás dela, mas foi inútil, ela já havia entrado no elevador.
Aos prantos ela voltou desolada para o interior do apartamento.
Veridiana pegou seu carro e saiu dirigindo pela cidade sem rumo. Acabou em um bar onde pediu uma garrafa de vodca e se pôs a beber sem controle. Queria de alguma forma esquecer aquela noite.
Sentada no chão da sala do apartamento Júlia chorava incontrolavelmente quando a campainha soou. Achando que Veridiana voltara e esquecera-se da chave, ela correu para abrir a porta, mas quem ela viu parada ali não era Veridiana.
-- Oi linda! – Laísa vestindo um curtíssimo vestido preto estava parada em sua porta com um sorriso irresistível nos lábios.
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Fim do capítulo
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