Na terça feira após o almoço estava terminando de conferir uns documentos quando o telefone tocou.

- Doutora Ana, sua mãe na linha.

- Pode transferir Fátima.

- Filha boa tarde!

- Boa tarde mãe tudo bem? Por acaso esqueceu que eu tenho celular?

- Eu estou ótima, eu prefiro ligar da forma tradicional mesmo. Você está bem?

- A vida continua não é mesmo? Agora é seguir até conseguir consertar as coisas.

- Ana Lucia você rezou para São Longuinho como te falei?

- Não mãe eu me esqueci. Ta muito corrido por aqui. – Menti, pois não acreditava naquelas coisas.

-Pois bem eu rezei, pois não me esqueço dos meus santos. Agora trate de dar três pulinhos.

- Como é? – Perguntei franzindo o rosto

- Isso mesmo dê três pulinhos! Agora!

Mesmo sabendo que ela não podia me ver, estava tão acostumada a obedecê-la que dei os três pulinhos rezando para que ninguém entrasse no escritório naquele momento e visse aquilo.

- Pronto mãe dei os seus três pulinhos, mas afinal o que isso significa?

- Significa que você esta pagando por um grande favor. Tenho uma coisa pra te contar. Eu fiquei batendo pestanas pra tentar te ajudar, pensei e pensei até que do nada me lembrei de uma coisa tão idiota. Nem sei como pude me esquecer na verdade.

- Mãe qualquer dia você me enlouquece sabia? Eu não estou entendendo. Dá pra me contar sem  divagar?

- Eu sei. Desculpe é que eu me empolgo e vou falando as coisas de qualquer jeito. Eu me lembrei da sua tia Yolanda, que por acaso é minha irmã.

- Eu sei que ela é sua irmã, me lembro bem dela, afinal eu ... Meu Deus mãe! – Minha ficha caiu

- Hum hum, entendeu né. É isso ai me lembrei de que Alma era sua vizinha e que elas são amigas.  

- É verdade, inclusive Clara foi visitá-las. Não foi assim que se encontrou com ela?

- Pois é. Liguei ontem para sua tia e como quem não quer nada fui puxando conversa e fiquei sabendo algumas coisas interessantes.

- Eu não acredito mãe. Como não nos lembramos disso antes?

- Isso aí. Descobri que eles estão morando em Araraquara. O pai comprou uma farmácia há uns cinco anos atrás e se estabeleceram por lá. Agora anote o endereço, e nunca mais duvide dos meus santos.

- Eu juro, nunca mais, nunca mais mesmo. Você é o máximo, eu te amo! E amo todos os seus santos também. Obrigada mãe. – Lagrimas de gratidão desciam pela minha face.

- Que é isso filha, eu também te amo. Eu só quero te ver feliz minha menina.  Vê se dirige com cuidado, nada de loucuras, e não esquece de ligar para a Sisse ou o Boris vai ficar com fome.

- Tá certo, eu acho que vou direto daqui. Vou ligar pra ela. E pra Mari também, pois ia deixá-la no aeroporto esta noite. Eu estou tão feliz.

- Eu sabia. Vai com Deus e boa sorte. Lembre-se o amor tudo vence. Você só tem que fazê-la te escutar.

- Beijo mãe.

Liguei na mesma hora para falar com Sisse, contei a novidade e disse que estava deixando as chaves reservas do apartamento com Fátima para que ela fosse buscar o Boris. Em seguida falei com Mari, que entendeu a minha urgência. Estava chateada por não poder levá-la, mas o quanto antes encontrasse Clara seria melhor. No meu escritório havia um banheiro privativo e um armário pequeno com algumas peças de roupa. Eu troquei o tailleur que estava usando por calça jeans e camisa, e coloquei um conjunto de lingerie na minha bolsa, não sabia o que ia acontecer e talvez não conseguisse voltar, eram cerca de três horas e meia de viagem até Araraquara, mais o transito próprio de São Paulo que pegaria em horário de pico, eu deveria chegar por volta das sete da noite.

Por sorte havia trago a caixa com as fotos, a carta e o envelope para o escritório, pois achei que precisaria mostrar para o detetive. Apanhei a bolsa, a caixa, a chave do carro, celular e fui embora. Estava muito nervosa, queria chegar o mais rápido possível. Não sabia como seria recebida só que isso não seria problema, daria um jeito de falar com ela, explicar o que aconteceu e depois se ela nunca mais quisesse me ver eu teria que aceitar, mas não antes de dizer tudo o que precisava ser dito. Durante todo o caminho fui planejando a conversa, como companheiros de viagem eu tinha Bom Jovi, U2, Nickelback, Aerosmith, entre outros, todos cantando o amor, assim como eu que também esperava poder ter meu amor de volta.

Eram exatamente sete e dezenove da noite quando entrei na cidade, e segui o caminho que o GPS me mostrava até sua casa. Parei em frente ao número indicado e fiquei ainda uns cinco minutos dentro do carro me preparando para o encontro.

No momento em que deixei o carro senti minhas pernas moles como gelatina, mas respirei fundo, segurei a caixa em frente ao meu peito e apertei a campainha. Logo dona Alma veio atender, quando me viu o sorriso sumiu de seu rosto dando lugar a raiva.

- O que diabos você está fazendo aqui? Como conseguiu meu endereço? – Esbravejou a titulo de cumprimento.

- Dona Alma, boa noite. Eu preciso falar com a Clara.

- De jeito nenhum. Depois do que fez pra ela estou com ódio de você e se não for embora agora chamo a polícia.  E nunca mais se atreva a voltar.

Dizendo isso ela tentou fechar a porta, mas eu coloquei o pé na abertura.

- Dona Alma não faça isso. Eu preciso falar com sua filha. A senhora não sabe o que aconteceu e nem ela. Estou procurando por vocês desde o dia em que foram embora. Por favor, eu te peço, me deixe entrar.

Nesse momento o seu Claudio ver o que estava acontecendo e ao me ver seu rosto se transformou em uma máscara de fúria.

- Como você tem coragem de aparecer por aqui? Vá embora antes que eu cometa a loucura que ainda não cometi por que você é mulher, se fosse um homem já tinha levado o que merece.

- Por favor, me deixem explicar.

- Explicar? Eu nunca aceitei o fato de Clara ser o que é, mas sempre acatei sua opção por amá-la. Porém depois de tudo o que ela passou por sua causa quase me arrependi por não tê-la obrigado a ser uma pessoa normal.

- Nós somos pessoas normais. Apenas amamos pessoas do mesmo sex*. Não há como o senhor obrigá-la a ser diferente.

- Suma daqui! Você a feriu duas vezes. Canalha!

- Eu não sou nada disso. Sou burra sim e o que mais o senhor quiser me chamar, mas não canalha.

- Ah não? Então traição pra você é uma coisa normal.

- Eu nunca traí sua filha!

- Mentirosa! Vai embora antes que eu não me contenha.

- Por favor, eu preciso explicar o que aconteceu, depois se ela não quiser mais me ver, prometo que vou e nunca mais perturbo nenhum de vocês. Eu juro, mas me deixem falar com ela.

- Você perdeu seu tempo, Clara foi embora para os Estados Unidos, e mesmo que ela estivesse aqui eu não deixaria você se aproximar dela de maneira alguma. – Disse dona Alma.

- Como assim foi embora?

- Isso mesmo que você ouviu Clara não está mais no Brasil.

- Não é verdade, não pode ser. Deus não seria tão maldoso comigo. – Disse com os olhos marejados.

- É verdade sim, e não adiante fingir choro, pois não acredito em suas lágrimas.

- E eu não acredito em vocês. CLARA! CLARA! Por favor, me deixa entrar! Eu preciso falar com você – Gritei para dentro da casa.

Seu Claudio começou a me empurrar, tentando fechar a porta na minha cara. Quando uma voz soou em suas costas

- Pai, pode deixar.

Meu coração parou por um átimo para em seguida bater como um louco alucinado.

- Clara minha filha, vai pra dentro eu já estou resolvendo aqui. Não se preocupe.

- Clara pelo amor de Deus me escuta! Eu preciso mesmo conversar com você.

- Pai, deixa que eu resolvo isso.

- Mas filha, você não pode aceitar falar com essa cretina. Olha bem pra você, veja o que ela te fez.

- Pai, por favor...

Então ele saiu da frente da porta a contra gosto e sem dizer mais nada deu as costas e foi em direção ao interior da casa. Dona Alma que estava no corredor só olhou para a filha e também se foi. Quando eu a vi, entendi o motivo do ódio dos pais dela, Clara parecia ainda pior do que da última vez que nos encontramos, ela caminhou até a porta e olhando em meus olhos disse:

- O que você quer Ana Lúcia? – Falou levantando a cabeça com altivez.

- Eu preciso explicar algumas coisas pra você. – Eu estava tremendo

- Ainda há algo que precise me falar que ainda não tenha sido dito? Já não foi o bastante?

- Há muita coisa ainda para ser dita e você precisa escutar. Tenha certeza que é do seu interesse.

- Tudo bem. Se não for pra me humilhar de novo, acompanhe-me.

Deu espaço para que eu entrasse, fechou a porta e foi na frente enquanto eu a seguia, assim que entramos em seu quarto fechou a porta.

- Muito bem Ana Lucia. Estou esperando. O que você tem de tão importante assim pra me dizer?

- Não me chama assim. Eu sei que você deve estar me odiando, mas...

- Ana, diga de uma vez o que veio fazer aqui. Tem mais algum recado da sua amante?

- Minha amante? E eu lá tenho amante? Se é de Mari que esta falando...

- É inacreditável a sua cara de pau.

- Clara é o seguinte, eu não sei sobre o que você está falando, mas...

- Ah não sabe sobre o que eu estou falando? – E vindo em minha direção me deu um baita tapa no cara.

Eu fiquei completamente sem ação. Passei a mão em meu rosto onde deviam estar gravados os seus cinco dedos. Só consegui olhar para ela sentindo minha face arder. Em seguida ela caminhou em direção à gaveta do criado mudo e tirou de dentro as fotos, que começou a jogar em cima de mim.

- Eu fui idiota o suficiente para pensar em te dar uma chance, afinal quando recebi essas fotos já não estava mais com você.

- Clara essas fotos são falsas, me deixa explicar.

- PARA DE MENTIR! SUA CÍNICA!

- Eu juro, não são o que parecem ser.

- É mesmo? E isso aqui também é falso?

Na hora que vi o que ela estava segurando, fiquei branca. Reconheci a calcinha que estava usando no dia em que fui conversar com Alicia e que não tinha encontrado na hora de me vestir. Passei a mão nos cabelos desesperada. Aquela filha da puta!

- Eu posso explicar isso também.

- Não precisa sua vadia me explicou tudo bem direitinho no dia em que foi até minha casa me entregar os “presentinhos” e contar como tinha sido delicioso poder matar a saudade. E ainda me disse com a cara mais lavada do mundo que se eu duvidasse que fosse sua, bastava sentir o cheiro. Bom, infelizmente pra você ela acertou ao dizer isso, pois eu o reconheceria entre milhares.

- Essa vagabunda queria mesmo acabar comigo. Como ela pode falar isso?

- Pois foi bem isso que ela me disse, antes de me entregar a sua carta pedindo para que fosse se encontrar com você na Europa para uma lua de mel bem romântica. Ela deve ser uma foda muito boa não é? Devem ter trepado muito, rindo da minha cara enquanto eu estava doente.

- Não, nada disso, eu vou te explicar direitinho o que aconteceu. O resto é mentira dela! Eu fui viajar sozinha, nunca escrevi carta nenhuma.

- Devem ter aproveitado muito. Ela me mandou cartões postais de cada lugar. E fotos suas e dela. Madri, Paris, Lisboa, Roma, Veneza, Londres até pro Canadá vocês foram. E ai vai me responder ela é uma foda boa ou não?

Coloquei a caixa que ainda segurava na cama e caminhei em sua direção, tentei segurá-la pelos ombros, mas ela começou a me bater com os punhos cerrados.

- Sai de perto de mim. Não me toca! Eu te odeio!

Afastei rapidamente minhas mãos, aquilo foi como uma navalha cortando minha pele, mas procurei manter a calma, precisava fazer com que me escutasse.

- Tudo bem, eu não vou te tocar, prometo, mas me deixa te contar algumas coisas.

- Quem disse que eu quero te ouvir?

- Você vai querer, creia é importante. Por favor, sente-se.

Ela sentou na cama e eu me sentei ao seu lado, peguei a caixa e a abri.

- Antes de qualquer coisa, preciso que saiba que tudo o que houve foi uma trama diabólica de sua prima. Para que você entenda é preciso começar do inicio. Na primeira parte da ação ela agiu sozinha. Mas depois ela teve comparsas.

- Por que eu devo acreditar em você?

-Porque eu tenho provas. Sabe o beijo que ela me roubou? Até aquilo não foi casual.

- Como assim?

- Ela viu você chegando e se aproveitou do momento para me beijar.

- E como você pode sabe disso?

- Alicia contou para a pessoa que a ajudou com a última parte de seu plano.

- E quem foi essa pessoa?

- Você já vai saber. Primeiro é importante que você conheça passo a passo o que aconteceu.

Abaixei-me e peguei as fotos que ela havia jogado em mim e estavam espalhadas no chão. Foi muito estranho me ver em posições tão intimas com aquela bruxa.

- Essas fotos por exemplo. Se você mandar analisar vão te dizer que não houve montagem, porque são reais.

- E você me fala isso assim na maior tranquilidade?

- Porque não vou mentir sobre nada. Elas são verdadeiras, mas foram tiradas enquanto eu estava inconsciente. Lembra que eu te contei que estava bebendo muito quando você foi embora?

Ela meneou a cabeça em sinal positivo, então contei a ela de que jeito Alicia tinha conseguido nos fotografar.

- Não dá pra acreditar que ela fez isso.

- Eu juro. Olhe bem para elas, verá que estou de olhos fechados, e de um jeito estranho. Se quiser pode perguntar depois para minha mãe como ela me encontrou aquele dia.

- Mas isso é nojento demais.

- Você ainda não sabe de nada. Descobri que ela vem me vigiando ha anos, só esperando para ver se voltaríamos a ficar juntas.

- Isso é loucura! Não pode ser verdade.

- Mas é infelizmente. E foi assim que ela soube da sua volta ao Brasil. E também foi desse modo que ela soube a quem recrutar para continuar com seu plano macabro.

- E quem foi essa pessoa?

- Jaqueline.

- Não pode ser. Você está mentindo.

- Não estou não.

Falei pra ela tudo o que sua amiga havia me contado sobre o primeiro encontro e como se juntaram depois para nos separar.

- Agora quero que leia uma coisa. – Disse e lhe entreguei a maldita carta.

Ela a pegou com as mãos tremulas. Quando terminou de ler seus olhos estavam arregalados e lágrimas escorriam por seus olhos.

- Como... como pode ser isso meu Deus! Esse papel de carta é meu, a letra é idêntica a minha. Eu não acredito. Não acredito. Parece um pesadelo.

- Essa carta foi entregue pra mim no sábado após sua partida para a Argentina. Junto com essas fotos e aquela outra que deixei em sua mesa no dia em que fui te procurar. Quando eu recebi já estava completamente alucinada, desesperada sem noticias suas.

- São meus primos, filhos da tia Antonina. Glauco e Carolina. Eles faziam de tudo pra tentar me animar um pouco porque contei a eles o que tinha acontecido. Ele é gay como eu. E a Carol é sua irmã adotiva. Nós ficamos muito próximos naquela época.  Eu fiquei me perguntado como você tinha conseguido aquela foto, e o que quis dizer quando a entregou para mim.

- Você precisa saber que eu tentei de todas as maneiras me comunicar com você, liguei para todos os hotéis, delegacia, hospitais, foram dezenas de ligações em seu celular, deixei milhares de recados em sua caixa postal, no messenger. Estava ficando louca. Achei que alguma coisa tinha acontecido.

- Eu fiquei doente. Mas perguntei pra Jaqueline, e ela me disse que você não tinha ligado pra mim. Eu estava tão sonolenta. Dormi quase dois dias inteiros. Passei muito mal.

- Você não ficou doente. Estava drogada.

Seus olhos se abriram de espanto, então lhe contei toda a história conforme Jaqueline me havia dito.

- Não. Não. Não creio. Diz que é mentira. Não podem existir pessoas assim.

- Não só podem como existem. Você consegue imaginar como eu me senti, após te procurar como doida e depois receber essa carta? Eu pensei que ia morrer de tanta dor. Cada palavra que eu lia me estilhaçava por dentro. Eu me senti morta. Nada mais tinha razão de ser. Eu só rezava para parar de sentir tudo aquilo. – Minhas lágrimas agora corriam soltas.

- Ah Meu Deus Ana. Eu não consigo nem...

Então ela me abraçou e choramos juntas. Quando conseguimos nos recompor eu voltei a falar.

- Eu não posso mentir pra você. Eu fui até o apart de Alicia. E então ela chorou e me disse que não tinha me entregado a carta antes por que me amava e não queria me ver sofrer. Eu acreditei nela. Isso foi apenas o começo da minha tortura. Ainda tinham mais coisas sórdidas para acontecer.

Falei sobre as mensagens que começaram a chegar e como aquilo me magoou.

- Senhor, isso é muita crueldade. Mas como eu não vi nada disso no meu celular, nem suas mensagens, nada?

- Sua amiga sabia sua senha.

- A data do seu aniversário.

- É ela me contou. Então, como tinha essa informação pode apagar tudo, inclusive as mensagens que deixei na internet também.

- Ela fez isso tudo e na volta ainda me falou que Suzana havia contado pra ela da volta de Alicia.

- Su nem sabia da existência da sua prima antes dessa confusão. Tudo foi planejado pra te deixar preparada para a segunda parte do plano.

- Como ela conseguiu a ...você sabe o que.

Desesperada comecei a balançar a cabeça. Agora viria a pior parte.

- Me perdoa Clara, por favor, eu estava...

-Não fala isso pra mim. Eu não quero ouvir. Para... não precisa dizer mais nada

- Eu sei que fui uma estúpida! Talvez você não possa me perdoar, mas eu preciso te contar a verdade, por que eu te amo Clara, sempre amei. E já houve mentiras demais entre nós.

- Como você pôde?

- Eu nem pensei. Ela veio pra cima de mim e eu estava magoada, com raiva, só deixei acontecer. Depois me arrependi é claro, mas o estrago já estava feito. Parecia tudo tão real Clara. Eu achei que fosse verdade. Me desculpe. Eu estava te odiando. Por isso eu fui viajar, não queria te ver. Mas nunca consegui tirar você da cabeça. E mesmo durante o tempo em que eu estive na Europa, lendo e relendo esta carta, não pude te arrancar do meu coração, da minha alma. Eu me odiava e te odiava, mas logo isso passava e só restava o amor.

- É macabro demais. Como alguém pode fazer uma coisa dessas? É tão surreal que fica difícil de acreditar.

- Eu tenho como provar, posso te levar pra falar com o Aldo que é o delegado que me ajudou, com o Carlos que foi o cara que escreveu a carta.

- Espera ai.

Ela levantou-se e pegou da gaveta uma carta, os cartões e as fotos e me entregou. Incrível. Alicia tinha estado nos mesmos lugares que eu. Havia fotos minhas em cafés, andando de bicicleta, sentada embaixo de árvores lendo. Seja quem for que estava me seguindo sabia muito bem fazer seu trabalho sujo.

- Ela me seguiu pela Europa e eu nem percebi. Deve ter ido para a Espanha depois de mim porque ainda estava aqui quando fui para Lisboa. Já que Clarice se encontrou com ela para pegar o envelope.

- Que envelope?

- Esse. – Entreguei a ela. – O envelope que segundo ela veio com as fotos e a maldita carta. Pedi que Sisse pegasse com ela e mandasse periciar. Deve ter ocorrido algum erro, pois o perito disse que ele era real, o que fez com que eu não tivesse mais duvidas sobre a veracidade da carta.

- Esse envelope é verdadeiro Ana. Quando ela me mandou as fotos, eu escrevi uma carta de resposta, pedindo que nunca mais me mandasse nada, que me esquecesse.

-Jesus! Quanto mais eu descubro, mais fico horrorizada.

- Leia a carta que ela me entregou junto com a sua lingerie.

Peguei o papel já imaginando quanto de veneno deveria ter ali

 

Alicia minha gostosa

Tudo bem?

Conforme prometido estou escrevendo para pedir que venha se encontrar comigo, no momento estou em Madri, mas quero fazer um tour pela Europa, e não há companhia melhor do que a de uma mulher tão tesuda e quente como você.

Já estou morrendo de fome desse corpo maravilhoso.

Ainda esta com a calcinha que te deixei de lembrança? Tem utilizado o souvenir para se tocar do jeito que combinamos? Eu me masturbo todas as noites cheirando a que me deu, mas isso não esta matando a minha vontade. Estou louca pra te comer de verdade.

Quero seu gosto em minha boca, beber esse mel delicioso direto da fonte, me lambuzar de você, do seu gozo.

Não me deixe esperando muito, pois não consigo esquecer a nossa última foda. Você rebol*ndo em meus dedos, seus seios cheios que mamei com gula. Seus gritos e gemidos. Ah Delicia! Só de lembrar já estou com um tesão monstruoso.

Vou ter que parar por aqui pra poder tomar um banho e brincar com o chuveirinho, se é que me entende.

Venha o mais rápido possível.

Sua

Ana

 

 

Quando terminei de ler estava perplexa. Que mulher diabólica. Não era pra menos que Clara não queria me ver. A calcinha, mais aquela carta e depois as fotos junto com os cartões. Tudo falava contra mim.

 - Até onde pode chegar a maldade de uma pessoa? Chega a dar medo.

- E quando veio a te minha casa e me disse todas aquelas coisas e que tinha encontrado uma mulher maravilhosa, você queria que eu dissesse o que? Era preferível ficar muda.

- Eu estava com raiva. Triste. E depois não era dela que estava falando. Alicia nem me passou pela cabeça naquele momento.

- Mas estava falando de alguém.

-Sim de Mariana. Estive com ela na última parte da minha viagem.

- Então vocês estão juntas? Voltaram?

- Não. Ela é incrível! Não existem muitas mulheres como Mari no mundo. Mas eu não a amo. Meu coração sempre foi seu Clara. Sempre será. Não importa o que aconteça aqui eu sempre vou te amar. Você é a luz da minha vida. E por mais que Alicia tenha feito, nunca vai conseguir destruir o que eu sinto.

As lágrimas escorriam pelo seu rosto e eu comecei a chorar também.

- Também te amo Ana, eu nunca te esqueci. Nunca. Jamais houve outro alguém em minha vida, porque eu sempre procurava por você em cada pessoa que cruzava meu caminho. Eu entendo tudo o que aconteceu. E sei agora que errei tanto quanto você. Devíamos ter confiado mais uma na outra. Nos nossos sentimentos. Ter conversado. Desse modo por mais que ela fizesse jamais teria nos separado.

- É verdade meu amor. Mas não temos como mudar o que já passou. E não importa o que ela faça, nem por quanto tempo mande me seguir, nunca terá outra chance de nos separar. Se você me perdoar, jamais cometerei os mesmos erros.

- Eu não tenho do que te perdoar se fui enganada do mesmo modo que você. Ela usou exatamente as mesmas cartas do baralho pra nós duas. Tudo isso não tem mais importância. Onde elas estão agora?

- Aldo deteve Jaqueline para interrogatório. Alicia infelizmente conseguiu fugir.

- Como assim?

- Eu fui tirar satisfações com ela, e quando a policia foi até o apart ela já não estava mais lá.

- Quer dizer que ela está solta por ai?

- Sim, mas tenho fé que daqui a pouco conseguem pegá-la. Mas vamos esquecer isso. Agora me diz o que será de nós? Você sabe o quanto eu te amo, e o que eu quero. E você Clara? Vai voltar pra mim?

- Me perdoa, mas está doendo demais saber que ela conseguiu ter você. Saber que ela te tocou esta me matando. Analu, eu te amo demais, mas eu não consigo aceitar.

- Não faz isso com a gente, por favor.

- Me desculpe meu amor.

Naquele momento eu soube que tinha perdido. Era o fim.

Sem conseguir me controlar comecei a soluçar.

- Isso quer dizer que nunca mais vamos nos ver Clarinha? É isso mesmo que você quer?

- Eu não sei se não voltaremos a nos ver Analu. Mas por enquanto é melhor não. Sinto muito.

- Você que sabe meu amor. Eu disse que você decidiria, não foi? Então assim será.

Sem dizer mais nenhuma palavra eu me levantei e caminhei até a porta, porém antes de sair me virei e falei olhando diretamente para olhos azuis intensos:

- Clarinha aconteça o que acontecer, esteja onde você estiver, lembre-se que nunca vou te esquecer. Você foi, é e sempre será o único amor da minha vida. E nada nem ninguém vai conseguir mudar isso. Apagar o que sinto dentro do peito. É uma pena não podermos viver essa coisa rara. Adeus meu amor.

E fui embora, sem olhar para trás. Entrei no carro e sai sem direção, às lágrimas quase me impediam de enxergar, por isso encostei umas duas quadras depois. No radio começou a tocar uma musica que fez com que eu chorasse de perder o folego. Era a história da minha vida em uma canção.

 

Hoje eu vejo que não consigo entender

O que houve entre nós

Eu ainda consigo ouvir sua voz

Me dizendo o que eu já sei

 

Tudo tem um começo e um fim

Eu vejo a dor em seu olhar

E mesmo sem querer eu te deixo partir

Pra que possa tentar ser feliz

Outra vez recomeçar

 

E quando eu me perco em suas memórias

Vejo um espelho contando histórias

Sei que é difícil de esquecer essa dor

E quando penso no que vivemos

Fecho os olhos, me perco no tempo

Pra mim não acabou

 

Tudo tem um começo e um fim

Eu vejo a dor em seu olhar

E mesmo sem querer eu te deixo partir

 

E quando eu me perco em suas memórias

Vejo um espelho contando histórias

Sei que é difícil de esquecer essa dor

E quando penso no que vivemos

Fecho os olhos, me perco no tempo

Pra mim

 

Sei que você vai seguir

Mas eu não vou desistir

Eu espero que você se entregue neste amor

Sei que você vai seguir

Mesmo com a dor

Vai lembrar de mim

 

Hoje eu vejo que eu não consigo entender

O que houve entre nós

 

E quando eu me perco em suas memórias

Vejo um espelho contando histórias

Sei que é difícil de esquecer essa dor

E quando penso no que vivemos

Fecho os olhos, me perco no tempo

Pra mim não acabou

Pra mim não acabou

 

 

Quando consegui me controlar enxuguei minhas lágrimas, liguei o carro e voltei para São Paulo. Eu não tinha mais nada pra fazer ali.

Fim do capítulo