Capítulo 32
As meninas estavam no escritorio, semana que antecedia o carnaval, quarta-feira, o expediente seguia normalmente, até que o celular de Adriana tocou, no visor o nome Mariana piscava como um letreiro luminoso. A morena não sabia o que fazer, estava com medo de magoar Viviane que estava sentada na mesa ao lado. Resolveu atender e se dar uma chance de conhecer aquela morena que tanto lhe chamou a atenção.
-- Alo.
-- Adriana?
-- Sim, sou eu, como vai Mariana?
Ao ouvir o nome dito por Adriana, Alessandra e Paula se olharam e em seguida olharam para Adriana que tentava se manter séria para conversar com a arquiteta. Viviane estava concentrada e não prestou atenção no que acontecia.
-- Tudo bem, e você?
-- Estou ótima. Ao que eu devo essa ligação?
-- Você disse que eu poderia ligar, então eu liguei.
-- Só por isso? – sorria –
-- Não, na verdade eu quero te convidar para um jantar.
-- Um jantar? – franziu a testa –
Só então Viviane percebeu que Adriana estava em uma ligação com uma pessoa que a cortejava, passou a prestar atenção na conversa. Alessandra levantou e foi ao encontro de Adriana que tinha caminhado até a janela do escritorio. Paula foi até Viviane para conversar com a garota.
-- Vivi, você está bem? – era carinhosa –
-- Eu estou Paula, eu sabia que isso iria acontecer, eu só não esperava que fosse tão cedo.
-- Sim, um jantar comigo, eu gostaria de te conhecer melhor Adriana, e eu estou livre hoje, resolvi arriscar. – dizia Mariana com receio de receber uma negativa –
-- Mas para hoje? Você me pegou de surpresa. – olhava para Alessandra –
-- Você vai! – sussurrava Ale – É a arquiteta gostosa? Ai! – uma pasta foi lançada por Paula na direção da contadora – Caraca Paula isso doeu!
-- Você está sozinha? – Mariana perguntava –
-- Não, eu estou no escritorio, é que caiu uma pasta da prateleira. – ria sem demonstrar –
Viviane continuava com o semblante triste e levantou para ir ao banheiro. Paula foi atrás dela.
-- Vivi, deixa só eu te explicar uma coisa, essa moça já havia conhecido a Drica antes dela viajar, elas só não saíram por causa do acidente e da viagem dela para Boston.
-- Paula, relaxa, é doído, mas eu não vou fazer nada para atrapalhar a Dri. Ela merece ser feliz, mesmo que não seja comigo. – entrou no banheiro –
Adriana olhou para Paula e fez sinal para saber se Viviane estava bem, ela balançou a cabeça indicando que sim.
-- Mariana, vamos fazer o seguinte, eu vou confirmar aqui na agenda como está o restante do meu dia e eu já te ligo, pode ser?
-- Claro minha linda, eu vou esperar ansiosa pelo seu telefonema.
-- Tudo bem, eu já te ligo. Um beijo.
-- Beijos.
Adriana desligou o celular e olhou para as amigas, Alessandra ainda esfregava o braço que ficou vermelho com o contato da pasta, e Paula veio ao seu encontro, segurou suas mãos e olhou em seus olhos.
-- Drica, você quer fazer isso?
-- Paula, eu quero sim. – falava com convicção –
-- Então minha amiga, vai buscar sua felicidade. – sorriu –
-- Viviane? Eu preciso falar com ela.
-- Vai lá.
Adriana foi até a porta do banheiro, e bateu delicadamente.
-- Já estou saindo. – Viviane respondeu –
Ao abrir a porta ela deu de cara com Adriana en pé esperando para conversar com ela, a ruiva estava com o nariz vermelho e lágrimas nos olhos, o que cortou o coração de Adriana.
-- Vivi, me desculpa, eu não sabia que ela ia ligar. Eu te falei dessa moça uma vez, é a arquiteta que ha algum tempo tenta um contato comigo, mas aconteceram tantas coisas. – foi interrompida por Viviane --
-- Dri, eu sabia que isso ia acabar acontecendo, você tem que procurar a sua felicidade já que não a encontrou comigo, você já sofreu demais, não sou eu quem vai te impedir.
-- Vivi, eu encontrei a felicidade ao seu lado, mas eu não encontrei o amor, eu não sei se eu vou encontrar com ela, é só um jantar, mas eu não irei se você me disser que ficará incomodada ou magoada comigo.
Viviane segurou o rosto da morena e suas esmeraldas brilhavam se encontrando com aqueles olhos castanhos que mostravam aflição.
-- Dri, você pode ir jantar com ela, eu vou ficar bem. – beijou o rosto da morena e saiu para sua mesa –
A morena pegou o seu celular e rediscou o número de Mariana, que atendeu prontamente.
-- Oi Adriana.
-- Atendeu rápido!
-- Eu estava ansiosa pela sua ligação. E então? Tem tempo livre hoje?
-- Sim, eu tenho um tempo livre hoje sim, podemos jantar. Onde eu te encontro?
-- Eu te pego.
-- Não precisa, me passa o endereço que eu te encontro.
A arquiteta passou o endereço de um restaurante em Ipanema e Adriana anotou em um bloquinho.
-- Está anotado, eu te encontro às nove.
-- Ótimo, um beijo, até mais tarde.
-- Beijo.
Ao desligar o celular ela olhou para as amigas.
-- Será que eu estou fazendo o certo? Eu tenho tanto medo.
-- É só um jantar minha amiga, só um jantar. – Paula tentava amenizar os corações em guerra naquela sala –
************************
Isadora ligava para a contabilidade a fim de resolver alguns assuntos de sua empresa, e rezava para não ser atendida por Alessandra, quem a atendeu foi Viviane.
-- Contabilidade, Viviane, boa tarde!
-- Alo, Viviane, meu nome é Isadora eu trabalho na RLX, eu preciso pedir para corrigir algumas guias, pois o meu pessoal mandou o valor do faturamento errado para vocês, será que você pode me ajudar com isso?
-- Claro Isadora, eu vejo isso para você.
Ao ouvir o nome de Isadora, Alessandra e Paula se entreolharam, Elas ficaram desconfortáveis, afinal, ela também tinha sido enganada pela traição de Nathalia.
-- Prontinho, Isadora, eu acabei de enviar para o seu e-mail.
-- Obrigada, você é nova ai?
-- Sim, estou a um mês só, vou ajudar as meninas enquanto Adriana ficar nos Estados Unidos, você a conhece né?
-- Sim, eu conheço sim. Então ela vai ficar por lá.
-- Sim, vai fazer mestrado agora. -- dizia com orgulho --
-- Entendi, então obrigada Viviane, depois conversamos mais. Um beijo.
-- De nada, beijo.
Desligou o telefone e ficou pensando naquela voz tão aveludada que acabara de ouvir, se a dona daquela voz for tão delicada quanto, imaginou ser uma mulher muito bonita.
Do outro lado Isadora pensou o mesmo, mas desviou sua atenção e pegou o celular e ligou para Ana Paula.
-- Oi Isa.
-- Oi Aninha. Pode conversar um minuto?
-- Sim, o que houve?
-- Eu queria dar um rolé hoje Ana, o que você acha?
-- Ué, vamos, quer ir para onde?
-- Vamos para o São Nunca.
-- Pode ser, eu te encontro por lá às oito.
-- Marcado. Beijos amiga.
-- Beijos.
********************
Às nove horas, Adriana estacionava em frente ao endereço que Mariana lhe pessara pelo telefone. Um manobrista recepcionava a morena, recebendo as chaves do seu carro e lhe entregando um vallet pelo estacionamento. Pontual como sempre, ela rezava para não ter que esperar muito tempo pela arquiteta.
Era um restaurante japonês, a arquitetura oriental era onipresente no estabelecimento, as paredes vermelhas davam o tom com detalhes dourados, na recepção uma bela descendente de japoneses a recepcionou. O sorriso simpático lhe acolheu. Adriana informou que se encontraria com uma pessoa, e a japonesa conferiu as reservas, confirmando o nome de Mariana, pediu que ela lhe seguisse.
Adriana foi levada até uma sala mais reservada, conhecidas como shoji e fusuma, as portas deslizantes de madeira e papel de kozo separam o ambiente do salão principal, onde avistou uma mesa baixa posta com porcelana preta e decorada com simbolos japoneses na cor branca, na parede alguns quadros com pinturas estilizadas, ao fundo uma parede de tijolos bege, com um vidro branco fazendo uma composição, no chão tatames de palha de arroz com borda preta, o ambiente à meia luz dava um ar de intimidade, nos cantos da sala estavam dispostas luminárias de madeira tratada, com folhas de papel de arroz, em volta da mesa, apenas dois zabutons (almofadas) também pretos. A atmosfera era completamente envolvente.
A recepcionista indicou que ela poderia aguardar por Mariana ali naquele reservado. A morena ficou impressionada com o bom gosto do lugar. Sentou-se em um dos zabutons e ficou aguardando. Não esperou muito tempo, viu a silueta de uma morena estonteante passando por entre as frestas das divisórias.
A recepcionista abriu o caminho e Mariana entrou, linda! Estava com uma calça preta, blusa estilo oriental branca de cetim, com desenhos florais pretos, nos pés uma sandália alta prata combinando com os acessórios, os cabelos presos em um coque com alguns fios soltos, aquela visão tirou o fôlego de Adriana.
Adriana levantou para cumprimentar a arquiteta que a olhou da cabeça aos pés, a contadora estava maravilhosa, usava jeans claro, com a blusa tomara que caia azul marinho toda amarrada com cadarços, os cabelos soltos, a sandália estava na soleira da sala, onde Mariana deixou as suas também. As duas mulheres estavam encantadoras e encantadas com aquela atmosfera altamente româtica que fora preparada para aquela noite.
Mariana tomou a direção de Adriana que também se moveu ao seu encontro, tocaram as mãos, sentindo toda a tensão em cada uma, e se cumprimentaram com beijos no rosto.
O olhar negro de Mariana penetrou o castanho de Adriana provocando um arrepio na pele da contadora.
-- Você está linda! –sorria –
-- Você também Mariana.
-- Vamos nos sentar. – apontou para a mesa –
-- Eu devo admitir, você caprichou no lugar, eu achei incrível.
-- Que bom que você gostou, eu pedi que caprichassem.
Adriana olhou desconfiada para a arquiteta.
-- Você tem prestigio por aqui!
-- Eu conheço o dono, fui eu que fiz a reforma daqui quando o Hirashi comprou esse lugar. Eu pedi que ele me cedesse uma das salas reservadas para termos mais privacidade. – sorriu --
-- Hum, entendi, você atuou na decoração também?
-- Não, eu dei algumas ideias, mas quem fez a decoração foi a Silvinha, uma das designs do escritório.
-- Ficou maravilhoso! – estava encantada --
Nesse momento o sushiman entrou na sala trazendo uma bandeja com saquê e dois tchawans (copos para saquê). Serviu a bebida na mesa e estendeu o cardápio. Mariana pegou e olhou para Adriana.
-- Pode pedir você, eu acredito que você tenha muito bom gosto depois do que eu vi aqui. – sorria –
Mariana sorriu e voltou sua atenção para o cardápio. Abriu um grande sorriso e voltou o olhar para o sushiman.
-- Nós queremos a barca média, com sushi, sashimi, harumaki e tempurá. Eu gostaria de um misso shiro também, você gosta Adriana?
-- Não, obrigada, o misso shiro eu vou dispensar.
-- Então é só um.
O rapaz anotou o pedido e saiu para preparar o jantar, as duas permaneceram sentadas e Mariana serviu o saquê que estava disposto sobre a mesa. As duas estavam sentadas de frente uma para outra. Mariana entregou o tchawan para Adriana e brindaram à noite.
Conversaram amenidades, sobre o trabalho de ambas, e a viagem de Adriana.
-- Mas você ficou um ano lá fora e vai voltar esse ano de novo? – comia um sushi --
-- Sim, eu fui convidada pelo meu orientador para fazer o mestrado lá. Viajo uma semana depois do carnaval. – molhava o sushi no molho shoyo --
-- Falando nisso, vai viajar no carnaval? – bebeu um gole de saquê –
-- Sim, eu vou para Cabo Frio com meu irmão, ele alugou uma casa por lá com alguns amigos. – comeu o shushi –
-- Que bom, eu vou ficar em Buzios, é pertinho, podemos nos encontrar por lá. – abriu um sorriso encantador –
-- Sim, podemos sim, me liga. – limpava a boca –
-- Mas me conta, você falou de problemas o que houve? – comia um sashimi –
-- Ah, eu fui atropelada por uma doida que estava me perseguindo, longa história, quebrei a perna e tive que colocar uma barra de titanio, eu passei meses em recuperação.
-- Nossa! Mas quem é essa louca?
-- Ai Mari eu não gostaria de relembrar esse episódio hoje em uma noite tão agradável. Posso te chamar de Mari?
-- Claro! Pode me chamar do que você quiser. – seu olhar mais sedutor se armou --
Adriana ruborizou, sorriu para a arquiteta e voltou a atenção para o prato decorado que continha alguns itens da barca de comida japonesa.
-- Eu entendo você, não falaremos do acidente. Você namora?
-- Não. – pensou um pouco -- Eu confesso que eu não imaginava te reencontrar depois de tanto tempo!
-- Eu não sou mulher de muitas mudanças. Eu gosto de criar raízes, deve ser minha decendência indígena.
-- Entendi, mas agora eu que te pergunto, você está sindo com alguém? – olhava desconfiada –
-- Não, eu estou solteiríssima ha quase dois anos. – limpava a boca –
-- Sério? E por que esse tempo todo?
-- Eu tive um relacionamento muito intenso com uma mulher que me magoou muito, mentiras e traições, até que um dia eu cansei de perdoar, e resolvi fechar para balanço. Estou nessa desde então.
-- Entendo. Eu também já sofri muito por uma traição, mas foi com um namorado que eu tive já tem três anos.
-- Namorado? Você não é lésbica? – seu olhar era desconfiado –
Adriana riu da expressão da arquiteta.
-- Relaxa, eu tive relacionamentos hétero e depois que eu terminei com o Edu, eu fiquei quase um ano sem ninguém, até conhecer uma mulher que mudou a minha maneira de ver os relacionamentos, e eu me apaixonei. Hoje eu percebo que nunca daria certo aquele namoro, eu gosto é de meninas. – disse a ultima frase em um sussurro como se estivesse contando um segredo –
Mariana riu aliviada, por um momento pensou que havia se enganado a respeito de Adriana.
-- Que alívio! Por um momento eu pensei que o meu “gaydar” havia falhado.
-- Não, você está certíssima. – seu olhar era calmo –
Mariana segurou sua mão sobre a mesa, fez um carinho com o polegar, olhou para Adriana que estava observando as reações da índia, a morena pensava como dizer a ela que não estava preparada para iniciar um relacionamento naquele momento. Pensou que poderia, mas ali na hora que estava com Mariana percebeu que precisava de um tempo para esquecer Ana Paula, e não magoar Viviane.
-- O que foi? Seu olhar mudou de repente. – perguntava Mariana –
Adriana recolheu a mão. – Nada não.
-- Adriana eu gostaria de te conhecer melhor.
-- Mariana, eu vou embora daqui a três semanas, eu vou passar um ano em Harvard, eu não acho que seja correto eu deixar que você se aproxime quando eu terei que partir.
-- Adriana, se for por causa da distância, esse não é o maior problema, podemos resolver isso.
-- Mariana, eu ainda não estou pronta para um relacionamento, eu pensei que poderia, mas eu não posso.
Mariana apenas a olhava, ela estava muda, ela realmente esperava que pudesse sair com Adriana dali e levá-la para sua casa, mas ao ver a expressão da morena percebeu que ela estava falando sério. Ficou desapontada por ter montado toda aquela atmosfera para cosquistar a contadora e não estava saindo do seu modo.
Adriana percebeu a mudança na arquiteta, e sentiu-se mal, pensou que seria a melhor hora para ir embora.
-- Mariana,é melhor irmos embora. – disse constrangida – Eu peço desculpas por tudo.
-- Adriana, não se desculpe. – tentava contornar o constrangimento – Não pense que eu estou chateada.
-- Eu não pensei. – deu para perceber de longe–
-- Podemos terminar o jantar sem pressa, por favor, fique mais um pouco. Me desculpe por ter me precipitado, eu acho que fiquei muito ansiosa com nosso encontro.
-- Está tudo bem. Eu gosto de você Mariana, te acho uma mulher linda, mas não é o momento certo para eu me envolver com alguém.
-- Eu entendo, é uma pena, mas eu respeito o seu momento. – depois de uma pausa – Existe alguém?
-- Como eu te falei, eu não tenho um relacionamento com ninguém, mas sim, existe alguém que habita o meu coração ainda, eu serei honesta com você.
-- Obrigada pela franqueza. É melhor assim. Mas eu posso esperar que você volte, quem está a dois anos esperando alguém, mais um não fará diferença. Desde que eu te vi a primeira vez eu achei que você entraria na minha vida, e eu quero apostar nisso. – olhava firme nos olhos de Adriana –
A morena se sentiu intimidada com aquele olhar, e uma corrente elétrica passeou pelo seu corpo ao ouvir a declaração da arquiteta, ha muito tempo não se sentia assim. Aceitou terminar o jantar. Conversaram sobre amenidades, o trabalho passou a ser o principal assunto na mesa.
Enfim terminaram o jantar e resolveram deixar o restaurante, ao se levantarem, os olhares se cruzaram, o desejo era aparente nos olhos negros de Mariana, o que desconcentrou Adriana de uma maneira que ela não conseguia emitir uma frase completa.
-- Adriana, obrigada pela noite agradável. – Mariana se movimentava para próximo da morena –
-- Eu que agradeço. – sua respiração era descompassada –
As duas estavam bem próximas, podiam sentir as respirações quentes em suas peles. Adriana mordeu o lábio inferior inconscientemente o que fez Mariana salivar. A índia se aproximou ainda mais e Adriana sentiu o calor do seu corpo emanando dos poros da outra, semicerrou os olhos e Mariana aproveitou esse momento de fraquesa da morena e avançou em sua boca.
Adriana aceitou a investida e abriu os lábios para receber a língua ágil que invadia seu espaço, Mariana envolveu a cintura de Adriana e puxou colando seus corpos, a morena sentia que perderia o chão a qualquer momento. Que beijo! Mariana era um vulcão adormecido entrando em erupção, o corpo de Adriana começava a dar sinais de excitação. Ofegante se separou da índia e olhou em seus olhos, um sorriso vitorioso surgia nos lábios da arquiteta.
Adriana delicadamente se afastou, se soltando das mãos firmes que lhe envolviam. Ajeitou os cabelos, seu corpo lutava para voltar ao contato da pele quente da outra, mas sua razão a impedia.
-- Eu preciso ir embora. – suas palavras pareciam não obedecer –
-- Tudo bem, está tarde mesmo. – ainda sorria –
Mariana abriu as divisórias, e deixou que Adriana saísse primeiro, a morena passou por ela que fitava seu corpo da cabeça aos pés, achava a visão que tinha linda e perfeita.
Deixaram o restaurante com gostinho de quero mais, enquanto aguardavem os manobristas, se olhavam sem dizer nenhuma palavra. Não precisava, tudo estava implícito, sentiam desejo, queriam mais do que aquele simples beijo, mas Adriana não se permitiu, não se sentiu à vontade de se aproveitar dela e deixar outro coração despedaçado ao viajar.
Os carros estavam prontos e as duas mulheres precisavam se despedir.
-- Então é isso, foi uma noite muito agradável Mariana, eu peço sinceras desculpas por ter frustrado algum plano maior.
-- Não se preocupe, não fiz reservas em outro lugar. – riu –
-- Foi um prazer! – Adriana dizia principalmente referindo-se ao beijo –
-- O prazer foi todo meu. – seu olhar era sedutor –
Cumprimentaram-se com beijos no rosto e tomaram seus carros. Adriana tomou o caminho de Copacabana e foi pensativa, sentia atração pela arquiteta, mas não podia se envolver, queria um tempo para organizar os sentimentos, esquecer Ana Paula, e não queria magoar outra pessoa, não estava pronta para outro relacionamento ainda, não estava inteira, sua esperança era de se recompor nessa viagem, colar os cacos que estão espalhados dentro de si.
Entrou no apartamento, e encontrou Paula e Viviane assitindo televisão. As duas olharam espantadas para a morena entrando no apartamento àquela hora, Paula que estava deitada se sentou.
-- Oi meninas. – sorriu –
-- Ué, você chegou cedo?
-- São mais de onze horas Paula! – olhava o relógio de pulso --
-- Eu sei, mas como foi o jantar?
-- Foi só um jantar. – disse evasiva --
Adriana disse isso indo em direção ao quarto, Viviane que estava sentada no outro sofá sorriu marota, percebendo que não houve envolvimento entre Adriana e a arquiteta. Paula percebeu sua satisfação e balançou a cabeça.
No quarto Adriana tirava as roupas, lembrava-se do beijo, colocou os dedos nos lábios, podia sentir o perfume da arquiteta que ficou em suas mãos. Viajou naquele pensamento e sorriu sozinha. Viviane veio sorrateiramente e parou na porta do quarto.
-- O jantar foi bom?
-- Que susto Vivi! – colocou a mão no peito -- Não vi que você estava ai.
-- Cheguei agora. – cruzou os braços –
-- O jantar foi bom, fomos a um restaurante japonês, muito gostoso, o ambiente aconchegante, podemos ir até lá um dia desses. – tentava parecer natural –
-- Eu achei que vocês iriam esticar a noite. – disse com cuidado –
-- Vivi, eu não estou pronta para isso ainda, eu achei que estava, mas eu não estou, eu já magoei você, eu não queria dar esperanças para outra pessoa na véspera da minha viagem. – dizia cansada daquela situação – Posso ter agido como uma cafajeste com você, mas eu não vou mais te magoar.
-- Eu não quis dizer isso Dri, desculpe. – foi até a morena – Eu fiquei com ciúmes, só isso. Você não é cafajeste.
Adriana virou para a ruiva e a olhou com ternura, Viviane a abraçou e ela se permitiu àquele abraço, retribuiu com muito carinho. Beijou sua testa e voltou a se vestir. Viviane voltou para a sala.
******************
Em Niterói Isadora e Ana Paula conversavam no bar, enquanto bebiam um chope cada uma.
-- Então Ana, como está o processo de descoberta?
-- Eu ainda estou indecisa Isa, eu não sei o que fazer. – bebeu um gole do chope –
-- Você tem que decidir logo, Adriana vai viajar novamente e Lívia não vai te esperar para sempre. – comia um bolinho de bacalhau –
-- Eu sei disso. E você, não conheceu ninguém interessante?
-- Não, não tenho ido a lugar algum, e quando saio estou sempre com você, a não ser que você queira ir para a cama comigo.
-- Qual é Isa? Eu hein! Está na seca hein mulher! – comia um bolinho –
-- Menina nem me fala, eu estou brincando é claro! Mas eu já estou subindo pelas paredes. – bebeu um gole de chope –
-- No carnaval você tira o atraso.
-- Pode ser. Eu não ia falar nada sobre isso, mas tem uma coisa me incomodando.
-- O que foi? – limpava a boca com um guardanapo –
-- Hoje eu liguei lá para o escritorio das meninas.
-- Alessandra que atendeu? – chamou o garçon –
-- Não, foi uma moça nova, ela disse que ficará cobrindo a ausência de Adriana. – o garçon se aproximou – Traz mais dois chopes por favor? – o rapaz se afastou para fazer o pedido –
-- Será que Paula ainda não sabe o que aconteceu?
-- Eu não sei amiga, o que eu sei é que a voz dessa moça parece de outro planeta, ela foi tão educada, e tão solícita, resolveu o meu problema na hora, foi tão agradável, eu fiquei realmente impressionada com ela.
-- E quem é essa mulher? Você sabe o nome? – o rapaz trouxe as tulipas cheias e retirou as vazias –
-- O nome dela é Viviane.
-- Viviane? – lembrou-se da ruiva que estava com Adriana na imobiliária –
-- Sim. Você a conhece?
-- Sim, se for quem eu estou pensando, é a ruiva que estava com Adriana na imobiliária no dia em que nos encontramos, eu ouvi a Drica a chamando.
-- Ela é bonita?
-- Ai Isa, eu nem reparei direito, eu estava tão atordoada, mas o que eu percebi, ela parece bonita sim.
-- Eu acho que vou visitar o escritorio essa semana. – bebia o chope –
-- E se você encontrar a Alessandra?
-- É, não vai dar. Eu acho que não consigo olhar para ela ainda.
-- Tem tido notícias de Nathalia? – olhava para a amiga –
-- Sim, ela me ligou esses dias, disse que vai voltar a morar no Canadá, pediu transferencia na empresa e conseguiu. – disse tristonha –
-- E por que ela te ligou?
-- Disse que se eu a perdoasse e aceitasse de volta, ela não iria. Mas eu não consegui, eu não consegui perdoar. Eu deixei que ela fosse embora. – seus olhos marejaram –
-- Amiga, não fica assim, se você não esta confiante, então foi melhor assim, se você a aceita de volta com seu coração sem confiança, o seu relacionamento não daria mais certo, seria só sofrimento.
-- Foi o que eu pensei também.
-- Mas vamos mudar de assunto então. O Carnaval, eu estou torcendo que o pessoal da casa seja legal.
-- São amigos da sua irmã, ela não iria se não os conhecesse bem.
-- Isso é verdade, vamos aproveitar Isa, um brinde à uma nova vida!
-- Tim tim. – ria –
As amigas encerravam a noite muito animadas, Isadora se sentiu encantada com a confiança de Viviane, sua voz ao telefone lhe invadiu os sentidos e marcou algo em seu íntimo, decidiu que queria conhecer a menina. Ana Paula ainda estava confusa, e se limitava a tentar se entender, para então decidir o que fazer. Corria o risco de perder as duas mulheres para a sua insegurança, mas estava apostando suas cartas para não fazer mais besteiras, e assim, seguia com o processo de descoberta interior.
Fim do capítulo
Boa leitura!
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Lea
Em: 27/01/2023
Diferente da Paula,a Isadora não conseguiu perdoar a ex. Só acho que ela fez bem,quem ama não trai. Isa merece ser feliz,assim como a Viviane, será interessante se elas se apaixonaram.
Adriana fez bem em não iludir a Mariana,ela parece ser uma mulher maravilhosa.
Essa festa vai causar.
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