Capítulo 31
Janeiro terminava, Viviane já trabalhava no escritorio com Paula, Alessandra e Adriana, mantiveram a estagiária e as quatro mulheres passavam o dia trabalhando e à noite se dirigiam para suas casas, Alessandra continuava morando com a irmã no bairro do Grajaú, centro da cidade.
Adriana estava a tres semanas de voltar para Harvard, passaria o carnaval no Brasil, já que nesse ano o evento será no inicio de fevereiro. Era um sábado e ela levantou cedo, deixou Viviane dormindo e se arrumou para sair, chegando à cozinha deu de cara com Paula.
-- Garota, você não dorme não? – dizia assustada –
-- Eu só vim beber água, mas e você, vai aonde a essa hora da manhã?
-- Paulinha, eu vou à casa da minha mãe.
-- Drica, você avisou que ia? –olhava preocupada para a amiga –
-- Não, eu nem sei se vou entrar, mas eu preciso tentar vê-los antes de ir. Fez um ano que eu não escuto a voz da minha mãe, Paulinha, isso dói demais. – emocionou-se –
-- Eu imagino, você não quer que eu vá junto? – bebeu um gole de água –
-- Não, eu preciso fazer isso sozinha.
-- Tudo bem, boa sorte. – deu um sorriso terno --
Adriana beijou a bochecha de Paula e saiu do apartamento, não tinha muito trânsito, ela chegou a Niterói tranquilamente, dirigiu devagar pelas ruas conhecidas do bairro onde cresceu, lembrava-se da infancia que tivera naquele lugar, brincadeiras com os amigos a escola e o relacionamento de altos e baixos com sua mãe.
Chegou a frente ao portão do prédio, estacionou em frente à praia e saiu do carro, ela sabia que sua mãe sempre acorda cedo, e ficou ali olhando para a estrutura imponente à sua frente. Pensava se seria boa ideia interfonar, se seria bem recebida.
Já estava ali parada ha mais ou menos meia hora, quando viu o seu pai saindo do condomínio de carro. A saudade era tanta que sua emoção aflorou e seus olhos lacrimejaram, imaginou que seria melhor que tentasse conversar com sua mãe sem a presença do seu pai, e resolveu aproveitar sua saída para ir até o apartamento.
Chegou à portaria do prédio e o porteiro ainda era o mesmo senhor de mais ou menos cinquenta anos que já estava no mesmo emprego a pelo menos vinte anos, conhecia todos os moradores pelo nome e sobrenome. Ao ver Adriana ele abriu o portão sem interfonar.
-- Bom dia Sr Saulo.
-- Bom dia Adriana, você sumiu hein!
-- É eu estava estudando nos Estados Unidos.
-- Ah sim, por isso eu não vi mais você por aqui.
-- Minha mãe está em casa?
-- Está sim, pode ir lá em cima.
-- Obrigada.
Adriana pegou o elevador com um frio na barriga, tanto tempo sem ver sua mãe, suas mãos estavam geladas, trêmulas, chegou ao nono andar, caminhou pelo corredor, as luzes se acendiam no decorrer daquele camiho de angústia e medo, como sua mãe reagiria ao vê-la ali em pé em sua porta? Será que ela a receberia?
Em pé na porta ela hesitava em apertar o interruptor da campainha, até que em um impulso de adrenalina o dedo foi ao encontro do botão.
A espera de menos de um minuto pareceu um dia inteiro, ouviu passos dentro da sala, e viu a sombra de alguém em pé na porta provavelmente olhando pelo olho mágico. Percebeu que a outra pessoa também hesitou para abrir a porta do outro lado.
Foram momentos de tensão até ouvir o barulho da maçaneta se abrindo e a silueta de sua mãe aparecendo na porta da sala. A troca de olhares foi intensa, as duas sentiam-se emocionadas, e nnguém se propunha a quebrar aquele silêncio que era redentor. Adriana admirava sua mãe, já maquiada àquela hora da manhã, uma mulher sempre vaidosa, perfumada, os cabelos negros como os seus estavam presos em um coque, roupas casuais, como se estivesse saindo para uma caminhada na praia.
-- O que você veio fazer aqui? – sua mãe quebrou o silêncio –
-- Eu vim ver vocês. Já tem um ano que não falam comigo. – tinha receio em sua voz --
-- Você já parou com essa pouca vergonha de namorar mulheres?
-- Mamãe, por favor, o meu gosto não muda quem eu sou, eu sou sua filha, eu nasci de você. – uma lágrima escorreu no rosto de Adriana – Não vai me deixar entrar para conversar com você?
-- Eu não tenho mais filha, ela morreu pra mim. Eu não vou apresentar à sociedade uma filha que anda de calça larga, pochete na cintura e fuma charuto, que anda de mãos dadas com outra mulher.
-- Então o problema é esse? Sua posição na sociedade? Eu não passo de um estatus? Você está com vergonha de mim? – uma pausa – Olha pra mim mamãe, eu não sou um estereotipo que a sociedade inventou, eu sou a mesma garotinha que a senhora embalou quando nasceu.
-- Não comece com essa bobagem, eu não aceito essa sem vergonhice e acabou. Agora vá embora daqui. – falava exaltada --
-- Mãe eu nunca imaginei que você poderia ser tão mesquinha, preconceituosa, eu sou sangue do seu sangue. Você deveria se orgulhar de mim, eu estou em Harvard, fiz minha pós, fui convidada para fazer meu mestrado.
-- Isso não faz de você melhor do que ninguém, o seu irmão sim é um homem de verdade, não fica por ai beijando outros homens, roçando a barba em ninguém. Agora vai embora porque vai acordar os vizinhos e eu não quero que a síndica reclame comigo. – sua expressão era forte –
Felipe que estava em casa, acordou com o barulho e levantou para ver o que estava acontecendo, ao chegar na sala e ver a irmã parada na porta e sua mãe a humilhando ele resolveu defendê-la.
-- O que está acontecendo aqui? -- ele perguntava irritado –
-- Nada demais Felipe, volte para a cama. – sua mãe apontava para o corredor –
Adriana ao ver o irmão, abriu um sorriso em meio às lágrimas que escorriam em seu rosto.
-- Como nada demais? Adriana está parada em frente à nossa porta e ouvindo esse monte de desaforos, a senhora enlouqueceu, mamãe?
-- Felipe não se meta aqui. – levantou o dedo para o filho --
-- Eu me meto sim, é minha irmã, sua filha.
-- Eu não tenho mais filha, ela morreu ha um ano.
Ouvir mais uma vez aquela frase de sua mãe, fez Adriana se arrepender amargamente de ter ido procurá-la, imaginou que o tempo longe poderia ter mudado a forma de pensar da mãe, mas viu que o preconceito e a futilidade venceram o amor maternal que ela esperava encontrar. Felipe discutia com sua mãe e Adriana resolveu interromper.
-- Felipe, pára com isso. – limpava o rosto com as mãos –
-- Adriana, isso está errado, ela não pode falar assim com você.
-- Deixa, eu vou embora, foi um erro bater na sua porta. – seu olhar era de mágoa – Eu sempre achei que eu era amada aqui nessa casa, hoje eu vejo que sempre fui um troféu, um quadro de exibição para as suas amigas do Praia Clube.
-- Adriana. – Felipe tentava argumentar –
Sua mãe simplesmente olhava para a menina, um misto de raiva e dor eram exibidos por trás dos óculos em sua face.
-- Eu sempre fiz de tudo para tentar chamar a sua atenção, para você ter orgulho de mim, e eu nunca ouvi um “eu te amo” sequer, sempre foi tudo mecânico, qual é o problema mamãe? Por que Felipe é o queridinho e eu não passo de um peso morto que você sempre ignorou?
-- Você está falando bobagens, garota. Agora saia daqui e não volte nunca mais.
Sua mãe se precipitou a Felipe e fechou a porta do apartamento deixando Adriana parada em pé do lado de fora, o sentimento de vergonha tomou conta de seu intimo, como uma mãe poderia virar as costas para um filho dessa maneira?
Chorando, Adriana fez o caminho até o carro, ao passar pelo porteiro o senhor notou que havia algo de errado, mas limitou-se a se despedir. No carro, encostou a cabeça no volante e apenas chorava intensamente, até ver a porta do carona se abrir, Felipe sentou ao seu lado.
-- Drica, minha irmã. – afagou os cabelos da irmã –
-- Felipe, por que ela faz isso comigo? -- abraçaram-se –
Depois de um tempo em silêncio, os dois se separaram e o mais velho olhou nos olhos da irmã.
-- Eu não sei minha linda, não fica assim, se ela não quer te aceitar, deixa que a vida vai se encarregar de abrir os olhos dela. Eu estou aqui com você.
-- Eu nunca imaginei que poderia passar por isso dentro da minha própria casa.
-- Olha, você é uma mulher linda, inteligente, maravilhosa. Eu ficaria aqui o dia inteiro te elogiando, então não se deixe abater entendeu?
-- Felipe, são minha mãe e meu pai que não estão falando comigo, minha família que diz que eu morri, será que você entende isso?
-- Eu entendo, mas por enquanto você tem que ser forte e deixar que o tempo os ensine a aceitar as suas escolhas.
-- Eu só tenho você agora Lipe. – voltou a chorar –
-- Eu estou aqui com você, sempre, entendeu? – a abraçou novamente –
-- Obrigada meu irmão. – uma pausa -- Acho melhor eu ir embora, eu já causei demais nessa casa hoje.
-- Você está em condições de dirigir?
-- Sim, pode deixar.
-- Então tudo bem, eu te ligo mais tarde.
-- Obrigada Lipe.
Beijou o irmão que a abraçou e a beijou também, se despediram e Adriana saiu com o carro. Passou em Icaraí, na sua antiga rua, parou em frente ao seu prédio e olhou para a janela no quinto andar. Sentia falta do seu apartamento e da vida que tinha antes de viajar, pelo menos não seria para sempre e ela voltaria para o seu recanto.
Voltou a dirigir e pegou a ponte Rio-Niterói para voltar para Copacabana. Pensava nas palavras ditas por sua mãe e não encontrava conexão para uma atitude tão radical da parte da mulher que lhe colocou no mundo. Nunca foram as melhores amigas, mas ela não esperava ser tão humilhada em sua propria família.
Chegou ao bairro que estava acolhida na casa de Paula, e estacionou o carro na rua, viu no celular que estava no console do carro algumas ligações. Havia duas ligações de Paula e uma de Viviane, e um número que não estava gravado na agenda.
Passou no apartamento e viu que não tinha ninguém em casa, apenas um bilhete de Viviane indicando que as amigas, foram encontrar Alessandra na praia, pedindo para ela ligar quando chegasse em casa.
Adriana bebeu um copo de água, e trocou de roupas, colocou o biquini e a canga enrolada na cintura, dobrada acima dos joelhos, deixando suas coxas torneadas à mostra, o seu corpo continuava impecável, o sutien meia taça realçava os seios fartos da morena que estava com um bronzeado perfeito, era a visão da carioca que faz a praia parar quando passa. Colocou os óculos escuros e um boné, pegou sua bolsa de praia e desceu para encontrar as amigas.
Ligou para Viviane e foi avisada que as meninas estavam no posto nove, onde estão acostumadas a ficar.
Enquanto esperava para atravessar a rua, percebeu que um carro que passava parou mais à sua frente, mas não viu relação com a sua presença ali. O sinal abriu e Adriana começou a andar. Ouviu o seu nome.
-- ADRIANA!
A morena olhou para trás e viu que ao volante do carro que parou subtamente estava nada mais nada menos que a arquiteta que Alessandra tanto diz que é gostosa: Mariana Santos.
Para a surpresa de Adriana a arquiteta não se importou em largar o carro aberto parado na rua principal, apenas com o alerta ligado saindo do veículo e correndo em sua direção, aproveitando o tempo que restava para os pedestres atravessarem a rua.
A morena estava com uma roupa casual, uma saia jeans acima dos joelhos, uma blusa colada em seu corpo preta, e tênis nos pés, os cabelos estavam mais curtos e soltos na altura dos ombros, Adriana estava hipnotizada com a chegada da arquiteta perto de si.
-- Nossa, que sorte a minha te reencontrar depois de tanto tempo! – estava ofegante --
-- O que me surpreendeu foi você me reconhecer debaixo desses óculos e se lembrar do meu nome. – sorria e tirava os óculos colocando sobre a aba do boné--
-- Eu nunca esqueci você. – olhou a morena dos pés à cabeça –
O corpo exposto de Adriana estava elevando o espírito da arquiteta, seu único pensamento naquele momento era de estar com ela entre quatro paredes.
-- Eu posso imaginar. – dizia duvidosa – Você está bem?
-- Melhor agora, eu nunca mais te vi por aqui, por onde você se escondeu?
-- Eu tive muitos problemas, mas eu fui fazer um MBA em Harvard, passei um ano por lá.
-- Nossa, mas que mulher inteligente! Você não quer tomar alguma coisa comigo?
-- Você não tem algum compromisso? Afinal parou o carro no meio da rua, estava indo para algum lugar?
-- Eu ia para um churrasco na casa de um amigo, mas eu gostaria de conversar com você mais um pouco. – colocou as mãos no bolso da saia -- Se você quiser é claro.
Adriana pensou bem e resolveu dispensar aquele chope em respeito à Viviane que estava à sua espera na praia, pensava que magoaria a ruiva com essa atitude.
-- Mariana, eu estou indo encontrar minhas amigas que estão em algum lugar nessa areia, eu acho que nós podemos deixar esse convite para outra hora em que não haja compromissos entre nós, não acha?
Mariana ficou analisando a expressão serena de Adriana, e entendeu que a morena não poderia estar com ela naquele momento, mas deixou o número do celular com ela para que esntrasse em contato.
-- Tudo bem, se você prefere assim, aqui, anota meu número de celular, eu troquei recentemente, não tenho mais aquele número do cartão.
-- Pode falar.
Mariana disse o número para Adriana que digitou no aparelho e discou para a arquiteta, o celular tocou no bolso pequeno da saia e ela pegou o aparelho, olhou o visor e Adriana desligou a ligação.
-- Esse aí é o meu, pode me ligar quando não tiver nenhum churrasco. – sorriu –
-- Eu ligo sim. – gravava o nome de Adriana no celular –
-- Ah, eu vou voltar para Harvard daqui a três semanas para cursar o mestrado, então, ou você espera mais um ano para ligar ou faça isso antes. – piscou para a morena—
As duas trocavam olhares intensos, pela primeira vez, Adriana não se sentiu intimidada com o flerte da arquiteta, ao contrário, dançou a mesma dança, sentia-se atraída pela morena linda que se apresentava à sua frente.
-- É melhor pegar o seu carro antes que receba alguma multa.
-- É sim, eu já vou. Eu te ligo então. – parecia hipnotizada com a beleza de Adriana –
Mariana se precipitou para dar um beijo no rosto de Adriana, segurou sua cintura desnuda e quase se perdeu naquele corpo que estava à mostra, o toque na pele de Drica fez a sua arrepiar e Adriana percebeu o efeito que causara na outra mulher, também sentiu algo diferente, por um momento gostou daquele encontro.
-- Tchau Mariana. –outro sorriso –
-- Até mais. – permaneceu olhando a contadora se afastar –
Adriana ainda olhou novamente para trás, e notou que Mariana não se movera do calçadão, deu um sorriso e seguiu o seu caminho, a arquiteta ficou ali parada simplesmente adimirando o rebol*do daquela mulher tão interessante que ela queria tanto descobrir. Viu a tatuagem bem feita nas costas de Adriana, e se imaginou acariciando aquele corpo perfeito, como se fosse esculpido em mármore carrara apenas para lhe tirar do sério.
Voltou para o seu carro com uma única certeza, aquele encontro casual mudaria sua vida dali para frente.
Adriana caminhou pela areia, sentindo os grãos tocarem os seus pés, queria que aquela massagem involuntária lhe relaxasse, estava tensa com a briga que teve com sua mãe, mas ao mesmo tempo ficou feliz de reencontrar Mariana.
Encontou as amigas sentadas em uma mesa de um dos quiosques, sentou na cadeira que estava vaga e acomodou suas coisas. Ainda tinha os olhos inchados.
-- Menina! Por onde você andou? Nós já estávamos preocupadas, você não atendia o celular. – dizia Paula –
-- Eu esqueci no carro. – se limitou a dizer –
-- E ai, como foi lá? – Viviane perguntou --
Depois de um longo suspiro, Adriana revelou a conversa dura que teve com sua mãe. As meninas ficaram boquiabertas com a reação destemperada e preconceituosa da mãe de Adriana.
-- Drica, eu sinto muito. – Vivi dizia –
-- Obrigada Vivi.
-- Eu ainda não consigo acreditar que a sua mãe está fazendo isso com você. Ela nunca foi de conversar muito com a gente, mas eu não podia imaginar que ela é tão preconceituosa.
-- Nem eu. O que eu sei é que só me restaram Felipe e vocês. – olhava com os olhos marejados –
-- Sabe que pode contar conosco para tudo não é? – Paula segurava sua mão –
-- Eu sei, valeu gente.
-- Mas vamos melhorar esse astral, que tal um mergulho? – Vivi chamava –
-- Só se for agora! – sorriu –
As duas saíram em direção ao mar, calmamente lado a lado, Viviane pousava a mão no ombro de Adriana, Paula analisava a cena e se lamentava por Adriana não ter se apaixonado pela ruiva, elas formam um lindo casal.
-- Ale, É uma pena que a Drica não se apaixonou pela Vivi, não é?
-- É sim meu amor, a maluquete é uma ótima pessoa.
-- Mas o coração é estúpido, não dá para competir com ele.
-- Pois é. Paula, falando da maluquete, ela vai mesmo ficar no seu apartamento?
-- Vai sim, por que?
-- Eu não sei não hein, olha lá vocês duas sozinhas, não é melhor eu voltar pra casa de uma vez?
-- Eu hein Ale, você está com ciumes de Viviane? – olhava para a esposa triunfante –
-- Não é ciumes, é precaução.
-- Ah eu entendi, mudou o nome agora, mas eu não acho que seja a hora de você voltar não, Eu ainda preciso de um tempo para voltar a confiar em você plenamente, Você tem que fazer por onde Alessandra, se você der um vacilo que seja não tem mais volta.
-- Eu já sei Paula. Eu já sei. – disse contrariada --
Depois de um tempo, as duas amigas voltaram do mar e sentaram novamente.
-- A água está uma delícia, mas está puxando muito, tomem cuidados quando forem nadar. – Adriana advertia –
-- Pode deixar.
Ficaram um tempo ali conversando amenidades e Alessandra resolveu mergulhar, Viviane foi junto, e Paula ficou para fazer compania a Adriana.
-- Drica tem alguma coisa que está te incomodando?
-- Você diz além de ter sido escurraçada da casa da minha mãe? – dizia com sarcasmo --
-- Isso.
-- Tem.
-- Quer me contar? – pegava uma latinha de cerveja no isopor --
-- Na hora que eu estava vindo para cá, eu encontrei com a Mariana aqui na praia.
-- A arquiteta? – servia os copos --
-- Ela mesma. – tomava um gole de cerveja --
-- E o que aconteceu?
-- Acho que eu posso dizer que um dia na minha vida eu parei o trânsito. – ria da lembrança do carro parando no meio da rua –
-- Como assim? Conta tudo! – se ajeitava na cadeira --
Adriana resumiu o encontro e falou com Paula sobre o receio de magoar Viviane.
-- Paula, eu até pensei em convidá-la para ficar aqui conosco, mas eu pensei em Vivi, ela ficaria arrasada se eu fizesse isso. – bebeu um gole de cerveja --
-- Isso é verdade. Mas o que você pretende fazer? E se ela te ligar?
-- Eu não sei, mas eu preciso libertar Viviane, ela se apaixonou e eu não, por que nosso coração faz tudo errado? – olhava a ruiva no mar com Alessandra –
-- Eu não sei amiga. Mas conversa com ela, ela vai te entender, vai sofrer um pouco, mas ela sabe a verdade, e sabe que você já vai viajar novamente, de uma maneira ou de outra, vocês teriam que ter essa conversa.
-- Você tem razão, eu sempre fui honesta com ela, e nunca tive a intenção de magoá-la.
-- Eu sei, e ela sabe disso também.
As duas mulheres voltavam para a mesa rindo e brincando.
-- Ei vocês duas ai, estão falando o que hein? – Alessandra brincava –
-- Nada demais.—Adriana disfarçou –
O dia seguiu como os outros, muito calor e praia até cansar o corpo, Adriana já pensava em sua viagem estava perto de acontecer, e com isso em mente tentava articular uma conversa para ter com Viviane, mas sentia medo de machucar a amiga com o que iria falar. Mas existem separações que são inevitáveis.
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Ana paula estava sozinha desde o encontro com Adriana na imobiliária, decidiu se dar um tempo para resolver seus demônios internos e só então se entregar a um amor verdadeiro.
Estava em seu quarto assistindo televisão quando Camila entrou.
-- Ana?
-- Oi Mila, entra.
-- Deixa eu te perguntar uma coisa, você já resolveu o que você vai fazer no carnaval?
-- Já, eu vou ficar em casa.
-- Não vai viajar com ninguém?
-- Não Mila, eu e Isadora estamos curtindo fossas ainda. – sentou na cama –
-- Então viaja comigo, liga para Isa ai.
-- Você vai pra onde?
-- Nós alugamos uma casa em Cabo Frio.
-- Nós quem Camila?
-- Lembra a Luana? Minha amiga da faculdade?
-- Sim, lembro.
-- Pois é, eu ela o namorado, e mais alguns amigos. Ainda tem espaço na casa, e eu pensei se você não quer ir conosco.
-- Ai eu não sei.
-- Ana pensa bem, você vai ficar aqui nessa casa grande desse jeito sozinha? Mamãe e papai só voltam do Paraná na semana depois do carnaval.
-- É se olhar por esse lado, eu não quero ficar sozinha não.
-- Então vem comigo, liga para Isadora, pergunta se ela não quer ir.
-- Eu vou ver, pode deixar. Eu te falo amanhã.
-- Tudo bem, eu vou para faculdade, eu tenho que montar minha grade, finalmente o último período!
Deu um beijo na irmã e tomou o seu camiho. Ana ficou pensando na proposta de Camila, e resolver arriscar com Isadora, ligouo para a amiga que aceitou prontamente, ela não queria ficar em casa sozinha. Então combinaram de viajar com Camila e sua turma.
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Em Copacabana, Felipe conversava com as meninas, ele foi com a namorada até o apartamento de Paula.
-- Poxa Drica, nem deu para matar as saudades de você, você já vai embora de novo. – ele reclamava –
-- Relaxa irmão, mais um ano que vai passar rápido. – cortava a pizza sobre a mesinha de centro --
-- Vem cá, vocês vão passar o carnaval aonde? – pegava um copo de refrigerante --
-- Não vimos nada esse ano, Adriana estava em Boston, eu estava separada da Ale, -- Paula segurava a mão de Alessandra -- acabou passando a época de procurar casa para carnaval.
-- Entendi. Então por que vocês não vêm com a gente para Cabo Frio?
-- Vocês alugaram casa por lá? – Drica servia os pedaços em guardanapos --
-- Sim, com um pessoal da faculdade da Lu. – apontou para a namorada –
-- Mas ainda tem vaga? Afinal somos quatro pessoas.
-- Tem sim né amor? – mordeu um pedaço da pizza --
-- Tem sim, dois casais desistiram de ir de ultima hora, podemos colocar vocês no lugar. – recebia o seu pedaço de pizza --
-- Entendi, e ai meninas o que vocês acham? – Drica perguntava –
-- Eu topo, não vamos fazer nada mesmo, eu não quero ficar aqui o carnaval inteiro. – Alessandra se sujou com mostarda – Puta que pariu, minha blusa novinha!
-- Ai, Alessandra, como você é desatrada! – Paula ralhava com ela –
-- E ai Paulinha? O que você acha?
-- Por mim tudo bem Drica, não iriamos a lugar algum mesmo, pelo menos Cabo Frio tem praias boas, vamos apresentar Arraial para Vivi. – pegava um pano molhado na cozinha –
-- Eu estou largada na pista mesmo, vou aonde vocês quiserem. – Viviane ria –
-- Então está decidido, Lu, liga para sua amiga e avisa que nós vamos com mais quatro pessoas para substituir o pessoal que desistiu.
-- Pode deixar, eu vou ligar agora.
Luana levantou do sofá e foi para a janela, discou um número e falou com uma das amigas que vai viajar com eles, confirmou a informação e voltou para a sala com um sorriso estampado no rosto.
-- Tudo certo, meu amor. Todo mundo dentro.
-- Maravilha.
As amigas conversavam, se divertiam e esperavam que o carnaval fosse trazer um pouco de leveza para suas vidas.
Depois que Felipe foi embora, as meninas preparavam-se para deitar.
-- Boa noite crianças, comportem-se. – dizia Alessandra –
-- Boa noite meninas.
-- Vivi, eu preciso conversar com você. – Drica dizia fechando a porta do quarto –
-- Pode falar amiga. – tirava a blusa –
-- Eu não sei como começar. – Adriana olhava sem graça –
-- Do começo. – jogava a bermuda no canto do quarto –
Viviane já esperava por aquele momento, sabia que a viagem de Drica estava por vir e a morena teria que se despedir, sua paixão mais verdadeira teria que deixá-la.
-- Vivi, senta ai e olha para mim. – estava apreensiva –
Viviane terminou de colocar o short doll e sentou-se na cama, encarou o olhar marcante de Adriana, seus olhos pareciam mais escuros naquela noite. A morena puxou um banquinho e sentou-se de frente para a ruiva que esperava ansiosa.
-- Viviane, eu não queria ter essa conversa com você. Mas infelizmente será inevitável.
A ruiva apenas prestava atenção nas palavras de Adriana.
-- Eu quero que você saiba que eu nunca tive a intenção de te magoar, ou te iludir, eu nunca quis me aproveitar de você. – segurou as mãos da ruiva --
-- Eu sei Dri.—seu tom de voz era triste –
-- Vivi, minha viagem está chegando, e eu quero muito que você consiga encontrar alguém que possa te fazer feliz do jeito que você merece.
-- Eu sempre tive falta de sorte para namorados. – sorriu –
-- Mas isso vai mudar, tem alguém lá fora esperando para te encontrar. Você vai ver.
-- Mas eu quero você Dri. – uma lágrima escorreu pela sua face –
-- Eu juro que minha vontade era de ter me apaixonado por você, mas meu coração não seguiu o meu conselho. – abriu um sorriso –
-- Eu entendo. – olhou para a morena – Mas é difícil para eu aceitar isso. Logo agora que eu conheci uma pessoa de caráter, que me mostrou quem eu sou, eu vou perder.
-- Não. Você nunca vai me perder. – segurou o seu queixo e levantou seu rosto -- Mesmo não tendo um relacionamento, você é minha amiga e sempre será. Eu te amo Vivi, só não é da maneira que você gostaria que fosse. – limpou o rosto da amiga com a mão –
-- Eu torço muito por você Dri. Eu espero que um dia você possa esquecer essa mulher e conseguir se entregar para alguém. Assim como eu vou tentar fazer.
-- Um dia quem sabe, Vivi. Você merece uma pessoa inteira para viver todo o amor que você tem para oferecer. E você vai encontrar. – beijou a mão da ruiva –
-- Então é isso. Estamos livres.
-- Sim, encontre alguém que possa te fazer feliz, e te valorize como você é. Nunca deixe que ninguém tente modificar a sua essência, e esse será o relacionamento perfeito, entendeu?
-- Sim, eu entendi. Adriana eu agradeço todo dia por ter te conhecido, obrigada por tudo.
-- Eu também agradeço por você ter aparecido na minha vida. Você é muito especial, nunca deixe que ninguém te diga o contrário. – fez um carinho nos cabelos da amiga –
Viviane segurou o rosto de Adriana e puxou para um beijo, era um beijo calmo, de despedida, onde as duas mulheres sabiam ser necessário. Cada uma estava livre para seguir o seu caminho, Viviane estava sentida, mas nunca magoada, Adriana nunca a iludiu, sempre jogou limpo com ela e isso nesse momento foi crucial para que aquela conversa não fosse feita de brigas e acusações.
Adriana viajaria para Harvard pronta para iniciar um período de desintoxicação emocional, se é que podemos dizer que isso existe, mas era o que esse mestrado significava para ela, não pensava em se envolver com ninguém até voltar para o Brasil e então, refazer sua vida com mais segurança.
Fim do capítulo
Boa leitura!
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