Capítulo 33
Sexta-feira de Carnaval. Ana Paula e Isadora não trabalharam, viajaram de manhã cedo com Camila e mais dois amigos da menina. Chegaram a Cabo Frio e localizaram a casa. Foram as primeiras a chegar, já começaram a se organizar, se instalarm em um dos quartos, a casa é grande, um salão com uma cozinha americana, um quarto e um banheiro na parte de baixo, uma escada levava para o andar de cima, onde tinham mais três quartos, uma suite e um banheiro no corredor. Na cozinha tinha um anexo que servia de dispensa com várias prateleiras dispostas uniformemente. O quintal é grande, cabe tranquilamente quatro carros. Nos fundos uma área com churraqueira e bancada para churrasco e um chuveirão para amenizar o calor. As meninas aprovaram o local e ficaram satisfeitas com o carnaval que começava, mal sabiam que aquela viagem reservava surpresas que mudariam suas vidas.
***********
No escritorio de contabilidade, as meninas terminavam o expediente mais cedo para pegar a estrada, encontrariam com Felipe em Niterói já que era caminho e partiriam para a grande viagem de despedida de Adriana que pegaria um avião para Boston na semana seguinte.
As quatro foram no carro de Paula, um utilitário confortável, cabiam as quatro, as malas e qualquer tranqueira que Alessandra gostava de carregar.
Encontraram Felipe na casa de Luana e os seis partiram para o seu destino: Cabo Frio.
Chegando ao local, Luana indicou a casa e os amigos estacionaram na rua. Todos saíram dos carros animados, rindo e contando piadas. Ao chegar no portão, Luana avistou sua amiga da faculdade, Camila estava sentada na varanda conversando com Ana e Isadora. As amigas andavam calmamente até a entrada, quando ouviram Luana chamando o nome conhecido para Adriana.
-- Camila!
-- Luana chegou!
Adriana pensou consigo que não poderia ser a Camila que ela estava pensando, ao chegar na entrada da garagem e olhar para dentro da casa, seus olhos se encontraram com os de Ana, os azuis reluziram com os raios de sol. Isadora olhou para trás e avistou as amigas chegando, Paula e Alessandra juntas, um calafrio lhe correu a espinha e por fim, surgiu a figura marota de Viviane, era ela, a ruiva que falara com ela ao telefone, por um momento esqueceu-se da presença de Alessandra e ficou encantada com a linda ruiva de cabelos soltos e olhos verdes brilhantes.
Foi um momento de suspense, todos se olharam, se reconhecendo, e sem entender o que estava acontecendo, Camila olhou assutada para a presença de Adriana ali, sabia da paixão da irmã, Felipe avistou Ana Paula, reconheceu que era a loira responsável pelo amor de Adriana e por tudo que a morena estava passando com sua família, e os olhares cruzados de Alessandra e Paula para Isadora esperando uma reação nada amigável da menina. Viviane percebeu o clima pesado ao ver Ana Paula na varanda, mas logo se deteve no olhar cor de mel de Isadora que lhe despia, avaliou a morena de pele mulata, com os cabelos ondulados, soltos até a cintura, suas feições fortes deixaram-na hipnotizada.
Ninguém sabia por onde começar, quem falasse a primeira palavra ganhava um prêmio, os olhos estavam perdidos esperando alguém se manifestar.
Camila foi a corajosa.
-- Oi Adriana. Quanto tempo que não nos vemos!
-- Oi Camila. – dizia sem graça –
-- Meninas. – cumprimentava Paula e Alessandra –
-- Essa aqui é nossa amiga, Viviane. – Adriana apresentava –
-- Vocês se conhecem? – perguntava Luana –
-- Sim. – respondeu Adriana –
-- Então será muito melhor, elas são as amigas que eu te falei. Adriana é a irmã de Felipe.
-- Não sabia disso. -- Camila dizia sem graça por ter aceitado a inclusão de quatro pessoas que não sabia quem eram e que causou aquele mal estar –
-- Nós podemos voltar, eu acho que é melhor irmos embora. – Adriana dizia –
-- Não, por que vocês querem voltar? Já vieram até aqui, não vão encontrar outro lugar para ficar. – Luana ainda estava alheia ao clima pesado no lugar –
-- Voltaremos para o Rio.
Ana resolveu se meter na conversa, olhou para Isadora e levantou. Nessa hora que Luana lembrou-se de Ana Paula no aeroporto quando foram levar Adriana para a primeira viagem e entendeu o clima que se fez.
-- Nós podemos conversar, eu sei que não haverá lugares mais por aqui, vocês já pagaram, não é justo voltarem.
Adriana estava desconfortável, ela não pretendia passar dez dias na mesma casa que Ana Paula, seria demais para ela aguentar. Queria ficar longe.
-- Eu não acho que é uma boa ideia. – dizia Paula –
-- Adriana faz o que você achar melhor. –Felipe intercedeu –
Isadora que estava quieta até então, movida pelo ardente desejo de conhecer Viviane surpreendeu a todos.
-- Vocês podem ficar, eu acho que todos aqui são adultos e ninguém vai provocar brigas ou mal estar. O que está no passado, no passado fica. – dizia olhando para Alessandra –
As garotas não entendiam como Isadora estava reagindo tão bem àquela situação, até Ana Paula estava boquiaberta. Adriana não queria permanecer ali, e insistia para retornar ao Rio.
-- Eu realmente prefiro voltar.
Camila resolveu se manifestar.
-- Pessoal, o fato de estar na mesma casa não significa que temos que fazer tudo juntos, vocês podem ter os seus programas e nós os nossos. Nos encontraremos pouco. Não precisam ir embora.
Felipe segurou a mão de Adriana lhe dando apoio, Paula e Alessandra não sabiam o que fazer, Viviane estava dividida entre sair para manter Ana Paula afastada da morena ou ficar para conhecer a mulher que lhe tirou o fôlego naquele primeiro encontro, Isadora era o foco naquela ocasião. Ana queria ter a morena por perto novamente, e como Isadora fora receptiva insistiu novamente.
-- Fiquem por favor. Drica, fica.
Adriana se arrepiou inteira ao ouvir o seu nome dito com tanto carinho, lembrou-se do reveillon em Copacabana, quando ela fez esse pedido a Ana Paula, e acabou cedendo ao pedido da loira. Estava fora de si, sua alma parecia que saiu do corpo e só pensava nos momentos maravilhosos que passou com a advogada.
Olhou para as amigas e todas fizeram o sinal que sim, poderiam ficar.
-- Ok, ficaremos então.
Ana Paula abriu um sorriso, Isadora se animou, Alessandra e Paula estavam apreensivas com a situação, e Viviane, ah Viviane sempre considera tudo uma festa. Camila pensava se isso poderia dar certo, mas agora já era tarde, ela mesma insistiu para que todas ficassem, agora era entregar ao destino e torcer para todas sobreviverem até o fim do carnaval.
************
Depois de instaladas, as quatro amigas ficaram em um dos quartos de cima ao lado do quarto de Ana, Isadora e Camila, Felipe e Luana ficaram com outro casal de amigos no quarto do primeiro andar. Já era noite e elas resolveram sair para comer algo e curtir um pouco do carnaval de rua.
Saíram em grupos, as quatro contadoras saíram com Felipe e Luana, Ana e Isadora foram com Camila, mas acabaram se encontrando perto do palco onde aconteceria um show. Ficaram próximos, mas não se falavam, apenas Camila e Luana interagiam entre si. Ana e Adriana trocavam olhares, assim como Isadora e Viviane, Paula como uma ótima observadora percebia a movimentação das meninas a sua volta, Alessandra como sempre só se preocupava em beber.
Lá pelas três horas da madrugada, Alessandra já estava completamente bêbada, e Felipe também, as meninas estavam alegres, mas nada se compara aos dois abraçados pulando no meio da areia da Praia do Forte, a principal da cidade.
Ao som de Jorge Ben Jor, os dois tropeçaram nos chinelos que estavam acumulados na areia e caíram sobre as bolsas térmicas, onde o grupo levou as bebidas, como cerveja e garrafas de vodca com energético.
-- Alessandra, já é hora de ir para casa. – dizia Paula –
-- Luana, eu te amo! – Felipe totalmente embreagado –
-- Eu sei, Felipe, agora vamos embora – Luana chamava –
Adriana também estava cansada e resolveu acompanhá-los, Ana não tirava os olhos dela em nenhum momento. Viviane resolveu ficar mais um pouco e Isadora finalmente tomou coragem de se aproximar.
-- Vivi, eu vou embora com eles. – dizia perto do seu ouvido por causa do som alto –
-- Eu vou ficar mais um pouco, daqui a pouco eu vou.
-- Você sabe o caminho?
-- Sim, pode ficar tranquila.
Adriana concordou e saiu com o irmão e as amigas. Isadora se aproximou para conversar com ela.
-- Oi, no meio da confusão, nós não fomos apresentadas, meu nome é Isadora.
-- Isadora? Foi você que ligou pro escritorio no outro dia. – Viviane reconheceu sua voz e se encantou mais ainda com o visual – Eu sou Viviane.
-- Sim, fui eu mesma, eu confesso que eu me impressionei com sua voz, é cativante. – o álcool já estava liberando os hormônios para as cantadas sem noção –
-- Obrigada. – ficou envergonhada, mas a cantada fez algum efeito na ruiva – Você também tem uma voz muito bonita.
-- Então você está trabalhando com as meninas agora, vai ficar só até Adriana voltar do curso?
-- A princípio sim, mas se algo acontecer ou se eu conhecer alguém interessante, eu posso reconsiderar esse período.
Os olhares se encontraram, Isadora estava realmente interessada na ruiva alta e linda que se mostrava tão intrigante. Viviane também se sentia atraída por ela, e pensou que precisava conversar com Adriana.
No final da madrugada, quem permaneceu na rua chegava em casa com alto teor alcóolico e fazendo barulho. Alguns acordavam e outros nem se mexiam.
Como em uma viagem coletiva de carnaval, ninguém tem horário certo para nada. Alguns levantam tarde, outros acordam cedo para aproveitar a praia e outros nem levantam por conta da ressaca.
Sábado e domingo essa foi a rotina dos ocupantes da casa, à noite sempre saíam para aproveitar os shows e voltavam quase amanhecendo o dia, se tivessem combinado, não seria tão sincronizado, cada dia um grupo voltava para casa carregado acima dos niveis legais de álcool no sangue. No dia seguinte eram alvejados pelas brincadeiras dos outros ocupantes da casa.
Segunda-feira de carnaval, a maioria estava em casa depois de voltar de mais um dia de praia, os meninos estavam no quintal, com alguns instrumentos de pagode, tentando tirar algum som que pudessem aproveitar. Era engraçado vê-los cantando, por que na maioria das músicas só era lembrado o refrão. Viviane e Isadora estavam sentadas lado a lado conversando, e Adriana de longe assistia a interação das duas, Paula chegou e sentou ao lado da morena que estava sentada no muro ao lado do portão.
-- Uma cerveja pelos seus pensamentos. – Paula oferecia uma long neck –
-- Olha a Vivi, eu acho que ela encontrou alguém que realmente pode fazê-la feliz. – pegou a cerveja –
-- Amiga, você poderia tê-la feito feliz, ela era feliz do jeito que vocês viviam. – bebeu um gole no gargalo --
-- Mas não é o que eu queria oferecer para ela, ela merece mais, ela merece amor, e eu não consegui dar isso para ela Paula. Eu me sinto tão idiota. – bebeu um longo gole de cerveja --
-- Não fala assim, você foi maravilhosa para ela. – um tempo em silêncio -- E a Ana? Como está conviver com ela na mesma casa?
-- Está sendo terrível, eu sinto que ela quer se aproximar, mas eu sempre consigo sair do seu alcance, mas está difícil controlar, as vezes eu quero pular no pescoço dela para bater até ela me dizer o por quê disso tudo e outras vezes eu quero pular no pescoço dela apenas para beijá-la e embalar em meu colo.
-- Eu imagino, mas você está se saindo bem, nem deu para notar. – deu uma risada com sarcasmo –
-- Está tão na minha cara assim? -- levantou uma sombrancelha --
-- Está escrito na sua testa. – um gole na cerveja—Em neon!
Alessandra chega e chama Paula para comer o churrasco que acabava de sair. Ana estava parada na porta de entrada asistindo a conversa das duas. Camila chega e a abraça.
-- O que foi Ana? – olhou na direção do olhar da irmã – Eu não deveria ter insistido para elas ficarem.
-- Relaxa Mila, eu estou bem.
-- Eu estou vendo, e por que esse olhar de cachorro que caiu do caminhão de mudança para Adriana?
-- É porque eu caí do caminhão minha irmã.
Camila riu da advogada, e saiu deixando Ana com os seus pensamentos, a advogada estava decidida a abordar Adriana e acabar com o mal entendido entre as duas. Esperou pacientemente até conseguir uma oportunidade para ficarem sozinhas.
Em um dado momento Adriana foi até a cozinha, passou pelos amigos que ainda tocavam pagode e entrou no cômodo pela porta dos fundos, Ana tomou o mesmo caminho e chegando à cozinha avistou a morena pegando cerveja no freezer.
-- Drica.
Adriana se assustou com a abordagem, olhou ao redor e percebeu que estava sozinha com Ana na cozinha, finalmente elas teriam a conversa crucial. Seria finalmente o fim daquele suspense todo? Ana finalmente tiraria a nuvem de dúvidas que pairava sobre sua cabeça?
Seus olhos se cruzaram novamente, azuis e castanhos se misturavam naquela tensão que existia entre elas. Segurava uma long neck e permanecia paralisada olhando para a advogada ali em sua frente, parecia que ela estava recceosa em ter aquela conversa.
Ana Paula pensava se a aproximação foi correta, ambas estavam alteradas pelo excesso de bebida e ela não imaginava como começar a falar o que estava preso por tanto tempo dentro de si, ela estava livre,mas será que Adriana estava livre para ela?
--O que você quer Ana?—seu olhar era frio –
-- Nós precisamos conversar. – estava receosa—
-- Não temos o que conversar. —Adriana se preparava para sair –
Ana em um rompante de coragem a segurou pelo braço e impediu o avanço da morena.
-- Eu preciso te explicar o que aconteceu. – estava bem próxima de Adriana --
-- Ana Paula, me solta. – olhava por entre os cilios --
A loira obedeceu. Adriana começou a falar.
-- Eu vou te explicar o que aconteceu, eu fui atropelada pela sua namorada, -- apontava o indicador para Ana -- eu fiquei um mês usando uma cadeira de rodas, eu não podia trabalhar, eu não podia sair, eu só ficava em casa.
Ana olhava perplexa com a descrição que Adriana lhe dava dos seus dias.
-- Eu levei meses andando de muletas – seus olhos lacrimejaram e sua voz começou a falhar – e você simplesmente desapareceu – abria as mãos gesticulando muito -- e eu tentei me comunicar com você, muitas vezes, eu liguei, mandei e-mail, sms.
Ana permanecia calada, ela sabia de sua culpa, ela sabia que tinha errado muito com Adriana.
-- Você simplesmente me abandonou, ai eu tive uma brilhante ideia – riu com sarcasmo -- e eu contei para minha mãe sobre me apaixonar por você, e sabe o que eu ganhei? Um monte de desaforos, minha mãe não fala comigo mais, me escurraçou da casa dela, isso tudo por alguém que me abandonou.
-- Adriana foi para te proteger.
-- Me proteger? Eu quase morri.
-- ELA AMEAÇOU TE MATAR! – Ana se exaltou –
-- Então você sabia que ela estava no carro?
-- Sim, eu sabia. – Ana baixou os olhos –
-- E você ainda procurou apartamento com a mulher que tentou me matar, você realmente pensou que ela ia casar com você? – Adriana estava desapontada –
-- Eu sei que parece estranho, mas ela me envolvia nas teias dela, eu caia feito um patinho.
-- Não me venha com essa Ana Paula, você é dona das suas vontades, você quando estava comigo eu nunca precisei te manipular, era só você querer ficar comigo. – lágrimas escorriam – Mas você não quis.
-- Não é verdade! Eu quis, mas ai você resolveu ir embora e me deixar aqui, sozinha com ela.
-- Agora a culpa é minha? Eu não acredito nisso. – passava a mão no cabelo -- Eu te amei Ana, e faria qualquer coisa por você, eu te falei para pedir que eu ficasse, mas você não teve coragem.
-- Você me amou? No passado?
Adriana ficou pensativa, dentro de si uma voz gritava que ainda ama a advogada que lhe tira o fôlego e que lhe faz a cabeça rodar.
-- Agora não importa mais, você me perdeu, você me afastou.
-- Não fui eu, foi ela, ela invadiu o meu e-mail e mandou aquele texto para você, eu nem sei o que estava escrito.
-- Mas ela só fez isso porque você estava com ela, você deu meios para isso acontecer.
Mais uma pausa.
-- Eu sofri demais por você, eu não sabia noticias suas, eu só ouvia o seu nome quando Isadora ligava para o escritorio e Paula conseguia alguma informação. Você acha isso justo?
-- Eu quero consertar o mal que eu te causei.
-- Tem coisas que não têm conserto. Agora é tarde demais.
-- Não é tarde.
Ana tomou Adriana em seus braços e a segurou forte, Adriana tentou se libertar e foi conduzida pela advogada até a porta da dispensa, esta se abriu, estava encostada e as duas praticamente caíram dentro so local apertado, cheio de prateleiras e mantimentos. Adriana estava furiosa, seus olhos soltavam faíscas, aquela proximidade não era segura. Lá fora os meninos começavam a cantar um pagode que fez o sangue delas ferver.
https://www.youtube.com/watch?v=ZWvU8JuFxwA
Fala Baixinho- Revelação
“Xiii... fala baixinho que ninguém pode saber que a gente tá aqui
Xiii... vamos com calma, devagar, que desse jeito ninguém vai dormir
Sabe que a gente não escolhe a hora e nem lugar”
Adriana tentava se soltar dos braços da advogada, e reclamava com ela.
-- Ana me larga! – a loira a beijou abafando o som –
O beijo era lascivo, voluntarioso, carnal, Adriana que até então tentava se soltar, passou a retribuir o beijo que se tornava mais forte. Mais intenso. Incontrolável.
“Junta a fome com a vontade de comer
Você me olha e morde os lábios pra me seduzir
Acende a luz pra ver desejo em minha cara”
Adriana ainda segurava a long neck que a essa altura já suava por estar muito gelada, e encostou involuntariamente nas costas de Ana que sentiu um arrepio louco com o contato do vidro gelado em sua pele absurdamente quente. Uma gota gelada escorreu pela sua espinha a conduzindo para um universo paralelo de prazer.
-- Ah! – gem*u entre os lábios de Adriana--
O beijo cessou, e as duas se olharam seus olhares soltavam faíscas, um desejo incontrolável tomou conta das duas mulheres que sentiam uma saudade insana dos corpos se entrelaçando.
Adriana mordeu o lábio inferior sem perceber.
-- Você me deixa louca Adriana.
Ana tomou sua boca novamente e Adriana deixou a garrafa em uma prateleira que ela conseguiu alcançar. Enterrava a coxa entre as pernas da morena, que se contorcia. Adriana mordeu o lábio inferior da loira que gem*u. – Ah!
“Xiii... segura a fera tem que ser devagarinho pra ninguém ouvir
Xiii... vou pôr a mão na tua boca pro rugido não escapulir”
Ana não se continha mais, tinha que possuir o corpo de Adriana que estava ali em suas mãos, abriu o short da morena e o deixou cair ao chão, acariciou o sex* de Adriana por cima do biquíni e a morena gem*u, Ana abafou o ruído com a mão. Adriana abriu os olhos e encarou a advogada.
“Se alguém nos pega é sacanagem, quebrar o clima dessa viagem
O nosso filme não pode queimar você
Mas quando bate a tentação a gente fica sem noção e perde a linha sem querer saber
Aí é outra dimensão, quatro paredes e nós dois... e nada fica pra depois”
O seu olhar era quase uma súplica: “me tome”, Ana atendeu seu pedido inconsciente e afastou sua calcinha com os dedos e a penetrou sem demora, ela estava completamente molhada e Ana sorriu por perceber que ainda causava essa sensação na contadora, o desejo guardado por aquele contato aflorou e Adriana gem*u novamente sendo abafada por outro beijo sôfrego de Ana. Suas mãos corriam a espinha da loira, arranhando a pele clara da advogada. Ana segurava os cabelos pretos de Adriana e os puxava levantando o rosto de Adriana.
“Cara na cara, pele na pele, suor pingando, o corpo em febre.
Você em transe, sussurrando, segurando a voz...
Eu viajando no céu da boca, você rasgando a minha roupa de baixo dos lençóis.”
Adriana em um rompante empurrou Ana de encontro à parede, parecia que queria punir a loira pelo tempo em que passaram longe uma da outra, pelo tempo de silêncio imposto pela advogada. Seus corpos suavam dentro do ambiente fechado e abafado.
-- Drica. – foi interrompida pela contadora –
-- Xiiii. – colocava o dedo na boca de Ana –
“Xiii... fala baixinho que ninguém pode saber que a gente tá aqui
Xiii... vamos com calma, devagar, que desse jeito ninguém vai dormir
Sabe que a gente não escolhe a hora e nem lugar”
Novamente Adriana a beijava, como se fosse a primeira vez, segurou o queixo de Ana Paula com uma das mãos, levantando sua mandíbula para aumentar a área de contato com o seu pescoço. Ana se arrepiava com aquela pegada mais bruta.
“Junta a fome com a vontade de comer
Você me olha e morde os lábios pra me seduzir
Acende a luz pra ver desejo em minha cara”
Gemia, Adriana descia beijando o seu colo desnudo, Ana só vestia o biquini, que ela arrancou de uma só vez jogando a peça no chão. As duas mulheres estavam suadas, fazia muito calor e a tensão entre elas só aumentava a temperatura de seus corpos.
“Xiii... segura a fera tem que ser devagarinho pra ninguém ouvir
Xiii... vou pôr a mão na tua boca pro rugido não escapulir”
Adriana parou a investida e ainda segurando forte o queixo de Ana a fez olhar em seus olhos, eles estavam vermelhos de paixão, desejo e um misto de raiva e saudade, tudo se misturava nesse turbilhão de sentimentos guardados dentro de si por um ano inteiro.
“Se alguém nos pega é sacanagem, quebrar o clima dessa viagem
O nosso filme não pode queimar você
Mas quando bate a tentação a gente fica sem noção e perde a linha sem querer saber
Aí é outra dimensão, quatro paredes e nós dois... e nada fica pra depois”
Lá fora o grupo improvisado repetia o refrão enquanto Adriana se deliciava nos seios firmes da advogada que se contorcia de prazer, Drica arrancou a canga que envolvia sua cintura, e soltou os laços laterais do biquíni da loira, ela gemia, e a penetrou com violência, Ana voltou a penetrar o sex* de Adriana e ambas em movimentos intensos e regulares ditavam o ritmo do prazer, Adriana ainda segurava o rosto de Ana que agarrava os cabelos da morena. Sentindo-se completas, as duas reviravam os olhos, gemiam, e se tocavam desordenadamente. As estocadas aumentavam, e ambas se sentiam preenchidas, literalmente.
“Cara na cara, pele na pele, suor pingando, o corpo em febre.
Você em transe, sussurrando, segurando a voz...
Eu viajando no céu da boca, você rasgando a minha roupa de baixo dos lençóis.”
Era um momento de libertação, a saudade aflorava de maneira pervertida, as duas mulheres sentiam seus corpos tremendo pela tensão e pela intensidade empregada por Adriana. Era como se dissesse que Ana era dela. Até o orgasm* chegar intenso para as duas mulheres. Estremeceram juntas, quase perdendo as forças que ainda restavam em suas pernas, foi intenso e saudoso. Um beijo se fez para coroar aquele ato, tão esperado, e ao mesmo tempo tão errado. Os dedos foram retirados lentamente, nem pareciam as mulheres agressivas de um minuto atrás.
Adriana começou a se afastar de Ana, olhava para ela intensamente. Pensava que não estava raciocinando, e se viu inebriada daquele corpo tão sensual que ela conhecia bem. Foi caminhando para trás até terminar o espaço que tinha, e encostou-se nas prateleiras onde começaram o beijo.
Ana imaginava o que viria a partir dali, ela receberia um tapa de Adriana? Um beijo? Ainda ofegante olhava para a morena que não tinha uma expressão muito boa no rosto. Recolhia suas vestes e colocava aos poucos o biquíni, estava com a canga nas mãos.
Adriana recolheu o seu short e o colocou. Ainda olhava para Ana pensando que ela não devia ter feito aquilo, ela não queria mais se entregar àquele corpo, e que corpo! Ela estava extasiada com o sex* maravilhoso que Ana fazia.
A troca de olhares era intensa. O silêncio gritava entre as duas. Até que Adriana se pronunciou.
-- Isso não podia ter acontecido. – balançou a cabeça negativamente –
Saiu da dispensa, esquecendo até da garrafa de cerveja, e Ana foi atrás assim que se recompôs. Na cozinha novamente, elas voltaram a discutir.
-- Adriana, por favor espera!
-- Ana, CHEGA! Eu não quero mais, eu não quero mais você. Eu não posso ficar com uma pessoa que não sabe o que quer. Onde está sua namorada?
-- Que namorada?
-- A minha inquilina. Além de tudo você está trans*ndo com ela no meu apartamento – apontava com o polegar para o próprio peito, você acha que eu me sinto bem com isso?
-- Eu sinto muito Adriana. Ela não é minha namorada.
-- Então o que ela é? Ela te chamou de amor. – acusava Ana --
-- Ela já foi minha namorada ha muitos anos, antes de Gisele e antes de você aparecer. Nós nos reencontramos e ela foi muito importante me ajudando a lidar com Gisele.
-- Ana eu fiz de tudo para você, e você simplesmente me ignorou. Usou essa desculpa que ela iria me matar, eu estou viva, morrer é a única certeza que eu tenho, você não deixou que eu tivesse escolha, tomou sua decisão por mim, eu chorei um ano inteiro. – se aproximou mais de Ana quase encostando novamente em seu rosto -- Eu não quero mais chorar.
As meninas ouviram o burburinho dentro de casa em um momento que a música cessou e correram para ver o que estava acontecendo, Paula e Isadora estavam paradas na porta da cozinha que vai para o quintal, e Camila chegava pela sala. Encontraram as duas no meio da discussão.
-- Adriana, eu sinto muito. – tentava amarrar o cabelo com um elástico --
-- Ana, chega de se desculpar. Eu esperei por você, eu confiei em você, e você não lutou por mim, simplesmente me abandonou. Eu achava que eu encontraria você pelo menos com Gisele quando eu voltasse, mas eu chego e não tem mais Gisele, -- abria os braços -- mas você está com outra pessoa. E eu onde fico?
Ana não sabia responder, mesmo depois de fazer amor com Adriana ela não conseguia dizer que amava a morena.
-- É exatamente ai que eu fico, sem resposta. Você não me ama, nunca amou. – lágrimas teimosas caiam em sua face --. Eu sempre serei o plano “B” pra você.
-- Não fala assim, eu me apaixonei por você. Mas quando eu percebi isso, já era tarde demais.
-- Se você pensa assim, só reforça o que eu disse, eu nunca soube que amor tem prazo de validade. EU TE AMO! – batia com a mão direita no peito – Eu não tenho medo disso. Você nunca me amou.
Adriana saiu da cozinha passando por Camila, pegou as chaves do carro e saiu pelo portão, passou por Viviane que percebeu que tinha alguma coisa errada e correu para o portão atrás dela, mas não houve tempo, Adriana arrancou com o carro de Paula sem destino.
-- Adriana, ADRIANA!
Dentro da casa, Ana estava sem chão, arrasada por ouvir a verdade de Adriana, percebeu que a morena não perdoaria suas fraquezas, a sua insegurança. Viviane chegava perguntando se alguém sabia o que tinha acontecido com Adriana e viu as meninas na cozinha e Ana Paula chorando nos braços de Camila. Em um ataque de fúria ela partiu para cima da loira e tirou satisfações.
-- Gente o que aconteceu com Adriana? – viu todas na cozinha e Ana chorando –
-- Vivi. – Paula foi interrompida pela ruiva –
-- Foi você, eu sabia que isso ia acontecer. – segurou o braço da advogada –
-- Me larga! – Ana reclamava –
-- levantou o indicador para a loira – Escuta aqui boneco fantoche, você não acha que já fez a Adriana sofrer demais não? Ela mudou a vida dela inteira por sua causa, passou um ano longe com a cabeça aqui, perdeu os pais dela e quase morreu por sua causa. – apontava o indicador -- Já não chega não?
-- Calma Viviane!—Isadora chegava –
-- Deixa Adriana em paz! – seus olhos soltavam rajadas sobre Ana—
Viviane soltou o braço dela e Isadora a afastou, ela segurava em seus braços enquanto andava com ela para trás. Paula também veio para acalmar os ânimos. E Camila continuava com Ana em seus braços.
-- Cadê ela Vivi? – Paula perguntou –
-- Saiu que nem uma louca com o seu carro. Por isso eu achei estranho. Eu corri atrás dela mas eu não alcancei.
-- Puta que pariu, ela deve ter saído sem nenhum documento. Liga pra ela.
Viviane foi até a sala e pegou o seu celular, discou o número de Adriana, elas ouviram o toque do celular da morena, e ao procurar a origem do barulho, descobriram o aparelho caído dentro da dispensa, caiu quando elas fizeram amor.
-- Pronto, agora fodeu de vez. – Viviane dizia preocupada --
Alessandra estava no quintal com os meninos ouvindo os pagodes, nem percebeu toda movimentação dentro da casa. Paula saiu apressada com Isadora e pegaram o carro da mulata. As duas saíram pelas ruas da cidade atrás de Adriana.
-- Vivi, fica aqui caso ela volte. Liga pra mim se tiver qualquer notícia.
-- Tudo bem.
Dentro de casa Camila e Ana conversavam no quarto, a loira estava chorando ainda.
-- Ana, o que aconteceu aqui?
-- Camila, eu vim atrás dela para explicar o que aconteceu, mas ela não aceitou os meus motivos.
-- Você realmente esperava que ela aceitasse você de volta? – Camila fazia um carinho em seus cabelos –
-- Eu não esperava nada, pelo menos que ela me escutasse e entendesse os meus motivos. – deitou no colo da irmã –
-- Mas francamente Ana, nem eu conseguiria entender. Você a abandonou quando ela precisou de você, por causa de uma mulher que nem está mais na sua vida. Eu entendo a frustração dela.
Depois de um tempo em silêncio. -- Nós trans*mos dentro da dispensa.
-- O que?
-- O que vocês viram foi o fim de tudo. Nós já tínhamos começado a discutir e no calor do momento eu a beijei, e acabamos dentro da dispensa trans*ndo.
-- Ai Ana, e depois de tudo isso, você ainda não sabe o que sente por ela?
-- Não. Eu acho que ela tem razão, eu não a amo, me apaixonei, mas não a amo.
-- Ana, você precisa de um tempo, conserta esse seu coração, porque você está me dando muito trabalho. – passava a mão no peito da irmã –
-- Ai Camila, eu acho que eu preciso de um psicólogo.
-- Eu acho que não faz nenhum mal tentar uma ajuda profissional.
-- Para onde será que ela foi?
-- Paula foi com Isa atrás dela, vamos esperar.
*********
Na rua Isadora e Paula saíram de carro para tentar achar Adriana, estavam preocupadas, a morena saiu nervosa, sem documentos e já havia bebido em casa. Estava com o carro de Paula e sem o celular.
-- Conseguiu ver alguma coisa?
-- Nada Isa. – olhava pela janela --
-- Paula você a conhece bem, onde nós podemos encontra-la?
-- Se eu conheço mesmo a minha amiga, ela se entocou em uma praia pra ver o sol se pôr e pensar.
-- Vamos para a orla então.
-- Isa, eu gostaria de conversar com você.
-- Pode falar.
-- Eu descobri o caso da Alessandra com a Nathalia.
Isadora estremeceu na cadeira. Esperava que um dia poderia ter essa conversa com Paula, mas não achou que seria tão cedo.
-- E pelo que eu vi, você a perdoou. – prestava atenção na rua --
-- Sim, eu a amo, eu tinha que dar uma segunda chance a ela, eu sinto muito que não deu certo pra você.
-- Paula, eu vou ser sincera, eu sofri horrores, pensei que iria morrer, mas hoje eu estou aqui, em pé. Ainda me dói olhar para a sua esposa, não vou mentir. Mas meu problema foi com a Nathalia, ela me devia respeito e não o fez. Eu não consigo ser tolerante a esse ponto.
-- Eu entendo. Eu quis arriscar, ela pareceu sincera quando conversamos.
-- Eu não vou te julgar Paula, cada um reage de uma maneira, eu não consegui perdoar.
-- Isa, e a Viviane? Eu percebi que vocês têm conversado muito, você está interessada por ela?
-- Sim, eu estou caidinha por ela Paula, mas ainda não rolou nada, ela é linda, meiga, divertida.
-- É sim, vocês devem conversar bem Isa, Viviane passou por momentos ruins no ano passado tem que ir com calma para vocês não se machucarem.
-- Obrigada por me falar Paula, ela é apaixonada por Adriana não é?
-- É sim.
-- Eu percebi.
-- Mas Adriana não conseguiu se apaixonar por Vivi, ela não esqueceu Ana Paula.
-- Eu não sei mais o que eu faço com ela, ela está perdendo tudo, tem uma carreira perfeita, mas os relacionamentos estão no fundo do poço.
-- O que ela quer afinal?
-- Nem ela sabe Paula.
********
Adriana dirigia o carro de Paula com lágrimas nos olhos, sem destino. Pegou a estrada e quando se deu conta estava saindo de Cabo Frio, chegando em Arraial do Cabo. Antes do Pórtico tem uma praia que é mais afastada chamada praia do Pontal, Adriana entrou em uma rua de chão e dirigiu por dois quilômetros até chegar à praia, algumas famílias faziam piqueniques, um grupo de amigos jogava bola, ela estacionou na grama e saiu do carro. Caminhou até a areia e enquanto sentia os grãos finos massageando a planta dos pés, lembrava-se dos momentos que viveu mais cedo dentro da dispensa.
Abraçou o seu próprio corpo e deixou o corpo cair na areia, afastada das pessoas. Olhava o mar, seu corpo ainda fervia pelo toque de Ana Paula, o orgasm* maravilhoso que ela tivera, relembrou o quanto o seu corpo vibrava com a simples presença da loira no ambiente. mas ela não queria aquela vida para ela, Ana é muito instável, não sabe o que quer. Adriana sempre foi decidida, nunca teve problemas para definir suas escolhas, não se via ao lado de uma mulher que não lhe inspirava confiança.
Ela sabia que poderia encontrar Ana Paula com Gisele, mas não com outra mulher, tudo o que ela passou e sofreu foi em vão, Ana Paula é uma mulher muito volúvel, quer ter todas mas não ama ninguém. Ela se sentia usada e descartada na primeira oportunidade que a advogada teve.
Adriana estava decidida a viver sua vida sem Ana Paula. E não voltaria atrás nessa decisão. Colocou as mãos nos bolsos e percebeu que o celular não estava, imaginou que tinha caído dentro da dispensa quando seu short foi ao chão. Ao lembrar o motivo novamente sentiu o corpo dar sinais. Desviou o olhar para o mar novamente. Sua ligação com o oceano era intensa como a sua relação com Ana Paula, levantou e caminhou lentamente até a água avançando calmamente até molhar as pernas, sentir a água gelada se abatendo sobre si a reconfortava.
Fechou os olhos e deixou-se levar pelo embalo das ondas que iam e vinham tocando suavemente sua pele, favorecendo para baixar a temperatura do seu corpo, o vento tocava suavemente o seu rosto fazendo um carinho silencioso. Pensou por um momento ira até a Praia Grande em Arraial, mas desistiu quando percebeu que saíra sem pegar nenhum documento. Estava apenas com o documento do carro.
Depois de um tempo ali pensando e tentando colocar suas ideias no lugar, ela decidiu voltar para casa. Entrou no carro e saiu da praia, já está caindo a tarde, ela dirige com mais calma agora, estava decidida a deixar a casa assim que chegasse de volta. Torcia para não ser parada por nenhum policial.
***************
Paula e Isadora voltaram desanimadas, pois rodaram várias praias de Cabo Frio e não tinham encontrado a morena, não tinham como saber que ela saíra da cidade em direção a Arraial. Viviane já estava desesperada, não sabia o que pensar.
-- E ai, gente? – perguntava –
-- Nada, nem sinal dela. – Paula respondeu –
-- Onde ela se meteu? Sem documento nem celular, o que pode acontecer com ela? – colocava as mãos na cabeça –
-- Calma Vivi, Adriana não é de fazer loucuras, ela vai voltar. – Paula confortava a amiga –
-- Vivi, vem comigo, você precisa se acalmar. – Isadora chamava –
Isadora estendeu a mão para Viviane e ela a segurou, a mulata levou a contadora para o quintal e sentaram-se em uma das redes e Isadora embalava Viviane tentando acalmá-la.
Alessandra veio até Paula saber notícias da amiga, e recebeu a mesma notícia que o restante do grupo. Elas estavam preocupadas, caminharam até o portão para ficar vigiando se Adriana voltasse.
Depois de várias horas, Adriana apontava na esquina da rua com o carro. As meninas estavam dentro da casa, já haviam ligado até para Mariana para perguntar se ela não tinha aparecido em Búzios.
Ela entrou em casa e as meninas correram para abraça-la, Drica estava triste, cabisbaixa, estava sentindo-se humilhada e envergonhada pela discussão.
-- Adriana!, Por onde você andou? Nós te procuramos por toda a parte. – Paula a abraçava –
-- Nunca mais faça isso! – Viviane ralhava com ela –
-- Eu estava na Praia do Pontal.
-- Em Arraial? –Alessandra falava assustada –
-- Isso, quando me dei conta eu já tinha saído de Cabo Frio. Eu fiquei lá pensando.
-- Vai tomar um banho para comer alguma coisa. – Paula fazia um carinho em seu braço –
-- Tudo bem, eu vou, mas eu quero ir embora para casa.
-- Nós vamos. Vai lá tomar um banho e depois que você comer nós resolvemos isso.
Adriana saiu da sala acompanhada por Paula, e foi para o seu quarto pegar suas coisas para tomar banho, quando ela entrou no banheiro, Isadora foi até o quarto de Ana avisar que ela estava em casa e estava bem.
-- Ana, ela chegou.
Ana levantou da cama correndo.
-- Onde ela está?
-- Foi tomar banho. Não é melhor você dar um tempo pra ela? Foi muita informação para um único dia.
-- Eu preciso resolver isso.
-- Ela quer ir embora. Não é melhor deixar isso para outro dia?
-- Tem que ser hoje Isa. – seu olhar era firme –
Ana ficou esperando Adriana sair do banho e quando a morena entrou no quarto ela foi atrás. Fechou a porta atrás de si e interpelou Adriana.
-- Drica.
Adriana tomou um susto, estava secando o cabelo de costas para a porta e ao ouvir o seu nome sua pele arrepiou inteira. Olhou para a loira e se perguntou o que ela ainda podia querer.
-- O que você quer Ana? O escândalo na cozinha não foi suficiente? – segurava a toalha nas mãos –
-- Eu peço desculpas, mas você não deixa eu falar, nós precisamos acabar de uma vez com esse mal entendido.
-- Ana não tem mal entendido nenhum, eu te amo, você não me ama, simples assim. – virou de costas --
-- Não fala assim, isso torna tudo mais doloroso.
-- Ana, desde o começo tudo foi doloroso, a única coisa que eu fiz foi sofrer depois que eu te conheci. – encarou a loira -- Eu não quero mais isso.
-- Eu sinto muito. Eu sei que eu falhei com você, você merece muito mais do que eu te dei. Mas por favor, mesmo que você não queira ficar comigo, me perdoa, eu não fiz nada com a intenção de te magoar, infelizmente minhas escolhas foram ruins, eu pensava que estava te protegendo, mas na verdade eu estava te perdendo.
Adriana olhava para a advogada, tentava desvendar sua expressão corporal, tentava encontrar firmeza em sua voz. A morena não encontrava nenhuma expressão para se apegar, nada que a fizesse se agarrar mais àquele romance.
-- Você me perdeu sim, minou minha resistência até o meu amor se tornar fraco, e o pouco que nós vivemos juntas não é suficiente para me dizer que isso não vai acontecer de novo.
-- Você não quer ficar comigo?
-- Eu ainda te amo, eu quero ficar contigo para sempre, mas eu não vou fazer isso, eu não vou mais arriscar. Eu quero uma pessoa que me passe confiança. Eu quero estar com alguém que eu sei que não vai me abandonar por qualquer coisa. Que vai se dispor a lutar por mim nas dificuldades. – lágrimas rolavam novamente em seu rosto –
-- Essa é sua decisão final? – começou a chorar também –
--Você me ama? – se aproximou da loira –
Ana Paula foi pega novamente com aquele questionamento, mais uma vez ela não sabia responder.
-- Ana Paula, você me ama? Quando você pensa em mim o que você sente? Você sente sua respiração sumir? Sente o estômago se revirar em borboletas? Deseja ardentemente passar o resto de sua vida ao meu lado?
Ana percebeu o que Adriana queria, ela queria ter certeza que não seria um tiro no escuro, ela queria saber o quanto Ana estava disposta a espera-la por um ano longe sem cair nos braços de outra mulher.
-- Você seria capaz de esperar por um longo ano até eu voltar para ficar comigo? – sua voz era calma –
Ana pensou um pouco e não sabia definir o que sentia, sabia que estava apaixonada, mas não sentia essa profundidade em seus sentimentos, além da atração física que tinha por Adriana.
-- Eu sou apaixonada por você. – olhava dentro dos olhos de Adriana –
-- Eu quero saber se você me ama! É mais que paixão, é mais que desejo, Ana Paula. Você me ama?
-- Não. – baixou os olhos – Desculpe.
-- É disso que eu estou falando, por que você ainda insiste para eu ficar com você? Você não sabe o que sente, e se lá na frente, você realmente amar alguém? Eu vou ser novamente abandonada, eu não vou deixar mais isso acontecer. Me esquece Ana Paula, nossa história terminou.
-- Eu sinto muito.
-- Eu também. – lágrimas escorriam pelo seu rosto --
Adriana saiu do quarto chorando, seu peito estava destroçado, se já não bastasse tudo o que passou, agora ela ouviu da boca de Ana Paula que ela não a ama, finalmente Ana entendeu os sentimentos que nutre pela morena, ou não, talvez ela não queira se entregar a esse amor que habita em seu peito. Ela estava triste por fazer Adriana chorar mais uma vez, mas já era hora de se libertar e libertar Adriana daquela prisão que estava sendo esses sentimentos mal definidos.
Ana foi para o seu quarto chorar e Adriana foi para o banheiro pentear seus cabelos, chorou mais um pouco sozinha, ao terminar desceu e encontrou Paula e Alessandra na cozinha.
-- E ai amiga? Como você está?
-- Péssima. Conversamos novamente no quarto agora. E ela finalmente admitiu que não me ama Paula.
-- Ai amiga, eu sinto muito. –abraçou a amiga –
-- Drica, come um pouco, eu fiz um sanduiche pra você. – Alessandra colocava um prato com sanduiche e um copo de refrigerante –
-- Obrigada amiga, eu estou com fome mesmo. – bebeu um gole do refrigerante e mordeu o sanduiche –
-- Você ainda quer ir embora?
-- Sim, eu gostaria, mas se vocês não quiserem eu fico, não tem problema.
-- Por mim não amiga, acho que eu e Alessandra não temos problema em ir pra casa.
-- Não mesmo, Drica, mas eu acho melhor ir amanhã de manhã, todas nós já bebemos hoje, não seria seguro.
-- Você tem razão. O problema é Viviane, eu acho que ela não vai querer ir embora. – mordeu outro pedaço --
-- Nós conversamos com ela depois.
-- Onde ela está?
-- Saiu com Isadora. – respondeu Ale –
-- Espero que Isadora cuide bem dela.
-- Ela sabe se cuidar amiga.
Enquanto Adriana terminava de fazer o seu lanche, um dos meninos entrava chamando por elas, avisando que tinha alguém no portão procurando por Paula.
Ela foi até o quintal e voltou acompanhada de Mariana.
-- Olha quem apareceu. – Paula sorria –
Mariana entrava pela porta da cozinha, linda como sempre, os cabelos ainda molhados, em um macaquinho floral em tons de azul bem leve e chinelos nos pés, o seu perfume invadiu o lugar, Adriana ficou enfeitiçada com aquela visão, e ao mesmo tempo surpresa.
-- Mariana? Como você me encontrou aqui? – seus olhos estavam inchados de chorar –
-- Oi Adriana. Paula me deu o endereço.
Adriana olhou para Paula pedindo uma explicação apenas com o olhar.
-- Eu liguei para a Mariana quando eu voltei da rua, eu não te encontrei em lugar nenhum, eu pensei na possibilidade de você ter ido até Búzios para se encontrar com ela. Eu estava preocupada Drica, precisava eliminar todas as opções.
-- Eu fiquei preocupada quando ela me ligou e me disse que não te encontrava, eu resolvi vir até aqui para ver se estava tudo bem.
-- Eu estou bem, eu precisava pensar. – Adriana levantou da mesa –
-- Você quer alguma coisa Mariana? Refrigerante, água, cerveja? – Paula perguntava --
-- Um copo de água por favor.
Paula foi pegar a água para a arquiteta, Adriana levou o prato e o copo que usara para lavar na pia, não sabia o que fazer com Mariana ali.
-- Obrigada Paula. – bebeu a água –
-- Vamos lá para fora? Aqui está muito quente. – Adriana chamava –
As meninas saíam para a varanda quando Ana descia as escadas, viu a arquiteta andando ao lado de Adriana, pousava a mão em sua cintura, não sabia quem era e não iria perguntar, foi para a cozinha e preparou um lanche, foi para o quintal em seguida, lá encontrou as meninas conversando sentadas no muro que separa a varanda do quintal, Camila entrava em casa com uma amiga, encontrou Ana deitada na rede longe das meninas, seu olhar não saía de Adriana que por diversas vezes se pegou vigiando Ana Paula.
Sentou ao lado da irmã na rede para saber como ela estava.
-- Você está bem? Quer? – oferecia um pedaço do sorvete –
-- Não.
-- Não está bem, ou não quer? – mostrava o sorvete novamente –
Ana riu – Eu não quero. E também não estou muito bem.
-- Quem é a índia?
-- Eu não sei, acho que chegou agora.
-- O que aconteceu? Vocês conversaram novamente?
-- Sim.
Ana contou a Camila o que aconteceu e a conversa que teve com Adriana, de como ela assumiu que não amava Adriana e como a história delas teve fim.
No grupinho das meninas, Adriana estava aérea, sua mente voava longe, em lembranças, em sentimentos distantes, em sonhos não concretizados, em saudade. Mariana percebeu que algo a incomodava, e viu a morena olhando várias vezes para Ana na rede, sentiu um clima pesado ali. Alessandra e Paula resolveram sair para deixar as duas sozinhas.
-- Ai Paula, vamos lá pro Forte, o show vai começar daqui a pouco.
-- Vamos Drica, Mariana pode vir também.
-- Eu não quero sair hoje gente.
-- Eu tenho que voltar pra Búzios ainda, eu vou deixar o convite para outra ocasião.
-- Tudo bem, Drica, qualquer coisa me liga ok? – Paula pedia –
Adriana apenas assentiu com a cabeça, Paula e Alessandra saíram e a deixaram conversando ainda com Mariana.
-- Posso sentar ao seu lado?
-- Claro! – abriu espaço para a morena –
-- O que aconteceu Drica? Por que você sumiu assim, deixando todo mundo preocupado?
Olhou para Ana novamente na rede. – Eu briguei com uma pessoa, eu precisava de ar para pensar.
-- Você quer conversar?
-- Eu não sei se você gostaria de ouvir o que eu tenho para te dizer.
-- Por que você não tenta?
-- Quer dar uma volta?
-- Sim, vamos andar um pouco.
Adriana e Mariana saíram de casa para caminhar pelas ruas de Cabo Frio, conversavam sobre Adriana, a contadora contava para ela sobre a confusão que estava os seus sentimentos e a decepção que sofrera com Ana Paula. A advogada assistia as duas amigas saindo pelo portão, sentia ciúmes, sabia que tinha perdido novamente a oportunidade de conquistar Adriana de volta. E se perguntava quem era a índia que estava consolando a sua morena, “sua morena” não, novamente veio o pensamento que ela teve Adriana em seus braços e a deixou escapar. Chateada ela levantou da rede e foi para o quarto.
Caminhando pelas ruas, Adriana comentava.
-- Mariana, ai depois de tudo o que aconteceu hoje ela finalmente admitiu que não me ama.
-- Mas ela tem algum sentimento por você, ela não tirava os olhos de nós quando estávamos na varanda.
Chegaram a um barzinho que tinha pouca gente e resolveram sentar para conversar.
-- Você bebe alguma coisa? – Mariana perguntava –
-- Vodca com gelo. – dizia séria –
-- O que? – Mariana se espantou –
-- Não, eu estava brincando, uma cerveja. – riu --
-- Uma água com gás e uma cerveja por favor. – Mariana fez o pedido –
-- Olha pelo lado bom, Drica, pelo menos você está livre para viver a sua vida, não existe mais nada mal resolvido entre vocês.
Um rapaz trazia os pedidos e servia as meninas.
-- Obrigada. – Drica bebeu um longo gole de cerveja –
-- Que sede! – Mariana abria a água –
-- Eu estou curtindo uma fossa. – enchia o copo novamente –
-- Faz parte da nossa evolução. – riu – Mas e agora? O que você vai fazer?
-- Eu vou embora amanhã, eu não tenho clima para ficar mais aqui.
-- Não quer ir para Búzios?
-- Não Mari, eu não vou atrapalhar a sua viagem ou a dos seus amigos. Eu preciso de um tempo para mim. Eu tenho que colocar a cabeça no lugar.
-- Você não atrapalharia em nada. Seria um prazer te receber lá em casa. – bebeu um gole de água –
-- Obrigada pelo convite, mas eu vou recusar.
Um silêncio se abateu sobre a mesa, ambas com seus pensamentos.
-- Você deve estar me achando uma idiota não está? – enchia novamente o copo com cerveja –
-- Por que?
-- Você saiu de Búzios e veio até aqui só para me escutar falando da minha dor de cotovelo. Deve estar me odiando. – olhou para o lado --
-- Nada disso. Pelo contrário, cada vez que nós conversamos eu me interesso mais ainda por você.
-- Por que Mariana? O que você vê em mim? Eu sou uma idiota.
-- Não fale assim, as pessoas que tiveram a chance de estar com você que não souberam te valorizar, você é uma pessoa maravilhosa Adriana, tudo o que você me contou só me fez querer te conhecer melhor, mais a fundo, você tem caráter, isso é fundamental.
Adriana ficou em silêncio apenas olhando para Mariana.
-- Eu vou embora semana que vem, eu vou ficar mais um ano fora, eu não posso te pedir para me esperar, seria muito egoísmo da minha parte.
-- Seria, mas eu não ligo. Você quer que eu te espere? – seu olhar brilhava –
-- Eu não posso te pedir isso Mariana. Confesso que eu fiquei feliz em te ver aqui hoje, mas eu não posso prender você.
-- Eu quero estar presa a você. – segurou sua mão sobre a mesa –
-- Eu estou magoada Mari, eu preciso viver essa fase, e não posso te afundar nisso comigo, me dá um tempo para eu me reerguer.
-- Você tem um ano. – sorriu para Adriana –
A morena sorriu de volta, entendeu o que Mariana dizia, ela esperaria sim por Adriana enquanto ela estivesse em Harvard. Conversaram por mais algumas horas, até que voltaram para a casa, Mariana precisava voltar para Búzios e Adriana só queria se enterrar nos lençóis.
-- Está entregue, eu vou agora para não pegar a estrada muito tarde.
-- Mariana, eu peço desculpas por ter feito você vir até aqui, eu só estou te dando trabalho não é? – ainda tinha o rosto marcado pelo choro –
-- Teria ido ao Rio se fosse preciso, eu quero que você fique bem tá? Qualquer coisa me liga.
-- Obrigada. – sorriu –
Mariana beijou o rosto de Adriana bem no cantinho da boca e demorou um pouco para soltar o abraço, Ana assistia a cena da janela do quarto e se perguntava quem era essa mulher que apareceu de repente para confortar Adriana. Sentiu ciúmes, mas não podia fazer mais nada. Voltou para a cama e se afundou no travesseiro para chorar.
Adriana via a arquiteta partir em seu sedan, ficou no portão ainda pensando mais um pouco, sentia-se cansada. Percebeu que a casa estava vazia, o que a fez sorrir, só queria deitar e descansar. Subiu as escadas e ao chegar no quarto viu um bilhete de Viviane dizendo que precisava conversar com ela. Já imaginava o que seria, deixou para pensar nisso depois.
Trocou de roupas e se jogou no colchão que estava disposto no chão. Deitada de barriga para cima, ela olhava para o teto. Pensava como se deixou iludir daquela maneira, Ana nunca disse que a amava, se sentia diminuída, magoada, e agradeceu por estar tão perto de embarcar novamente para Harvard.
As duas mulheres estavam tão próximas, mas ao mesmo tempo tão longe, os corações destruídos pelas inseguranças e dúvidas, sentimentos que só trouxeram dor e sofrimento para as duas mulheres que agora só queriam esquecer que tinham se conhecido.
Adormeceram em meio à lágrimas teimosas que insistiam em cair, molhavam a visão de um futuro incerto e não planejado.
De manhã, ao acordar, Adriana viu as amigas dormindo no quarto, Paula e Alessandra em um colchão e Viviane ao seu lado de frente para ela. Ficou com os olhos abertos apenas admirando a mulher linda que estava ali ao seu lado, desejando ardentemente que ela seja feliz e sentida por não ter se apaixonado por ela.
Como se sentisse que estava sendo observada Viviane abriu os olhos, meio preguiçosa. Encontrou o olhar triste de Adriana em sua direção e abriu o seu melhor sorriso.
-- Bom dia gatinha. – se mexia no colchão –
-- Bom dia maluquinha. – permaneceu estática –
-- Você está bem? – retirou uma mecha de cabelo que caía sobre seu rosto –
-- Eu vou ficar.
-- Eu fiquei preocupada com você ontem. – sussurravam para não acordar as meninas –
-- Eu sei, me desculpe.
-- Tudo bem. Eu te perdoo. – riu –
-- Sempre de bom humor!
-- Principalmente acordando com seus olhos nos meus, não tem como acordar de outra maneira.
-- Vivi, você está gostando de Isadora?
-- Eu pensei que teríamos essa conversa de uma outra maneira. – Paula mexia no colchão ao lado –
-- Podemos ter essa conversa da maneira que você quiser. Quer deixar pra depois?
-- Não, pode ser agora, eu estou gostando dela sim, ela é muito legal Dri. Nós nos entendemos bem, eu contei a ela o que aconteceu em Harvard, eu estava com medo de assustá-la mas ao contrário, ela me apoiou.
-- Você contou sobre nós duas? – sua expressão era séria –
-- Sim.
-- Ela não se sente ameaçada?
-- Eu não sei. Não nos aprofundamos nesses detalhes. Mas eu quero conhece-la melhor. Mas eu queria te contar isso primeiro, não quero fazer nada nas suas costas.
-- Você é um doce Vivi. – fez um carinho em seus cabelos bagunçados – Não se preocupe comigo.
-- Você quer ir embora não é?
-- Sim. Mas se você quiser ficar, por você eu fico aqui mais um pouco.
-- Não, não se preocupe com isso, nós vamos embora, eu terei bastante tempo para conhecer Isadora depois que voltarmos. Eu acho melhor você se afastar mesmo.
-- Vivi, a Isa é uma pessoa boa, ela te contou sobre a ex dela?
-- Sim. Foi com a Alessandra não foi?
-- Isso. – piscou mais demoradamente –
-- Ela me contou. Ela ainda está magoada. Mas está disposta a esquecer, parece que ela vai voltar a morar no Canadá.
-- Nathalia?
-- Sim.
-- Melhor assim, pelo menos ninguém cai mais em tentação. – uma pausa longa --
-- Dri, é verdade que a Ana disse que não te ama?
-- É sim Vivi. Ela me disse isso. – fechou os olhos, sentia uma dor profunda quando se lembrava desse momento --
-- Eu sinto muito minha linda. – fazia carinho em seu rosto –
-- Eu tenho que te contar uma coisa. Eu quero ser completamente honesta com você Vivi.
-- Pode falar.
-- Eu transei com ela na dispensa, no meio da briga. – baixou os olhos –
-- O que? Você fez o que Adriana? – Alessandra levantou a cabeça reclamando –
-- Ei, há quanto tempo você está ouvindo nossa conversa? – Adriana ralhava com ela –
-- O que está acontecendo aqui? – Paula reclamava enquanto acordava assustada –
-- Alessandra escutando minha conversa com Viviane. – Adriana sentou –
-- Ale, você não toma jeito. – coçava os olhos –
-- Gente, eu acordei e ouvi que vocês estavam conversando e eu tentei voltar a dormir, mas quando eu ouvi que vocês trans*ram, eu não aguentei.
-- Quem transou? – Paula levantou também –
Adriana se enterrou no travesseiro e completamente sem graça ficou ali escondida, até que as três amigas estavam sobre ela fazendo cosquinha e bagunçando os lençóis.
-- Chega, gente para! – Adriana suplicava –
-- Galera, vamos dar um tempo. – Vivi pediu – Deixa a Dri falar.
Adriana voltou o rosto para cima e sentou no colchão, encarou as três amigas e contou a parte da discursão que elas não souberam no dia anterior.
-- Caramba! Ali dentro da dispensa? – Alessandra falava espantada – Poxa amor, o máximo de extravagância que nós já fizemos foi naquela vez que ficamos dentro do carro na garagem do prédio da minha irmã.
-- Alessandra! Não precisa espalhar as nossas intimidades! – Paula jogou um travesseiro –
-- Calma ai gente, foi tudo muito rápido, não foi do tipo planejado, para curtir o momento, foi algo impulsivo, ela me agarrou e eu não resisti. Foi muito intenso, até bruto. Não é algo que eu estou me orgulhando.
-- Isso serviu para alguma coisa? – Viviane perguntou contrariada –
-- Sim, para eu perceber que ela ainda mexe comigo de uma maneira surreal, mas que eu tenho que superar isso. Em nossa ultima conversa no quarto ela assumiu que não me ama, eu só perdi tempo.
-- Pelo menos essa história se resolveu e você não tem mais nada pendente com essa mosca morta. – Alessandra dizia –
-- Já que todo mundo já sabe da minha vida, nós podemos ir embora? – Adriana pediu – Eu não posso continuar encontrando ela desse jeito.
-- Vamos sim. – Paula respondeu –
As meninas levantaram e começaram a arrumar as coisas para voltar para o Rio. Desceram as escadas com as malas, ao chegarem na sala encontraram Felipe e Luana conversando.
-- Adriana, você resolveu mesmo ir embora? – Felipe perguntava –
-- Sim irmão, você sabe o que aconteceu ontem, eu não posso continuar aqui.
-- Eu sei. Vai todo mundo junto?
-- Sim, elas querem ir também.
-- Isadora já acordou? – Viviane perguntava –
-- Eu acho que já, eu a vi no banheiro agora a pouco. – Luana respondeu –
-- Eu quero me despedir.
-- Vai lá Vivi, nós vamos arrumar o carro enquanto isso.
Viviane saiu à procura de Isadora e as meninas levavam as malas para o carro. Camila chegava da padaria com Ana Paula e viram quando elas colocavam a última mala no utilitário. Os olhos se encontraram novamente, azuis e castanhos se encaravam, uma batalha era travada silenciosamente.
-- Vocês estão indo embora? – Camila perguntou—
-- Sim, estamos voltando para o Rio. – Paula respondeu –
Adriana e Ana ainda se encaravam, as duas sofriam, cada uma com o seu motivo, Adriana por amar sem ser correspondida e Ana por não amar quem a amava. Ela sentia que perdia o controle da situação, tinham duas mulheres lindas que a desejavam e ela magoou as duas, Lívia e Adriana.
Camila entrou e Paula e Alessandra também, deixaram as duas paradas na calçada.
-- Eu sinto muito Adriana.
-- Você já se desculpou demais Ana, agora não precisa mais. Está tudo esclarecido entre nós. – seu olhar era de mágoa –
-- Eu gostaria que fosse tudo diferente, mas infelizmente não foi.
-- Ana segue a sua vida e eu vou seguir a minha.
Adriana se preparava para entrar e Ana em um ato impulsivo, demonstrando o seu ciúme perguntou sobra a visita do dia anterior.
-- Quem era a morena que estava aqui ontem?
-- Uma amiga.
Adriana saiu deixando Ana Paula em pé olhando-a se afastar, pensava que tinha estragado tudo com ela, nunca mais conseguiria resgatar o seu amor.
Entrou em casa e foi direto para o quarto, não queria ver Adriana partir.
Dentro de casa Viviane conversava com Isadora.
-- Isa, Eu vou embora com as meninas. Vamos voltar para o Rio.
-- Poxa é uma pena. Eu gostaria de passar mais tempo aqui com você, te conhecer melhor.
-- Nós teremos tempo para isso, vamos marcar alguma coisa quando o carnaval acabar.
-- Sim, marcamos sim, eu te ligo semana que vem. – segurou a mão de Viviane –
As duas se aproximaram um pouco mais, devagar, Isadora a puxava lentamente de encontro a si. Os seus olhos estavam fixos se encarando, elas sabiam onde essa proximidade iria chegar, fecharam os olhos no mesmo momento. O beijo aconteceu devagar os lábios se encontraram, as línguas dançavam em um bailado sincronizado, Viviane envolveu o pescoço de Isadora e a mulata segurou sua cintura, os corpos colaram, sinos tocavam em seus ouvidos, as duas sentiam o coração disparar e perceberam que estavam se apaixonando. Será que alguém ainda acredita em paixão à primeira vista? Elas passaram a acreditar.
Ao terminar o beijo, as duas abriram os olhos e se encararam, um sorriso foi desenhado no rosto suntuoso de Viviane, suas esmeraldas estavam brilhantes. Isadora sorriu também.
-- Então eu preciso ir.
Ainda seguravam suas mãos.
-- Tudo bem, eu te ligo para marcar alguma coisa. – fez um carinho em seu cabelo—
-- Sim, eu vou aguardar você. Ansiosamente. – sorria mais largo –
Adriana chegava nessa hora procurando por Viviane e viu o clima entre as duas, que estavam tão próximas. Ficou sem graça e voltou sem ser vista, ficou feliz por Viviane estar se entregando a outra paixão, ela não queria ser motivo de sofrimento para sua amiga.
Chegando ao quintal ela avisou a Paula e Alessandra que a amiga já estava vindo. Até Viviane aparecer de mãos dadas com Isadora, o que não passou despercebido pelas meninas. Adriana ficou um pouco incomodada, sentia um pouco de ciúmes, no fundo ela gostava de Viviane, ela entrou no carro, Viviane soltou a mão de Isadora para não chamar mais atenção e se despediu. Todas entraram no carro rumo ao Rio de Janeiro.
Ana assistia à partida do utilitário das meninas da janela do quarto, lágrimas escorriam pelo seu rosto, percebeu uma fase da sua vida indo embora.
Adriana apenas olhava pela janela, enquanto deixava para trás um amor, uma vida, um destino. Desejava ter a capacidade de seguir em frente a partir dali, queria acreditar na força que dizem que ela tem e no caráter que ela apresentava para não se perder nesse caminho tão sinuoso que ela estava seguindo.
Fim do capítulo
Boa leitura!
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