Eu nem lembro direito o que aconteceu, apenas que entrei em pane, queria voltar a qualquer custo para a casa da Alicia para obriga-la a me dar o endereço. Mas as meninas não deixaram me disseram que eu poderia até matá-la que ela não faria isso. Estava tão nervosa que tive um colapso e fui parar no hospital, onde me deram uma injeção, mal me lembro de ter chego em casa.

Acordei com uma puta dor de cabeça e a boca seca como se estivesse de ressaca. Boris estava na cama, deitado em meu travesseiro me olhando de um jeito estranho, tentei chamar por alguém, mas a garganta estava seca também, ele lambeu meu rosto, pulou da cama e foi para sala rebol*ndo e miando, logo minha mãe veio falando atrás dele.

- O que foi Boris, por que você tanto mia. O que aconteceu? – Ao me ver de olhos abertos e sentada na cama falou acariciando a cabeça do gato, - Mas que menino inteligente, foi me avisar que sua dona acordou.

- Mãe, - Falei com a voz rouca, - Traz água pra mim, por favor.

Ela foi e voltou com um copo de água gelada mais a multidão que estava em casa esperando que eu acordasse.

- Filha, você está melhor? Fiquei tão preocupado. O que está acontecendo em sua vida meu amor? São tantas tribulações. – Meu pai perguntou beijando minha testa.

- Não sei pai. – Disse com a voz um pouco melhor depois de beber a água. – Eu também queria saber por que tudo isso está acontecendo comigo. Onde foi que eu errei? Já me fiz essa pergunta e não encontro respostas

- Ana gostaria que você soubesse que o cara está preso e tá entregando tudo. – Disse meu novo amigo. - O Aldo está providenciando a detenção das duas mulheres e dos demais que participaram da armação.

- Obrigada Lucas, mas se conheço a Alicia ela deve ter ido embora. Aquela infeliz, se a Sisse não tivesse me segurado acho que teria acabado com ela. Quanto a Jaqueline vai saber por onde anda.

- Você estaria presa agora se eu deixasse fazer o que queria por isso eu agi muito bem em te segurar. – Clarice beijou meu rosto

- E eu de segurar você né amor? – Disse Susana.

- É eu me descontrolei um pouquinho. – Piscou pra ela

- Eu não consigo aceitar. Como eu pude ser tão burra?

- Ana você não tinha como saber. Eu também achei que era verdade. – Falou minha amiga

- Mas você não conhece Clara, eu sim. Eu não podia ter acreditado em nada disso.

- A carta era real demais enganaria a qualquer um, o papel, a caligrafia, e mais o fato dela não estar atendendo ao telefone, as mensagens no celular da Alicia... o envelope e as fotos periciadas. Aliás, isto ainda é uma questão em aberto.

- Provavelmente algum engano ou coisa assim. A culpa disso tudo é minha!

- Dá pra você parar de ficar se culpando o tempo todo? – Disse a pessoa encostada no batente

- Mari? – Perguntei espantada

Ela sorriu e caminhou em direção à cama sentando-se ao meu lado e segurou minha mão.

- Oi. Como você está se sentindo? – Acariciou meu rosto

- Surpresa. Agradavelmente é claro. Que bom que você esta aqui.

- Você achou que eu te deixaria em um momento tão critico? Lembra-se do que te falei? Amigas pra sempre.

- Droga Ruiva, não me faz chorar. Mas quando você chegou? Quanto tempo eu fiquei dormindo?

- Um dia e meio filha. Hoje é segunda feira. – Respondeu minha mãe

- Nossa! Isso é que significa capotar de vez.

- Sim, mas de qualquer forma o melhor é você se manter na cama e descansar.

- Não posso mãe. Tenho que ir atrás de Clara. Estou me sentindo tão culpada por tudo.

- Vocês poderiam me dar licença um pouco pessoal. Preciso conversar com essa cabeça dura em particular. – Disse Mariana.

Todos saíram do quarto e ela fechou a porta.

- Ana, por favor, escuta bem o que eu vou te falar. Lembre-se que eu te amo, mas não sou cega e nem burra e também não estou aqui pra dizer que você é a certa da história.  Porém para de achar que é a culpada por tudo. Se você errou Clara também. Se não tivesse carregado por tanto tempo esse sentimento muita coisa teria sido diferente. Você a teria obrigado a te ouvir logo na primeira conversa quer ela quisesse ou não.

- Você não entende...

- Entendo muito bem. Você é que não percebe o que esta fazendo consigo mesma. Acha que aceitando a culpa de tudo como sendo sua vai conseguir conversar com Clara frente a frente? Que vai resolver os problemas? Não mesmo. As duas tiveram suas parcelas de enganos.

- Mas tudo começou por causa do beijo.

- Sim, um beijo roubado. Você não beijou ninguém por vontade própria e qual foi a chance que ela te deu de se explicar? Simplesmente foi embora. Ela era jovem? Sim concordo, mas e depois? Se o amor continuou por todos esses anos por que nunca veio conversar com você?

- Por conta das fotos enviadas por Alicia.

- Você também recebeu fotos. Então podem se considerar empatadas.

- Mas eu entrei em sua casa e falei um monte de coisas cruéis.

- Sim, e ela teve a chance de retrucar e se defender, e o que ela fez novamente?

- Mas não sabemos o que esta acontecendo. Ela pode estar sendo ameaçada.

- E nem saberemos se ela não decidir falar o que se passa. Vocês erraram e não foi uma, mas sim duas vezes, e pelo mesmo motivo, falta de diálogo.

- Tem muito mais coisa nisso tudo.

- Não estou negando isso. O que estou dizendo é que nessa estória duas pessoas foram vitimas. As vilãs então do lado de fora. Não assuma uma culpa que não te pertence. Apenas abrace a sua parcela e deixe que Clara aceite e assuma a dela. Você sabe o quanto sou imparcial, e nesse caso todo também pendi para seu lado após o relato do que havia se passado. Não tínhamos como saber a verdade. Você é um ser humano, como podia ter certezas absolutas?

- É, mas isso fez com que ela fosse embora. E agora como faço para encontrá-la?

- Quando ela foi embora a primeira vez o que você fez?

- O que eu podia naquela época. Era uma adolescente não tinha muita coisa a fazer.

- Bom hoje você não é mais uma adolescente. Tem outros tipos de recursos à mão. Utilize-se deles.

- Você está certa. Consegue ser tão coerente. Enxergar o que eu não consigo.

- É porque estou fora da situação. Sempre é mais fácil. Tem mais uma coisa que quero te falar amor.

- O que?

- Antes de procurar por Clara você deveria descobrir de fato tudo o que aconteceu. Montar cada pedacinho desse quebra cabeças. Assim quando vocês sentarem pra conversar saberá exatamente como explicar a situação. Não adianta nada sair correndo atrás dela sem ter ideia do resto do que se passou afinal só saber que houve uma carta não resolve muitas coisas.

- Falando nisso o cara disse que escreveu duas cartas.

- Provavelmente uma deve ter sido encaminhada para ela você não acha?

- Será? Mas dizendo o que?

- Isso só Clara poderá te dizer. Mas penso que se eles armaram para te separar dela, fizeram o mesmo do outro lado.

- Meu Deus, essa coisa toda embrulha meu estomago. Como podem existir pessoas assim?

- Infelizmente, algumas pessoas acreditam que para se ter alguém que se quer tudo é justificável. Não entendem que amor também é renuncia. É querer ver a felicidade do outro acima de tudo. – Seus olhos nublaram

- Eu nunca te mereci Mari. Você muito melhor do que eu. Não faz isso comigo. Não gosto de te ver assim.

- Deixa de ser boba. Só faça isso valer a pena. Seja feliz. É tudo o que me importa – Beijou meu rosto e saiu.

Logo que ela saiu Clarice entrou junto com Susana.

- Esse ano você esta batendo o recorde em tentativa de homicídio da melhor amiga.

- Para de drama Sisse. – Retruquei revirando os olhos

- Drama nada. Poxa você não tem ideia do quanto todos nós ficamos preocupados?

- Eu sei. Obrigada pelo carinho. Também não gosto do que tem acontecido.

- Nem vou pedir mais pra você prometer que não fará isso novamente.

- Vou tentar não fazer. Agora posso te fazer uma pergunta Su?

- Claro, já estou até esperando por isso.

- Então me conta como você descobriu tudo?

- Não descobri exatamente. Eu tinha uma dúvida e combinei com aquele meu amigo pra descobrir se estava certa ou não.

- Mas isso surgiu do nada?

- Não. Sabe aquela amiga que eu te disse que vai ao salão e era conhecida de Clara? Bom na segunda feira da semana passada ela foi fazer o cabelo e me contou uma história que me deixou encucada.

- Nossa então você já sabia de tudo desde segunda e não falou nada?

- Como eu te falei eu tinha uma suspeita. Não era certeza. Não podia ir falando as coisas sem provas. Eu podia estar enganada e alimentar uma mentira. Mas como eu estava dizendo ela me contou que tinha escutado uma briga entre a Jaqueline e aquele cara do bar. Que é o mesmo que eu e Clarice vimos com ela no shopping.  Ele estava cobrando o dinheiro do serviço que tinha feito, e ela jogou na cara dele o trabalho que havia conseguido na produtora. E ai no meio da confusão apareceu o nome da Alicia.

- Essa menina conhece Alicia?

- Não. Ela apenas comentou o nome citado na conversa e eu comecei a imaginar como as duas teriam se conhecido aí pedi um favor pessoal pra ela. Que tentasse descobrir mais sobre o cara e que tipo de serviçinho extra ele fazia. Na quinta ela voltou ao salão e me contou que ele falava abertamente sobre a facilidade que tinha em falsificar assinaturas. Então eu resolvi arriscar e ver se pescava alguma coisa. Como conheço o Reinaldo que é porteiro de lá há algum tempo, liguei e pedi o favor. Expliquei que achava que esse cara tinha aprontado pra cima de uma amiga.  Ele topou e deu no que deu.

- Até agora não me conformo, como fui cair nesse truque.

- Ah para né Ana. Não tinha como não acreditar, foi tudo muito perfeito. Que mente doentia guardar um papel de carta por tanto tempo e dobrado ainda por cima... – Falou Sisse

- Realmente Ana, foi tubo muito bem planejado. Não consigo imaginar como uma pessoa pode passar uma vida esperando pra fazer tamanha maldade. Só me pergunto por que ela não veio atrás de você antes. – Su retrucou

- Por que ela sabia que jamais deixaria se aproximar de mim. Eu não a suportava. Só conseguiu mesmo por conta da carta, e para isso Clara precisava voltar. Ela ficou o tempo todo à espreita. Que loucura. No fim alcançou o que queria. E agora o que é que eu faço?

- Não adianta perder a cabeça, amor. As coisas vão se ajeitar, confie. Clara também tem muito a explicar. Tudo na vida tem dois lados. O que vocês precisam é parar de agir por impulso e conversarem. Tenho certeza de que quando ela ler a carta vai se lembrar da outra que recebeu quando Alicia mandou as tais fotos. Que é uma coisa que ainda não entendo.

- Tomara que você tenha razão.

- Não sei por que está se preocupando tanto. Se existe amor de verdade tudo pode ser resolvido.

Nesse instante alguém bateu na porta e entrou carregando uma bandeja.

- Oi meninas. Desculpe interromper, mas Ana precisa comer alguma coisa. Trouxe uma sopinha filha.

- Claro dona Vânia. Já estamos indo mesmo. Qualquer coisa é só nos chamar. Tchau amor. A gente se fala depois.

- Tchau Sisse, obrigada por tudo. Você também Su. Não tenho nem como agradecer.

- Deixa disso, amigos são pra todas as horas. Conte conosco.

E saíram me deixando sozinha com minha mãe.

-E aí amore mio, mais tranquila?

-Mãe é tão complicado. Se você soubesse de tudo...

- Eu já sei de tudo. Depois de te ver no estado em que estava obriguei Clarice a me contar.

- Então você sabe que eu fui uma idiota.

- Não. Sei que foi vitima de duas pessoas muito cruéis. Sabendo do estado de Clara fico imaginando o que fizeram com ela também.

- É isso que esta me preocupando. O que será que aprontaram com ela?

- Ou o que será que ela deixou que aprontassem.

- Como assim?

- Filha você se lembra da ultima conversa que tivemos? Quando eu te perguntei se você tinha certeza do que estava para fazer?

- Lembro. E a minha certeza estúpida era tanta que fui em frente.

- Será que o mesmo não aconteceu com ela?

- Não entendi mãe.

- Ela pode ter cometido o mesmo erro que você. Acreditado no brilho de uma pedra falsa.

- Você acha?

- Tenho quase certeza. Sabe quando vocês foram para a chácara tive uma conversa com ela, e lhe fiz algumas perguntas. Naquele dia eu disse por que acreditava em sua inocência. Se ela tivesse prestado um pouco mais de atenção no que falei talvez isso tudo tivesse se resolvido muito antes.

- De que forma? Quando eu recebi a carta fui embora mãe, esqueceu?

- Não me esqueci não, mas eu não fui. Se o dia que ela veio perguntar de você tivesse aberto seu coração, eu poderia ter ajudado. E mais, se algo a estava incomodando deveria ter conversado com você quando foi procurá-la. Mesmo que fosse para te agredir como você fez. Se Clara tivesse feito isso vocês acabariam por saber o que estava as ferindo. Também descobririam sobre a armação. Falta de diálogo é o mal da humanidade filha. Isso destrói muito mais relacionamentos do que falta de amor. As pessoas deviam aprender que conversando sempre se chega a um consenso.

- Eu devia ter escutado meu coração, e não a minha razão. – Lágrimas começaram a correr dos meus olhos

- Para com isso agorinha mesmo. – Minha mãe sentou-se ao meu lado. – Nada de chorar. Você errou sim, mas não precisa ficar se torturando, afinal tinha motivos para acreditar em todas as acusações. Assim como ela também deve ter tido os seus. Agora é resolver essa situação toda  e depois procurar por ela. E dessa vez não aceitar um não caso ela tente fugir da conversa. Você terá que ser firme e obrigá-la a te ouvir. Não há outra forma de se resolver isso. Chega de bancar a culpada bandida ou a vitima inocente. Você tem que deixar a adolescente Ana Banana pra trás.

- Obrigada mãe, você está sendo muito legal.

- Minha função não é ser legal, mas sim ensinar, falar o que você precisa ouvir. Mostrar as verdades da vida. Leve isso como uma lição, um aprendizado.

- Ah mãe, eu vou levar. Agora eu só quero que tudo isso se ajeite. Tenho que procurar o endereço de Clara e também tentar descobrir todo o resto dessa história macabra.

- Peça ajuda a São Longuinho. Ele sempre resolve quando precisamos encontrar algo ou alguém.

- Sério mãe! São Longuinho? Um detetive é bem melhor não acha não?

- Não acho não e se continuar falando assim do meu santo, vai levar uns tapas. Lembre-se que quem manda aqui sou eu.

Nisso meu pai e Mari entraram no quarto.

- Mas é a minha casa, - Respondi e imediatamente levei um puxão de orelha. – Ai! Isso doeu.

- Era pra doer mesmo.

E saiu me deixando boquiaberta. Os dois começaram a rir.

- Vai rindo Mari, um dia rogo uma praga e você terá a dona Vânia que merece.

- A dona Vânia é um amor. Você que é uma boba.

- Ah é? Leva pra sua casa.

- Filha não fale assim da sua mãe. Ela só quer o seu bem, afinal ela te ama mais do que tudo no mundo.

Ouvindo essas palavras de meu pai eu me emocionei, por que sabia que era a mais pura verdade. Eu também a amava demais. O resto da tarde passou voando, mas no fim do dia tivemos notícias de Aldo, realmente como eu havia previsto Alicia não estava mais no apart hotel. 

Àquela altura devia estar em algum país como Argentina ou Paraguai de onde poderia ir pra onde quisesse. Só me restava tentar achar o endereço dos pais de Clara, e eu faria isso logo cedo no dia seguinte.

Fim do capítulo