- Calma Ana, pelo amor de Deus. Não vai fazer uma loucura. Controle-se. – Disse me contento pelos braços.

- Me solta Sisse. Eu quero acabar com a vida dessa vagabunda. Essa puta maldita! Me larga. – Tentava me soltar dos seus braços.

- Me ouve, só um instante. Você não pode perder a razão. Ela vai pagar por tudo isso, mas de outra forma. Tente se acalmar um pouco. Se você bater nela vai ser pior. Ela te denuncia por agressão física.

- Pagar pelo que? Que está acontecendo aqui? Vocês estão loucas? – Alicia gritou de trás do sofá onde estava tentando se proteger.

- Ah não Sisse agora foi demais, não me importo de passar uma noite na cadeia, mas eu vou quebrar a cara dessa filha da puta. Vem aqui sua piranha, você não queria foder comigo? Vem que eu te mostro como eu quero te foder agora. – Cuspi as palavras em sua direção.

- Mas Ana, não estou entendendo. Me fala o que aconteceu? Eu não fiz nada. Você está surtando. Eu mereço uma explicação. – Retornou do seu canto

- Agora quem vai dar uma surra nessa vagabunda sou eu. Pode deixar Ana que eu acabo com a raça dessa cadela.-  Disse Sisse, me soltando e avançando pra cima dela.

Susana teve que correr para evitar que ela cumprisse o que havia dito.

- Parem com isso vocês duas. Não se pode resolver as coisas dessa maneira. – Falou abraçada a Clarice.

Fiquei parada disparando chispas de ódio em direção a Alicia. Eu queria saber tudo o que ela tinha aprontado.

- Como você pode ser tão cretina? Tão baixa? Você vai pagar por toda essa armação que tramou.  Você e aquela piranha da Jaqueline, eu prometo, vou processar vocês e não vou descansar. Quero as duas na cadeia. Por que você fez isso? Só por sex*? Será que é tão difícil encontrar alguém pra te comer?

- Que armação? Que loucura é essa que você está falando? Não me trate como uma qualquer. Eu nunca quis apenas sex*. Eu te amo.

- Não se faça de sonsa, ou eu juro por Deus que perco o resto do juízo que estou tentando manter. Para de mentir.

- Ana eu te juro. Não sei o que está acontecendo. Me diz o que houve. Deve ser calunia de alguém querendo nos separar.

- Para Alicia. Não me testa, cara é sério. Separar a gente? Você está alucinando por acaso? Nós nunca tivemos nada.  – Respondi já querendo partir pra cima dela de novo.

- Por que você não acredita em mim? Eu te amo tanto! Você é a mulher da minha vida, a única pessoa que amei.  Nunca senti nada assim por outra pessoa. Acha mesmo que faria algo contra você? Não suportaria te ver sofrer.

- Você é louca! Doente, demente e obsessiva. Não ama a ninguém, nem sabe o que é esse sentimento. Inescrupulosa. Como fui trouxa o suficiente para acreditar em você. Me conta com o você fez pra forjar o envelope e as fotos?

- Para de falar isso. Eu não fiz nada do que está me acusando. É tudo de verdade. – Ela estava chorando descontrolada

- Eu não consigo nem olhar pra sua cara. Você é maluca. A escória da humanidade. Eu tenho asco por você. Ou melhor nem isso porque você não é digna nem desse sentimento. É um ser maligno que não merece estar na face da Terra.

- Não me diga isso. Eu não mereço escutar essas coisas de quem sempre amei. O que foi que te disseram? Quem envenenou a sua cabeça contra mim? Ana me escuta por favor.

- Como pode ser tão suja? Tão vil? Fico imaginando o tanto que essa mente doentia ficou tramando. Como você fez pra isso tudo dar certo? Fala, me conta. Ficou esses anos todos esperando o momento certo pra me destruir?  E ainda tem coragem de dizer que me ama? Você viu o meu estado. Sentiu a minha dor. Você foi oportunista. Conseguiu o que queria afinal. Meu usou como um brinquedo sexual.

- Não é verdade. Você nunca foi um brinquedo pra mim. Sempre te amei. Falei isso tantas vezes e você nunca acreditou. O que aconteceu no dia em que veio me ver foi apenas uma prova do meu sentimento. Me entreguei inteira pra você. Eu fui sua de corpo e alma.

- Não me lembra disso. Só de pensar que toquei teu corpo me dá vontade de vomitar. Você é má. Que ódio de mim mesma. Não consigo nem pensar em tudo o que ficou planejando esses anos todos. Do que você queria se vingar? De quem? De mim por não te querer? Ou de Clara por ser meu verdadeiro amor? Por falar nisso o que você fez com ela? Me diz. Porque ela está naquele estado?

- Eu não fiz nada. Não sei nem do que está falando. Mas quer saber, depois de ouvir tudo isso da sua boca estou começando a achar você merece mesmo aquela idiota. Você não pensa, cega de amor não percebe a verdade. Se ela te amasse teria vindo atrás de você naquela época, te dado a chance de se explicar. Teria acreditado na sua inocência, afinal teus olhos eram só pra ela. Não seria um beijo que me afastaria de você, porque eu sim te amo! Não haveriam provas que me afastasse de você. Eu não te deixaria por nada. Ela nunca te amou e só você não percebeu isso. Esperei esses anos todos pra ter você pra mim. E se você não for minha não será dela também.

- Meu Deus você tem que ser internada em um hospício. Está completamente pirada. Nunca serei sua. Nem que fosse a última mulher do mundo.  Não importa o que você diga, eu amo a Clara. Não quero ver mais a sua cara a não ser no julgamento. Me aguarde. Você vai pagar caro pelo que fez.

- Vai mesmo sua tonta. Vai atrás de quem não te quer. Você vai ver o que te espera. Ela não vai querer te ver nem pintada de ouro. O grande amor da sua vida que por qualquer coisa abre mão de você. Vai lá ser a cachorrinha de estimação dela.

Virei para ir embora antes que não conseguisse mais me segurar, no entanto ainda pude ouvir sua gargalhada louca soando em minhas costas.

Desesperada entrei no carro e fui direto para a minha casa, precisava buscar tudo o que eu havia guardado para levar até Clara, eu precisava falar com ela, tinha que me desculpar, implorar que ela me ouvisse, dizer que a amava, sempre tinha amado, contar tudo o que havia acontecido, mostrar a carta, as fotos. Ia deixar que ela visse tudo o que estava sentindo. Precisava saber o que tinha acontecido com ela. Por que não me disse nada quando fui até sua casa pra conversar? Porque preferiu ficar muda? Nem tentou se defender. Será que elas a estavam ameaçando de alguma forma? Estariam a torturando mentalmente? O que aconteceu quando foi viajar? Será que Jaqueline a tinha sequestrado? Mil e uma coisas se passavam em meu cérebro já sobrecarregado.

Entrei em casa como um furacão e quase tropecei em Boris que veio me receber ronronando.

- Desculpe amigão não tenho tempo pra te dar carinho agora. – Falei passando por ele

Fui até o quarto, abri o guarda roupa e peguei a caixa. Quando estava saindo Clarice me parou na porta.

- O que você pretende fazer Ana? Parece uma desvairada. Se acalma um pouco.

- Não Sisse, deixa eu passar. Preciso falar com Clara. Eu tenho que mostrar isso tudo pra ela. Quero saber da sua boca o que aconteceu.

- Mas a essa hora da noite? Você vai assustá-la se aparecer desse jeito. Está assustando até a mim.

- Eu não posso esperar até amanhã. Elas podem tentar fazer algo contra ela.

- Você está descontrolada. Ninguém vai fazer nada contra ela. Você já está entrando em parafuso.

- Por favor Sisse me deixa ir. Eu não quero esperar. Ela vai entender quando eu contar o que aconteceu. Eu vou mostrar a carta. Eu preciso vê-la. – Estava chorando em desespero.

- Porque você não liga pra ela primeiro? Avisa que está indo até a sua casa. É melhor.

- E se ela não me atender?? E depois eu descartei meu chip. Não sei se ainda tenho o número do seu celular.

- Eu tenho gravado. Eu também liguei pra ela aquele dia lembra?

- Tá bom então eu vou tentar me passa o número. - Concordei

E eu liguei umas vinte vezes, mas ela não atendeu. Então mesmo sob o protesto de Clarice eu fui até a casa dela e as duas foram comigo. Suzana foi dirigindo pois no meu estado seria até perigoso.

A casa estava às escuras, nem uma só lâmpada estava acessa. Toquei e toquei diversas vezes a campainha e ninguém veio abrir, comecei a esmurrar a porta e chamar seu nome. Suzi estava desesperada me pedindo para parar pois alguém poderia chamar a polícia, porém nada me importava, eu poderia ir presa, mas Clara teria que me escutar. Até que uma vizinha se compadecendo do jeito que estava chamando e tocando a campainha resolveu vir falar comigo.

- Moça, desculpe me intrometer, mas não adianta tocar e nem chamar. Não há ninguém na casa.

- Faz tempo que eles saíram? Será que vão demorar?

- Você não entendeu. Não há ninguém porque eles se mudaram.

- Como assim se mudaram?

- É eles foram embora na quarta. A menina estava doente há um bom tempo. Só ficou a mobília que doaram para uma instituição de caridade.

- A senhora está enganada. Não pode ser verdade.

- Mas é querida. Eu lamento.

- Sabe para onde eles foram? Por favor, me ajude. Eu preciso muito falar com ela.

- O local exato não. Sei apenas que a moça foi morar com os pais em uma cidade do interior. Desculpe não poder ajudar mais. Espero que consiga encontra-los.

Disse isso e voltou para sua casa. Aquelas palavras ficaram soando em minha cabeça como um eco. “Ela foi embora” “Ela foi embora” Pra onde meu Deus? Não ia aguentar aquilo. Estava acontecendo tudo de novo como há exatos vinte anos atrás. Ao perceber a realidade dos fatos me deixei cair sentada na calçada. Aí meu mundo que já estava rachado de ponta a ponta desmoronou de vez.

Fim do capítulo