--Sophia... - Susan alternava o olhar entre mim e Skya numa clara interrogação interna e eu sentei-me na cadeira sem saber onde enfiar a minha cara. Sentia-me uma menina travessa de 10 anos pega numa mentira de pernas curtas.

 

--Skya! Sophia é apenas um dos meus pseudónimos e acho que vai ser o escolhido para essa nova etapa da minha vida...nova carreira.

 

Ela sorria e Susan parecia encantada...quem não ficaria?

--Tu tens muito talento...muito. Eu não consegui parar de ler a coletânea, é uma leitura fácil, que prende, instiga...perfeita.

Skya sorriu timidamente e Susan continuou.

--E ainda tocas vários instrumentos, quantos talentos...

--Toco contrabaixo como instrumento principal, e arrisco no violino e só...queria tocar saxofone, acho maravilhoso.

--Ah eu também...acho sexy.

E elas dialogavam como se eu não existisse o que em certa medida era bom porque ganhava tempo para resolver o flagrante, isso claro, se eu conseguisse articular dois pensamentos com nexo...eu só olhava para Skya que usava jeans e uma camisa branca e os famosos sneakers desta feita nas cores, vermelha e branca. Á partida nada de mais, mas ela ficava sexy com qualquer coisa.

-- Como este mundo é pequeno...de repente a escritora sensação da editora da minha mulher conhece a minha melhor amiga e da forma mais inusitada...- Susan sorriu olhando diretamente para mim e não sei se ri e se o fiz foi o sorriso mais amarelo do universo.

--A nossa aventura foi inesquecível e olha que a tua amiga teve verdadeiro ódio por mim antes de sucumbir ao meu charme adolescente.

Ela sorriu de forma tímida e genuína mas eu não consegui relaxar pois os olhos inquisidores de Susan estavam cravados em mim.

--Oh, imagino...uma menina de sneakers dividindo o quarto com nossa dama de gelo.

-Ah Susan...-Finalmente consegui abrir a boca, precisava calar aquela mulher. Mas a Susan não era um poço de discrição? Que ousadia era aquela? Estaria ela de flerte com minha Skya? Não...claro que não.

--Para, sem palavrão.

Elas riram às gargalhadas.

--Já sabes que ela é a senhora dos palavrões?

"Eu vou matar a Susan, juro que mato e com as minhas mãos."

--Não...comigo ela foi um doce...depois que arduamente quebrei o gelo...não foi fácil...

Ela me olhava com aquele sorriso e na minha mente várias cenas...o gosto do beijo dela...eu queria de novo e mais um pouco...Susan...Ah Susan...ela tinha que aparecer naquele momento?

--Ah, a propósito Catherine, qual é o teu problema com os meus sneakers?

Eu não ouvi a questão...parei de ouvir no momento em que ela disse o meu nome...música nos meus ouvidos, o sotaque britânico dela...meu Deus, que mulher maravilhosa.

--Oi Cathe...

--Hã? - Olhei para Susan sem entender nada.

--Ela perguntou porque não gostas de sneakers?

--De sneakers não, dos meus sneakers?

--Nada contra...mas é estranho alguém usar por exemplo, vestido com esses sapatos.

Elas riram juntas, não sei se da colocação ou de mim.

--Skya, preciso ir. Foi um prazer enorme conhecer ainda que rapidamente a mulher por trás do pseudónimo. Ontem o assédio era grande e sou apenas mais uma fã, mas acho que vamos ter mais tempo...eu gostaria de ter mais tempo para conversar contigo.

Susan sorria, o melhor sorriso que era inteiramente retribuído por Skya. Estaria minha amiga a fim da mulher que não me deixava respirar sem atropelos? Mas Susan não brada que é louca pela Ciara? Será que entre mulheres é normal esse flerte descarado?

--Com certeza. Eu terei o maior prazer.

Ela sorria encantadoramente.

--Cathe, preciso ir querida. Vim apenas dar um olá...estava aqui perto.

Ela aproximou-se do meu ouvido e discretamente disse:

(Depois falámos.)

Beijou-me na face, beijou Skya e foi embora.

Eu fiquei parada olhando para Skya e provavelmente com cara de idiota e ela sorrindo. Parecia que fazia de propósito, sabia do poder daquelas covinhas...cruzes, eu estava encantada por covinhas...as covinhas mais lindas, sexy e encantadoras da face da terra.

Como sempre e de forma espirituosa ela resolveu a situação.

--Ela é encantadora. Tua melhor amiga? Que sorte...

Sorriu ainda parada no mesmo lugar. Eu estava em transe, não conseguia raciocinar...Catherine...CATHERINE acorda!

--Teus cartões...

Nossas mãos tocaram-se, de leve, mas o suficiente para alguma coisa tremelicar dentro de mim...e o estômago, bem, esse estava aos pulos e contorcia-se...

Ela aproximou-se e entregou-me os benditos cartões...mil vezes benditos, sem eles não estaria com ela...provavelmente não...

--Sente-se Skya. - Finalmente saí do transe e resolvi ser educada. Na verdade queria era tê-la na minha sala por mais algum tempo...muito tempo.

--Não tenho muito tempo...

--Nem para um café? - Fiz meu melhor ar dramático e ela sorriu.

--Uma água, pode ser?

--Claro, tudo o que quiseres. Estou feliz com a visita...não esperava...- Cala a boca Catherine, ainda dizes asneiras. Mas era assim com ela...uma leveza desconcertante.

--Coincidência vir parar na tua cidade...mas eu sempre vinha para cá, só que não falamos sobre isso...

Na realidade nós não falamos de muita coisa...nem sei mais como medir o que aconteceu. Às vezes acho que falamos muito, outras acho que quase nada...não sei...

--Pois...as coisas foram meio corridas lá no fim do mundo...- Juro que não usei de duplo sentido mas o olhar dela fez-me corar e ela sorriu mas não disse nada relativamente á vermelhidão da muinha face. Ridículo dona Catherine, simplesmente ridículo.

Mais uma vez perdi-me naquelas nuances de menina/mulher...

--Catherine...Catherine...

Levei um susto com Karen falando comigo.

--Sim Karen...

--Apenas para te lembrar da reunião...

--Claro. - "Droga de reunião".

--Ainda precisamos fechar a proposta...

Fuzilei a pobre da secretária com o olhar que obviamente não entendeu nada.

-- Eu já vou, não quero atrapalhar. - Skya levantou-se para ir embora e eu fiz a mesma coisa mas com o intuito de impedir.

--Não atrapalhas...

--Preciso mesmo ir...adorei ver-te.

Assim? Ela ia embora e pronto? Não, eu sou Catherine Lohman, não perco oportunidades.

--Jantas comigo? - Sim, um jantar, mais algum tempo com ela...conversar e tudo mais...deixá-la ir nem pensar...minha cabeça não está bem mas essa já é outra história.

--Hoje?

--Sim...- Meu estomago quase pulou garganta acima...medo de uma recusa ou descaso quando tudo em mim fervilhava de ansiedade.

--Claro. - Ela sorriu parecendo feliz. Eu? Experimentei aquela velha sensação do fim do mundo...levitação.

--Que bom...- Uma boba, uma perfeita boba, assim me definia naquele momento. Não sei lidar com isso, ponto final.

--Onde? A que horas?

Skya sempre me ajudava...

--Na melhor hora para ti...pode ser às 9?

--Perfeito. Onde? Estou no hotel Westgate Plaza...temporariamente.

--Ok, às nove estarei lá e iremos comer num restaurante inesquecível.

Sorri feliz e a beijei de leve no rosto. Karen estava por perto...Karen, Susan...mulheres que quase sempre são anjos na minha vida mas não hoje, não naquela ocasião em que queria estar sozinha...mas se estivesse sozinha faria alguma coisa diferente? Eu me sentia intimidada, intimidada por uma quase menina...

--Às nove em ponto eu te espero no hall do hotel. Tchau.

E ela foi, tão leve quanto entrou...

Fechei os detalhes da reunião com Karen e apenas porque ela liderou, estava dispersa, só pensava em Skya...o cheiro dela parecia brisa de noite estrelada dentro da minha sala.

Karen saiu e eu fiquei presa na janela, vendo a vida que pulsava lá fora quase no mesmo ritmo que meu corpo...sim, ele estava em brasas...lembranças vivas, doces, quentes...lembranças permanentes. Eu queria mais uma noite de sex* com aquela mulher e queria para ontem. Teria Skya e na minha cama...mordi o canto da boca tamanha era a minha excitação.

 

**************************************************

--Meu amor, que surpresa mais agradável.

Ciara largou o que estava a fazer e beijou Susan com vontade.

--Vim atender um cliente aqui perto e resolvi matar as saudades da boca mais deliciosa que já beijei nessa vida.

Mais um beijo com direito a gemidos e mordidas leves no pescoço.

--Para doida, aqui não...

--Ninguém entra na minha sala sem se anunciar...

Risos.

--Muito trabalho baby?

--Muito e graças a meu faro perfeito. Estamos a fechar contratos de exclusividade com esse pessoal que explode na internet...essa menina, a Sofhia, na realidade o nome dela é Skya, ela é muito talentosa, é uma lufada de ar fresco para essa editora. E ela tem outros talentos, que poderão ser bem aproveitados para umas ideias que pululam na minha mente.

--Prodigiosa a mente dessa mulher que amo tanto.

Mais beijos e abraços apertados.

--Acabei de encontrar a Skya...-- Susan falaria sim do encontro mas jamais da desconfiança que beirava a certeza absoluta de que Skya e Catherine tinham ido além de um encontro casual. Primeiro porque não tinha certeza absoluta e não gostava de ser leviana e segundo porque a mulher não gostava de Catherine e pelos vistos estava encantada com a menina dos sneakers.

--Onde meu amor?

--Na sala da Catherine.

--Onde? Catherine? A tua amiga doida?

-Sim, a Catherine. Elas conheceram-se numa viagem e para não variar, Cathe esqueceu alguma coisa e Skya foi devolver...

--Hmmm, essa doida vive esquecendo coisas...lá em casa o que não falta são coisas do Scout que ela vai deixando para trás...

--Deixe a Cathe para lá...sabemos que não há consenso.

Riram juntas e abraçadas.

--Não. Mas e a Skya, estava animada?

--Sim, encantadora aquela mulher, sempre com aquele sorriso resplandecente e ela transmite coisas boas...

--Hmmm dona Susan, preciso lembrá-la que sou ciumenta?

Gargalhadas e Susan mordiscou a bochecha de Ciara.

--Parva! Eu só vejo uma mulher, tu. Mas sabes que adoro ler, adoro artes e adoro gente talentosa e despretensiosa...Skya.

Risos.

--Estou entusiasmada para a nossa reunião de amanhã. Tomara que ela aceite...ela parece-me ser esse povo com o espirito livre que voa e quase nunca pousa...

--Pode ser, mas ela não precisa pousar por aqui para escrever livros maravilhosos.

--Claro que não, mas para desenvolver os outros projetos que temos em mente sim. Tomara que eu consiga convencê-la a fixar-se por aqui...um ano seria perfeito. Temos uma outra pérola em prospeção, já imagino trabalhos juntos das minhas pérolas...ah meu Deus eu sonho alto mas creio ser possível.

--Hmmm, posso saber?

--Claro, sempre. O Wagner descobriu uma saxofonista que escreve e desenha fictions para adolescentes. Segundo Wagner, a menina é um prodígio e também faz sucesso na internet mas ainda apenas por lá. Claro que vamos buscá-la.

--Nossa, quanta gente talentosa, com múltiplos talentos. Fico feliz por ti meu amor, teus olhos brilham.

Susan abraçou a sua mulher com todo o carinho que lhe preenchia a alma. Amava Ciara como jamais pensara ser possível, em vista de algumas situações passadas...

--Baby, conheces mais coisas sobre a Skya?

--Como assim?

--Ah sei lá...fiquei curiosa. Ela escreve tão bem, fala tão bem do amor...será que ela ama naquela intensidade?

Ciara riu com gosto.

--Não sei Sue, de repente não...é apenas um talento nato. Mas ela não deve ter problemas para escolher amores...

--Provavelmente não...- Lembrou da amiga e da certeza de que ela e Skya conheciam-se além do óbvio...

--Vamos jantar?

--Vamos! No bistrô da alameda 24?

--Sim...sempre adivinhas meus desejos.

--Umhum...e sei de outro que vem a seguir à degustação de iguarias exóticas.

Riram cúmplices e saíram abraçadas.

 

**************************************************

--Scoutie, para de pasmar e me ajuda a decidir o que vestir.

Soltei uma gargalhada gostosa, estava doida. Pedindo opinião a um gato sobre o que usar para sair. Mas a verdade é que não sabia...Skya é despojada, linda de qualquer jeito, já eu se inventasse de usar o meu all star velho, por exemplo, pareceria uma idiota completa. Mas também não queria ir muito séria e nem muito cheia de glamour...que dúvida cruel.

--Scoutie...calça ou saia? Vestido? Não...nada disso.

Quase liguei a Susan, peguei o telefone mas lembrei-me da desconfiança dela em relação ao meu encontro com Skya...que desconfiança Catherine? Ela sabia que o tal do Kiman na realidade era Skya e que eu a incrédula em relação a sex* entre mulheres, tinha passado bons momentos com uma menina de 25 anos. Susan era a perspicácia em pessoa, mesmo por detrás daquele seu ar de quase alienada.

--Ai porquê que eu fui falar dos sneakers do Kiman? Falo demais não é Scoutie?

Ele miou e entendi como um sim, falas demais dona Catherine.

Depois de muita indecisão, resolvi sair com uma roupa qualquer. Tínhamos estado juntas numa situação em que não usava roupas requintadas, maquiagem, glamour algum e mesmo assim acontecera uma noite maravilhosa, logo, não eram as minhas roupas que fariam diferença. Na realidade o que eu queria não precisaria de roupa alguma, queria estar nua, despida de todas as minhas convicções, entregue àquelas mãos, à boca que beijava como ninguém, queria ver meu reflexo naquele olhar único...queria uma noite de sex* diferente, apenas...roupas? Quem se importaria com roupas?

Deixei meu apartamento num misto de confiança e frio na barriga. Sorri, mais uma vez parecia uma adolescente indo encontrar o primeiro namorado.

Scoutie acompanhou-me até à porta e ficou parado me analisando...gostaria de saber o que ia na cabeça daquele felino observador mas ainda não desenvolvi essa capacidade.

Passei pelo porteiro que me olhou com ares de aprovação mas sem emitir qualquer comentário. Se fosse o Martinez ouviria algum gracejo ainda que cheio de educação mas o rapaz do turno da noite era bem mais comedido.

Dirigi-me à garagem para regressar à portaria em dois minutos.

--Deixei o carro na entrada do prédio.

Ele riu de forma disfarçada. Todos já conheciam minha fama de cabeça no ar...tenho mesmo a mania de esquecer das coisas, mas naquele momento era movida por puro nervosismo.

 

**************************************************

Depois do segundo gin tanqueray eu já estava mais relaxada e ria abertamente das piadas sempre muito inteligentes de Skya. Ela me deixava leve e parecia que a conhecia da vida toda, ainda que não soubesse quase nada...queria desvendá-la e ao mesmo tempo permanecer no mistério. Ela sorria e eu me perdia em devaneios...

--Viste os meus pés? - Ela perguntou com aquele ar meio infantil que outrora me irritara mas que agora me encantava.

--Hã? Pés?

-Olha. - Aquele ar imperativo muito bem disfarçado num belo sorriso me desestruturava completamente. Olhei, claro.

--Hmmm... - Ri com vontade.

--Nem só de sapatos de adolescentes vive a Skya.

Gargalhadas altas.

Tive vontade de dizer que ela era linda descalça, de sneakers, de qualquer maneira.

--Não gosto de saltos...mas vou aprender a usar.

--Para quê?

--Para ficar mais atraente e perder esse meu ar de menina...

Controlei-me para não dizer mais uma asneira...

--Ah Skya...saltos não fazem ninguém mais ou menos atraente.

--Não concordo...tu estás perfeita nesses saltos vermelhos.

Ela reparara nos meus saltos vermelhos?

--Tem gente que nasce para brilhar em cima de 15 centímetros, já eu...

--Nasceste para brilhar até descalça. - Saiu sem pensar, mas pronto, não tinha mais como voltar atrás.

Ela sorriu daquela maneira que eu não conseguia decifrar...e eu decifrava exatamente o quê?

Notei que falávamos num tom acima do normal. Olhei ao redor pela primeira vez e percebi que o restaurante estava apinhado. Normal, escolhera o local da moda, porque gosto sim, mas também porque queria que ela conhecesse o lugar mais badalado da cidade. Mas será que uma menina que prestava atenção a borboletas em árvores, que tocava contrabaixo, ainda escrevia e que segundo Susan tinha muito talento, dava importância a lugares da moda?

O jantar foi-nos servido e comemos quase em silêncio, mas o ambiente não permitia muita conversa.

Depois da sobremesa, percebi que ela olhava o relógio algumas vezes. Estaria com pressa ou minha companhia não aguardava.

Ela adivinhou meu pensamento...mais uma vez.

--Tenho uma reunião amanhã nas primeiras horas...

O olhar que ela me lançou deixou-me com um redemoinho no estômago...seria a tal sensação de borboletas no estômago?

Eu não queria ficar sem ela, sem a sua presença mais do que agradável...pensa Catherine, pensa.

O empregado de mesa trouxe a conta e ela fez menção de pegar a nota. Nem pensar. Antecipei-me e nossas mãos esbarraram-se. Um simples toque de mãos e minha mente voou...a ansiedade para ter aquela mulher na minha cama atingia picos de loucura.

--Não senhora, és minha convidada. - Disse séria mas sem perder a delicadeza.

--Tudo bem senhora mandona, mas eu não ia pagar. Tenho a mania de conferir a conta nos restaurantes...aprendi com o meu pai.

Rimos ao mesmo tempo...minha leveza ao lado daquela menina era impressionante.

--Que tal um digestivo no meu apartamento? Aqui está cheio...e também podes conhecer o Mr Scout.

Cara de pau não tem limite, e ainda uso o Scoutie...mas precisava tê-la por perto e de preferência na minha cama. Ansiava pelo toque, cheiro, beijo...ansiava por ela, queria uma noite de sex*...sex* bom, era tudo o que eu queria...

--Tudo bem...Mr Scout é o gato que eu pensei que fosse o marido, certo?

Ela lembrava de cada coisa...ri com vontade e ela colocou uma mão no meu braço o que me deixou excitada...eu não estou bem...falta de sex*, a última vez foi com ela e foi há muito tempo...

--Exatamente. Vamos?

--Sim, mas não posso demorar...

--Claro que não...não costumo raptar menininhas.

Ela soltou uma gargalhada e me olhou daquele jeito...meu corpo tremeu, pode parecer exagero mas tremi da cabeça aos pés e o calor que invadiu determinadas áreas da minha anatomia...melhor nem pensar...ou notar, sei lá...quero chegar logo em casa.

**************************************************

No meu apartamento e para minha estupefação, o insuportável do Scout morria de amores pela Skya. O intragável estava no colo dela, todo cheio de amor e pior ainda, ronronando. Eu não queria acreditar naquela cena...bicho vendido de uma figa.

--Ele é tão lindo. - Ela o beijava e enchia de carinhos. O vendido ronronava de olhos fechados.

--Mas esse insuportável não é assim.

Ela riu com minha cara de indignação.

--Gatos seguem nossa energia...

--Como assim?

--Eles sentem...é interessante, mas eles sabem quem está bem, quem não está. Ou eles se identificam, ou então ficam no seu mundo...

--Então devo concluir que meu gato não se identifica comigo.

--Olha o drama. - Ela riu às gargalhadas. - Nada disso, apenas já se acostumou. Quando se acostumam normalmente ficam meio distantes.

--PHD em gatos, que outros talentos tens dona Skya?

Ela riu até verter lágrimas pelos olhos.

--Muitos outros, não é Mr Scout?

E o bandido miou. Eu mato esse gato, atiro-o da janela do décimo sexto andar.

--E a escrita? Já acho que tocar um instrumento demanda muito esforço e a senhorita ainda escreve? E muito bem segundo Susan...confio nela, ela devora livros.

--Não lês?

--Romances? Não...só leio revistas especializadas...não sou muito de ler, nunca tive esse hábito...

O olhar dela denotou algo que não consegui captar...

--Não escrevo apenas romances, aliás ainda não escrevi nenhum romance. Escrevo contos sobre vários temas e a editora Blue Sky decidiu lançá-los em coletânea...

--Pretendes focar nessa arte?

--Sim, sem descurar a música, claro. Lembras de eu dizer que estava em busca de mais um impulso, uma paixão...falava da escrita. Estou apaixonada por letras, personagens, enredos, amores...emoção, é o que me move. Na realidade quero mesclar todas as artes...várias artes em conjunto...explosão de emoções.

Ela falava com tanta paixão que eu me sentia apaixonada...e também levemente incomodada, eu não falava assim de nada, não era movida por paixão alguma.

Não sei se motivada pela paixão que aquela menina simbolizava, ou por outro motivo que meu consciente não conseguiu atinar, fiz a pergunta que martelava a minha mente.

--Skya, porquê foste embora sem dizer nada?

Tive medo da resposta e ela levantou-se e foi à cozinha buscar água. Sim, ela andava pelo meu apartamento como se já fosse habitual e o Scoutie a seguia por todos os lados.

Fiquei no ar...sem resposta e ansiosa.

Ela voltou e sentou-se muito perto de mim...tive vontade de beijá-la, mas alguma coisa me impediu...

--Eu não gosto de despedidas...nunca gostei. Desde pequena estava sempre me despedindo de algo ou de alguém...de cidades, de amiguinhos de escola, de professoras...não gosto.

O semblante dela mudou ligeiramente, já não tinha aquela leveza habitual.

--Mas eu me arrependi...

Meu coração alvoroçou-se e minhas esperanças renovaram-se.

--Eu deveria ter-me despedido, ou ao menos ter agradecido a tua importância na minha vida.

Não sei a quê ela se referia mas permaneci calada.

--Catherine, eu dou muita importância às coisas que acontecem na minha vida, aos tais sinais...eu precisava conhecer alguém como tu, que não valoriza sentimentos que até então eu considerava vitais e que só me causaram desilusões...acabei de sair de uma história que me deixou em cacos, isso porque me apaixonei, amei sem medidas, sem travas...acreditei num sentimento puro que só existia do meu lado, sempre só do meu lado. Fui iludida e isso pode soar exagerado porque sou uma mulher adulta, mas nunca estamos blindados contra esse tipo de gente...

Ela parou para respirar e eu não respirava, minhas mãos tremiam, ainda bem que não estavam ao alcance dos olhos dela.

--Sofri muito por ser espontânea, de certa forma ingénua...eu não quero mais perder meu tempo com sentimentos idiotas e muito menos dar-me a ninguém...quero focar no meu trabalho, na minha arte, quero dar prazer às pessoas mas sem muita envolvência emocional...pode parecer sem nexo, mas sei do que falo. Não quero mais me ferir, expor as minhas fraquezas...conheci-te, a personificação de tudo o que quero ser. E foi o acaso mais providencial da minha vida nos últimos tempos. Quero e vou ser assim, conectada apenas com o meu trabalho e tendo a capacidade de dar prazer ao meu corpo em noites de sex* eventual e que não passam disso...eventualidades. Amar, entregar-se é...doloroso e desgastante. Não quero mais isso...gosto de sex* e aprendi a gostar de sex* por sex*...não tenho mais ilusões de que sex* só é bom com amor...obrigada.

Ela parecia sincera e eu...tinha a cabeça oca. O natural seria agarrá-la e fazer sex* sem amor até ao amanhecer, mas não tinha forças, e nem desejo...estava apática e quase morta por dentro. Não reagi, ia dizer o quê?

Ela beijou o Scoutie, colocou o copo de água sobre um móvel qualquer, beijou-me, agradeceu pela noite e foi embora sorrindo.

Não sei de ofereci para levá-la ao hotel, não sei se desejei boa noite, não sei sequer se balbuciei alguma palavra com nexo.

Dei por mim algum tempo depois sentada na varanda e com Scoutie enrolado nas minhas pernas. Ouvia música mas não prestava atenção aos acordes...verdades doem, sempre foi assim na minha vida, desde os meus 5 anos...verdades...minha relação com essa palavra é dúbia...

Música chill out e eu quase inerte...nem sax me emocionava...walk in the moonlight, cocogroove e eu estava longe da lua, longe de tudo...longe de mim...

Olhei para o Scoutie, afaguei meu bichano e tive a sensação que lágrimas cairiam pela minha face, mas não permiti...detesto chorar.

--É Scoutie...parece que fui usada...há outras predadoras por aí...

 

 

Fim do capítulo