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Depois eu te conto... por Nadine Helgenberger

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Palavras: 4732
Acessos: 568   |  Postado em: 02/11/2025

Capitulo 18

 

 

Por mais que se esforçasse em manter a concentração no que estava a fazer, a mente de Sabrina tinha vida própria e viajava a todo o instante. O corpo estava ali, firme diante do ecrã, a responder e-mails, rever documentos, mas o pensamento, não. Esse teimava em visitar lugares sombrios...

Há alguns dias sentia-se angustiada, dividida entre polos divergentes. As palavras de Lúcia continuavam a ecoar como um refrão difícil de ignorar: "Ela sabe divertir-se. Aqui tem o exótico, a novidade. Lá tem o seguro, o consolidado."

Sabia que essa frase tinha lhe calado fundo na alma. Por mais que tentasse contrariá-la com lembranças de Fedra, seus gestos, o cuidado nas entrelinhas, o olhar doce, ainda assim, algo doía. Havia um desconforto latente.

O coração parecia um eterno campo de batalha entre a razão e o desejo.

***

À noite, depois de rabiscar um desenho que tentava dar forma há vários dias, sentou-se no sofá com o portátil aberto. Sabia que em algum momento, Fedra ligaria, como era hábito. Não demorou para a chamada de vídeo entrar e ela apareceu com
o rosto iluminado por uma luz suave, o cabelo solto e o sorriso de quem traz o mundo no olhar.

            -Finalmente! - Disse Fedra com a leveza familiar. - Estava à espera de te ver o dia todo. - Sorriu.

            -Estive um pouco fora...- Sabrina forçou um sorriso.

            -Fora de ti? - Fedra perguntou sorrindo. - Ou do mundo?

            -Talvez fora dos dois lugares...

            -Aconteceu alguma coisa? - Fedra riu baixo ao perceber o tom de Sabrina.

            -Não sei...- hesitou. - Às vezes sinto que há um lado da tua vida que eu não alcanço. - Olhou para baixo.

Fedra manteve-se em silêncio por um instante, depois pousou o copo que tinha na mão.

            -Todos nós temos lados que os outros não veem, ou não alcançam - disse com calma. - Mas isso não significa que sejam muros intransponíveis.

            -Só me assusta não saber onde fico...

            -Ficas onde quiseres, Sabrina. - O olhar dela era suave.

Sabrina forçou um sorriso, mas o medo estava espelhado nas pupilas.

            -Não sei onde é isso...ainda não...

            -Vais descobrir. Tudo que é leve nos mostra o caminho...o que sinto é leve. - Sorriu.

A frase atravessou Sabrina como um alento doce. O tom de Fedra não era de explicação, muito menos de promessa vã. Soava a verdade.

            -Não quero que carregues o peso de tentar me decifrar. O que temos é o que construímos sem pressa, sem rótulos. É nosso, e é real!

Sabrina manteve o olhar fixo na tela à medida que o coração abrandava.

            -És tão certa quando falas...

            -Não sou certa. - Sorriu. - Só sei quando algo me acontece de verdade e contigo acontece.

Seguiu-se um silêncio leve. Sabrina respirou fundo, sentia-se segura e vulnerável ao mesmo tempo. As palavras de Fedra colocaram-na no ponto exato entre e o conforto e a vertigem.

            -Preciso dormir, meu bem. Amanhã começo cedo. - Fedra alongou os braços.

            -Eu também e estou muito cansada.

            -Mas antes...- Aproximou-se um pouco mais do ecrã como se assim pudesse tocá-la. - Não deixes que o medo roube o que já é teu.

            -O quê, exatamente? - Sabrina engoliu em seco, não queria ter feito aquela pergunta.

            -A paz de saber que és muito importante.

A ligação terminou com um sorriso e a tela voltou ao ambiente de trabalho de Sabrina. Ela ficou parada por algum tempo, o coração batendo devagar e a mente ainda a tentar acompanhar o que o corpo já sabia.

***

O lembrete soou mais uma vez e me lembrei que não o tinha desativado. A principio dissera a mim mesma que seria apenas uma pausa na terapia, mas no fundo eu sabia que tinha desistido. Eu não queria mais lidar com o cansaço que me acometia ao final de cada sessão e muito menos com o nó no peito. O que era suposto aliviar, abria-me feridas que preferia manter anestesiadas.

Eu queria acreditar que estava melhor, mas sabia que não passava de ilusão. Mesmo sem a bendita terapia, meus monstros me visitavam numa frequência avassaladora. Para não enlouquecer, tinha adotado corridas regulares na praia. O mar sempre me acalmava e a brisa levava para longe minhas inquietações. Como sempre, perdera a hora no trabalho, mas ainda ia a tempo de apreciar um pouco do por do sol na lajinha.

O sol descia preguiçoso sobre o mar, e o calçadão estava cheio de gente. O ar fresco, combinado com o cheiro de água salgada e as risadas nas esplanadas, eram a distração que precisava para não pensar em problemas. Corria em direção ao cais, quando ao longe vi Tânia correndo no sentido oposto. Imediatamente lembrei-me do entusiasmo dela em defender que eu precisava marcar uma consulta com a terapeuta que mudava vidas. Minha experiência não foi das melhores...

Pensei em passar despercebida, mas ela me viu e imediatamente desviou de dois rapazes e me alcançou.

            -Sabrina! É mais fácil nos encontrarmos na Praia do que na cidade onde morámos.

Tirei meus auscultadores e sorri. Aprendera a gostar dela.

            -Pois é...vidas atribuladas por esses lados.

Rimos e ela me deu um abraço que de repente pareceu-me um alento.

            -Estás ótima e com ar de quem finalmente está a cuidar de si. Continuas na terapia?

            -Mais ou menos... - hesitei já sabendo que ela faria aquela pergunta.

            - "Mais ou menos" quer dizer o quê? -Tânia cruzou os braços, divertida. - Que suspendeste as sessões?

            -Cansei! A verdade era que saía de lá pior...

            -Normal! - Disse Tânia de pronto. - Se não dói, não muda.

            -Sim, mas...- desviei o olhar. - Eu saía sempre a sentir-me um desastre. Achei que devia parar antes que me desmontasse de vez.

-E achas mesmo que fugir é o que te vai manter inteira? - Tânia inclinou a cabeça, com ternura. -Vem, vamos beber qualquer coisa.

***

Sentamos numa esplanada junto ao mar. Do sol já restava apenas o tom alaranjado do céu, e o barulho das ondas misturava-se com o das conversas ao redor.
Tânia pediu água com gás, e eu um sumo de maracujá.

            -Não estás sozinha nessa ideia de fugir, eu também quis desistir várias vezes. Tinha dias em que odiava a Dra. Marisa, particularmente quando me sentia despida, em frente a um espelho e sem filtros.

Ouvi em silêncio, ela descrevia o meu sentimento.

            -Mas sabes o que percebi? - Continuou Tânia. - É quando dói que estamos a tocar onde importa. Se não fosse a terapia, eu não teria tido coragem de entrar na relação que tenho agora, ou melhor, entraria e colocaria tudo a perder em pouco tempo.

Isso bateu forte, olhei para baixo com sensação de derrota anunciada.

            -Hoje em dia - Tânia sorriu. - Vou no máximo duas vezes por mês. Vou convicta porque sei que é o que me mantêm lúcida, inteira. Sem ela, eu continuaria presa nas mesmas defesas...

            -E se não resultar? - Perguntei num tom baixo. - E se eu nunca conseguir mudar o suficiente?

Ela pousou o copo analisando a minha fisionomia com calma.

            -Não existe suficiente! Existe um caminho a ser percorrido e não te esqueças de que o que não muda, pesa.

As palavras ficaram no ar, leves e cortantes ao mesmo tempo.

Olhei para o mar com meus pensamentos em ebulição. Inevitavelmente, cheguei em Fedra. Lembrei-me do olhar dela, das promessas não ditas, da doçura. Veio o medo avassalador.

            -Eu não quero que ela perceba...- Murmurei sem perceber.

            -Quem? - Sorriu de forma leve sem forçar nada.

            -Não interessa! - respondi quase rude. Queria me defender.

            -Interessa sim. - Ela tocou-me o braço com carinho. - Porque é por essa pessoa que tu queres fugir da terapia. Tens medo que ela veja as tuas rachaduras. Mas, talvez seja exatamente isso que ela precise ver...

Ouvi tudo em silêncio. Respirei profundamente o cheiro de maresia e a cabeça pareceu-me mais leve.

            -Prometa-me uma coisa - Disse ela já de pé. - Marque mais uma sessão, só uma. O resto vem depois...

Assenti com um meio sorriso.

            -Prometo!

            -Boa! E quando saíres de lá, lembra-te de que estar em reconstrução também é uma forma de estar viva.

Despedimo-nos com um abraço e ela afastou-se a correr. Sabia que não seria fácil, mas senti uma pequena centelha de coragem reacender-se. Apesar de o dia já ter se despedido, corri para o mar e dei um mergulho nas ondas enquanto pensava que talvez ainda houvesse tempo para aprender a não fugir de mim mesma.

***

Não sei onde foi parar minha convicção de que não precisava de terapia, o fato é que lá estava eu sentada na cadeira confortável da Dra. Marisa e com a sensação de que ela permitia que eu conduzisse a sessão. Loucura, claro.

            - Eu deveria estar feliz. As coisas estão bem... ou quase bem. - Disse devagar. - Mas há situações que me deixam inquieta...

            -Inquieta em que sentido? - Terapeuta.

Pensei um pouco. Muita coisa me incomodava, mas a prioridade era uma só:

            -É a Lúcia! Somos próximas há bastante tempo e ela esteve comigo em momentos difíceis e eu sou muito grata por isso, mas ultimamente...não sei...- Olhei de um lado para o outro. - É como se houvesse duas versões dela, uma gentil, atenciosa e outra que...me observa.

A terapeuta inclinou a cabeça para não lhe escapar nenhum detalhe.

            -Observa-te? - Terapeuta.

            -Sim! Às vezes parece que cada coisa que eu digo é medida. Ela sabe onde tocar, o que dizer para me deixar desconfortável e logo em seguida é doce, como se nada tivesse acontecido...eu fico confusa.

            -E o que sentes quando isso acontece? - Terapeuta.

            -Culpa! - sorri sem vontade. - Penso que devo estar a exagerar, que é coisa da minha cabeça doida. Ela é uma boa amiga...mas há momentos em que me sinto invadida.

            -Invadida em que sentido? -Terapeuta.

            -Como se ela quisesse entrar onde não é chamada...nos meus pensamentos, nas minhas emoções.

Houve uma pausa longa enquanto eu tentava organizar as minhas ideias.

            -Muitas vezes sinto vergonha, porque parece ingratidão ou loucura da minha cabeça. - Afundei-me um pouco mais na cadeira confortável.

A terapeuta anotou algo no bloquinho dela, mas não me interrompeu.

            -Às vezes ela diz coisas...pequenas, mas que ficam a ecoar. Sabe quando alguém lança uma dúvida e depois se faz de desentendida?

Baixei o tom e olhei para ela à espera de alguma coisa. Ela permaneceu calada.

            -Ela tem insinuado coisas...insinuado não, são fatos, mas é a forma como fala...sobre a minha relação com a Fedra. - Fixei meu olhar carregado de tensão nela. - Às vezes parece inocente, mas eu me sinto exposta...

            -A sensação é de ser testada...talvez julgada. - Terapeuta.

            -Sim, é isso! - pausa. - Parte de mim quer acreditar que é só preocupação, afinal ela conhece meu passado com mulheres comprometidas e...mas a outra parte, a que aprendeu a ficar alerta, acha que há qualquer coisa errada. E também há algo no comportamento dela que me deixa constrangida...parece que, de repente, quer me provocar...como se ela sentisse alguma atração, o que não faz nenhum sentido...

A terapeuta pousou a caneta e falou num tom suave, mas firme:

            -Sabrina, lembre-se sempre de que intuição não é paranoia. Quando há desconforto, há informação. Talvez não saibas ainda o que é, se é sobre ela, ou sobre os limites entre vocês. Vale a pena escutar o que o corpo te está a dizer.

Respirei fundo com a sensação que era compreendida.

            -Então não é errado eu me sentir confusa?

            -Não! - Sorriu. - É honesto e um sinal de crescimento. Antes tu calavas o desconforto para não perder o afeto. Agora, tu reconheces o que te faz mal, mesmo que gostes da pessoa. Isso é maturidade emocional e está longe de ser errado.

            -Às vezes tenho medo de magoar as pessoas por dizer o que sinto. - Sussurrei.

            -E às vezes, por não dizeres o que sentes, magoas-te a ti. - Terapeuta.

Instalou-se um silêncio denso, mas leve. Olhei para a janela me sentido leve.

            -Talvez seja hora de perceber quem realmente cabe na minha vida.

            - E quem só ocupa espaço que é teu. - Terapeuta.

O relógio marcou o fim da sessão. Despedi-me consciente de que, por mais que doesse, eu nunca mais abandonaria a terapia.

***

Depois de retomar as sessões de terapia, entrei numa espécie de casulo. Ao final das primeiras sessões, eu me sentia em carne viva, mas a partir da terceira, a sensação era de peças indo aos poucos para os respetivos lugares. Mas eu não queria muita interação, não conseguia. Por coincidência, Lúcia estava no período das viagens e eu não precisava driblar a carga pesada de trabalho. Muitas vezes não atendia às ligações dos meus poucos amigos. Nem Glória escapava do meu período de silêncio. Falava com Fedra, mas ela entendeu meu momento sem que eu precisasse expor qualquer coisa, e nosso contato resumia-se ao essencial. Com ela, eu queria poder dar mais, mas aprendi a respeitar meus momentos e na hora certa, voltaria.

O trabalho, como sempre, servia de refúgio nos momentos em que não queria pensar em nada. Mas, muitas vezes, quando o computador fechava, o vazio voltava a invadir-me como uma maré inevitável. Minha certeza de que tudo era bom demais para durar me empurrava para a inércia como forma de proteção.

***

Aos poucos, fui levantando a guarda, e foi Glória com a sua leveza habitual que me trouxe de volta à superfície.

"Criatura, achei que tinhas fugido do mundo. - Brincou Glória com seu exagero nato. - E eu aqui a precisar de ti."

"Desculpa, Goya. Tenho andado..."

"A pensar demais? - Interrompeu-me com riso na voz. - Então está tudo explicado. Tu quando inventas de problematizar..."

Risos.

"Sexta é o aniversário da minha menina e tu encabeças a lista dos convidados. Estás à frente de um monte de amiguinhas dela. Dez anos, acreditas? Ela só fala na tia Sá, dê o teu jeito, mas venha para cá."

Tentei inventar uma desculpa, mas o meu coração cedeu. Elas me tratavam sempre tão bem, não custava nada.

"Claro que vou!"

"Ótimo! Vai ser no salão de festas de condomínio e podes ficar lá em casa, ou se calhar, preferes ficar com a Fedra. - Riu."

"Ela vai?"

"Sim, confirmou presença. Eu não vou dizer que vens, por que senão ela ainda te rouba e eu e a Malú nem colocamos os olhos em ti. Está tudo bem entre vocês?"

"Hum-hum..."

"Hmmm, não gostei da hesitação, mas depois falamos cara a cara. Saudades tuas, mas daqui a poucos dias eu te encho de beijos."

Risos.

Ao final daquela conversa, fui surpreendida por um sentimento que me comprimiu o peito. Eu não queria fazer uma surpresa à Fedra, na realidade eu temia uma rejeição. Tinha medo de concluir que havia um espaço na vida dela em que eu ainda não cabia.

***

Quinta-feira, final da tarde, eu estava concentrada em fechar todos os pendentes para poder viajar na sexta sem qualquer peso na cabeça. Tirando o meu exagero e mania de perfeição, tudo estava sob controle. Olhei para a janela e a imagem linda do final da tarde em tons dourados, levou meu pensamento para a tarde com Fedra no interior da ilha de Santiago. Fui invadida por uma saudade diferente. Meu corpo todo reagiu a ponto de ficar arrepiada. De olhos fechados, aspirei o cheiro dela que estava gravado em mim.

            -Dormindo sentada, Sabrina? Também pudera, já não tem ninguém aqui e tu sempre inventado o que fazer. Desliga esse computador, é uma ordem. - Lúcia sorriu com as mãos na cintura.

            -Já vou...aliás, já me preparava para desligar tudo.

            -Tu e essa mania de querer tudo perfeito...devias relaxar mais...-Ela entrou e sentou na borda da mesa.

            -Vou correr...isso me relaxa como poucas coisas...- Desliguei o computador.

            - E se jantássemos juntas hoje?  Nada de trabalho, prometo. Só nós duas.

Respirei fundo e as palavras da terapeuta fizeram eco, "quando há desconforto, há informação."

            -Muito obrigada, Lúcia. Hoje não posso. Depois da corrida, preciso de um tempo para mim.

            -Um tempo para ti? Isso é novidade. - Ela sorria, mas os olhos escureceram. - Será que temos paixão no ar? Vais ver alguém?

Meu corpo ficou alerta, mas não reagi de imediato. Consegui não entrar no jogo dela.

            -A paixão é com um banho de imersão para descansar meu corpo e minha mente.

            -Hmmm, aceito a resposta. Mas amanhã podemos ir ver uma exposição no Centro Cultural do Mindelo e depois tomar um vinho...o que achas?

            -Estás com pouca sorte, viajo amanhã...

            -Muitas novidades...hmmm, bom, não te esqueças de me enviar o relatório que te pedi mais cedo. - O tom mudou completamente.

            -Claro!

Ela saiu e soltei o ar. Fui invadida por uma sensação de paz.

***

No aeroporto, ainda sem saber que meu voo atrasaria mais de uma hora, resolvi enviar uma mensagem à Fedra avisando que iria à festa de aniversário da Malú. Se houvesse algo que a impedisse de me ver, que eu soubesse logo. A angústia de imaginar cenários, supor enredos mirabolantes, causava-me uma confusão mental que não estava mais disposta a camuflar. Até a saída do meu voo, não obtive qualquer resposta dela. Desliguei o telefone e tentei focar apenas na alegria da pequena da Glória ao me ver e no bem que estar com elas me fazia.

***

Apesar do atraso no voo, Sabrina conseguiu chegar a tempo na festa de Malú. Foi recebida com abraços, beijos e muitas perguntas por parte de Glória.

            -A festa está linda!

            -Ah, mas não sabes o trabalho que deu...essa menina cada hora inventava uma coisa até que decidiu por futebol. A Salma abriu-te a porta?

            -Sim, tive tempo de me instalar, tomar um banho a correr porque estava com a roupa do dia de trabalho e ninguém merece.

Risos.

            -Até parece, Sabrina. Tu és sempre tão cheirosa e com cara de quem acabou de sair do banho. Adorei o teu vestido! Eu nem tive tempo de escolher uma roupa...

            -A camisola da seleção fica-te muito bem. - Sorriu enquanto olhava para os lados.

            -A Fedra está cá. Deve estar lá no pátio à conversa com alguém. Vá logo ver a tua crush porque ela me disse que não pode ficar por muito tempo. Algum compromisso com a mãe...desististe da surpresa?

            -Sim...

            -Percebi, porque ela chegou e perguntou-me logo por ti.

Sabrina lembrou que não tinha ligado o telefone depois da aterragem. Glória teve de dar atenção a mais convidados e ela aproveitou para circular pelo salão. Não demorou muito para ser cercada por muitas crianças e de ter uma em particular no seu colo, Malú, claro.

            -Maria Luísa, vais amassar o vestido da Sabrina. - Ralhou Glória.

            -Ah, quem liga para isso, Glória. - Refutou Sabrina enchendo a menina de beijos.

            -Não sei como aguentas carregar essa menina cada dia mais pesada.

            -Não aguento mais. - Riu e pousou a menina no chão.

As crianças correram, Glória foi atender mais convidados, enquanto Sabrina tentava alisar o vestido que realmente ficara amassado.

            -Pensei que não vinhas mais...

O coração de Sabrina pulou na garganta. A voz de Fedra sempre seria um afrodisíaco...virou e ficou sem reação. A saudade que arrepiava gritou por todos os sentidos. Olharam-se. Sorrisos. Mãos trémulas. Peitos arfantes.

            -O teu telefone...

            -Desliguei e esqueci de voltar a ligar e acho que agora nem o trouxe comigo...estás linda, Fedra.

Mais sorrisos escancarados e o mundo ao redor em pausa.

            -Já estava prestes a sair por aí à tua procura...eu sei que é exagero, mas avisas que vens e depois nada...

Riram, agora mais próximas.

            -E qual seria o teu destino? - provocou sabrina sorrindo.

Riram as duas, um riso que desfez qualquer desconforto e trouxe de volta tudo o que havia de verdadeiro entre elas.

Glória observava a cena de longe, enquanto enchia copos de sumo para a criançada. Não precisava ouvir uma palavra do que era dito para concluir que a conexão entre elas era real. Pôde observar que Fedra olhava para Sabrina com uma ternura que transbordava, uma espécie de reverência silenciosa. O sentimento entre elas não era capricho e nem um passatempo. Sorriu ao concluir que era disso que a amiga precisava...

O resto da festa decorreu em clima leve e colorido. Muitos gargalhadas felizes de crianças saltitantes, bolo mal cortado pelas mãozinhas impacientes da pequena aniversariante, muita alegria. Paralelamente a esse burburinho, havia um outro tempo a correr, um tempo só de Fedra e Sabrina. A cada olhar, a cada toque disfarçado, elas iam construindo um diálogo só delas, silencioso e urgente.

O ambiente já era mais tranquilo de fim de festa, quando Fedra aproximou-se de Sabrina.

            -Vens comigo depois? - A pergunta feita num sussurro deixou Sabrina com as pernas bambas.

            -A Glória disse que tinhas compromisso com a tua mãe...- fez charme olhando fixamente nos olhos dela.

            -Vou buscá-la num evento e depois passo aqui para te apanhar. Há muito mais para nós nessa noite...concordas?

Sabrina sorriu e teve a sensação que os pés saíram do chão. Com o coração disparado, balançou a cabeça afirmativamente.

***

Passava da meia noite quando entraram em casa de Fedra. O ambiente, como sempre acolhedor e com cheiro de vida, convidava a relaxamento e sonho. Sabrina pousou a mochila num móvel de apoio que ficava atrás da porta de entrada e aspirou o ar que sempre lhe remetia a possibilidades. Fedra dirigiu-se à cozinha alegando que ia buscar uma garrafa de vinho. Descalça, Sabrina foi atrás dela. Parou na porta observando seus detalhes sempre apaixonantes enquanto servia as taças de vinho. Mais uma vez sentiu seus pelos eriçarem e uma vontade desenfreada de se perder nela. Aproximou-se devagar e a abraçou por trás. Sentiu o arfar do peito dela contra seus braços e sorriu enquanto encaixava sua cabeça entre seu ombro e pescoço.

            -Sabrina, pode parecer uma idiotice o que vou dizer, mas eu sempre tenho a sensação que quando estás cá em casa, tudo na realidade não passa de um sonho meu...- Sussurrou. - Fico com medo de acordar sozinha...

            -Então, vamos sonhar juntas. - Com a mão na cintura dela, virou-a e suas bocas se encontraram num beijo intenso. Descobriram uma nova intensidade, uma urgência saciada com toques certeiros, profundos.

Na varanda, na atmosfera branda do inicio da madrugada:

            -O que é? - Sabrina perguntou sorrindo diante da expressão curiosa de Fedra.

            -Eu não precisei implorar por um beijo, meu Deus, fui beijada sem precisar suplicar pela boca deliciosa dessa mulher. - Falou num tom mais alto arrancando risadas de Sabrina.

            -Vais acordar a cidade inteira. - Sabrina sorveu o vinho da taça sentindo sua face e corpo arderem.

            -Eu não acreditei quando vi a tua mensagem. Não fazia o menor sentido, afinal tínhamos falado de manhã e essa possibilidade sequer existia...mas aí, eu pensei, é a Sabrina e ela é toda cheia de detalhes apaixonantes...

Sabrina sorriu e fingiu estar com vergonha.

            -Demorei a ver porque estava em reunião e depois para aumentar ainda mais a minha ansiedade, tu nunca mais me atendeste...Salve a Glória que me garantiu que sim, vinhas para cá.

            -Não podia faltar o aniversário de 10 anos da Malú e demorei a te avisar porque...ah, tu és ocupada e eu não queria desviar-te da tua rotina...

Fedra saiu da sua cadeira e parou um pouco no parapeito da varanda olhando para a noite. Sabrina, com receio de ter dito alguma asneira, também se posicionou no parapeito ao lado dela. Ombro a ombro, olharam para o mesmo céu carregado de estrelas.

            -Às vezes...eu tenho a sensação que queres me dizer...que aprecias os nossos intervalos e é isso...- Fedra encarou-a com uma expressão de desalento no olhar.

            -Ei...ei, para com isso. Eu não entendo muito bem o que acontece...nunca sei qual é o meu lugar...

            -Não sabes qual é o teu lugar? Não sabes? - Alterou a voz. - O teu lugar é aqui! Eu te recebo de braços abertos na minha casa, saiba que aqui é um santuário para poucos...eu fiquei tão retraída com a questão do câncer, que minha veia festiva se apagou. Essa casa nunca mais recebeu as celebrações familiares sempre carregadas de gente. As festas continuaram a existir, mas nunca mais aqui em casa...tu, a sensação que tenho, é que fazes parte daqui...a tua presença aqui não me causa qualquer desconforto...ah, pelo contrário...como podes não saber qual é o teu lugar?

            -Desculpa...-Sabrina passou a mão pelo cabelo que voava em desalinho. - Acho que a terapia bagunça a minha cabeça...não sei mais discernir o momento de me calar da necessidade de me expressar...eu queria, eu quero muito estar aqui...eu adoro estar aqui...adoro estar contigo. - Abraçou-a forte.

            -A terapia bagunça a tua cabeça e tu me bagunças por inteiro...meu Deus e eu ainda não troco isso por nada...será que estamos doidas, Sabrina?

Riram grudadas uma na outra.

            -Eu estou doida de vontade de me perder no teu corpo...Fedra, eu tenho tanta saudade da tua pele nua que...

Fedra interrompeu-a com um beijo quente. Bocas, mãos, todos os sentidos entrelaçados numa troca deliciosa e instigante. Sem se desgrudar, entraram em casa e entre sorrisos e suspiros, viram-se no quarto. Sabrina encostou numa parede enquanto via Fedra ajustar a luz do abajur. O cenário era perfeito para esquecer qualquer medo, ou insegurança. Sentada na cama, Fedra pediu com um gesto que ela se aproximasse. Lentamente, Sabrina se aproximou e ficou em frente dela, estrategicamente posicionada entre as pernas meio abertas de Fedra. Mãos quentes e hábeis subiram pelas suas pernas deixando um rastro de pele arrepiada e ardente. Os toques, cada vez mais íntimos, provocaram gemidos e urgência de mais. Fedra arrancou o vestido de Sabrina num desespero que atiçava ainda mais o desejo. Provocante, Sabrina afastou-se um pouco e passou a tocar o próprio corpo, deleitando-se nos seios, sem desviar os olhos de Fedra. Ela gritou, mordendo a boca e deixou-se cair na cama. Sorrindo, Sabrina ajoelhou-se aos pés da cama e lentamente, tirou a calça dela. Fedra gemia e se contorcia ao ter a blusa desabotoada ao mesmo tempo que mãos quentes lhe acariciavam a barriga. Agarrou Sabrina com vigor pelo quadril e ao notar que ela estava completamente nua, ergueu sua pelve numa ansia desenfreada de se unir a ela. Encontraram-se numa dança vigorosa de corpos sedentos de prazer. As paredes do quarto testemunharam o ápice do gozo uma, duas...tantas vezes.

Algum tempo depois...

            -Meu bem...- Fedra chamou Sabrina completamente grudada nela.

            -Hmmm...- Sabrina se recusava a abrir os olhos. Tinha medo de sair do sonho...

            -Sexo contigo vai ser sempre assim? - Apertou o corpo um pouco mais contra a pele de Sabrina.

            -Como? - Sabrina abriu os olhos languidos e beijou-lhe os lábios entreabertos e apetitosos que estavam a escassos centímetros dos seus.

            -Uma viagem estonteante...um delírio que eu nunca sei onde vai me levar e eu simplesmente deixo-me ir...e o prazer nunca é igual...é cada vez mais intenso...sendo bem safada e foda-se se vais me julgar por isso...eu me sinto comida com vontade...muita vontade...que delícia...que delícia...

Sabrina sorriu e seguiu deixando beijos leves pela face de Fedra, até beijar-lhe a boca com o desejo inequívoco que era o motor do encontro daqueles corpos.

            -Eu não vou te julgar por ser expressiva. - Sorriu e Fedra riu escondendo a face no colo dela. - O que sentes é apenas o reflexo do que transborda em mim...às vezes eu me assusto com a intensidade de nossa sintonia e...e há tantas possibilidades, meu bem...tantas...

            -Eu quero todas...tudo...eu quero tanto, Sabrina...eu quero tanto...não sabia que podia tanto...não mais...

O tempo diluiu-se. Não houve mais lugar para hesitação, ou medo. O que reinou foi o prazer, a leveza de quem se reconhece no toque do outro.

 

Fim do capítulo

Notas finais:

Boa leitura e bom semana.

Abraços

Nadine


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Comentários para 18 - Capitulo 18:
jake
jake

Em: 03/11/2025

Eita que Sabrina deu uma rasteira em Lucia ligou o foda-se e foi viajar....que viagem esse momento de Fedra e Sa, cheio de cuidados carinho e entrega.... Parabéns autora 


 


Nadine Helgenberger

Nadine Helgenberger Em: 10/11/2025 Autora da história
Muito obrigada. Bjs


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mtereza
mtereza

Em: 03/11/2025

Amo os momentos delas juntas são tão intensos ainda bem que a Sabrina voltou para terapia e está começando a viver e encarar seus medos até despertou um pouco sobre a Lúcia. Sei que é difícil para Fedra mais ela precisa dar um passo a frente na relação delas se permitindo. 


Nadine Helgenberger

Nadine Helgenberger Em: 10/11/2025 Autora da história
Muito obrigada. Bjs


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HelOliveira
HelOliveira

Em: 02/11/2025

Sabrina despertando en relação a Lúcia e já está se saindo muito bem....

Adoro cada momento delas juntas, uma sintonia maravilhosa 


Nadine Helgenberger

Nadine Helgenberger Em: 10/11/2025 Autora da história
Muito obrigada. Bjs


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NovaAqui
NovaAqui

Em: 02/11/2025

Olha!

Bendita corrida que fez Sabrina encontrar com a Tânia. 

Voltou para terapia e conseguiu avançar três casas em relação a Lúcia! Amém! Não deixou a cobra peçonhenta abalá-la! Pelo contrário, enfrentou a bruxa de frente 

E o encontro com Fedra? Meu Deus! Foi lindo! Sinto que elas vão evoluir mais e mais depois desse momento de silêncio da Sabrina 

Acho que elas estão bem apaixonadinhas, mas ainda faltam algumas arestas para serem aparadas. Tenho fé que elas vão ficar mais juntinhas, se assim a autora permitir kkk

Quando eu tiver uma amiga chamada Glória, vou usar esse diminutivo fofo: "Goya!" rsrs

Ainda bem que sua mão melhorou!

Capítulo delicioso de ler! Do início ao fim 

Boa semana para você 

Beijão 

 


Nadine Helgenberger

Nadine Helgenberger Em: 10/11/2025 Autora da história
Muito obrigada. Bjs


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