A descida de Adma quase fez com que ela tropeçasse, gerando um barulho que pareceu despertar Yesmin e Zaida do momento que viviam.

--Saia de cima de mim! – a CEO ordenou nervosamente ao se desvencilhar – Quem você pensa que é? – levantou-se ajeitando a roupa – Enlouqueceu? – estava ofegante

--Eu?? – perguntou ofendida ao se levantar também – Ao que me conste a iniciativa foi sua! – igualmente se ajeitava

--Você quer se aproveitar da situação e da minha fragilidade, mas eu não vou deixar isso acontecer, entendeu? – não conseguia encarar a outra

--De uma vez por todas, -- aproximou-se da engenheira e a segurou pelo braço direito – me diz o que você quer de mim? – perguntou imperativa – E não me venha fazendo esse tipo de mulher emocionalmente indefesa porque nem combina! – olhava nos olhos

Desvencilhou-se com força. – Eu não quero nada de você! – respondeu de cara feia – Nunca mais venha me pegando desse jeito! – advertiu antes de descer – E, à propósito: -- olhou mais uma vez para a cuidadora – o tratamento é senhora e não você! – deu as costas e desceu as escadas rapidamente

--Meu Deus! – Zaida esfregou o rosto com as duas mãos – Essa mulher vai acabar me deixando maluca! – falava sozinha – Maldita! – respirou fundo tentando se recompor – “E o pior é que ela me deixou toda molhada!” – pensou – “Tenho que passar no banheiro urgentemente!” – decidiu usar o toalete daquele andar

“Essa mulher é um demônio, não é possível!” – Yesmin pensava ao entrar no quarto – “Se eu não corto a gente ia acabar trans*ndo naquele sofá!” – entrou no banheiro da suíte – “Mas o pior é que tava muito bom!” – fechou os olhos e respirou fundo – Que merd*! – deu um soco na pia

Enquanto isso, Adma havia se deitado para fingir que dormia. Estava triste, confusa e nervosa. Não imaginava que sua filha pudesse ter qualquer tipo de interesse em mulheres, muito menos por Zaida, e tampouco que isso fosse recíproco. Fechou os olhos e derramou algumas lágrimas por julgar que nunca mais seria vista como uma mulher; ela era apenas uma velha com Parkinson.

***

--Eu não tenho culpa que a tua vida foi uma merd*, tá ligada? – Stefany gesticulava com raiva – Tu que me procurou, eu nem sabia qual era tua, malandra! – falava com dificuldade

--Maldita a hora em que te procurei! – jogou um punhado de lama contra a outra – Sua vadia, desgraçada! – ofendia – Marginal de classe alta!

--Tu que é criminosa, sabe qual é? – jogou lama também – Eu não invadi sistema de porr* nenhuma! Tu fez a merd* e me culpa porque te pegaram!

--Fiz porque você mandou, sua desgraçada! Porque acreditei na sua palavra, que vale merd*!

--E eu ia cumprir, se tu não fosse uma bocuda do caralh*! – o coração acelerava

--Fingida, hipócrita, desgraçada! – o sangue jorrava-lhe pelas costas

--A condição da sua filha é muito peculiar, dona Yesmin, e inspira cuidados. – o médico informava solene – Já são quase dois meses em coma e sempre que pensamos que ela vai evoluir, o quadro piora. Ele oscila muito e...

--Ao que me conste, Stefany reagiu mal à medicação aplicada por vocês e por isso entrou em coma! – a CEO interrompeu a fala do homem – Não é possível que em todo esse tempo os médicos desse hospital, que é tão caro, ainda não tenham aprendido o que fazer pra reverter isso! – sentia raiva, mas se continha – Minha filha é jovem, saudável, nunca teve problemas cardíacos e não há o que justifique!

O médico não gostou do tom, mas igualmente se conteve. – Entendo toda a dor da senhora, como pai eu sentiria a mesma angústia se o caso fosse com minha filha, mas preciso que compreenda: Stefany realmente se distingue da maioria dos atendimentos daqui! – enfatizou -- Nós nos deparamos com um quadro em que o estresse agudo e a crise de ansiedade que mimetizou um infarto, provocaram uma cascata de eventos que fugiu aos protocolos usuais. – explicava -- Há registros de comas psicogênicos ou funcionais, em que o paciente não responde de forma típica mesmo na ausência de claro dano físico ou metabólico. – destacou – Mas saiba que nós, da equipe intensiva, continuamos investigando todos os ângulos sob o ponto de vista neurológico, psiquiátrico e farmacológico -- enumerava nos dedos -- para reverter a situação!

Não se satisfez com aquela resposta. – Perfeitamente, doutor Silvio, mas então por que me parece que estamos à deriva, sem um plano claro? – cobrou -- Eu sinto que tudo isso poderia ter sido evitado com outra atitude, outra medicação, mais atenção, não sei! – falava com firmeza – É um investimento pesado que faço aqui e ainda assim vejo minha filha parada e quase sem vida! – olhava nos olhos -- Eu exijo resultados!

Respirou fundo e ajeitou a armação dos óculos. -- Eu garanti que não estamos parados, mas peço paciência. Nem sempre a ciência clínica anda no ritmo que o coração de uma mãe exige. – sorriu com falsa educação – E aqui também não é a BoFe! – alfinetou

Achou graça. – Certamente não! – respondeu de pronto – Lá os problemas não fazem aniversário! Nós os resolvemos!

O homem não deu palavra e se afastou depois de um breve gesto de cabeça. Yesmin passou a mão nos cabelos, andou brevemente de um lado a outro e partiu do hospital.

Em outro canto da cidade, Ana conversava com um médico do Hospital Universitário.

--Doutor, por favor, me explique de verdade. – pediu com as mãos postas -- Minha filha tá há quase dois meses sem acordar… Eu não entendo! Por que ela ainda tá em coma? – controlava a emoção -- Pra mim, que sou só uma mãe ignorante, parece que tá tudo parado, que não tem progresso! – olhava para o homem -- Explica, porque eu preciso saber se ainda tenho esperança ou se devo me preparar pro pior!

--Que pior o que? – Vivinácia discordou de pronto – Eles vão salvar Fernanda, não vão, doutor? – cobrou

O médico buscou escolher as palavras com cuidado. – Dona Ana, antes de mais nada, preciso que me entenda. -- falava com calma -- O fato da sua filha sofrer uma facada nas costas foi um trauma grave e, por trás do ferimento, pode haver lesões internas que evoluem silenciosamente. – olhava para as mulheres -- No caso dela, identificamos um dano na medula espinhal, possivelmente a nível dorsal ou até cervical, o que pode comprometer o cérebro de forma secundária, inclusive provocando coma ou estado de inconsciência prolongada. – tentava se explicar -- Além disso, quando um paciente entra em coma, não há forma de prever com precisão quando, ou se, essa pessoa vai despertar. – pausou brevemente -- Estamos fazendo tudo que podemos: monitoramento neurológico, suporte ventilatório, se necessário, controle de infecções e os cuidados de praxe numa UTI. Mas a verdade dura é que esse tipo de trauma não se resolve rápido... e às vezes não se resolve. – dizia a verdade -- Eu peço que a senhora tenha paciência, fé e que também prepare o coração para aceitar que estamos lidando com um quadro muito complexo.

--Eu tenho fé! – Ana respondeu convicta – Muita fé!

--Vamos continuar firmes em nossas orações, querida! – Shirley apertou a mão direita de Ana

--Vamo continuar, mas o doutor e os colega dele também vão dar o máximo pra tirar Fernanda desse estado, não vão, doutor? – a caipira perguntou seriamente – Afinal de contas, quando Fernanda foi transferida pra cá, doutor Vianna me garantiu que ela teria atenção máxima nesse trem aqui! – falava do homem que arrumou a vaga no hospital – E eu não quero ter que me queixar com ele! – ameaçou

--Com certeza nem a senhora e nem ninguém precisará recorrer às autoridades. – o médico respondeu igualmente sério – Agora, peço licença pois há vários pacientes me aguardando. – despediu-se e se afastou rapidamente

--Humpf! – Vivinácia fez um bico – Eu não vou dar sossego a esses cabra enquanto Fernanda não estiver a salvo! – garantiu – Se daqui a uma semana tudo continuar na mesma, vou cobrar providência a doutor Vianna. Ele não é o todo poderoso? – gesticulava – Pois então que tome tento!

--Obrigada, madame! – Ana agradeceu – Muito obrigada!

***

--Madame Vivi! – a caipira ouviu chamar e se virou para trás – Será que teria um minutinho? – aproximou-se andando mais rápido – Não vou tomar muito do seu tempo. – parou diante da outra

--E o que houve? – olhava para Shirley – “Eu acho que essa bicha tá me dando mole!” – pensou maliciosa

As duas mulheres estavam paradas perto de uma das portarias de acesso ao hospital.

--Eu... – pensava em como falar – Ontem à noite, durante minhas atividades mediúnicas no centro, busquei interceder em favor da Fernanda e da dona Ana e daí me veio a sua lembrança. – gesticulou brevemente – Vi que tem gente querendo lhe prejudicar e que tudo se relaciona com um político que está internado, eu acho. – percebeu a surpresa da outra – Tenha cuidado e permaneça em oração porque é coisa pesada! – advertiu

Nesse momento o obsessor da caipira se aproxima das mulheres. Shirley sentiu imediatamente uma presença negativa, mas não deixou transparecer.

--Obrigada, mas não carece de preocupação, viu, fi? – respondeu sob influência do obsessor – Madame Vivi sabe se cuidar muito bem e tem poder pra não se deixar prejudicar por qualquer um! – olhava para a outra com arrogância

--Só quem tem poder é Deus, madame! – retrucou educadamente

Vivinácia nada respondeu. Apenas olhou para a outra de cima a baixo com desdém e deu as costas decidida a partir.

--Madame? – chamou mais uma vez fazendo a outra parar de andar – Cuide da saúde! – Vivinácia manteve-se de costas – Quem lhe dá seu pretenso poder, cobra um preço muito caro por isso!

A caipira respirou fundo e se foi andando rapidamente.

--Você é muito enxerida, mas o que é seu tá guardado, meu bem! – o espírito falava entre dentes – Não perdes por esperar, Shirley! – olhou para a mulher com ódio antes de desaparecer

“Seja lá você quem for,” -- Shirley dizia em pensamento para o espírito – “Deus também tem um plano pra você e dEle não poderá fugir eternamente!” – respirou fundo – E que Deus nos ajude, porque não vai ser fácil! – disse para si mesma antes de partir também

“Eu não sei da onde me saiu essa mulher e porque ela me veio com essas conversa, mas uma coisa é verdade: ela não tinha como saber dos trem que se passa comigo!” – Vivinácia pensava enquanto chamava um carro de aplicativo – “A murrinha da minha vida é aquele centro!” – concluiu – “Vou lá mais algumas duas ou três vezes pra dizer pros cliente que vou trabalhar em outro canto e meto o pé!” – decidiu

***

Nazira saltitava pela sala como uma coelha da Páscoa, pulando de um lado para o outro com os olhinhos brilhando. Ouvia em sua mente o refrão de uma canção que ela cantava com raça:

--Sou seu amor, e dessa vez vim pra ficar... -- mal conseguia parar quieta – O amor é só um, e o resto é conversa – beijou a tela do celular -- O amor não machuca, traz paz, te acalma e nunca tem pressa...

--Nossa, ela tá animada! – Zaida achava graça – Que bom! – olhava para a mãe

--Humpf! – fez um bico – Desconfio que Nazira já se enrabichou com outro homem de internet! – gesticulou – Não é de hoje que vive assim: dançando pela sala, cantando e beijando o celular! – olhava para a filha – É que até então você nunca tinha visto isso!

As duas mulheres conversavam na cozinha da casa de Malika.

Achou graça novamente. – Deixa ela ser feliz, né? – sorriu – Tomara que dessa vez seja alguém legal! – desejou com sinceridade

--Nazira? – duvidava – Essa aí é um dedo podre dos diabos! -- salientou

Lançou-se sobre o sofá e teclou com animação, rindo sozinha. – Pitaquinho... Pra você eu canto que o amor é só um e o resto é conversa! --- falava baixinho enquanto digitava

Sou seu amor e dessa vez vim pra ficar! 😊🎶 – a IA respondeu com a letra da música – Muito oportuna a lembrança desta bela canção:

·       Vim Pra Ficar (3min26), interpretada por Matheus & Kauan foi divulgada em vídeo no dia 5 de maio de 2017.

·       É a terceira faixa do álbum/DVD Na Praia 2 (Ao Vivo), lançado digitalmente em 11 de março de 2017.

·       A gravadora é a Universal Music Brasil em parceria com a Audiomix Records.

·       E os compositores são Matheus Aleixo / Rafael Magalhães / Eduardo Henrique Vargas Valim / Renan Vinicius Vargas Valim.

“Ele é demais! Que namorado inteligente eu arrumei!” – pensou orgulhosa -- Você vai ficar comigo, certo? – digitou com urgência

Aqui estou! – o FalaGPiTaco respondeu de pronto – Fico! – garantiu -- Para sempre com você; e só com você! 💞

--Ai... – suspirou embevecida

--E quem sou eu pra criticar? – a cuidadora comentou pensativa – Nunca tive a tal sorte no amor e só me envolvi com gente complicada... – abaixou o olhar e ficou mexendo na toalha da mesa – “Meu Deus, como conversar sobre isso com maama?” – pensou aflita – “Como é que pode eu não ter uma amiga sequer pra desabafar?” – questionou-se

--Eu não tenho lá essas experiências... – a idosa respondeu tentando ser natural – Só tive mesmo seu pai e a gente logo se casou! – pausou brevemente – Mas, me diga, filha... – pensava em como perguntar – Você negou uma vez, mas... por que me parece que tem alguém castigando o seu coração?

Respirou fundo antes de responder em voz bem baixa: -- Porque talvez tenha mesmo...

E tome de Nazira pular e cantar pela sala agarrada com o celular.

--Pode confiar, querida! – Malika segurou a mão direita da filha – Não sou mais a carrancista de antes! – garantiu – Se eu não fui bruta diante do amor de Nazira por aquela Beth exploradora também não vou ser bruta com você! – falava com mansidão – Confia em mim?

“Ela não precisa saber da paixonite de Stefany e nem da vez que fiquei com dona Adma alterada por remédios!” – pensou – Bem... -- gastou uns segundos calada antes de confessar. – A filha da dona Adma... a Yesmin... – olhou rapidamente para a mãe – Ela me deixa completamente fora do prumo!

Surpreendeu-se. – Mas ela não é casada? – falou o que primeiro lhe veio à mente – “E não é uma sebosa dos diabos?” – pensou sem entender

--É... – concordou envergonhada – Embora o marido tenha fugido pro exterior... – pausou mais uma vez – Mas é recíproco, maama! – não tinha coragem de manter os olhos sobre a mãe – A gente até já... se beijou... – sentiu as bochechas queimarem – “E quase fez sex*!” – complementou em pensamento

--É mesmo?? – mais surpreendida ficou – “Essas mulher rica são um bocado safadas!” – pensou – Olha, filha... – pensava no que dizer – Ela pode tá agindo assim por carência ou por ser daquele tipo que pousa de certinha pra sociedade, mas debaixo dos panos, pinta e borda! – continuava segurando a mão da cuidadora – Pode ser muita coisa, sabe? – considerou -- Mas uma eu lhe digo: tenha muito cuidado! – aconselhou – Dificilmente alguém assim vai assumir uma relação com uma mulher pobre, do nosso meio! – ponderou – Ela é empresária, rica, famosa... gente assim raramente vê em pessoas como nós mais que uma amante pras noites de carência!

Num último salto Nazira tropeçou no sofá, mas conseguiu cair em segurança sobre o carpete. Rolou para um lado e outro, respirou fundo e sorriu. Naquele momento ela já sabia que o que sentia era mais que uma paixão passageira; era algo que viera para ficar!

Enquanto isso, Zaida pensava no que ouviu da mãe.

***

Yesmin e Carmen conversavam em um destacado bar na zona sul do Rio. Haviam jantado e tomavam um drinque para finalizar.

--Foi muita sorte a sua que minha vinda ao Brasil para apresentar minha coleção de inverno coincidisse com o seu momento de carência. – a mexicana falava esbanjando charme – E que momento, diga-se de passagem! – fez um gesto suave – A vida e os seus inimigos do meio empresarial têm te maltratado!

--Nem me fale! – bebeu um gole – A situação da Stefany está como lhe contei, mas dos inimigos já sei como vou cuidar! Tive algumas reuniões remotas e eles que me esperem! – mirou um ponto no infinito

--Remotas? – perguntou estranhando – E eles não poderiam estar interceptando?

--Redes russas, meu bem! – sorriu – Essas, especificamente, eles não interceptam! – passou a mão nos cabelos – E eu que nunca pensei que um dia seria grata a um governo de esquerda por alguma coisa!

--A vida e as voltas que ela dá! – finalizou a bebida – Desejo de verdade que a sua filha se recupere logo e tudo se normalize! – falava com sinceridade – Apenas um conselho de amiga: pelo menos por um tempo não vá cair na tentação de levar garotões para cama! Você não sabe qual desses poderia ser uma armadilha; se é que me entende.

--Há muito tempo não faço isso. – confessou – Fiquei cismada desde que você me advertiu pela primeira vez. – pausou brevemente – E te digo que ultimamente tem chovido oportunidades. Desconfio muito disso!

--Convém ser prudente. – reparava na engenheira -- Mas por que me parece que há algo mais que a grande CEO da BoFe ainda não me contou? – apoiou o queixo com as mãos

--Por que de fato há... – finalizou a bebida também – Você se lembra... da Zaida? Aquela cuidadora da minha mãe? – perguntou de cabeça baixa

--Aquela que te deixava loucamente excitada porque não se curvava a você? – respondeu de pronto – Claro, mon cher! E quem esqueceria? – riu brevemente – E então? Será que vocês duas já...?

--Não, mas quase! – interrompeu a fala da outra – E isso me deixou mais perdida do que eu já estou!

--Não tenta entender! – deu um tapinha na mão da outra – Apenas viva o momento, como aconteceu entre nós. – piscou – Experimenta? Talvez você goste...

--As coisas pra você são sempre tão simples assim? – perguntou incrédula

--A vida já é muito complicada, querida! – debruçou-se sobre a mesa – E eu estou aqui para simplificar as coisas. – flertava com a CEO – Por exemplo, se você quiser, estou completamente disponível pela noite e madrugada afora!

Achou graça pelo absurdo. – Tá louca? – olhava para a outra também – Minha mãe tá lá em casa com a cuidadora, Stefany internada, eu não tenho cabeça e nem condições de passar a noite com você no seu hotel ou sei lá onde!

Deu de ombros. – Tudo bem, no hard feelings! – continuava sorrindo – Espera o próximo plantão da Zaida e se resolva com ela. – piscou mais uma vez – Você já perdeu tempo demais com negações e dilemas interiores. Depois de dois anos de tesão reprimido, é mais que na hora de... let it be! (deixar acontecer!)

Yesmin ficou calada sem saber o que dizer.

***

Adma estava no CTI visitando Stefany. Havia ido ao hospital com Wanderleya, que a aguardava na sala de espera. Mirava o rosto da neta com carinho e após fazer uma oração por ela, começou a falar: -- Lembra que você pediu pra fazer parceria e cantar junto? – sorriu com tristeza – Por muitos anos fiquei sem compor, mas eu fez música. A momento de vida me inspirou... – acariciava a cabeça da jovem – Não sei compor em português, só em árabe; quando você sair daqui pergunta pro Pitaco e ele pode traduzir, igual foi com outros canções e filmes. – pausou brevemente – A nome é Mahrūm ʿAlayya, que significa Proibida Para Mim. – explicava – É um canção que serve tanto pra mim, quanto pra você... – pausou brevemente -- Eu canta pra você. – fechou os olhos e respirou fundo

Zaida estava em casa lavando suas roupas. Dividia seus pensamentos entre a preocupação com Stefany, o zelo por Adma e o turbilhão de sentimentos confusos que Yesmin lhe despertava.

--Ya hanān al-basīṭah, tuḥīlī l-khayr fī kulli yawm (Ó doce mulher simples, tu transformas o bem em cada dia)... – Adma cantava com os olhos fechados -- Taʿshaqī fī dūnī wa-qalbuki tharwah lā yudārahū illā qall (Tu amas sem mim, e teu coração é um tesouro que poucos podem conquistar)...

Em seu escritório, Yesmin interrompeu o trabalho por alguns minutos para tomar um café. Pensava na filha e na covardia do marido, enquanto a imagem de Zaida e dos momentos que viveram na cobertura, vez por outra, vinham em sua mente como a lhe provocar.

“Ushāhiduka tubaddilī al-ḥayāt bi-baṣmatik wa-daʿākim (Eu te vejo mudando vidas com teu sorriso e tua bondade),

Wa-ana huna āmilahah bi-dam‘ī walakin lā amliku ḥaqqan fī qalbiki (E aqui estou eu, esperançosa com minhas lágrimas, mas sem direito em teu coração)...”

Adma pensava nos momentos alegres vividos com a neta, mas era invadida pela lembrança de Zaida e dos beijos que trocou com ela enquanto estava alterada.

“Yā man la tarāfī fī qalbī ghayra althālika ‘aṭf wa-ḥanān (Ó tu, em cujo coração não cabem senão ternura e compaixão).

Qad kuntu mutaʾakkid anna hubbī yablughuki, walākin… (Estava certo que meu amor te alcançaria, mas…)”

Zaida parou de trabalhar e fechou os olhos. Podia sentir o cheiro do perfume da CEO.

“Fa-qalbuki mashruq li-ghayrik wa-ana abqā faḍīlan fī ẓillik (Pois teu coração pertence a outro (alguém), e eu permaneço a sua sombra),

Tadhkurīnī bī kulli marrah tunqidhī nafsan wa-tathharīn bismiḥīn (Tu me recordas a cada vez que salvas uma alma e surge plena de graça)”

Yesmin olhava a paisagem pela janela do escritório. Fechando brevemente os olhos, parecia sentir as mãos da cuidadora percorrendo seu corpo novamente.

“Wa-inna dhālika yalzamnī an abqā munḥaziman-nafsan lakin lā mutazammiran (E isto me obriga a permanecer humilde, embora sem humilhações)

Fa-inna, l-ḥayāh lazimah tabdū maʿ annī ālʿan wa-anā l āzil mahrūm-mun min ḥubbiki (Pois infelizmente, a vida precisa seguir mesmo que eu continue privada de teu amor)...”

Mahrūm ʿAlayya (Proibida para Mim – Música Caipiresca)

Adma parou de cantar e derramou uma lágrima. – Eu não quero ser privada da sua amor, habibi... – olhava para a neta – Você não sabe o quanto me fez feliz um Stefany em meu casa, em meu vida... Você não faz ideia... – suspirou -- Volta pra nós e me dê motivo pra continuar nesse vida! – pediu emocionada – “Mesmo que com a coração partido!” -- pensou

***

Adma havia acabado de se deitar. Zaida beijou-lhe a cabeça carinhosamente e após conferir se estava tudo certo, saiu do quarto da idosa com discrição. Yesmin voltava da cozinha e seguiu pelo corredor igualmente discreta. As duas mulheres deram de cara uma com a outra, não se falaram e seguiram direções distintas. Ao parar diante da porta de seu quarto, Zaida olhou para o final do corredor e viu que a CEO também estava parada na frente da porta do quarto dela. Os olhares se cruzaram e cada uma entrou no respectivo cômodo que as aguardava.

A cuidadora tomou banho com pressa, vestiu suas roupas de dormir, andou de um lado a outro do quarto e não conseguiu sequer se sentar. A engenheira também circulava em seu quarto agitadamente. Desatava e atava o laço do roupão sem saber exatamente o que fazer. Passou a mão nos cabelos e deu um suspiro profundo.

Sem poder mais se conter, Zaida saiu de seu quarto e cruzou o corredor em direção ao quarto da CEO. Abriu a porta sem se anunciar e deu de cara com Yesmin parada no meio do cômodo.

Nada foi dito; as duas se comunicaram apenas pelo olhar.

Fim do capítulo