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Depois eu te conto... por Nadine Helgenberger

Ver comentários: 4

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Palavras: 4305
Acessos: 747   |  Postado em: 12/10/2025

Capitulo 15

 

 

-Por pouco não terias perdido a viagem, amiga, já ia me arrumar para sair e buscar a Maria Luísa. - Disse Glória ao abrir a porta. - Mas não entendi essa visita surpresa. Tudo bem que tenho minhas carências e adoro cobrar a tua presença, mas eu sei que estás...como diria, em lua de mel. - Sorriu.

Sabrina entrou com um sorriso forçado, ombros caídos e Glória entendeu que alguma coisa não estava bem.

            -Como foi o vosso dia pelo interior? - Encarou Sabrina que não disfarçava as lágrimas. - O que aconteceu, Sá?

            -É tudo perfeito...demasiado perfeito.

Sentou-se no sofá escondendo o rosto nas mãos. As lágrimas vieram de enxurrada. Glória sentou-se ao seu lado e afagou-lhe as costas.

            -Sinto-me livre com ela, Glória - Desabafou entre soluços. - Com ela eu não preciso escolher as palavras, não preciso fingir nada... posso ser eu mesma, sempre. E isso... isso é maravilhoso.

            -Então qual é o problema, meu bem? - A mão continuava a afagar-lhe as costas.

            -O problema é que eu sei que não é assim. - Ergueu os olhos marejados. - Não na minha vida. Eu tenho medo, Glória, um medo enorme de me apegar demais e depois perder tudo.

            -Eu acho que estás apaixonada por ela...- Glória apertou-lhe a mão entre as suas.

            -Eu tenho certeza e é aí que meu mundo começa a colapsar - Abanou a cabeça chorando sem filtro. - Não me lembro de sentir nada tão intenso e em tão pouco tempo por ninguém. A Fedra me deixa...ela é...não sei explicar, só sei que estou perdida...

Ouviam-se soluços abafados e mais nada.

            -Olha para mim, meu bem - o tom era firme, mas carinhoso. - Eu sei que não sou a pessoa mais talhada para falar sobre esse assunto, já que minha vida amorosa é o caos que todas conhecemos, mas acho que não podes fugir. Hoje em dia é raro encontrar alguém com quem realmente nos conectamos. Eu sou a prova desse martírio, na minha intensa busca só me aparecem sapos. - Tentou fazer a amiga rir, mas sem muito sucesso.

            -Eu não queria nada disso...não estava nos meus planos...- Reclamou encostando a cabeça no ombro da amiga.

            -Espero que não me culpes por ter insistido tanto naquele bendito happy hour em que se reencontraram...

Glória tentava levar a conversa para um tom menos tenso, mas sem sucesso. Sabrina fechou-se no mais profundo silêncio. Glória abraçou-a até senti-la mais calma. Os espasmos cessaram e Glória acreditou que ela tivesse se acalmado. Até que de repente ela se tremeu toda e buscou o ar com força.

            -Eu não posso me apegar, Glória. Não posso! - Soluçou com a voz partida. - Sempre que me apego, eu sofro. Sempre!

            -Já sofreste muito, não é? - Glória sabia vagamente de algumas passagens da vida de Sabrina, mas talvez fosse bom ela externar sua dor.

Sabrina assentiu com a cabeça e a dor saltou-lhe pela boca como algo preso há muito tempo.

            - Quando era criança... cada lugar que passei, eu criava raízes. Achava que finalmente tinha encontrado um lar. A tia distante, um amigo do meu pai... eu me afeiçoava a todos. E de repente...- A voz mais uma vez soava partida - ... de repente era arrancada dali, sem explicações. - Apertou os olhos que jorravam lágrimas quentes.

Glória mantinha-a dentro do abraço.

            -A minha mãe morreu de repente quando eu tinha onze anos. - disse, num fio de voz. - Ela era o meu mundo, minha única certeza. E o meu pai... ele era louco por ela... Quando ela partiu, ele também morreu um pouco.

Ouviu-se um soluço que parecia capaz de rasgar-lhe a garganta. Glória apertou-lhe as mãos, mostrando que estava ali.

            -Ele nunca mais se aprumou. Perdeu-se no álcool, nas culpas. E eu... eu virei um fardo. -Sabrina encolheu os ombros, como se ainda carregasse esse peso. - Pulávamos de casa em casa porque ele não conseguia parar em nenhum lugar. Eu cresci com a sensação de que não pertencia a lado nenhum e que era a causadora de toda a desgraça da minha família.

Sabrina chorou tentando articular o pensamento.

            -Então aprendi a agradar. - A voz soava amarga. - A sorrir mesmo quando queria gritar. A ser o que esperavam de mim, porque, se eu não fosse, seria rejeitada. Eu nunca... nunca pude ser quem eu realmente era.

            -E carregas isso tudo desde criança? - Glória limpou-lhe as lágrimas com a ponta dos dedos.

            - Eu carrego desde sempre, Glória. E agora, com a Fedra eu sinto que finalmente posso ser eu. Posso respirar. Mas é por isso mesmo que me apavora. Porque eu sei o que acontece quando eu me apego. Eu sei o que é perder tudo de repente. Eu estou melhor com a terapia, mas o medo ainda me paralisa...

            - Mas talvez, pela primeira vez, não vás perder. - disse, firme. - Talvez seja exatamente com ela que vais encontrar o que sempre te faltou.

Sabrina deixou-se afundar no abraço, chorando em silêncio, como se a dor de uma vida inteira finalmente tivesse encontrado testemunha.

***

Na varanda do seu apartamento, Fedra olhava para o telefone em sua mão e tentava entender a conversa entrecortada que acabara de ter com José Eduardo. Que a relação não era das mais tórridas e acolhedoras, estava cansada de saber, mas ultimamente as falhas dele pareciam quase grotescas. Autocentrado convicto, ele não prestava atenção a nada que não lhe trouxesse alguma vantagem. A impressão que Fedra tinha era que a única coisa que lhe emocionava realmente eram os filhos, um bando de jovens adultos mimados. E pensar que aquilo já durava há cinco anos...pelo caminho ela sobrevivera a um câncer e o que era morno, esfriou de tal modo que não tinha mais paciência. A controvérsia dessa história residia no fato de não saber como terminar de vez algo que há muito tempo não existia. O fato de não morarem no mesmo lugar, não exigia que ela se debruçasse sobre o assunto. Muitas vezes nem se lembrava de que mantinha uma relação...

O que não lhe saía da cabeça era que já se fazia tarde e nem sinal de Sabrina. Pensou em ligar inúmeras vezes, mas achou que fosse exagerado. Ela e Glória eram amigas de longa data...olhou as horas e suspirou apertando o telefone nas mãos, o tempo voava e Sabrina regressaria para Mindelo nas primeiras horas do dia...

***

Na sala de Glória, o silêncio pesado era quebrado por alguns suspiros profundos de Sabrina. Glória a mantinha acolhida num abraço apertado, tentando amenizar-lhe um pouco a dor.

            -Talvez...talvez essa seja a minha última chance - a voz saia como um sussurro. - A última chance de viver algo bom...- soluçou.

            -Não digas isso - Glória ergueu-lhe a face vincada de lágrimas.

            -É verdade! - Sabrina insistiu, agora com mais veemência, as lágrimas a correrem livres. - Eu sei que ela tem aquele homem lá, sei que provavelmente, mais uma vez, não vou ter nada que dure. Mas eu posso ser feliz por hoje, não posso? - a voz quebrou, quase um grito abafado. - Eu quero ser feliz hoje!

Glória não sabia como lidar com aquela situação, ainda mais que jamais lhe passara pela cabeça que Fedra teria coragem de ousar tanto. Estava claro que Sabrina não estava sozinha naquele sentimento efervescente.

            -Eu nunca vivi nada assim. Nunca, Glória. Nem sei como definir... mas é bom demais estar com a Fedra. Eu sinto... sinto que finalmente não preciso fingir nada. Posso ser a Sabrina com todas as suas camadas...

Glória respirou fundo, passando-lhe os dedos no cabelo como quem consola uma criança.

            -Então vai! Vai e vive o teu momento. Mesmo que seja por um dia, por uma noite... vai. Tu mereces.

***

Sabrina atravessou a cidade com a sensação que o ar pesava toneladas. Deu as coordenadas do endereço ao taxista e perdeu-se em devaneios desconexos. Seu coração batia descompassado entre medo e urgência. Queria poder correr, ir embora e esquecer tudo. Sempre que o medo apertava, era isso que fazia. Fechou os olhos e a leveza de Fedra cadenciou as batidas da urgência.

A rua estava deserta, iluminada pelos postes de luz amarelada conferindo ao cenário um ar de sonho. Respirou fundo e olhou as horas. Quase 11 horas, talvez fosse tarde. Olhou para cima e as luzes da varanda estavam apagadas. Um navio apitou no porto e ainda que as mãos estivessem trémulas, ganhou coragem para ligar. Fedra atendeu no segundo toque.

            -Ainda estás acordada? - Sua voz pareceu-lhe rasgada.

            -Claro que sim. Suba! - A voz de Fedra era doce e quente.

Fedra abriu a porta e Sabrina sentiu-se à deriva. Já não tinha tantas certezas...ou sabia que perderia de uma forma ou de outra.

            -Deixei a mochila e o computador aqui...- sua voz tremia. - Preciso deles para a viagem...

            -Só por isso voltaste? - Questionou Fedra com uma calma desconcertante.

Sem conseguir manter a postura quase fria, Sabrina desmontou-se num choro e foi imediatamente acolhida por Fedra. As lágrimas vieram sem pedir licença, mas o colo dela era o lugar certo, o melhor abrigo que já experimentara.

            -Aconteceu alguma coisa? - o tom de voz de Fedra parecia uma carícia. - Estava preocupada, mas não quis ser invasiva...

Depois de alguns minutos, Sabrina conseguiu emitir algum som além de soluços.

            -Estou confusa...com medo e...e acho que sem controlo do que sinto...- Suspirou e teve seu corpo todo apertado num abraço.

            -Que bom que não desististe...- Foi a vez de Fedra soltar o ar com força. - Que bom!

Sabrina encarou-a com olhos ansiosos. Queria entender as peças daquele quebra-cabeças. Queria perguntar tanta coisa, mas as palavras se perdiam em meio ao medo.

            -Queres comer alguma coisa? - Claramente Fedra queria lhe dar tempo para recompor-se.

            -Não... - Sabrina abanou a cabeça ainda trémula. - Quero apenas deitar um pouco e ficar quieta. Já tomei banho lá na Glória, não vou corromper teus lençóis sempre tão cheirosos.

Fedra sorriu e beijou-lhe a testa. De mãos dadas, foram para o quarto. Na penumbra acolhedora, deitaram-se. Sabrina rapidamente procurou repousar a cabeça no colo de Fedra. Fez-se um longo silêncio. As lágrimas de sabrina desciam silenciosas e eram enxugadas pelos dedos ternos de Fedra que também lhe alisava o cabelo sem pressa.

O tempo passou marcado ora por longos suspiros, ora por soluços tímidos.

            -Tudo bem, se hoje não houver sex*? - Sabrina perguntou mais para si, quase num sussurro.

            -Sabrina, isso aqui não é sobre sex*. Nunca foi! - Fedra apertou-a ainda mais no abraço como quem sela uma promessa.

Sabrina sentiu-se inteira como há muito não acontecia.

Sabrina permaneceu nos braços de Fedra até que a respiração suave, indicou que finalmente tinha se rendido ao sono. Antes de também entregar o corpo ao mundo dos sonhos, Fedra beijou toda a extensão de pele de Sabrina ao alcance dos seus lábios.

***

Acordei ainda era madrugada e no quarto os barulhos que ouvia eram o tique taque do relógio, as folhas das árvores batendo contra o vento e as ondas quebrando ao longe. Pisquei os olhos até discernir que horas eram e ainda podia ficar mais algum tempo na cama até me arrumar para o voo ao amanhecer. Respirei fundo e me percebi numa ambiguidade de sentimentos. Quando pensava com clareza era sempre assim, mas a maior parte do tempo eu simplesmente me deixava levar. Olhei para Fedra e a imagem dela dormindo languidamente, fixou-se na minha tela mental. As luzes da rua que entravam pelas persianas davam-lhe um toque dourado...lindo. Tive a certeza que jamais vira nada mais belo e que o medo de perdê-la me sufocava. Instintivamente me aproximei, cheirei-lhe a pele, os cabelos...meu desejo gritou. Precisava dela, com urgência. Beijei-lhe o ombro, o pescoço, o braço. Ela se mexeu e balbuciou algo que não entendi. Posicionei-me sobre o seu corpo e beijei-a com mais vontade e com intensão clara do que meu corpo queria. Ela respondeu imediatamente, ainda que sonolenta. Ai como eu gostava disso...nos entendíamos muito bem na cama. Meus movimentos ganharam uma certa urgência e ela despertou. Sorriu e me abraçou com força contra o seu corpo. Eu a queria com desespero. Minha cabeça gritava medo, incertezas e meu corpo pulsava de desejo. Poderia enlouquecer diante de tanta confusão, mas ela se abriu para mim, de corpo e alma. Esqueci o medo e me perdi nela. Nos encontrámos num lugar novo, intenso, profundo, inesquecível. Nos rendemos ao prazer sem qualquer resquício de pudor ou trava. Eu demorava tanto para alcançar esse patamar e com ela veio com uma pluma dançando ao vento. Demoramos, ora em toques suaves, ora numa intensidade de tirar o fôlego. Os gritos roucos dela se entrelaçaram aos meus gemidos intensos até tudo ficar no mais completo silêncio. Deslizei meu corpo e meu ouvido ficou contra o peito dela ouvindo o bater do seu coração. Nada foi dito, o quarto estava envolto numa calma densa, quase etérea.

Ergui minha cabeça e tive a sensação que o mundo parou em reverência à beleza daquela mulher. Decorei todos os detalhes do rosto perfeito, da pele morena, das ondas do cabelo, da cadência da respiração, da languidez. Imaginei como seria a cicatriz que ela tanto escondia e meus olhos encheram-se de lágrimas. Quem sabe um dia eu mereceria a total confiança dela. Meu coração estava cheio de um sentimento que minha cabeça ainda não sabia nomear. Ela abriu os olhos devagar, gem*u e logo em seguida sorriu para mim.

            -Já te disseram que ficas linda dormindo? Mais linda, ainda...- Devaneei sem qualquer resquício de filtro.

            -Não...fico?

            -Hum-hum...um dia ainda vou desenhar-te...

            -Sabes desenhar?

            -Meu hobby...e tu és uma grande inspiração.

            -Que mais eu ainda vou descobrir? - Puxou-me para mais perto. - Meu bem, para quem não queria nada muito intenso...meu Deus...

Sorri com minha cara ardendo e beijei-lhe a boca com todo o desejo que morava em mim.

            -Sabrina, eu vou ficar viciada...tenho descoberto tanto de mim...achas que o que temos é uma loucura? - O tom de voz dela invadiu-me a alma.

Demorei a responder. Minha cabeça processava algumas ideias que já eram claras no meu coração. Meus dedos percorreram a pele dela em círculos...

            -Se for loucura, é a mais lúcida que já vivi...- Gritou meu coração.

Fez-se mais um momento de silêncio confortável. Lá fora o dia nascia e o quarto começou a ser invadido por nuances azuladas.

Depois de muito protelar, fiz menção de sair da cama, afinal tinha um voo às 8 da manhã...

            -Tenho o voo daqui a pouco...- Disse quase em tom de protesto.

            -Ainda tens alguns minutos. - Ela puxou-me de volta para junto do seu corpo e beijou-me.

Em seguida virou para o outro lado e eu com muita relutância saí da cama.

Quando deixei o apartamento, ela dormia profundamente. Fui embora com o eco dos risos, das palavras não ditas, do perfume do quarto, dos gritos de prazer, tudo gravado na memória...e mais, a certeza de que não perderia nenhuma chance de voltar a ter tudo aquilo de novo...e de novo...e mais um pouco...

***

Na minha cidade tudo estava igual, o mesmo céu azul, a baía de Porto Grande abrigando o majestoso Monte Cara, o transito fluindo tranquilo, as montanhas protegendo o reduto e minha casa no mesmo lugar. A diferença era o silêncio que me pareceu brutal, quando na minha cabeça ecoavam risos, gargalhadas, a voz sexy de Fedra...

Olhei para as minhas coisas e tive a sensação que me distanciava delas...talvez por nunca ter sido apegada...talvez por nunca ter tido um lar verdadeiro...

Ainda tinha algum tempo até precisar de fato ir ao escritório e aproveitei para escrever tudo o que sentia no meu bloco de notas. Tinha muito assunto para as sessões de terapia da semana.

***

"Pode parecer ridículo e talvez até seja, mas só o meu corpo está presente nesse escritório. Meu coração está algures entre o teu quarto, teu carro e o teu sorriso."

"Sabrina, se fosse apenas uma de nós nesse estado...estou numa sala de reunião repleta de gente em que sou a líder e preciso ser assertiva e rápida no meu raciocínio, mas como se tudo o que consigo pensar é na tua boca percorrendo cada pedaço do meu corpo...que calor!"

Sorri e mordi minha boca. Ah, como era bom viver assim...

            -Ah, nem preciso perguntar como foi o fim de semana da minha colega. Não mereço um relato? Pode ser ocultando os fatos interditos a menores de 24 anos. - Catarina, quem mais.

Ri alto e ela aproveitou para se sentar à minha frente.

            -Tudo bem? - Perguntei voltando a minha atenção para o computador, afinal precisava trabalhar.

            -Comigo, tudo igual, já com a senhora. O brilho nos olhos, a pele acetinada e essa aura de mulher bem servida...que inveja.

Rimos juntas.

            -Inveja é um sentimento pequeno...- Provoquei.

            -Ah, tu sabes que é inveja boa. Já sei que não vais me contar nada e nem precisa, eu sei que estás feliz e isso basta. Vive-se um contraste nesse escritório, por um lado, a Sabrina espalhando luz, do outro, minha chefinha cada dia mais esquisita.

            -Quem?

            -Tudo bem que estejas em vénus, mas chefe aqui só tem uma. - Riu.

            -A Lúcia tem seus momentos...

            -Cá entre nós, às vezes ela parece ter umas 3 personalidades...vocês são amigas há muito tempo?

            -Sim, mas nunca fomos muito próximas, até ela me ajudar num momento complicado da minha vida. Sou muito grata...

            -Hmmm...

            -O que a minha assistente faz perturbando minha melhor consultora?

Lúcia e sua velha mania de entrar de forma sorrateira. Diria que era mais uma invasão...ultimamente me incomodava num ponto quase insustentável.

            -Só vim colher algumas informações, já estou a caminho da minha sala. - Catarina driblou muito bem a situação. Por trás de Lúcia fez um gesto de que seria degolada e eu me controlei para não cair na risada.

            -Então, tudo bem?

            -Tudo, e contigo?

            -Só não estou melhor do que tu. Viste os ficheiros que te enviei?

            -Sim, vou analisá-los durante a tarde.

Ela se sentou de forma calma e cruzou as pernas me observando de um jeito que me pareceu estudado.

            -Sabrina, conheces bem a Fedra Barros?

Meu coração bateu em cada pedaço do meu corpo. Como assim? Não sei porquê, mas não gostei do nome da Fedra na boca dela...sei lá...não gostei. Me encostei na cadeira e tentei usar minha melhor versão blasé.

            -Fedra...- Fingi pensar. - Não diria que conheço bem, mas temos amigos em comum e já saímos algumas vezes...- Odiava mentiras, mas a pergunta não me pareceu natural. Lúcia às vezes me causava um sentimento dúbio...

            -Viram-te com ela por aqui...na baía...- Ela sorriu como quem me dava permissão para mentir.

            -Hum-hum...há uns dois meses, ela passou por cá e tive que servir de cicerone a pedido da Glória...o que não fazemos pelos amigos? - Meu estomago gelou para logo em seguida contrair-se.

            -Estreite a relação o máximo que puderes. Ela é representante de uma agência internacional com um potencial gigantesco para bons negócios para a nossa empresa. O antigo chefe era muito virado para empresas da capital, mas se minha consultora é próxima da atual chefe, vejo caminhos abertos. Capricha no teu charme e consiga negócios. - Piscou o olho e saiu da sala deixando um rastro de perfume e de inquietação.

***

Depois do dia intenso no trabalho, Fedra passou em casa da mãe como quase sempre fazia no inicio da semana. As conversas seguiam no mesmo ritmo, afetuosas e muitas vezes cómicas. A diferença era que às vezes, Fedra perdia-se em devaneios, detalhe que não passou despercebido para a sempre atenta dona Gracelina.

            -Muito trabalho, filha?

            -Algum...mas nada que eu já não esteja acostumada. Hoje teve uma reunião daquelas...

            -Dormiste mal? Pareces um pouco cansada...tens feito os controlos?

            -Sim, mãe. Está tudo bem com a saúde. Dormi bem...foi o acordar que me custou...- Experimentou uma saudade nova de Sabrina.

            -Acordar custa sempre quando o sonho é bonito.

            -Foi mais ou menos isso que aconteceu...não queria acordar do sonho. As mães sempre sabem das coisas...- Fedra sorriu.

            -O José Carlos está de viagem marcada para cá?

            -Não! - respondeu depressa demais. - Por quê? - Seus pensamentos estavam a quilómetros de distancia de José Carlos.

            -Por instantes pensei que a tua alegria pudesse ser...se bem, que não faz muito sentido...

Aquele assunto morreu ali. Dona Gracelina não se metia na vida da filha, ainda mais que achava que ela merecia uma relação de verdade, alguém que pudesse estar ao seu lado, com quem pudesse construir alguma coisa.

Passaram a conversar sobre temas rotineiros, família, dia-a-dia, nova decoração da casa da mãe...

***

Os dias correram sem que a distância que separava seus corpos físicos fosse impedimento para o amadurecimento de algo que já se tornava incontornável. Tudo era motivo para uma troca de mensagem, um áudio despretensioso ou uma ligação a meio da madrugada contando sobre um sonho, ou apenas para verbalizar a saudade que gritava.

Essa troca constante deixava Sabrina num misto de felicidade, leveza e vulnerabilidade. Quando estava com Fedra, sentia-se forte, capaz de qualquer coisa, mas nos raros momentos em que tentava entender a avalanche que lhe sacudia, sentia-se perdida, pisando em areia movediça.

Por seu lado, Fedra já não concebia passar um dia sem estar com Sabrina, ainda que de forma virtual. Apreciava o fato de poder ser ouvida sem julgamento, era apaixonada pela forma como Sabrina prestava atenção aos seus pequenos detalhes. O fato de terem gostos parecidos, ou de que Sabrina embarcava nas suas loucuras com paixão, era mais um detalhe que deixava tudo tão leve e apaixonante. Se fosse pensar na conexão física que existia entre elas, a coisa já atingia um patamar que lhe causava alguma inquietação. Não se lembrava tão solta assim, tão presente e sedenta de prazer, queria sempre mais e era cada vez melhor. Contudo, havia pontas soltas, pesos que carregava há algum tempo e que de alguma forma lhe davam alguma segurança. Por mais estranho que pudesse parecer, seus pesos lhe davam a sensação de ter os pés no chão...

***

A noite já reinava soberana e Sabrina tentava fechar um trabalho que chegara de última hora, mas sem sucesso. Ouvia o som das teclas do computador, mas nada fazia sentido na tela. Tirou os óculos, prendeu o cabelo no alto da cabeça e resolveu deixar o texto respirar, ou quem sabe era ela que precisava de ar. Na varanda, abriu os braços como quem tentava abraçar o mundo. Queria se entender em meio a um turbilhão...havia a parte boa, mas que também causava algum desconforto e essa parte claramente era Fedra, e havia a exigência no trabalho que já lhe causava desgaste. Lúcia não cansava de pedir, às vezes exigir ainda que de forma velada, a ponto de ter a sensação que trabalhava por pelos menos cinco pessoas. Precisava se debruçar sobre esse assunto na terapia...tanta coisa para entender...o telefone vibrou sobre a mesa e já sabia que era Fedra, seu coração sempre lhe avisava.

"Ainda acordada?"

"Quase desistindo de um trabalho que preciso entregar amanhã. Me salva!"

"O final do meu dia também exigiu muito de mim. Queria ouvir a tua voz..."

Sabrina olhou as horas, passava da meia noite. Sem hesitar, ligou.

***

            -Não viste a mensagem que te enviei?

Lúcia entrou de forma intempestiva no espaço de trabalho de Sabrina como era habitual, mas dessa vez um pouco mais alterada.

            -Não! Estou focada para concluir um trabalho que precisa entrar hoje na plataforma. - Sabrina respondeu sem tirar os olhos do computador.

            -Então, logo em seguida, veja o email que eu te enviei. Preciso de feedback ainda hoje...eu sei que está em cima da hora, mas tu sempre consegues realizar milagres...

            -Lúcia, passa das 18 horas, eu ainda preciso concluir minha tarefa e tenho terapia às 19 horas.

            -Ah, falta, não seria a primeira vez...e tu não precisas de terapia para nada. Eu te compenso...prometo. -Disse muito próxima de Sabrina.

            -Hoje não! Eu vou para a terapia porque já faltei na semana passada por conta de trabalho e não faz sentido. - Sabrina estranhou sua própria firmeza no tom.

Lúcia pareceu surpreendida com a resposta a ponto de recuar um pouco.

            -Negando um pedido da chefe...ainda bem que sou tua amiga...- Ironizou encarando Sabrina em tom de desafio.

            -Tu não tens razão de queixa...- Sabrina já se arrumava para sair.

            -Talvez nesse assunto, não, mas parece que agora mentes para mim...

            -Estás a falar de quê? - Perguntou Sabrina sem paciência enquanto desligava o computador.

            -Outro dia perguntei-te se eras íntima da Fedra Barros e me respondentes de forma vaga. - Ela parecia estudar as palavras.

            -Outra vez esse assunto? - Sabrina definitivamente não gostava do nome de Fedra na boca de Lúcia.

            -Claro, porque alguém me disse que te viu com ela no interior de santiago no mês passado e que pareciam bem íntimas.

            -Estás a espionar-me? - Gritou Sabrina.

            -Não, meu amor. Moramos em ilhas e sou bem relacionada. - Vangloriou.

            -Preciso ir, estou atrasada. - Sabrina queria correr dali. Sentia-se acuada.

            - Não te esqueças de fazer lobby com ela...ao menos isso pois o resto já sabemos como será...ah, Sabrina, tu nunca aprendes...

E saiu, deixando no ar o barulho seco do salto batendo contra o piso.

 

Fim do capítulo


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Comentários para 15 - Capitulo 15:
mtereza
mtereza

Em: 02/11/2025

Nossa que energia ruim dessa Lúcia não gostei dela 

Responder

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jake
jake

Em: 23/10/2025

Lucia está mostrando as assinhas....Tipo vou encher Sabrina de trabalho assim ela não tem tempo pra Freda. Acorda Sabrina.

Responder

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HelOliveira
HelOliveira

Em: 12/10/2025

Sabrina dar um basta mais que urgente nessa Lúcia....do contrário ela vai criar sérios problemas..

Ta mais que na cara o que Lúcia faz


Nadine Helgenberger

Nadine Helgenberger Em: 19/10/2025 Autora da história
Lúcia é ardilosa e Sabrina ainda um bocado inocente…
Muito obrigada por comentar.
Abraço


Responder

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NovaAqui
NovaAqui

Em: 12/10/2025

Essa Lúcia é bem indigesta.

Mulherzinha inconveniente, insuportável, idiota

Tomara que Sabrina se mande para junto de Fedra


NovaAqui

NovaAqui Em: 13/10/2025
Estava aqui vendo o noticiário esportivo e vi que a Seleção de Futebol de Cabo Verde se classificou, pela primeira vez, para a Copa do Mundo de futebol. Não sei como vocês aí encaram o futebol, mas foi uma grande conquista
Quem sabe Brasil e Cabo Verde joguem numa partida na Copa
Parabéns por CV

Beijão



Nadine Helgenberger

Nadine Helgenberger Em: 19/10/2025 Autora da história
Lúcia é isso e um pouco mais e um prazer para a autora rsrsrs
Sabrina ainda precisa levar alguns sacodes até despertar para a vida.

Sobre CV na copa...menina que feito maravilhoso!!!! Aqui amamos futebol e desde criança eu tinha o sonho de ver CV na copa. Conseguimos!!!! Eu ainda estou em êxtase, eu e a maioria da população rsrsrs
CV-Brasil seria top ;)
Bjs e muito obrigada por sempre estares aqui.


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