Capitulo 19
A manhã após o tenso almoço de Henrique amanheceu com um céu limpo sobre São Paulo, um contraste gritante com a tempestade emocional que Chloe havia enfrentado. Ela acordou com a sensação estranha de ter dormido profundamente, algo que não acontecia há semanas.
Chloe tomou um café em silêncio, a mente ainda processando a intensidade da noite anterior. O ciúme que a pegara de surpresa, a confrontação de Lara, a quebra de suas defesas no apartamento, e aquele beijo... aqueles beijos. O corpo de Chloe ainda vibrava com a lembrança das carícias de Lara, da forma como seus corpos se encaixaram e da promessa de algo mais que ficou no ar. Ela sentia-se exposta, vulnerável, e ao mesmo tempo, uma nova curiosidade a movia. Lara conseguia ver através dela de uma forma que ninguém jamais havia conseguido.
Chloe ligou para o trabalho e avisou que iria tirar o dia de folga. Ela ainda não estava acreditando que tinha aceitado o convite de Lara, mas também sentia que iria enlouquecer se não parasse de pensar na cirurgiã que teria que fazer daqui poucos dias. E surpreendente, Lara tinha o poder de acalmá-la, de fazê-la esquecer do pesadelo que estava vivendo.
(---)
Às 14h55, Chloe já estava pronta, vestindo uma calça jeans clara, uma camiseta branca e um tênis confortável. Estava ansiosa, uma sensação que há muito não sentia. Precisava se distrair da sombra constante do câncer. Precisava de ar.
Pontualmente às 15h00, a campainha tocou. Era Lara, radiante em uma camiseta polo azul e calça, um sorriso largo nos lábios.
— Oi comandante! Pronta para a missão? — Lara brincou, seus olhos azuis brilhando com entusiasmo.
Chloe sentiu um sorriso genuíno brotar em seus lábios.
— Desde que você me diga o destino, sim.
Lara apenas piscou, um mistério divertido em seu olhar.
— É surpresa.
Elas entraram no carro de Lara, e a médica dirigiu por cerca de uma hora, saindo do centro da cidade e entrando em uma área mais afastada. Chloe começou a notar placas indicando Museu de Aviação e sentiu uma pontada de emoção. Lara a estava levando para um lugar que tocava sua alma.
O destino final era um espaço complexo que abrigava um grande acervo de aeronaves, desde modelos antigos até jatos modernos desativados, além de exposições interativas sobre a história da aviação. Chloe mal conseguia conter sua admiração.
— Lara, isso é... uau. — Chloe murmurou, os olhos percorrendo o salão principal. Ela estava fascinada. Seus olhos brilhavam como de uma criança.
— Eu sabia que você ia gostar. Pensei que seria um bom lugar para arejar a cabeça. — Lara disse, um calor no peito ao ver a reação de Chloe. A médica observava a ex-piloto com uma atenção discreta, notando o brilho nos olhos de Chloe, a forma como ela se movia com uma energia renovada.
Elas passearam pela exposição, e Chloe, em um ambiente tão familiar, começou a se soltar. Seu corpo tremia de excitação quando ela explicava detalhes técnicos das aeronaves para Lara. Em frente a um antigo avião de treinamento, com o painel de comando exposto, Chloe se empolgou.
— Olha, Lara. — Ela começou, apontando para os instrumentos. — Aqui é o horizonte artificial, ele mostra a inclinação e a rolagem da aeronave. Esse é o altímetro, mostra a altitude. E aqui, o velocímetro. É como o coração e o cérebro do avião. Cada agulha, cada mostrador, conta uma história sobre o voo.
Lara a ouvia com total fascínio, não apenas pelas explicações, mas pela paixão no olhar de Chloe.
— É incrível como você sabe tudo isso. Seus olhos brilham quando você fala de aviões.
Chloe sorriu, um sorriso genuíno e relaxado.
— É a minha segunda natureza. Para mim, voar sempre foi... libertador, mágico, minha segunda casa. — Ela parou, uma sombra passageira em seu rosto ao lembrar o que havia perdido.
Lara percebeu a mudança sutil em sua expressão e teve certeza que era hora de revelar o resto da surpresa.
— E essa, Comandante, não é a única surpresa. — Ela piscou. — Charles está nos esperando.
Chloe franziu a testa.
— Charles?
— Sim, o irmão do Benjamin. Ele trabalha aqui, no aeroclube anexo ao museu. Ele me deve um favor.
Lara as guiou para uma parte mais restrita do lugar, onde pequenas aeronaves e ultraleves estavam estacionados em um galpão menor. Um homem de meia-idade, com um uniforme de voo, sorriu ao vê-las.
— Lara! Sejam bem-vindas. E você deve ser a famosa Comandante Müller. Benjamin me contou sobre você.
Chloe apertou a mão de Charles, ainda confusa.
— Charles, essa é a Chloe. E a surpresa, Chloe, é que Charles vai nos levar para um passeio. — Chloe arregalou os olhos.
— Um passeio? Em um desses?
— E não só um passeio. — Charles interveio, com um sorriso. — Lara me contou sobre suas credenciais. Se quiser, Comandante, pode pegar o manche por um tempo. Com a minha supervisão, claro.
O coração de Chloe disparou. Pilotar? Depois de tanto tempo? A ideia era tentadora. Era como um pedaço de sua antiga vida, de sua identidade, que lhe era oferecido novamente.
— Eu... eu não sei se... — A dúvida e o medo habitual de sua nova condição quase a paralisaram. Mas então ela olhou para Lara. A médica a observava com um olhar de puro encorajamento
— Vai, Chloe. — Lara sussurrou, a voz apenas para ela. — Você sente falta disso. Eu sei.
E Chloe, impulsionada por aquele olhar e a súbita onda de desejo de voar, assentiu.
— Tudo bem. Eu topo.
Elas subiram em um pequeno monomotor, Charles no banco do piloto, Chloe no assento do copiloto, e Lara no banco de trás, com os olhos fixos em Chloe.
A partida do motor, a vibração familiar da aeronave, a corrida na pista e a súbita leveza quando o avião alçou voo... tudo era uma sinfonia para Chloe. Ela sentiu uma alegria pura e indomável que havia esquecido que existia.
Com Charles ao seu lado, Chloe assumiu o controle. Suas mãos encontraram os comandos com uma memória muscular impressionante. Era como se nunca tivesse parado. Ela voou, sentindo o vento, as nuvens, a vasta extensão do céu. Chloe achou que nunca mais conseguirá sentir a sensação de voar novamente, por alguns minutos era como se nada mais na sua vida importasse. Ela estava livre e se sentia em paz. Lara, no banco de trás, estava fascinada. Não pelo voo em si, mas pela transformação de Chloe. Ver a mulher que ela amava em seu lugar favorito, sorrindo abertamente, os olhos brilhando com uma felicidade genuína e selvagem, era algo que a deixou sem fôlego. Chloe era linda em terra, mas no céu, pilotando, ela era transcendente.
O voo durou mais de uma hora. Ao aterrissarem, Chloe desceu da aeronave com uma euforia que raramente sentia. Ela abraçou Charles em agradecimento e depois se virou para Lara, os olhos marejados de gratidão.
— Lara, eu... eu não sei o que dizer. Isso foi... foi incrível. A melhor surpresa de todas.
— Que bom que gostou, Comandante. — Lara respondeu, um sorriso suave, mas profundo. Ela sabia que tinha atingido um ponto vulnerável em Chloe, um lugar de pura paixão e alegria. A ex-piloto estava se abrindo, e isso era tudo o que Lara queria.
(---)
Ainda com a euforia do voo, Lara dirigiu para o apartamento de Chloe. No caminho, a médica fez um desvio rápido, parando em um restaurante.
— Espera aqui. — Lara disse, um sorriso enigmático. Ela voltou alguns minutos depois com sacolas.
Chloe não ligou muito, mas percebeu que as embalagens indicavam comidas leves: salada de quinoa, peito de frango grelhado, sopas de legumes. Lara, sem que Chloe soubesse, estava cuidadosamente escolhendo pratos que fossem bons para a saúde de Chloe, já afetada pelo câncer e pelo tratamento. A médica agia com uma naturalidade que impedia Chloe de desconfiar, vendo apenas a preocupação atenciosa de Lara.
No apartamento, enquanto preparavam o jantar rápido, uma atmosfera de intimidade e leveza pairava no ar. As defesas de Chloe estavam mais baixas do que nunca. O dia havia sido uma fuga perfeita da realidade dolorosa.
Enquanto comiam na bancada da cozinha, Chloe começou a falar, algo raro para sua natureza reservada.
— Quando eu era criança. — Chloe começou, a voz suave, olhando para o nada como se revisitasse suas memórias. — Eu e Henrique costumávamos construir aviões de papel no quintal. Eu era a engenheira e ele, o decorador. —Ela riu, uma risada nostálgica. — A gente sonhava em voar juntos. Ele sempre fazia o que eu mandava, sabe.
Lara a ouvia atentamente, um sorriso caloroso nos lábios.
— Ele parece te amar muito.
—E eu também o amo. — Chloe continuou, um brilho de tristeza em seus olhos. — Ele não entende por que eu larguei a aviação. Ninguém entende. Mas eu não os culpo, sempre respirei a minha profissão. É confuso para todos a minha saída.
Lara segurou a mão de Chloe sobre a bancada, o polegar acariciando a pele.
— Talvez ele não entenda os seus motivos, mas ele se importa. E isso é o que importa. Assim como eu me importo. — Lara a olhava nos olhos, uma conexão profunda se estabelecendo. — Você não precisa carregar tudo sozinha, Chloe.
Chloe sentiu as palavras de Lara atingirem seu peito. Era a coisa mais próxima de uma confissão de vulnerabilidade que ela permitia. Ela olhou para os olhos azuis de Lara, o calor de sua mão. A gratidão, a admiração, e aquele desejo que queimava dentro dela, tudo se intensificou. Ela não conseguia mais negar. Não conseguia mais se segurar. Ela queria contar para Lara os seus motivos, queria dividir com Lara as suas frustrações e medos, mas não seria justo com a médica. Era como cair de paraquedas no meio de um bombardeio.
(---)
Terminado o jantar, elas se moveram para o sofá da sala, uma atmosfera densa de desejo pairando no ar. A conversa havia deixado um rastro de vulnerabilidade e conexão, e a tensão sexual era quase palpável.
Lara estava assistindo a televisão enquanto saboreava uma taça de vinho. Ela ria das interações do filme de comédia. Chloe não conseguia tirar os olhos da mulher doce e gentil. Era como se Lara tivesse o poder de desarmá-la. Chloe já tinha perdido a conta de quantas vezes tinha sonhado com os beijos de Lara. Em seus sonhos a mais nova tinha a respiração acelerada e seus corpos se amavam até o amanhecer. Esse desejo íntimo e secreto consumia os pensamentos de Chloe, mais uma vez, ela queria experimentar o gosto dos lábios de Lara.
Chloe não esperou. Impulsionada por uma necessidade incontrolável, ela se inclinou sobre Lara, seus olhos fixos nos da médica. Chloe segurou a cintura de Lara e a puxou para junto de si tirando a taça das mãos de Lara e colocando na mesinha ao lado. A ruiva que estava ciente da mais velha a observando, enlaçou seu braços ao redor do pescoço de Chloe. Elas ficaram se encarando por alguns segundos até que Chloe a beijou.
Não foi um beijo de descoberta, mas de entrega. Os lábios de Chloe eram famintos, urgentes, buscando os de Lara com uma paixão que surpreendeu a médica. Lara retribuiu com a mesma intensidade, suas mãos subindo para enredar nos cabelos negros de Chloe, puxando-a para mais perto, o beijo aprofundando-se em uma dança de desejo.
As mãos de Chloe deslizaram pelas costas de Lara, sentindo os músculos sob a camisa, descendo até a barra e puxando-a para fora da calça. Lara gem*u em sua boca, a resposta inflamando ainda mais Chloe. Os beijos desceram pelo pescoço de Lara, explorando cada centímetro de sua pele, enquanto as mãos da médica desabotoavam apressadamente a camisa branca de Chloe, revelando a pele macia.
O ar entre elas tornou-se denso, pesado com a respiração ofegante e os sussurros inaudíveis. Os corpos se moviam num ritmo próprio, uma sinfonia de toques e sensações. As bocas se separavam apenas para buscar mais ar, os olhos se encontrando por um instante, revelando o desejo bruto e inegável que as consumia.
— Chloe, se formos além não vou conseguir me controlar. — Lara que sempre tinha o domínio da situação, se via perdida nos toques ousados da mais velha.
— Não se controle. — Era tudo o que a médica precisava ouvir. Chloe queria e ela daria tudo o que a piloto precisava.
As mãos de Lara traçaram a linha da coluna de Chloe, descendo e subindo, até que o corpo da ex-piloto se arqueou em resposta. Chloe rasgou a distância restante, o peso de seu corpo pressionando o de Lara no sofá, suas pernas entrelaçadas. Os beijos se tornaram mais ferozes, as línguas explorando cada canto da boca uma da outra, as mãos ávidas, buscando cada curva, cada músculo. As roupas eram um obstáculo a ser superado.
Os gemidos eram abafados pelos beijos profundos, a excitação subindo em ondas. Lara se entregava completamente, guiando Chloe com as mãos firmes em sua cintura, cada movimento um convite para mais. Chloe, pela primeira vez em muito tempo, sentia-se viva, completamente entregue ao prazer, esquecendo-se de todas as dores e medos.
O sofá, testemunha silenciosa de suas emoções conflitantes, agora era o palco de uma explosão de desejo. Seus corpos ainda vestidos se contorciam, buscando o máximo de contato, de fricção. As respirações eram ofegantes, os corações batiam descompassados.
Lara, com um gemido abafado, virou Chloe, ficando por cima, seus olhos fixos nos da ex-piloto, cheios de paixão. Ela se inclinou para um último beijo profundo, antes de sussurrar contra os lábios trêmulos de Chloe.
— Vamos para o quarto.
Chloe assentiu, incapaz de falar, o corpo em chamas, o olhar fixo no de Lara. A médica se levantou, puxando Chloe gentilmente pela mão. Sem quebrar o contato visual, ou a tensão palpável entre eles, elas se moveram, como se flutuassem em um sonho, em direção à escuridão convidativa do quarto. O som de seus passos era o único som, abafado pela urgência do desejo que as esperava.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]