Capitulo 6
FLÁVIA RIBEIRO
No caminho para o restaurante, contei para os meus amigos sobre minhas intenções de reformar a minha casa e construir mais cômodos. Eles apoiaram a ideia e me ofereceram ajuda.
— Nem acredito que você vai casar daqui há dois meses. — Rick foi quem falou.
— Às vezes, nem eu acredito que minha vida deu uma virada de 360 graus. Quem imaginaria que eu estaria loucamente apaixonada por uma mulher, ainda mais uma pessoa pública como a Elisa.
— Sim, eu lembro muito bem que ela penou para te conquistar. — Falei.
— É, amiga, você sempre foi uma mulher rápida e prática, mas com a Elisa você foi muito lerda. Desculpa dizer. — Rick disse.
— Vocês, hein. Não posso falar nada que já estão defendendo a Elisa e me acusando. — Soph fez drama.
— Ai, amiga, vocês são lindas juntas, perfeitas uma para a outra. O importante é que você se permitiu e hoje está aí super feliz e pronta para dar mais um passo na relação. — Era óbvia a conexão entre as duas.
— Obrigada, Flávia. Está vendo, Rick? Algumas pessoas me dão moral.
— Eu estava brincando, amiga. Cadê o seu senso de humor? — Ele não perdia a oportunidade de implicar com Sophie. Desde o início da amizade, eles se tratavam como irmãos.
O nosso pedido chegou. Entre brincadeiras e fofocas, comemos o nosso almoço, até que o foco da conversa se centralizou em mim. Eu amava os meus amigos, mas odiava o quanto eles eram intrometidos.
— E você, Fla, não arrumou nenhum africano sarado e gostoso para chamar de seu? — Rick, sempre indiscreto.
— É verdade, queremos saber de tudo. Como está a sua vida amorosa? Já conheceu a pessoa que vai virar o seu mundo de cabeça para baixo?
Sem querer, o nome de Renata veio à minha mente. Não porque eu gostasse dela, mas porque ela sim, tinha virado a minha mente de cabeça para baixo. A maneira como ela entrou na minha vida e já foi logo reivindicando espaço. Aquela mulher não sabia ser discreta e precisou mexer onde não tinha permissão para se sentir satisfeita. Eu nunca a perdoaria por revirar o meu passado daquela forma.
Os meus amigos não sabiam de nada do que Renata fez, mas eu suspeitava que Elisa sabia, ela e Renata eram próximas. A única coisa que Soph e Rick sabiam era que o investigador descobriu onde minha mãe biológica morava e alguns outros detalhes sobre a minha família.
— Eu estava trabalhando na África, não fui para curtir ou pegar ninguém. — É óbvio que teve algumas pessoas, mas nada que passasse de uma noite. Eu não iria contar aquilo, pois seria combustível para os dois me interrogarem.
— Por favor, Flávia, foi um ano. Você vive no celibato agora? — Rick era péssimo, mas me fazia rir.
— É óbvio que não, mas não foi nada importante. O meu foco estava no projeto, nas crianças e na minha carreira.
— Amiga, você não pensa em conhecer alguém e, sei lá, pelo menos namorar para ver como é? — Soph perguntou.
— Se acontecer, tudo bem, mas não me vejo compartilhando a minha vida e o meu passado com ninguém. — Falei a verdade.
— Mas no ano passado você ficou bem próxima da Renata. Não vai me dizer que não percebeu a maneira como ela te olhava?
— Rick! — Soph o repreendeu.
Eu sabia que em algum momento esse assunto viria à tona. Não sou hipócrita de dizer que não percebi nada. Renata era bem transparente; eu sentia o seu interesse por mim, mas quando percebi que ela estava muito próxima e acessando mais da minha vida do que todos do meu convívio, me afastei. Se não tomasse cuidado, Renata iria tomar tudo de mim, e eu não queria que ninguém me conhecesse a ponto de ver o quanto a minha postura de forte e resiliente era apenas uma fachada para proteger a garotinha abandonada e solitária que ainda estava aqui.
— Mas é verdade, Soph, todo mundo viu. Essas duas estavam grudadas e de repente pararam de se falar. O que aconteceu, Flávia?
— Não precisa contar se não quiser, amiga. — Soph disse.
— Olha, eu sabia dos interesses da Renata, mesmo que ela nunca tenha me falado diretamente. Quando percebi, me afastei. Foi só isso.
O que ninguém sabia é que eu fiquei com medo porque estava começando a me atrair por ela.
— Você não sentiu nada por ela? Porque a Renata é muito linda, tenho certeza que ela consegue conquistar quem quiser. — Henrique e a sua mania de exaltar mulheres.
— Você está enganado, eu não senti nada.
— Sério? A Elisa jurava que vocês iriam se beijar em pouco tempo. Até fizemos uma aposta. — Fiquei chocada com aquela revelação, ao mesmo tempo em que lembranças de um quase beijo me atingiram.
Quando Soph passou por uma cirurgia e eu estava na cantina do hospital, Renata me consolou. Depois conversamos um pouco, ela queria saber por que me afastei. Não tive coragem de contar a verdade, que ela me desestabilizava e me fazia sentir coisas que jamais senti antes. Tentei fugir daquela conversa, mas Renata não desistiu e me segurou. Se não fosse a Lara nos interromper, acho que ela teria me beijado. Mas isso foi antes de ela mexer no meu passado, como se fosse uma série de televisão. Tudo que eu conseguia sentir por ela, agora, era raiva.
— Então, a Elisa perdeu, porque entre mim e a Renata não aconteceu nada. — Falei séria, tentando convencer a mim mesma de que o que Renata fez foi o suficiente para apagar qualquer faísca que eu já tivesse sentido por ela.
Não tinha como nutrir sentimentos por uma pessoa que invadiu a minha privacidade e escondeu coisas importantes de mim.
@escritora.kelly
Fim do capítulo
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