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Depois eu te conto... por Nadine Helgenberger

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Palavras: 4173
Acessos: 935   |  Postado em: 14/08/2025

Capitulo 4

 

Depois do banho gelado e de algum tempo organizando as minhas ideias, fui relaxar um pouco na varanda da sala da Glória. Dela, nem sinal, mas com a fúria sexual com que se despedira de nós, só regressaria de manhã. Sorri ao pensar que adoraria ter o desprendimento dela para muitas coisas. Não sou exatamente a pessoa mais apegada, aliás, ultimamente o que mais ouço é que não me apego a nada. Puro instinto de sobrevivência. A última vez que inventei de mergulhar fundo quase me perdi no mais sombrio e nefasto oceano de emoções perigosas.  Ainda que me considere vacinada contra ciladas, não tenho o desprendimento da minha amiga. Ás vezes me perco em fantasias...raridade, mas acontece e eu queria ser totalmente desapegada. Ah se tivesse um whisky agora...adoro devanear com doses de um bom whisky. Nem adianta procurar, aqui só vou encontrar cerveja. Depois de algum tempo de pensamentos aleatórios, dei-me conta que eram subterfúgios para não pensar no que acabara de acontecer. Nada de especial, claramente, mas achei inusitado o fato de me conectar tão bem com a Fedra depois de tantos anos. Nesses quase 10 anos sem contato algum, já estive na Praia inúmeras vezes, mas nunca calhou de nos encontrarmos. Eu não fiz nenhum esforço para que tal acontecesse, mas não me pareceu importante. A verdade é que a minha vida mudou tanto que eu perdi algumas conexões. De repente minha mente foi dar umas voltas num passado que parecia de outra pessoa...era difícil me reconhecer naquela mulher cheia de sonhos, que se apaixonava perdidamente por pessoas e causas, que tinha anseios, medos e ao mesmo tempo uma coragem vivaz.

            -Ei, acorda mulher!

Levei um susto com a presença de Glória encostada à porta que separava a sala da varanda.

            -Acho que estava presa em devaneios...- Sorri.

            -Não tenho dúvidas. Entrei, já tomei banho, já falei sozinha - Rimos - e nada de me notares. Muitas coisas boas para contares a essa amiga ávida por uma boa novidade?

            -Eu? Quem deve estar cheia de novidades és tu.

            -Ah mulher, acreditas que não aconteceu nada?

            -Nada?

            -Ah, nada de especial. Depois de um jejum de meses, eu queria muito sex* e pouca conversa. Adivinha?

Fartei-me de rir ainda mais com a expressão de impaciência da Glória.

            -Sabes o que eu penso, que nessa fase da vida, quando já não somos jovens fogosas, uma boa conversa pode resultar em verdadeiros milagres.

            -Meu Deus, tu falas como se fossemos anciãs sem qualquer desejo. Eu não quero saber de conversa, quero orgasmos e múltiplos se não for pedir muito.

Eu não parava de rir na madrugada.

            -Tu e a Fedra é que têm essa mania de conversa...longas conversas. Mulheres maduras gostam de uma boa conversa, ah parem com isso. E por falar em conversa, o que tanto conversaram? E as risadas?

            -Tu conseguiste prestar atenção nisso tudo? Parecias tão entusiasmada com os teus rapazes. - Ri alto.

            - E estava, mas o vosso entrosamento saltou-me aos olhos, ainda mais que não se viam há bastante tempo. Olha que eu não via a Fedra assim há bastante tempo...

            -Como?

            -Rindo às gargalhadas, completamente entregue ao momento...

            -Hã? Juras que percebeste isso tudo? Oh Glória exagerada...já fomos muito amigas, é normal...ou não?

            -Já foram muito amigas, a senhora já morreu de amores por ela, naquela época que insistia em amores impossíveis - Muitas gargalhadas - apesar de ser uma adulta de mais de 30 anos. Ah como vocês adoram perder tempo...

            -Isso foi há tanto tempo e não morria de amores por ela...ela me intrigava, tínhamos uma vibe parecida...ela era atraente, bonita...e tu fizeste questão de berrar isso aos quatro ventos. Desnecessário, dona Glória.

Risos.

            -Ninguém ligou! Isso foi em outra vida, quando ainda não tinhas excluído as héteros do teu leque de opções e a Fedra, além de absolutamente hétero, é comprometida. Esse namoro dela é meio esquisito e acho que ela merece coisa melhor, mas é o que é.

            -Ela não está disponível e nem eu. A romântica por excelência não precisa perder tempo com fantasias, aliás, como é que uma alma romântica como a tua, pode ser tão...como direi?

            -Pegadora! Pego mesmo e numa dessas, encontro o amor da minha vida. Parada em casa é que não vou encontrar nada.

Risos altos na madrugada.    

            -Os teus vizinhos vão chamar a policia!

Mais risos.

            -A maioria toma remédio para dormir, não acordam nem com alarme de incêndio. Quais foram os temas sobre os quais as senhoras se debruçaram?

Eu ri, mas eu ri tanto. As expressões dessa doida e as mudanças repentinas de tom e de assunto eram hilárias.

            -A Fedra é muito engraçada e tem boa memória...passamos o tempo a lembrar de quando eramos as rainhas das noites da capital.

            -Tempo em que eu estava gravida, casada, chata, tu não tinhas paciência para mim e eu nem era amiga da Fedra.

            -Oh meu deus, quanta carência. Não combina contigo. - Rimos muito.

            -Eu me aproximei muito da Fedra e posso dizer sem qualquer dúvida que ela é uma das minhas melhores amigas.

            -É agora que devo cortar meus pulsos com ciúme? - Rimos alto.

            -Como se fosses ciumenta e me ligasses a esse ponto. Ah Sabrina, tu só tens tempo para aquelas chatas de Mindelo e analisando bem, tu ultimamente só falas da tal Lúcia que é uma antipática profissional.

Gargalhadas.

            -Tu sabes como sou...mas tenho me esforçado para melhorar e acho que também sabes que eu sou completamente apaixonada por ti.

            -Hum-hum, mas voltando à Fedra, gostei muito de vê-la tão feliz, rindo...livre.

            -Mas ela sempre foi assim...ou não? - Franzi a testa, algo me escapava?

            -Não te contei?

            -O quê? - Glória gostava de contar tudo, mas provavelmente essa fofoca tinha-lhe escapado.

            -Ela teve câncer há uns 3 anos...pouco depois de nos tornarmos mais próximas.

Engoli em seco e tive alguma dificuldade em processar aquela informação. Eu tinha pavor de doença, mas câncer me deixava petrificada.

            -Câncer de quê?

            -De mama. Foi um período muito duro. Ela está em remissão, mas acho que existe sempre o medo que volte. Ela tem momentos muito introspetivos e de alguma tristeza, mas também não é para menos. Eu fiquei tão feliz em vê-la tão solta, rindo, com vontade de estar com as amigas...ultimamente não tem sido assim...

            -Eu não notei nada de diferente...- De repente senti-me estranha.

            -Claro que não! Ela estava exalando alegria e ainda bem. Não me entendas mal, ela não tem vivido apagada por causa da doença, mas há momentos em que é visível que algo a atormenta.

            -Mas ela já não está curada? - Realmente meu conhecimento sobre o assunto não era dos melhores.

            -Aparentemente, mas está no período em que a doença pode voltar. Acho que ela ainda está em tratamento...não pergunto muito sobre o assunto porque tenho receio de cometer alguma gafe imperdoável. Ela tem dias muito introspetivos...às vezes fico semanas sem saber dela e trabalhamos em prédios contíguos e sempre tomamos um chá, ou um drink no final do dia.

            -Hoje ela estava num dia bom...- Só conseguia lembrar das provocações dela e do sorriso, ah e dos olhos...enormes, lindos e que sim, escondiam alguma tristeza...

            -Ela estava num dia excelente. Eu podia jurar que estavas a lançar o teu charme para cima dela e que as coisas estavam bem encaminhadas.

            -Que coisas? Que charme? Tu estás doida? Esqueceste que sou tímida?

            -Passiva-Agressiva...bem agressiva, se bem me lembro.

Gargalhadas de nos faltar ar.

            -Ah, ela poderia ser feliz contigo, nem que fosse por alguns dias...

            -Ela não tem cara de quem está infeliz e para de ser doida. Eu já vou embora para casa e a única coisa que quero da Fedra, é amizade. O retorno de uma bela amizade.

            -Que pode ter algumas cores.

Risos.

            -Pareces ter 16 anos...criatura estamos na metade dos quarenta.

            -E daí? Eu só vou desistir de ser feliz no dia da minha morte e que com fé em todos os meus santos, está bem longe. Poderias voltar para cá.

            -Jura? - Nem sei como ainda me espantava as loucuras daquela cabeça e as mudanças de tema de forma abrupta.

            -Claro! Fazer a Fedra rir, ficar leve...tiveste a prova que consegues fazer isso sem nenhum esforço.

            - Meu Deus é cada uma que sai dessa boca...tu não tens um pingo de juízo, Glória.

            -Até parece que seria uma ideia tão estapafúrdia. Quem aguenta a pasmaceira de São Vicente? Tudo bem que há as praias que tu adoras, a calmaria que a senhora finge gostar, deve ter uma mulher ou outra dessas que pegas por umas duas noites e depois não queres mais saber...ah, pelo amor das Deusas.

            -Sem contar no meu trabalho que adoro, nos meus alunos, na minha casa, na minha rotina maravilhosa, nos meus amigos...enfim, não há nada em São Vicente que me prenda, nada...vou dormir e deverias fazer o mesmo.

Rimos às gargalhadas.

            -Combinaste alguma coisa com a Fedra?

            -Não, senhora.

            -Eu acho que ela gostou de estar contigo...

            -Se gostou, ela que ligue.

            -Que mulher mais chata, cruzes.

Risos.

            -Ao menos trocaram números?

            -Não, mas sei que vais fazer questão de lhe dar o meu número...

            -O dela não mudou desde aquela época...quem sabe ainda o tenhas...

            -Boa noite e vê se para de fumar. Perdi as contas de quantos a senhorita fumou enquanto tagarelávamos.

            -Nem sei como não brigaste. Chata!

            -Boa noite, Glória. - Beijei-a na testa e fui para o quarto.

 

***

 

O silêncio do quarto que anteriormente fora um bálsamo para a minha sanidade, nessa noite causava-me alguma confusão. A culpa nem era do silêncio, mas do barulho dentro da minha cabeça. De repente algumas coisas passaram a fazer sentido...o olhar perdido, longos silêncios, uma névoa no olhar em alguns momentos. Há quanto tempo eu não prestava tanta atenção em pequenos detalhes? Parecia coisa da minha cabeça, ou então eu já não me lembrava mais quem era a Fedra. Mas eu sei o que vi, sou muito observadora, ou pelo menos já fui. Câncer, só de pensar nisso eu já fico angustiada. Mas ela estava bem, pelo menos fisicamente era o que aparentava. Instintivamente peguei no meu telefone e fixei a letra F, lá estava o número dela. Escrevi uma mensagem no impulso, mas minha sensatez me freou. Ia dizer o quê? Nada sobre o câncer, claro. Mas qualquer coisa me pareceu sem sentido. Rolei na cama até que vencida pelo cansaço, adormeci.

 

***

Meu domingo foi de puro deleite e uma sensação clara de estar de férias. Acordei cedo e aproveitei que a Glória ainda dormia, e saí rumo à praia de Kebra Kanela. Andei de caiaque, fiz paddle, tomei sol, deliciei-me com fresquinhas de tambarina e calabaceira e deixei meus pensamentos flutuarem sem qualquer direcionamento. Ah, como eu gosto desses momentos. Não percebi as horas passarem e nem tive fome, mas é normal esquecer de comer quando me entrego às delicias do sol e do sal na pele, na alma...delírio total. Fui chamada à realidade por um telefonema da Lúcia. Ah, fui tentada a rejeitar a ligação, mas conhecendo a insistência dela...

            -Quando voltas? Já estamos ansiosos. Temos muito trabalho pela frente...

Trabalho? Será que ela reconhecia a palavra férias? Curtas? Sim, mas ainda assim, férias.

            -Estou no mar!

            -Tarrafal?

            -Não...Kebra.

            -Credo! Eu não consigo entender como tens paciência...novidades?

            -Nada de especial. Tenho aproveitado para descansar.      

            -Numa casa que tem uma criança de 9 anos? E aquela tua amiga que fala pelos cotovelos? Ah, sabrina, volte para casa que descansas mais.

A Lúcia e essa mania de ditar as regras todas, de aparentemente saber mais da nossa vida do que nós mesmos. De certa forma eu gosto disso, às vezes poupa-me algum desgaste...

            -Volto na terça à noite. Já tenho saudades...

Em partes era verdade, mas eu estava muito bem na Praia e nem podia ser diferente, sempre fui muito feliz aqui.

Mais tarde, fui me encontrar com a Dúnia, amiga de longa data e com quem não falava há bastante tempo. Culpa minha, claro, mas o bom é que todas parecem relevar esse meu desprendimento nas relações. Que vida agitada que ela tinha ou a minha que seria pacata demais? Ela tinha dois filhos do primeiro casamento, mais uma enteada do segundo casamento, trabalhava como funcionária pública para o Governo, tinha uma loja de bijuterias com uma amiga, era atleta de corrida, mantinha uma aparência impecável e ainda tinha tempo para estar comigo. Tudo bem que ela não tirava os olhos do telefone. Muita demanda como quase sempre se justificava e com sorrisos joviais. Ela era mais uma que abordava vários assuntos sem qualquer pausa.

            -Já falei muito sobre a minha vida, projetos, loucuras e tu, o que contas? Muito trabalho?

            -Muito! Sabes, para uma freelancer tenho que dar meus pulos, mas não tenho do que me queixar. - Não era absolutamente verdade. Tinha meus momentos mais tensos, mas graças ao trabalho no projeto da Lúcia, podia respirar mais aliviada. Escolhi tomar as rédeas da minha vida profissional e estava disposta a pagar o preço.

            -Como ela é modesta...deves estar milionária. Ai quem me dera poder me dedicar apenas aos meus projetos. Fui inventar de parir muito...

Rimos muito do exagero dela.

            -E as delícias da vida? Continuas a ser o terror das mulheres bonitas?

Quase soltei um quem me dera, mas controlei o impulso. Ela não precisava saber que depois da minha última desilusão monumental, eu apenas mantinha alguns encontros sexuais para não perder a pratica.

            -Que exagero! Mas digamos que na minha horta não falta chuva...

Mais uma sonora gargalhada.

            -Estás muito bonita, Sabrina. Sei lá, tem um quê de mistério na tua aura...mais madura, talvez...

            -Obrigada, amiga. Mas há tanta coisa que poderia estar melhor...trabalho demais e não piso num ginásio. Estou com uma leve inveja dos teus ombros torneados.

Rimos muito.

            -Amor, todos os dias, faça sol ou chuva, tenho meu personal às 6 da manhã, sem contar a corrida que faz verdadeiro milagre no físico.

            -Eu corro na marginal quando dá e faço pilates de aparelho...quando dá.

            -Sexo é um excelente exercício, não precisas de mais nada. A tua pele de pêssego denuncia muita liberação de toxinas no suor.

Ah, como eu queria liberar toxinas assim, mas fiz questão de sorrir como quem concorda com tudo.

            -Sabrina, não imaginas o que o meu filho mais velho inventou agora...

E lá começou mais um assunto cheio de entusiasmo. Confesso que saí daquele encontro levemente ansiosa e com os pés querendo flutuar. A Dúnia sempre gostou de uns bons drinks e acho que me deixei influenciar pelos gins maravilhosos.

Fui para casa de táxi porque minha amiga multifacetada teve que buscar um dos filhos não sei onde e mais cedo do que era previsto. Quase chegando em casa meu telefone vibrou nas minhas pernas e meu coração deu um estalo. Era uma mensagem da Fedra. Respirei fundo antes de abrir e justifiquei minha atitude com os gins a mais...

Até quando ficas cá?

Sim, meu coração sobressaltou-se. Demorei algum tempo a responder, não fosse me achar ansiosa ou carente.

Regresso na terça à noite.

Bom resto de domingo.

Só isso? Bom resto de domingo? Não tinha qualquer cabimento, mas eu queria mais. Queria que ela me chamasse para fazer alguma coisa. Eu gostava de rir com ela. Gostava das provocações dela...eu tinha adorado nossa aventura da noite passada e pensava que...ah, culpa do gin.

 

***

            -Ei, estás muito ocupada? - resolvi invadir o escritório de Glória pois já não aguentava mais lidar com meus pensamentos desconexos.

            -Criatura, já voltaste? -Girou a cadeira numa rapidez que se fosse eu teria ficado tonta. - Eu aqui doida para conversar e achando que ainda estavas na borga. Estou tão acostumada com a confusão natural desta casa que não escuto nada quando é discreto.

            -Cheguei há mais ou menos meia hora...não queria atrapalhar o teu trabalho, mas estou entediada. - Desabei no sofá e ela riu alto.

            -Tentando concluir esse bendito relatório, mas cansei. Me acompanhas numa cerveja?

            -Nem pensar! Já bebi pelo mês todo.

            -O quê Sabrina? Um gin? Uma caipiblack?

            -Dois gins e um cálice de grogue velha. Chega!

            -Oh, que drama! Vou tomar uma cerveja. Queres combucha? Água?

            -Água com gelo.

Sentámos na cozinha dela que era o meu lugar favorito da casa.

            -Ficaste esse tempo todo em casa?

            -Fui levar algumas coisas à Maria Luísa porque o senhor meu ex marido é um desligado da realidade e essa menina nunca tem nada quando está com ele e depois enfiei a cara no computador. Ah, levantei depois do meio dia porque também sou filha de Deus.

            -Claro! - Sorri. Adorava as particularidades da minha amiga.

            -Esse relatório era para ter sido enviado na sexta, mas preferi sair com as minhas amigas queridas e agora...ossos do oficio.

            -Estou de férias, que delícia. - Vangloriei.

            -De férias e não aproveitas para dar viço à pele? Pelo amor de Deus...

            -Tu só pensas nisso?

            -Melhor do que tu que nunca pensas.  E a Fedra?

            -O que tem? - Mordi o lábio. Aquela frase displicente não saía da minha cabeça.

            -Sabrina, tinhas muito tesão por essa mulher.          

-Tirando um pouco do teu exagero nato, sim, me sentia atraída por ela...há 10 anos. Esse detalhe tem alguma relevância?

Rimos muito.

            -Se pensar bem, naquela altura, a cada semana, tinhas uma paixão diferente e quase todas mulheres que claramente não estavam disponíveis, ou por não serem lésbicas, ou por estarem comprometidas.

Eu não parava de rir. Lembranças boas invadiam a minha mente.

            -Cheguei a pensar que tu não eras lésbica porcaria nenhuma e escolhias essas mulheres difíceis exatamente para não se envolver.

            - Qual é a lógica desse teu raciocínio? Meu amor, eu sou lésbica sim e não tenciono mudar isso até o último dia da minha vida. O que acontece é que adoro uma dificuldade...coisas fáceis nunca me atraíram.

            -Bandida! E ainda tem esse mel, essa coisa sei lá... As pobres incautas caem de amores e tu...

            -O que eu já sofri por me apaixonar por gente errada...ah minha amiga...

            -Eu só me lembro da gostosa que tinha o marido e que te enrolava...

            -Valeu por cem.

            -Bom, a Fedra eu sei que está salva. Além de hétero, ela não parece ter nenhum interesse que resvale na tua cama.

            -Se bem me lembro, somos amigas há mais tempo e, no entanto, só te preocupas com ela...ainda bem que minha autoestima está em alta.

Gargalhadas altas.

            -Caso te sirva de consolo, a Fedra é apenas uma boa amiga com quem adoraria estreitar ainda mais os laços...de amizade.

            -Estou a provocar-te e eu sei que sabes disso. Imagina se a paixão louca que tinhas por ela sobreviveria a tantos anos.

Rimos muito.

            -Logo eu, com essa minha fama de desapegada. - Ironizei para mais uma gargalhada.

            -Não é fama, é fato consumado. Já agora, não combinaste nada com ela?

            -Mulher, até para ti, um pouco de coerência faria algum sentido.

Mais gargalhadas.

            -Convite de amiga. Ontem estavam tão...nem sei ao certo o que foi aquilo.

            -Duas pessoas que outrora se deram bem e cujo reencontro provou que o tempo não esvaneceu a conexão.

            -Eu fico feliz! Sabes que sou a doida que quer ver todo mundo junto e formar uma bolha de amor.

Beijei-a e nos apertamos num abraço. Como era bom estar com a Glória...

            -Vou trabalhar! Tu estás de férias, mas eu se não enviar a porcaria do relatório até à meia noite, perco meu trabalho de sonho e meu salário maravilhoso. - Mais um rompante de Glória e eu me senti feliz. -Tenho uma filha para criar, casa para pagar, meus luxos todos e ainda preciso economizar para as plásticas todas.

            -Maluca! - Gritei rindo alto.

***

Acordei cedo e aproveitei para tomar café em silêncio e sem pressa. No meu dia-a-dia, eu desfrutava sempre do silêncio na primeira refeição, mas quase nunca com a calma adequada. Os passarinhos já estavam empoleirados nas arvores do pátio do prédio e o som do chilrear era um deleite para os meus sentidos. De olhos fechados, saboreei meu café e a paz. Tive uma sensação de relaxamento tão profunda que foi com alguma dificuldade que abri os olhos. Já era possível ouvir os barulhos característicos de Glória pelo apartamento. Sorri, era bom estar com ela. Muito bom.

            -Estás de férias, para quê levantar tão cedo? Eu desisto de te entender, mas obrigada por cuidar de mim. Que mesa linda! Bom dia, Sá!

            -Bom dia, meu bem.

            -Planos para hoje? Vais mesmo embora amanhã? Posso tentar mudar-te o voo?

            -Vou embora amanhã! - Não tinha nada de muito importante para fazer, mas a Lúcia não cansava de buzinar no meu ouvido que precisava de mim e não queria frustrá-la...

            -Não me pareces muito convicta. Teus olhos estão com ansia dessa vibe da capital e eu me incluo nisso.

            -Doida! Preciso trabalhar. E por hoje, acho que já não me vês...

            -Sério? Tenho jantar com a Tânia e a mãe dela e já estavas nos meus planos como minha convidada.

            -Meu bem, vou ao Tarrafal mais tarde e devo pernoitar por lá.

            -Ah, nem me atrevo a competir com a tua paixão por Tarrafal. Eu sei o quão renovada voltas de lá. Mas amanhã, serás toda minha até à hora do voo.

            -Toda tua!

            -Não precisas correr para lavar essa louça do café. A Salma está de volta, graças a Deus. Que ela não me ouça, mas minha vida é um caos sem a ajuda dessa mulher.

            -Mas não vi ninguém por aqui...

            -Ela é pontual e começa a trabalhar às 8:30. Hoje excecionalmente, pedi que viesse lá pelas 9, para não te incomodar. Mas para quê, se em plenas férias às 7hs já perambulavas por aí?

Lancei-lhe meu sorriso de menina inocente. Sempre funcionava.

            -Ah, vá à merd*, Sabrina. Por isso que essas pobres não te resistem.

            -Amém! Que esse harém se manifeste em minha vida! - Ergui as mãos para cima e rimos muito.

***

Ouvia as histórias de Salma com entusiasmo, quando um lembrete no telefone me trouxe de volta a uma realidade que não precisaria existir. A pedido de Lúcia, ia me encontrar com uma amiga dela que eu não conhecia, para pegar uma encomenda, e a mulher sugeriu que almoçássemos juntas e eu aceitei. Ah, estava de férias, não custava nada. Mas ao pensar com clareza, percebi que perderia algumas horas no Tarrafal. Mas já não havia voltas a dar.

            -Más notícias? - Perguntou Salma às voltas com a louça daquela casa que parecia se reproduzir.

            -Lembrete de um compromisso para o almoço...não estou muito animada.

            -Ah, que pena. Pensei em fazer o peixe que a senhora gosta.

            -Fica para a próxima. - Disse resignada. O peixe dela é dos céus.

Seguimos na conversa e eu esqueci do bendito almoço. Salma tinha tanta vivência para compartilhar e eu para não fugir à regra, absorvia tudo. Sempre gostei de histórias, das aventuras dos outros.

***

Tenho de dar razão à Glória, sou exagerada. Essa mania de fazer as coisas certas, de não deixar ninguém à espera, ás vezes beira o exagero. O almoço com a mulher estava marcado para as 13:30 e às 12hs eu já estava pronta. Para quê se eu nem estava animada? Ah, desisto de me entender.

            -Hmmm, estás bonita. Mais bonita. - Elogiou Salma me analisando de cima a baixo.

            -Estou normal, são os teus olhos.

            -A senhora está bonita sim e com cheiro de coisa boa...eu não entendo nada de perfumes, mas esse cheiro é bom.

            -Salma, pode me chamar de Sabrina e muito obrigada.

            -A dona Glória não gosta que eu fique muito solta com as visitas. Ela diz que sou sem noção e não posso tratá-la por Sabrina apenas quando estamos sozinhas, porque depois eu esqueço e levo bronca.

            -Tudo bem! Não vamos alterar as ordens da dona da casa.

            -Nunca! Mais animada para o almoço?

Ia responder quando meu telefone vibrou. Revirei os olhos ciente que se tratava da Maria Helena, amiga da Lúcia.

Queres ir comigo ao interior? Preciso resolveu algo e não quero ir sozinha.

Reli três vezes para certificar-me de que não estava em delírio.

            -Boa noticia? - Perguntou Salma me encarando expectante.

 

Fim do capítulo

Notas finais:

Olá,


Acho que perdi a mão neste capítulo...ligeiramente rsrsrs ( escrevi demais). No próximo, creio ter entrado nos eixos.

Abraço e boa leitura a quem estiver acompanhando.

Nadine


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Comentários para 4 - Capitulo 4:
jake
jake

Em: 21/10/2025

Nossa a Lúcia não deixa Sabrina nem nas férias,pra piorar ainda a fez sair com amiga só para n perder o controle o que era pra ser um almoço agora virou uma viagem...aff.

Queria mto mais de Fendra e Sabrina....

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mtereza
mtereza

Em: 07/09/2025

Hum parece que essa santa quer rezar rsrsr


Nadine Helgenberger

Nadine Helgenberger Em: 07/09/2025 Autora da história
Kkkkkkkkkk, adorei!


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HelOliveira
HelOliveira

Em: 16/08/2025

Será o que ela vai aceitar ir?..... até o próximo 


Nadine Helgenberger

Nadine Helgenberger Em: 17/08/2025 Autora da história
Vamos descobrir no capítulo 5 ;)
Muito obrigada.
Bj


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MalluBlues
MalluBlues

Em: 16/08/2025

Ai ai... quero mais mensagens trocadas com a Fedra. kiss Fedra rainha, Maria Helena nadinha. yell


Nadine Helgenberger

Nadine Helgenberger Em: 17/08/2025 Autora da história
Kkkkkkkkkkkkk, adorei.
Fedra rainha total!


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NovaAqui
NovaAqui

Em: 15/08/2025

Qual será a resposta de Sabrina?

Vá se divertir 


Nadine Helgenberger

Nadine Helgenberger Em: 17/08/2025 Autora da história
Vamos descobrir no capítulo 5 ;)
Muito obrigada.
Bj


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Gaya
Gaya

Em: 14/08/2025

Hallooooooo Nadine!

Feliz por demais com seu retorno!

Amando sua trama é mais ainda o seu feeling cômico!

Tu és uma DIVA com sua escrita!

Acredito que Sabrina ficou pasma por receber a mensagem com o convite da Fedra e torço pra que ela pense em si mesma e se permita.

Tipo, "vamos comigo pegar uma encomenda da chefe e depois iremos pra onde o vento nos levar."

Essa Lúcia é um chiclete... Sei não viu... De repente ela tem um crush por Sabrina que, de tão focado no trabalho e distraída com as coisas pessoais, nem percebeu.

Nadine querida, não importa o tamanho dos capítulos, o importante é ter você sempre conosco, mesmo com suas limitações!

Grande abraço querida!


Nadine Helgenberger

Nadine Helgenberger Em: 17/08/2025 Autora da história
Hello, Gaya

Que bom!
A Lúcia ainda vai dar muito o que falar rsrsrs
Acho que vais gostar do capítulo 5, do 6, bom, já escrevi até aí...ah vais gostar do 7 tb que já está mais ou menos alinhavado kkkkkkkkkk
Já estou empolgada ( para não variar) e é claro que minhas mãos e ombros (hoje em dia tenho bursite nos ombros tb) já estão gritando de dores. Preciso escrever menos, ainda bem que inventei que esse projeto será uma short. Aleluia!
Muito obrigada, meu bem.


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