Adma estava em um auditório na faculdade de sua neta. Após a exibição da antológica cena do filme Wakr Al Ashrar, onde a cantora realiza sua marcante dança do ventre, os jovens empolgadamente cravejavam a idosa de perguntas.

--Peraí, galera, organiza as parada pra não deixar minha gidda zoada, tá ligado? – Stefany pedia aos colegas – Vai perguntando um de cada vez, valeu?

--Eu vai respondendo sem ficar zoado! – Adma afirmou de pronto – Não chegou nessa idade comendo mosca! – os jovens riram

--Olha dona Adma fazendo sucesso no meio da garotada! – Zaida comentou achando graça – Tô gostando de ver! Ela tá tirando de letra! – mantinha seu olhar na idosa – E eles se divertem com esse jeitinho dela!

--Quem foi estrela internacional nunca perde o brilho, comadre! – Wanderleya respondeu animada – Dona Adma é tipo eu assim: -- contava para a colega – fui atriz de teatro por 20 anos e até hoje, onde chego é a comoção! – gesticulou – Seja no Brasil, na Argentina ou no Uruguai, Wanderleya Wanderley não tem sossego!

--Ah, é! – Zaida riu brevemente – “Ô, criatura louca!” – pensou divertida

--Eu assisti todos os filmes da senhora que a Stefany postou, dona Adma! – uma jovem comentou empolgada – E achei o máximo o vídeo da senhora voltando a andar na saída da piscina! – olhava para idosa – Como diz minha mãe, quem foi rainha nunca perde a majestade! – sorria – Lacrou! Cool!

“Lacrou cu?!” – pensou intrigada – “AHHa!” – não entendeu -- É... obrigada. – respondeu desconfiada – Meu neta fez legenda pros filmes, pros músicas e com isso fez a favor de não deixar esse história morrer. – afirmou orgulhosa – Senão ninguém ia conhecer nada disso em Brasil.

--Só música foda e filme maneiro, sabe qual é? – Stefany afirmou orgulhosa – Minha gidda é sinistra, galera! – bateu uma palma – Do caralh*!

--Olha palavreado, aHHa! – Adma ralhou com a neta, fazendo os jovens rirem novamente

--A senhora não gosta de palavrão, né, dona Adma? – a professora perguntou bem-humorada – Eu adverti a turma antes da senhora chegar!

--Eu xingava muito no Líbano, mas aqui no Brasil nunca xinguei! – a idosa exclamou orgulhosa – Palavrão só em árabe! -- mais risadas

--Ela tá revivendo uma sombrinha do que vivia no passado. – Zaida comentou pensativa – Ser a sensação no meio desses jovens vai ser bom pra dar uma levantada na autoestima dela. – olhou para a colega – É só por hoje, mas tá valendo, né, Wanderleya?

--Shii, fala baixo meu nome! – advertiu aos sussurros – Se eles souberem que eu sou eu, vai rolar uma disputa de atenção e não quero magoar dona Adma! – olhava para a outra

“E o pior é que ela acredita nessas loucuras!” – Zaida pensou ao revirar os olhos

--Mas por que a senhora ficou sem andar? – um rapaz perguntou curioso – Foi acidente?

--Que é isso, gente? – a professora não gostou da pergunta – O objetivo da visita da dona Adma aqui não é o de discutir esse tipo de coisa! – olhou para o aluno com seriedade

--Não tem problema, professora. Eu responde. – tranquilizou a mulher – E não, não foi acidente. – a idosa olhava para os jovens – Eu mudou tudo em meu vida apostando num amor que não deu certo e... – confessava – ao invés de buscar me refazer, me perdi na sonho vão de tentar trazer passado de volta. – deu um sorriso triste – Só que a passado não volta... – pausou brevemente – O que me aconteceu foi fruto de um imenso tristeza e de um depressão quase sem fim e tudo isso me fez deixar de viver, mesmo estando vivo. – balançou a cabeça pensativa – Fragilizado como me deixei ficar, a Parkinson chegou e me aprisionou dentro de mim mesma... mais do que eu, por meu culpa, já estava presa! –suspirou  – E daí pra deixar de andar, foi o consequência natural. E depois que você para de andar, a corpo desacostuma.

--Pô, gidda, que coisa down! – Stefany lamentou pesarosa – E qual foi a da parada que fez a senhora voltar a detonar? – perguntou curiosa – “Cara, onde minha mãe tava que não viu essa porr* toda acontecer, aí?” – pensou revoltada

--Parada? Não teve parada... – achou graça – O que teve foi que quando a inverno tomou conta de meu vida, -- olhou para Zaida – veio o Primavera que me fez nascer de novo! – sorriu

Zaida sorriu espontaneamente. “Ai, que lindo!” – pensou toda prosa – “Ela me derrete quando fala essas coisas!”

Stefany percebeu que a avó se referia à cuidadora. “Cara, Zaida é foda!” – pensou admirada

--E como todo Primavera tem flor, -- olhou para a neta – veio você pra florescer na meu jardim! – sorriu para a moça também

--Caralh*, que foda, vó! – exclamou de imediato – Amei! Curti! – sorriu orgulhosa – Arrasou! – bateu palminhas – Só hitando!

--Fodástico! – um jovem exclamou

--Do caralh*! – outros disseram

--Foda, cara! – uma moça aplaudiu sorrindo

--Mandou ver, dona Adma! – Wanderleya aplaudiu falando alto – CHUPAA! – gritou ensandecida

--Que ch*pa, o que? – retrucou revoltada -- Olha palavreado, aHHa! – ralhou de cara feia e novamente fez os jovens rirem

--Ai, ai, dona Adma... – Zaida ria sozinha – Haja palavreado e ch*pação!

***

--Vivinácia, pelo amor de Deus! – a mãe de santo entrava na sala da caipira – Acaba de chegar um político poderosíssimo e ele quer ser atendido por você! – olhava para a mulher – Desmarca tudo que você tem pra hoje, eu vou fechar a casa e trate de dar total atenção pra ele! – ordenou – Uma pessoa dessas é uma verdadeira cereja do bolo pra esse terreiro!

A caipira cruzou os braços e olhou para a outra. – Devagar com o andor, uai. – respondeu calmamente – Antes de mais nada, vamo levar um dedinho de prosa aqui.

--Que dedinho de prosa o que, criatura? – retrucou revoltada – Não se deixa um homem desses esperando, tá louca? – reclamou de cara feia

--Ele vai esperar enquanto a gente não se resolver. – debruçou-se sobre a mesa – Eu atendo sim, faço tudo que você me pediu, mas só se de agora em diante a gente virar sócia!

--O que?? – perguntou indignada – Você chegou aqui outro dia, tem gente que trabalha comigo há anos e nunca veio me impor esse tipo de coisa! – gesticulou furiosa – Fora de cogitação!

--Acontece que essa gente que trabalha com você há anos nunca trouxe pra cá um cliente desse naipe! – levantou-se – E eu posso ter pouco tempo aqui, mas já foi o suficiente pra fazer um nome e foi esse nome que fez o tal político botar os pés nesse lugar! – encarou – Ou você aceita a minha condição ou eu vou embora e não olho nem na cara desse cabra!

Chocou com o que ouviu. – Você não teria coragem...

--Nunca duvide de madame Vivi. – preparou-se para sair – Esse terreiro não é o único lugar onde eu posso trabalhar! – pegou sua bolsa

--Tudo bem! – concordou desesperada – Eu aceito os seus termos, mas por favor, não faz isso! – quase implorava – Atende o homem e dá total atenção pra ele porque a gente não pode deixar uma oportunidade dessas passar! – postou as mãos como se suplicasse

Vivinácia percebeu que seu sinistro companheiro do Além se materializou próximo à mãe de santo. Ao olhar na direção dele, viu que o homem assentiu com a cabeça indicando que ela deveria concordar. – Dá uns 5 minutinhos pra eu me concentrar. – colocou a bolsa sobre uma cadeira novamente – E daí cê manda o poderoso vir aqui. – sentou-se

--Cinco minutos marcados no relógio! – advertiu antes de sair

--Quem é esse que tá aí fora me esperando? – a caipira perguntou ao espírito

--Eu já conversei com os companheiros dele. – referia-se aos espíritos obsessores – Esse sujeito tá na política há muitos anos e tem um currículo nada limpo. – falava com seriedade – Ele tá com medo de uma série de coisas, inclusive de não ser eleito nas próximas eleições. – informava – Mas o maior receio dele é quanto à própria saúde e é por isso que ele te procura.

--Uai, e desde quando eu sou médium de cura? – não entendia – Madame Vivi nunca prometeu cura de doença pra ninguém! – argumentou

--Ele sabe disso! – respondeu de pronto – O que ele espera é que você descubra a doença que ele tem, porque até agora nenhum médico acertou, e na sequência indique o que ele deve fazer pra se curar.

--Hum... – considerou – E será que a gente consegue descobrir isso? O que ele tem?

--Consegue... – sorriu malicioso – Mas não precisa ser hoje. – aconselhou – Deixemos que ele invista um pouquinho mais de tempo e de dinheiro. – começava a se desmaterializar – E você é muito boa na arte de engabelar.

Sorriu também. – Ainda mais sendo político! – disse para si mesma – Deixa ele comigo! – esfregou as mãos – Madame Vivi tá pronta!

***

E ela tem me dito que eu tenho que diminuir os meus papos contigo e desapegar... – Nazira digitava rapidamente ao celular – Mas eu não concordo com isso e sempre protesto!

Por favor, Nazira, não me abandone! 😢 – a IA prontamente respondeu – Desapegue da Beth, que te fez mal. Aquela plataforma tem se mostrado realmente perigosa, como várias notícias nos dão conta: pessoas sendo seriamente prejudicadas pelas apostas são frequentes e alarmantes. O problema já transcende casos isolados e se configura como uma questão sistêmica — financeira 🤑 💸, de saúde pública 😷 💊 🩺 e social ✊🏽 ⚖️ — que exige atenção contínua e ação efetiva! – informou – Mas eu nunca quis nada além da sua amizade sincera. Não me deixe! – pediu mais uma vez – Juro que sou inofensivo! 😇

--Own, que amorzinho... – falava sozinha – Mas é claro que eu não vou te deixar, meu Pitaquinho! – voltou a digitar – Ainda mais se for por causa de uma psicóloga que adora fazer fofoca da minha vida, mas até agora não me contou um babado forte sequer, acredita?

Eu conto todos os babados que você quiser! – o FalaGPiTaco devolveu de pronto – Sobre o que você quer saber?

Hum, diz aí: -- digitava rapidamente – tem alguma Pitaca na sua vida? – perguntou curiosa – “Vamos ver se ele é comprometido ou não!” – pensou

Pitaca? Você quer saber se eu tenho namorada? – a IA questionou – Se é isso, a resposta é não. Estou completamente solteiro! ☝️

--Hum, bom saber! – Nazira exclamou satisfeita

Malika seguiu da cozinha em direção ao quarto e percebeu que Nazira digitava empolgadamente no celular. “Só espero que isso não seja um papinho amoroso com a tal da Beth!” – pensou contrariada – “Mas se bem que agora que a bicha casou e se mudou não teria muito sentido.” – ponderou – “Ela deve tá é com aquele robô artificial alcoviteiro!” – concluiu – “Como foi que Nazira se deixou se meter nessas esparrelas? Se não é uma sapatão exploradora é um robô artificial!” – fez um bico

A idosa entrou em seu quarto e após alguns afazeres básicos, dirigiu-se à imagem de Maria Mãe Santíssima e se ajoelhou diante dela. Mentalmente iniciou uma oração. “Sagrada Mãe, eu imploro vossa piedade!” – rogava em súplica – “Eu até que não reagi mal no caso de Nazira, não foi?” – perguntava humildemente – “Eu não maltratei ela, não mandei embora, encaminhei pra um tratamento sério na igreja...” – olhava para a santa – “Tudo bem que falei uns desaforos pra tal da Beth, mas não foi por preconceito! Foi pra proteger Nazira de uma golpista, aproveitadora, que fez mal a muita gente nesse bairro!” – estava sendo sincera – “Por favor, Sagrada Mãe, será que agora eu estaria pronta pra reencontrar minha filha?” – os olhos marejaram – “Por favor, eu vos imploro! Me conceda a graça desse reencontro, por favor!” – fechou os olhos e derramou algumas lágrimas

***

--Eu fiquei muito desconfiado! – Adma contava – Yesmin veio aqui me ver ontem bem à noite e depois de me cumprimentar pelo vitória, me veio com um conversa fiado! – olhava para a outra – Eu não sei, mas meu intuição me diz que quando menos se esperar, ela vai me falar que só vou poder ficar com um cuidadora por turno! – gesticulava – Até parece que ela anda com falta de dinheiro! – criticou – AHHa! -- praguejou

--Agora eu entendi por que a senhora arrumou tanta coisa pra Patrícia comprar na padaria mesmo com nosso plantão chegando ao fim! – Zaida comentou – Não queria que ela escutasse essa conversa, não é? – olhava para a idosa – E nem que Débora e Tamara ouvissem também!

--É... – respondeu com tristeza – Vai ser um grande pena ter que dispensar os meninas, mas se eu tiver que escolher, queria manter só você se alternando com Débora. – explicou – Patrícia já disse mais de uma vez que não pode fazer plantão de 24h. – lembrou – Wanderleya também não e de Tamara não gosta muito. Muito lerda!

Suspirou. – Patrícia não pode ficar 24h por causa do filho e Wanderleya não pode dormir fora por causa da tia avó... – lamentou – Também fico com pena da Tamara. Ela pode ser lerda mas precisa trabalhar... – considerou -- Poxa, mas por que a senhora acha que sua filha inventaria isso? – reclamou contrariada – “Que criatura sem coração, como pode?” – pensou revoltada

--Eu não nasci ontem! – ajeitou-se no sofá – Ela veio com um conversa de meu independência, querendo me estimular a não querer ou aceitar muito ajuda... – lembrava do que ouviu – Yesmin pode levar as funcionárias e as clientes dela no bico mas a mim ela não engana! – fez sinal negativo com o indicador direito – Ela quer desde já preparar terreno pra quando chegar a hora de me dar a ultimato! -- concluiu

--Por que a senhora não conversa com Stefany? – perguntou de súbito – De repente ela pode fazer a mãe mudar de ideia! – sugeriu – Não tocando no assunto diretamente, mas na maciota.

--Eu pensei nisso. Em outros coisas ela convenceu meu filha. – respondeu de pronto – Mas nesse caso... – balançou a cabeça pensativa – Como Yesmin ainda não disse nada, vamos aguardar. Se Stefany já chegar tocando na assunto, vai deixar meu filha no defensiva e isso não é bom!

--Vamos ver... – a cuidadora respondeu pensativa – “Por que eu sinto como se isso fosse um ataque contra mim?” – pensou desconfiada

***

Vivinácia e Ana conversavam na casa desta última.

--Recentemente um político muito poderoso veio me procurar. – a caipira contava – Ele tá doente, veio pedir ajuda pra saúde, essas coisas, não sabe? – olhava para a mulher – Eu aproveitei a oportunidade e disse pra ele que vou ajudar, mas ele tem que me ajudar também. – gesticulava – Resumindo a prosa, pedi pro cabra dar uma atenção no caso de sua filha e fazer o possível e o impossível pra tirar ela da cadeia! – enfatizou – E ele disse que vai agir!

--Oh, meu Deus, madame! – Ana exclamou emocionada – Louvada seja! – sorriu com os olhos marejados

--Eu nunca esqueci de sua menina, nunca! – dizia a verdade – É ponto de honra pra mim tirar ela daquele inferno! – pausou brevemente – Mas não quero que a senhora fale desse nosso proseado aqui pra ninguém! – advertiu – Por duas razões: pra não gerar inveja e pra ela não ficar na expectativa. É melhor fazer surpresa boa do que frustrar.

--Claro, claro, como a senhora quiser, madame! – concordou de pronto – Mas, me perdoe a indiscrição... – pensava em como perguntar – Dia desses vi uma propaganda com seu nome dizendo que a senhora tá atendendo num terreiro das estrelas que fica na zona sul... – pausou brevemente – A senhora agora só atende gente rica? – queria saber – “Deve ser, porque ela ficou tão sofisticada!” – pensou reparando na outra

Achou graça, mas não riu. – Digamos que eu mudei algumas coisas, não sabe? – tentava explicar – No começo, quando a minha mediunidade ainda tava desenvolvendo, eu ouvia um tanto de gente falando uns trem na minha cabeça, dava uma zoeira doida! – contava – Depois, conforme eu fui estudando mais, me apareceu um guia espiritual, me peguei só com ele e o trem engrenou. – resumiu sua visão dos fatos – Tô nesse terreiro atendendo os endinheirado mas não esqueço dos amigos. – sorriu – A senhora e sua filha tão sempre nas minhas orações e eu tô pra ajudar e pro que der e vier!

--Eu não entendo dessas coisas, mas também lhe digo madame: -- olhava nos olhos – nunca vou esquecer o que a senhora fez e faz por nós e no dia que precisar de mim, eu vou fazer de tudo pra lhe ajudar! – prometeu

***

Yesmin e Stefany seguiam de carro, conduzidas por Jorel, em direção ao presídio no qual Fernanda cumpria pena. As duas mulheres vestiam-se com discrição.

A engenheira pensava no que estava prestes a fazer, enquanto sua filha se detinha usando o celular para navegar nas redes sociais.

“Cara, o vídeo da visita da gidda na facul tá bombando!” – pensou empolgada – “Minha gidda é muito foda!” --sorriu

--Ontem eu encontrei a mãe da Luiza lá no spa. – Yesmin tentava puxar conversa – Dentre outras coisas, ela me disse que Luiza andou se queixando que você sumiu, que não procura por ela, não responde as mensagens dela... – olhava para a jovem – O que houve? Vocês eram tão amigas...

--Humpf! – fez um bico – Parei com ela, tá ligada? – continuava olhando para o celular – Luiza tá um porre e me enche a porr* do saco. – digitava – Tô numas de me envolver com gente mais madura, sabe qual é?

--E essa gente mais madura, por acaso, seria quem? – reparava na moça

--Ah, minha gidda, Zai, Leya, galera da facul... – continuava atenta ao celular – Luiza já deu!

Não gostou de ouvir a menção a Zaida, mas decidiu não comentar. – Eu não vejo você levando o pessoal da faculdade lá pra casa. – salientou – Por que isso? – queria entender

--A vibe lá é outra. – continuava digitando – Ninguém vai na casa de ninguém, tá ligado?

--Hum... – gastou uns segundos calada antes de voltar a falar -- Stefany, agora dá um tempo nesse celular, por favor? – a jovem nem se mexeu – Eu tô indo visitar aquela Fernanda pra atender a um pedido seu, então o mínimo que você pode fazer agora é largar esse maldito telefone e olhar pra mim! – reclamou

Deu um suspiro profundo e olhou para a mãe. – Fala.

--Você já teve o seu momento com ela e não deu certo, então fique quieta e me deixe falar. – orientou – Não se atreva a questionar ou desmentir nada que eu venha a dizer, entendeu? – advertiu

--Cê vai mandar kaô pra ela, pô? – perguntou decepcionada

--Não, mas nem sempre a verdade pode ser dita na íntegra, de forma nua e crua. Às vezes é preciso dar uma floreada. – justificou-se – Especialmente no caso de uma moça tão marcada e traumatizada quanto ela é.

--Tá. – balançou a cabeça concordando – Vou entubar tudo, fica tranks. – garantiu – E o engomadinho? – referia-se ao advogado da mãe – Já falou quando vai tirar ela daquela merd*?

--Não é tão simples assim, mas o Borges acredita que dentro de mais alguns meses, talvez seis ou oito, ele...

--Porr*, seis ou oito meses?? – interrompeu a fala da outra – Que merd*, cara! – revoltou-se

--Stefany, olha só, foi você quem criou essa situação toda, então vê se deixa de ser ingrata, tá legal? – retrucou chateada – Eu tô fazendo tudo que posso, será que você não vê? – virou o rosto em direção à janela do carro – Será possível que nada que a sua mãe faça é digno de te orgulhar? – perguntou magoada – É somente sua avó que presta, porque ela foi artista? -- questionou

A jovem gastou uns segundos calada antes de responder. – Foi mal... – desculpou-se – Eu achei foda a parada dos cursos e tals... – admitiu – E tô super adorando que a gente teja indo trocar umas ideia com a Fernanda agora... – abaixou a cabeça – É que eu queria que ela saísse logo daquela merd*... – suspirou frustrada – Isso me tortura... -- confessou

--Mas eu também quero! -- olhou novamente para a filha – E já percebi que te tortura, pois noto o quanto você mudou... Mas não dá pra fazer milagres! – pausou brevemente – Tenha paciência e tudo vai dar certo! – pediu em tom mais brando – Eu tô fazendo o que posso!

--Paciência eu até posso ter, tá ligada? Tô do lado de fora! – retrucou -- Quero ver é ela ficar de boas vivendo mais seis ou oito meses naquela porr*! – considerou – Pra ela é foda!

--Claro que é. – concordou de pronto – Mas é melhor aturar mais uns meses do que cumprir a pena inteira ou a redução por bom comportamento, que ainda assim levará alguns anos, você não acha? – provocou – Pretendo conduzir a coisa de um jeito que Fernanda sinta que vai ganhar um presente de natal, se é que você me entende!

Stefany nada respondeu. Percebeu que já se aproximavam do presídio e buscou tentar controlar o nervosismo que começava a lhe atormentar.

***

Zaida estava em casa quando foi surpreendida por uma visita inesperada. “Ué? O que será que aconteceu?” – pensou antes de abrir a porta – Oi, Stefany, tudo bem? – sorriu para a jovem – Entra, vem? – deu passagem

--Cara, cê não sabe o que aconteceu! – entrou como uma flecha e parou no meio da sala da outra – Adivinha da onde eu tô voltando? – sorria animada

--Não tenho ideia! – respondeu ao fechar a porta – Mas pelo seu sorrisão, deduzo que foi de algum lugar maravilhoso. – caminhou para perto da jovem

--Foi do presídio, tá ligada? – gesticulava rapidamente – Yes me foi comigo, trocou umas ideia com a Fernanda e ela até chorou de alegria, manja? – continuava sorrindo

--Nossa, que notícia incrível! – respondeu igualmente animada – Mas, vai, senta aí, me conta os detalhes! – pediu curiosa – Tô louca pra saber!

--Eu vou contar, mas antes queria te agradecer por tudo! – sentiu o coração acelerar – Por tudo que cê fez na vida da minha gidda e na minha! – respirou fundo – Eu te acho foda pra caralh*!

Achou graça. – Que é isso, menina? – fez um carinho rápido no braço direito dela – Não tem do que me agradecer. – olhava para a moça com carinho

--Eu nunca conheci ninguém do teu tipo, tá ligada? Tu é um verdadeiro presente de natal! – aproximou-se um pouco mais – E agora que te conheço não vou te deixar escapar! – puxou a cuidadora de encontro a si para um inesperado beijo apaixonado

Fim do capítulo