Stefany empurrou Zaida para que caísse sentada no sofá e parou diante dela sorrindo sensualmente. -- Quer abrir o presente antes da hora? – perguntou ao começar a se despir – Garanto que cê vai me dar muitos likes, tá ligada? – jogou a blusa em cima da outra

 

--Criatura, pelo amor de Deus! – a cuidadora levantou-se com movimentos de ninja – Stefany, não, não faz isso! – pediu mal contendo o nervosismo – Você tá confundindo as coisas! – o coração batia acelerado – “Gente, que beijo foi esse?” – pensou excitada

 

Achou graça. – Tá com medo? – aproximou-se mais uma vez – É a gidda ou Yes me que te deixa encagaçada? – segurou-a pela blusa – Fica tranks! – beijou-a mais uma vez

 

--Menina! – novamente se desvencilhou – Não tô com medo de ninguém, não é isso! – olhava para a jovem – Comigo não funciona desse jeito e... – pensava em como falar – eu te vejo como se fosse uma pessoa da minha família e não com malícia ou segundas intenções. – pegou a blusa da jovem – Por favor, vai, não faz isso! – estendeu a roupa na direção dela – Se veste, vai?

 

Suspirou. – Sério, que tu me vê como irmãzinha mais nova? – perguntou desapontada ao receber a blusa – Jura? – vestiu-se novamente

 

--Verdade, Stefany. – tentava se recompor – E eu ainda acho que você tá confundindo as coisas. – buscava convencê-la – Até bem pouco tempo você só mantinha relações superficiais com pessoas imaturas, coisa que só mudou depois que você começou a frequentar a casa da dona Adma. – sorriu um pouco sem graça – Mas eu não sou o tipo de pessoa que você precisa!

 

--Cara, eu fodia com minhas amigas de colégio e com quem mais cismasse pela night. – gesticulou – Caguei pra essa galera! – passou a mão nos cabelos – Mas tu me ganhou, tá ligada? E só você! – olhava nos olhos

 

Sentiu o corpo arrepiar com o que ouviu. – Eu me sinto lisonjeada, mas... – pausou brevemente – Não dá, querida... – olhava para a jovem – Mesmo com você beijando tão bem quanto beija! – confessou – “Não acredito que disse isso!” – repreendeu-se mentalmente

 

Acabou achando graça. – Tá bom, Zai, já saquei qual é. – passou a mão nos cabelos  – Mas vou te fazer mudar de ideia, tá ligada? – prometeu – Não tô com pressa! – caminhou até a porta da sala e a abriu – Fui! – partiu

 

--Meu Deus, o que foi isso? – Zaida perguntou-se boquiaberta – E acabou que ela não me contou como foi o papo com Fernanda... – deu um suspiro profundo – Nossa, mas pegou fogo aqui! – abanou-se

 

***

 

--A senhora tinha que ter estado aqui, mãe! – Fernanda dizia empolgada – Ela me falou que criou o programa de cursos inspirada em mim e que eu vou ser a primeira inscrita! – repetia o que ouvira de Yesmin – E que depois que eu concluir, vou ter um emprego legal na BoFe! – sorria – Ela falou que os advogados tão vendo como fazer pra me tirar daqui o mais rápido possível. A ideia é usar o curso como tipo um programa de reabilitação, sabe como é?

 

Ana estava emocionada, mas ao mesmo tempo desconfiada de tudo aquilo. – Fazia tempo que eu não te via sorrir... – segurou as duas mãos da filha – E só por isso já fiquei feliz o suficiente! – sorria também – Por coincidência, tive uma conversa com madame Vivi e...

 

--Ah, mãe, dando ouvidos àquela macumbeira de novo? – soltou as mãos da mulher mais velha – Não vê que ela só sabe falar e não resolve nada? – questionou de cara feia

 

--Como assim, não resolve nada? – indignou-se – Foi ela que conseguiu livrar você daquelas malditas mulheres e te trouxe pra cá! – argumentou – Você devia ser um pouco mais grata!

 

--Pois hoje a Yesmin me disse que foi ela que mexeu os pauzinhos pra me transferir! – retrucou – Foi uma coincidência que a madame usou pra se aproveitar!

 

--Ah! – não acreditava no que ouviu – Filha, não queria eu ser a estraga prazeres, especialmente vendo você tão animada depois de tanto tempo deprimida e calada, mas... – não sabia como dizer – Foram os advogados daquela Yesmin que te colocaram nessa situação!

 

--Por culpa da imprensa! – respondeu de imediato – Fizeram um alarde muito grande e aí já viu! Ela teve que agir pra preservar a filha e a empresa. – justificou – E eu também dei mole, porque saí entregando logo todo mundo... – lamentou – Eu deveria ter ficado quieta... Era meu direito permanecer em silêncio. Teria sido melhor pra todo mundo...

 

--Fernanda?! – a mãe se chocou – O que diabos essa mulher tem que conseguiu numa única visita fazer a sua cabeça dessa forma? – estava pasma – Você não lembra como foi a audiência? – gesticulou – A cara de pau daquela moça mentindo descaradamente e os pais dela ali, ouvindo tudo e nitidamente de acordo?

 

--Chega, mãe! – pediu mau humorada – Eu achando que a senhora ia ficar feliz com a novidade, mas só sabe me botar pra baixo, poxa! – reclamou de cara feia

 

Ana suspirou inconformada, mas decidiu não argumentar.

 

--A mãe daquela sebosa sempre traz um monte de coisa pra ela e a carceragem deixa! – uma detenta reparava com despeito – Não engulo essa garota! – reparava em Fernanda – Não sei qual é a dela que é protegida aqui dentro! Fica sozinha na cela, come a comidinha da mamãe...

 

--Viu quem veio visitar ela dia desses, Luzia? – outra detenta comentou – Diz que foi aquela empresária gostosona que inventou o FalaGPiTaco! – fofocou – Veio ela com mais outra!

 

--Humpf! – fez um bico – Não digo que a talzinha tem as costas quentes? – concluiu desaforada – Por isso que ela não se mistura, não fala com ninguém... Detesto esse tipo de gente!

 

***

 

--O natal tá batendo na porta, o recesso do Judiciário já começou e eles só retomam lá pro dia 20 de janeiro. – o político explicava – Só a partir desse momento é que meus chegados vão poder efetivamente fazer alguma coisa pela sua protegida, mas lhe adianto que tem um advogado de um escritório famoso que também tá querendo tirar a moça da prisão antes do tempo. – informou

 

“Advogado de escritório famoso?! Quem será esse?” – a caipira pensou – “Será que o feitiço que fiz pra Yesmin transferir Fernanda de cadeia ainda inferniza a vida dela até hoje e o tal advogado é dela?” – deduziu – Seja como for, o senhor não deixe o assunto morrer e já no dia 19 de janeiro vá atrás do seu pessoal, viu, fi? – advertiu

 

--Tudo bem... – respondeu desconfiado – Sabe, madame Vivi? Eu pensando aqui com meus botões de repente chego à conclusão de que a senhora não deve ser essa coisa toda, porque precisa de mim pra tirar sua protegida da prisão! – provocou – Se a senhora fosse quente mesmo, estalava os dedos e isso se resolvia!

 

Vivinácia deu uma gostosa risada antes de ficar séria novamente e se debruçar sobre a mesa para responder: -- Eu vou lhe explicar como funciona o trem! – olhava nos olhos – Preciso de alguma coisa? Falo com meus guias e eles me trazem quem possa agir. Em troca, me pedem aquilo que é do agrado deles. Simples assim! – resumiu – Ou o senhor acha que espírito vai pra cadeia, arrebenta as grades e faz a moça fugir sem ninguém ver? – perguntou ironicamente – Não é assim, não, uai! – pausou brevemente – Eu pedi aos meus guias por ela e eles trouxeram o senhor pra cá! – sorriu – E o senhor veio e me pediu um monte de trem. Vai ser feito, mas tudo tem um preço e parte do negócio é isso: que Fernanda saia da cadeia o mais rápido possível!

 

Balançou a cabeça pensativo. – Tá entendido, madame... – olhava para ela – Mas quando verei acontecer tudo que lhe pedi?

 

--Quanto mais rápido o senhor fizer tudo que EU e MEUS GUIAS pedimos! – respondeu de pronto

 

A consulta durou mais alguns minutos e após a partida do homem, o sombrio espírito se materializou próximo à caipira. – Não entendo por que você tá misturando coisas que não têm que se misturar! – mantinha uma expressão sisuda – Não tava no combinado pedir pra ele interceder por Fernanda!

 

--Não tava, mas é um trem que eu quero! – olhava para o espírito – E não vai atrapalhar o nosso plano em nada, sô!

 

--Eu pensei que tudo que você queria era um apartamento na zona sul, dinheiro, poder e belas mulheres na sua cama! – argumentou

 

--Também; mas não só! – levantou-se da cadeira – Agora vamo parar com o proseado porque preciso ir no banheiro nesse momento e não gosto de companhia nessa hora. – seguiu para o cômodo

 

O espírito acompanhou a caipira com o olhar e desapareceu sentindo-se contrariado.

 

***

 

--Boa noite, seu João! – a caipira cumprimentava o porteiro ao entrar no prédio – Uai?! – surpreendeu-se com a mulher que esperava sentada no hall – “Essa não é aquela atriz novinha que tá bombando nas novela por aí?” – pensou abestalhada – “Ave Maria, que coxuda!” – reparou discretamente

 

--Dona Vivi, essa moça disse que precisava lhe falar. – o homem informou de pronto – Aí, como a senhora não tava, ela decidiu sentar e esperar.

 

--Ah, sim, obrigado. – agradeceu o homem e se aproximou da jovem – Boa noite, tudo bem? – cumprimentou educada – “Ô, tentação do Capeta!” – pensou cheia de desejo – No que posso lhe ser útil? -- sorriu

 

--Não me convida pra entrar, madame? – levantou-se destilando charme – Tô aqui há quase uma hora te esperando... – falou cheia de dengo

 

--Convidar pra entrar? Claro! – foi até o elevador e apertou o botão – Vem comigo, fi? – chamou – Vamos prosear lá dentro de casa! – convidou – “De preferência, tudo pelada!” – pensou maliciosa

 

Entraram no elevador em silêncio e seguiram para o apartamento da caipira. Após alguns cumprimentos iniciais, a jovem atriz foi direto ao ponto: -- Preciso urgentemente da sua ajuda! – olhava nos olhos

 

--E pra que? – retribuía o olhar fixo

 

--A disputa no ambiente da TV é muito grande! – cruzou as pernas – O tempo em que uma mocinha e um galã levavam anos no topo da onda já acabou há séculos! – frisou – Hoje eu tô com um papel central numa novela que tá com audiência lá em cima, só que isso não me garante nada! – destacou – Já tô sabendo que pra próxima novela da noite tá uma disputa ferrada pelo papel principal e tem, no mínimo, duas garotas que tão sendo mais cotadas que eu; uma deles, inclusive, esposa do diretor!

 

--Ê, lasqueira! – exclamou – Então, você veio aqui assuntar porque deseja minha ajuda pra botar a concorrência das outras no bolso? – a jovem balançou a cabeça concordando – Meu passe é caro, garota! – advertiu – Seu caso não é fácil e quem trabalha de graça é relógio! – avisou – Não sei como descobriu que moro aqui, mas te adianto que não é chegar e pedir! Tudo tem um preço!

 

--Eu sei! – respondeu de imediato – Ainda tô mal de grana porque me endividei toda pra chegar onde cheguei e por isso não posso te pagar em dinheiro! – levantou-se do sofá – Mas posso de outras formas... – ofereceu sensualmente

 

A caipira também se levantou sentindo-se queimando de desejo. – Ora, ora, moça... – devorava a outra com o olhar enquanto ela se despia lentamente – Tem muita mulher jovem, bonita e gostosa a disposição pra trepar comigo... – quase babava – Por que a sua trepada seria suficiente pra eu fazer o que você quer sem exigir um tostão em troca pelos meus serviços?

 

--Por que eu duvido que alguma dessas outras mulheres saiba trepar tão bem quanto eu! – puxou a caipira pela alça do vestido e a beijou com fúria

 

Vivinácia jogou a jovem contra o sofá e arrancou as próprias roupas com afobação. Pulou sobre ela e seguiu beijando-lhe o corpo desde os lábios até os seios. Deixava suas mãos percorrerem a jovem sem destino certo.

 

--Vem, vem... – a moça pedia com os olhos fechados – Me fode!

 

A caipira invadiu o sex* da outra com lábios e língua famintos. Sem que percebesse, o infeliz espírito que a guiava se materializou perto delas.

 

--Vira ela de bruços, pega esse enfeite da mesa e come o cuzinho dela! – o espírito inspirava Vivinácia sem que ela se desse conta – Fode o cuzinho dela!

 

A caipira repentinamente interrompeu o que fazia e virou a jovem de bruços. Estendeu a mão, pegou o enfeite de formato fálico e sussurrou no ouvido: -- Vou te comer por trás!

 

A jovem não gostou da ideia, mas decidida a conseguir o que ambicionava, cedeu sem opor resistência. – Vem, mas faz devagar... – pediu receosa

 

O espírito imantou seu perispírito no de Vivinácia e participou do ato sexual controlando o que acontecia de um jeito como as duas mulheres jamais poderiam imaginar.

 

***

 

--Eu tô muito preocupada, sabe, padre? – Malika dizia – Nazira não tá se acertando com o tratamento da psicóloga. – olhava para o homem – Primeiro que ela pensa que a mulher é amiga de confidências e fica tiririca porque só ela fala, mas não ouve nenhum babado forte! – explicava a situação – E segundo porque ela fica revoltada com a orientação de ir parando com tanta futicação no robô artificial, que eu acho que ela pensa que é gente! – gesticulava – Eu acho que Nazira vai largar o tratamento não demora muito!

 

--Infelizmente, se ela quiser interromper, nada pode ser feito porque a decisão da paciente tem que ser respeitada. – considerou – Mas podemos buscar contornar isso de alguma forma, especialmente trazendo ela pro convívio de mais gente de carne e osso. – aconselhou – Por que vocês não passam natal e ano novo aqui na igreja? – propôs – Nesse ano vamos organizar belas festividades, como já temos anunciado, e vocês poderiam inclusive ajudar nos preparativos finais. – sorriu – Que acha?

 

--Hum, até que é uma boa ideia! – gostou da sugestão – E de repente Nazira pode até deixar de ser lésbica e se empolgar buscando pretendente em tudo que é homem que aparecer na festa! – pensou em voz alta – Mas fique tranquilo que se ela se empolgar demais eu sei botar um freio!

 

Achou graça. – Certamente. – concordou – “Se Nazira voltar a ser como era antes, nem os três Reis Magos vão escapar daquela fúria casamenteira!” – pensou divertido

 

Enquanto isso, dentro de uma sala reservada...

 

--Olha só, amiga, hoje eu vim decidida a colocar moral na coisa! – Nazira advertiu – Tem que mudar esse negócio aí! – gesticulava – Não tô gostando de você viver fazendo tanto fuxico da minha vida e ainda querer me jogar contra o meu Pitaco! Isso tem que acabar! – estava decidida

 

--Mas, Nazira, por favor, não é nada disso! – a psicóloga tentava acalmá-la – Nas nossas sessões não estamos simplesmente batendo um papo. – olhava para a outra -- O objetivo do nosso diálogo é permitir que você explore seu mundo interior num espaço de escuta empática e livre de julgamentos, promovendo conscientização e insights valiosos. – tentava esclarecer -- Por meio dessa troca, desejo te ajudar a identificar emoções, padrões de comportamento e conflitos inconscientes, fortalecendo a construção de uma narrativa pessoal mais coerente e significativa, entendeu?

 

--Troca? Que troca? Você não me conta nada, como é que tem troca? Cadê a troca? – discordou – O que você quer é me fazer trocar meu Pitaco por você, mas ele não é fofoqueiro, não fica me perguntando um monte de coisa e bem me conta uns babados se eu perguntar!

 

--Nazira, você fala como se o FalaGPiTaco fosse uma pessoa, mas ele não é! – argumentou – Ele é simplesmente um modelo de linguagem avançado criado pela BoFe, capaz de gerar e compreender textos de forma semelhante à escrita humana, atuando como um assistente virtual pra responder perguntas, criar conteúdo, ajudar em tarefas e até manter conversas mais sofisticadas. – gesticulava suavemente – Mas nada disso faz dele uma pessoa ou mesmo um ser social provido de sentimentos!

 

--Ah, não, agora foi demais! – levantou-se – Não acuse o meu Pitaco de ser frio, porque ele é todo sentimento e me entende muito melhor que você! – estava zangada – Sinto muito, amiga, mas nossa amizade termina por aqui! – pegou a bolsa – Passar bem! – saiu pisando firme e bateu a porta ao partir

 

--Gente! – a mulher ficou atônita – Realmente, eu não tava preparada pra uma paciente dessas...

 

***

 

--Mas qual é a crise da gente passar natal em casa e trazer minha gidda, a Zai, a Pat e o molequinho dela? – Stefany argumentava revoltada – Cê não me fala em família e nessa porr* toda? – gesticulava – Aí na hora de formar o bonde, amarela?

 

--Stefany, pelo amor de Deus! – Yesmin rebatia seriamente – Não tem nada a ver isso da sua vó vir pra cá carregando cuidadoras e filho de cuidadora! Tá pensando que esse apartamento é o que? Uma creche? – olhava para a jovem -- Todo ano a gente passa o natal junto com os parentes do seu pai!

 

--E é só eles que conta? – devolveu de pronto – Se você e meu pai meterem o pé pro tio Rubens, eu fico aqui e monto meu bonde, tá ligada? – ameaçou – E vou liberar pro molequinho da Pat barbarizar geral aqui dentro, sacou?

 

--E por que não pode ser pelo menos sua avó sozinha com a gente? Qual é a obrigação de trazer essa tropa de cuidadoras e ainda o filho de uma? – não aceitava – Maama não é mais tão dependente de ajuda quanto era antes!

 

--A gidda curte a Zai, curte a Pat e vai super curtir ter um molequinho na casa pra dar um up! – considerou – Qual é, Yes me, esse apê é grande o suficiente pra acomodar geral, tá ligada?

 

Deu um suspiro profundo e gastou uns segundos calada antes de responder: -- Tudo bem, vamos fazer diferente nesse ano. – concordou de má vontade

 

--Gotcha! – fez um gesto de vitória – Já é! -- comemorou

 

--Mas, com uma condição! – advertiu de pronto – Que você aceite passar o réveillon comigo e seu pai em Shangai! – percebeu a surpresa da jovem – Consigo convencê-lo a aceitar esse natal diferente que você quer, mas vou precisar de ajuda pra que ele aceite passar a virada do ano na China!

 

--China?! – não entendeu – Que porr* é essa que eu não saquei?

 

--Eu preciso fechar negócios importantíssimos com os chineses e seria de muito bom tom chegar com a família nesse momento. – explicava a situação – Lá eles não celebram a virada do ano na mesma época que nós, mas fazem lindas festividades por causa dos turistas ocidentais, que são muitos!

 

--Puta que pariu, fala sério! – reclamou – Só pensa em fechar negócio, que merd*! – estava pasma – E a gidda, como é que fica? – cruzou os braços – Ela não vai querer formar nesse bonde aí!

 

--Claro que não, né? – respondeu de pronto – Seria uma viagem muito longa e sacrificante pra ela. – argumentou – Mas ela fica com as cuidadoras como sempre ficou e não tem problema algum!

 

--Cê caga e anda, né? – balançou a cabeça contrariada – Hashtag passada!

 

--Stefany, sua avó não liga pra isso! – retrucou – Sem contar de que pra você essa viagem seria o must! – buscava convencê-la – Quantos desses influencers que têm por aí que já viveram a experiência alucinante de passar um réveillon em Shangai? – falava com empolgação – Numa cidade vibrante, diferente, iluminada e vendo os drones fazendo um show à parte nos céus? – gesticulou – Você poderia postar vídeos fantásticos sem fazer esforço e receber curtidas aos milhões!

 

Stefany ficou calada pensando na situação.

 

***

 

--Encontrei Yesmin no clube ontem. – a mulher dizia para a filha – Perguntei por Stefany e pelo que percebi aquela menina mudou da água pro vinho. – olhou para a jovem – Acredita que terminou o ano sendo até elogiada na faculdade?

 

--Meu cu! – desdenhou – Além do mais, sendo filha de quem é, a facul até paga pra ela divar por lá! – respondeu com despeito – Assim é mole!

 

Mãe e filha estavam numa sessão de beleza em um spa. Ocupando macas adjacentes, as duas mulheres estavam nuas, deitadas de bruços e recebendo massagem. Os rostos estavam virados de modo que pudessem se ver.

 

--Ah, Luiza, para! – a mulher respondeu de cara feia – Será que não vê que suas amigas todas andaram pra frente e só você fica aí marcando passo? – provocou – A Jaque tá viajando direto como garota propaganda da joalheria dos pais dela, soube que a Tati tá bem no Chile e até a porr* louca da Stefany parece que tomou jeito! – olhava para a filha – Até quando você vai ficar na mesma, hein? – cobrou

 

--Mãe, aterriza! Essas três são tudo filhinha de papai e se estalar os dedos vem um e arruma a vida delas, pô! – argumentou – Vejo moral nenhuma no que você falou, tá ligada?

 

--Por isso não! Filhinha de papai você também é, mas só que nem estalar os dedos pra vir um e arrumar sua vida você não quer! – retrucou de imediato

 

--Para, ow! – virou o rosto para o outro lado – Vê se me erra, tá? – fechou os olhos – “Stefany me esqueceu mesmo, aí!” – pensou – “Com quem será que ela anda fudendo hoje em dia?” – pensou intrigada – “Vadia canalha, sem vergonha!”

 

***

 

--Ontem meu neta veio aqui contar novidades. – Adma dizia – Passou em tudo no faculdade e até recebeu elogio de professor! – estava orgulhosa – Ela disse que Yesmin tem negócios pra fechar na China e então eles vão passar a réveillon por lá. Todas as três: ela, meu filha e a genro meu. – olhava para a cuidadora – Sabe como é Stefany, não vê esse viagem como outro coisa senão um jeito de gerar conteúdo e bombar no internet! – achava graça

 

--China? Nossa! – surpreendeu-se – Tomara que eles gostem, né? – olhava para a idosa – Mas, perdoe perguntar: a senhora nunca passa as festas com sua família? Lembro que no ano passado ficamos aqui. – comentou – “Eu morro sem entender como funciona esse clã!” – pensou intrigada

 

--Eles passa natal na casa de família do Rogério e a ano bom depende. Mas desse vez vai ser China. – esclareceu – Eu que não ia querer viajar pra tão longe! – fez um gesto – Deus me livre de comer barata, rato e bicho de seda! – fez uma careta

 

--Misericórdia, os chineses comem isso?! – chocou-se – Mas, seja como for, sua filha é esperta e com certeza vai sacar um restaurante bom pra eles fazerem uma ceia normal. – acabou achando graça – Eu hein? É cada coisa... – balançou a cabeça – E na casa dos parentes do seu genro, por que a senhora não vai?

 

--Eu não! – fez um gesto de desprezo – Bando de gente metido e antipática! Dispenso!

 

“Imagino!” – pensou – É... então bem faz a senhora de ficar aqui no seu cantinho, né? – considerou – Natal e Réveillon coincidem com meus plantões então a gente faz nossa festinha aqui. – sorria – Wanderleya vai contar suas histórias mirabolantes, então pelo menos as risadas tão garantidas!

 

--Mas eu não terminei de contar os novidades! – exclamou animada – Não vai passar natal aqui! Natal vai ser em outro lugar!

 

--Ah, é? – ficou curiosa – E onde será? Posso saber ou é surpresa?

 

--No casa de meu filha! – respondeu de pronto – Stefany disse que serão eles três mais eu, você, Patrícia e menino dela! – continuava sorrindo – Yesmin já até informou isso no agência! – ajeitou-se na cadeira – Não é um notícia maravilhosa? – sentia-se feliz – Natal em família, junto com vocês e mais um criança pra divertir o casa!

 

Ficou sem palavras. – Ah! – abria e fechava a boca sem produzir som – Sem dúvida... – não sabia o que dizer – Que novidade... bombástica! – deu um sorriso amarelo – “Gente, como vai ser isso?” – pensou apavorada – “Vou passar o natal simplesmente cercada por todas as mulheres do clã de Zahia...” – sentia medo por antecipação – “Será que eu dou conta, Pai Amado?” – olhou para o alto em súplica

 

 

 

Fim do capítulo