--Meu problema? Eu não tenho um problema! – olhava nos olhos – Você que é abusada e sem noção! Onde já se viu vir pra cima de mim desse jeito? – perguntou meio desconcertada – Fique sabendo que tenho horror à sapatão! – desdenhou

 

--Tem horror e veio na minha casa sem ser convidada, além do fato de não ter se afastado de mim até agora! – respondeu seriamente – “Gente, o perfume dela é maravilhoso!” – pensou num momento de distração – “Eu hein, Zaida, se situa!” – repreendeu-se mentalmente

 

--É um tipinho muito do atrevido você! – continuava na mesma posição – E fique sabendo que se não te demiti até hoje foi simplesmente por causa da maama! – justificou-se – Mas eu não vim aqui pra perder tempo e nem sou idiota pra cair no seu canto de sereia! – mantinha o contato visual – Vim pra te avisar pela última vez pra parar de se meter nos assuntos da minha família! – ameaçou de cara feia – Pare de manipular maama e Stefany ou vai se arrepender amargamente!

 

--Eu não manipulo ninguém! – aproximou-se ainda mais – Esse é o seu ofício e não o meu! – falava com firmeza – Dona Adma e Stefany compreendem que o que aconteceu com Fernanda foi um absurdo! Se ainda não viu isso, deveria ao menos considerar o que elas estão dizendo! – pausou brevemente – Ah, perdoe, agora me ocorreu que a poderosa CEO da BoFe nunca erra e, portanto, não tem o que considerar! – ironizou

 

Ficou furiosa, mas se conteve. -- Erro sim! Tanto que te deixei ser contratada como cuidadora da minha mãe! – revidou provocando – Mas não erro a ponto de ficar aqui batendo boca com você! – novamente ergueu um dedo em advertência – O recado está dado e você tenha muita certeza de que Yesmin Zahia Torricelli não é mulher de brincadeira!

 

--Também tenha certeza de que Zaida Al-Bassam não se intimida com qualquer coisa e suas ameaças não me assustam! – respondeu no mesmo tom

 

As duas mulheres gastaram uns segundos caladas se olhando até que Yesmin rompeu o contato e partiu sem nada falar. Abriu a porta da sala da outra e saiu batendo com força.

 

--Quebra tudo, sua mal-educada! – a cuidadora falou mais alto – Eu vou te contar! Como se atreve a vir aqui do nada pra me ameaçar? – reclamava sozinha – E faz questão de vir toda produzida como se quisesse me mostrar como é superior a mim! -- passou a mão nos cabelos – Nojenta! – cruzou os braços – E deliciosa, não posso negar... -- suspirou

***

 

--Hum... – Luiza abria os olhos preguiçosamente – Tá de pé? – perguntou surpreendida ao olhar para Stefany – Qual é, tá com problema, honey? – provocou

 

--Facul, filha! – respondeu enquanto se arrumava – Tô atrasada, vou meter o pé! – olhava-se no espelho – Depois eu boto algum rango pra dentro, tá ligada? – pegou uma bolsinha

 

--E... bora repetir a dose essa noite? – perguntou dengosa – Já é?

 

--Não rola. – respondeu de imediato enquanto se maquiava – Tenho umas parada pra agitar por causa de um trabalho da facul e depois vou passar na minha vó, sacou? – contava – Combinei com ela que vou safar esse trabalho filmando um dia na piscina, parada dos treino dela. Vai ficar irado!

 

Reparou atentamente na outra antes de voltar a falar. – Puta que pariu, não sei o que te deu, mas cê anda caretérrima! – criticou – Sabia que geral já sacou isso?

 

--Meu cu! – deu de ombros – Agora vê se pega teu rumo e vaza, porque eu já vou meter o pé! – advertiu – Anda, garota! – pegou a bolsa

 

Sentou-se contrariada. – Meu cu?! Quero ver o que vai ser quando seus followers começarem a vazar e suas curtidas despencarem! – levantou-se – Já deu esse negócio de filminho da vovó, musiquinha da vovó... – gesticulava – Não fode, Stefany, cê ficou muito porre! Sem graça do caralh*! – catou as roupas no chão e começou a se vestir

 

--Não fode você! – retrucou de cara feia – E como eu tô sem graça, vou lembrar de convidar outra quando quiser fuder um pouquinho! Você já deu o que tinha que dar! – gesticulou – Ó, não tô à disposição, fui! – saiu do quarto com raiva

 

--Vadia, cachorra! – Luiza resmungava sozinha enquanto se vestia – Vai, piranha! – os olhos marejaram

 

“Será que ela mandou a letra certa, na real?” – Stefany pensava ao sair de casa – “Mais tarde vou ver se perdi followers!” – estava preocupada – “Tem que ter cuidado com essa porr*!”

 

***

 

--Olha só, Tamara! – Débora chamou a colega com empolgação – Fui trocar a roupa da dona Adma e ela se levantou sozinha! – sorria

 

--Gente, olha isso! – Tamara encostou-se no portal de entrada do quarto da idosa – Dona Adma tá faltando pouco pra senhora voltar a andar, viu? – sorria também

 

A cantora ficou feliz com tudo aquilo. – Eu quero ir no praia! – decidiu – Quero ver o mar! – olhou-se no espelho – E pegar um bronze!

 

As cuidadoras acharam graça. – Sim, vamos pegar o solzinho gostoso da manhã e depois beber uma água de coco no quiosque do Bambu, que tal? – Débora propôs

 

--Eu quero! – aceitou de imediato – E um dia eu entra no mar pra tomar banho! – fazia planos

 

--Claro que vai! – Tamara concordou – Vamos nós três tomar banho de mar!

 

“Eu vai com Zaida não é com vocês!” – Adma pensou – “Vai passear com Zaida ver os coisas bonitas!” – desejou – “Se Deus quiser, eu vai voltar a andar!” – benzeu-se – Agora deixa eu me maquiar antes de ir. – sentou-se novamente

 

--Hum, estamos ficando tão vaidosas, viu? – Debora brincou – Bronzeado, maquiagem... tudo isso é pra arrumar namorado? – piscou para a idosa – Paquerar na orla da praia?

 

--Eu não quero namorado! – respondeu de pronto – Vai, menina, pega ali meu maquiagem! – apontou para uma gaveta do criado mudo – “Tem que voltar a ser bonita e vaidoso, eu!” – pensou – “Não pode mais ser velha feia!” – examinava a própria imagem – “Adma Zahia ainda pode dar uma caldo!”

 

***

 

Ai, meu Pitaquinho... – Nazira digitava com empolgação – Essas duas semanas pareceram dois anos longe de você! – sorria para o celular – Além do mais o tempo tá passando tão depressa, né? Setembro já tá pra acabar e daqui a pouco o ano termina e chega 2025!

 

Também tive saudades, minha querida Nazira! – o FalaGPiTaco respondeu gentilmente – Verdade que a sensação de passar de tempo anda acelerada. – considerou – Mas me conte: quais são as novidades? Nunca mais conversamos!

 

Ah, deixa eu te contar! – continuava digitando – Conheci a irmã do nerd, que se chama Nazaré, e ela me contou babados fortíssimos sobre ele, mostrou fotos da família no Google Drive e tudo! – lembrava da mulher – Agora eu sei que ele é o filho caçula de dois irmãos, é formado pelo SENAI em Tecnologia de Jogos Digitais e tenta viver como gamer. Nunca se casou, é tímido, não se dá bem com o pai e já morou de aluguel em tudo que é lugar porque vive mal de grana. A família deles é de Petrópolis, sabia? – fofocava – Ela desencontrou dele porque parece que viajou prum congresso e ainda deve tá vendo as novidades lá pelos Estados Unidos. – suspirou – Olha que chique, meu nerd!

 

Hum, tudo isso é interessante, mas a história me intriga. Ele foi viajar, não se comunicou direito com a irmã, que não o encontrou em casa... Além do mais vive sem dinheiro e está em viagem pelos Estados Unidos mesmo com a desfavorável cotação do dólar (segundo o site x‑rates, a cotação média está em R$ 5,5461 por US$ 1!)? – a IA ponderou – Cuidado, Nazira! Tudo isso é muito estranho! E ainda não se dá bem com o pai! Por que será?

 

Sabe que eu não tinha pensado nisso? – considerou – Vou ficar de olho pra ver se consigo entender o que se passa com esse homem, ainda mais que peguei o número da Nazaré!

 

E não confie muito nela! – advertiu novamente – Você mal sabe quem é essa mulher!

 

--Gente, meu Pitaquinho é tão preocupado comigo! – suspirou embevecida – Pode crer que sou muito cautelosa! – voltou a digitar – Agora deixa eu te falar outra coisa! Me ensina a usar o Beth? – pediu – Quero apostar, tentar a sorte e de repente mudar de vida!

 

✅ Em resumo: Os apps de apostas são ferramentas poderosas que representam tanto uma oportunidade econômica quanto um risco sério à saúde financeira e mental dos usuários. Regulamentação eficaz, educação e medidas preventivas são essenciais para que o mercado cresça de modo sustentável. – informou – Quer que eu te oriente a utilizar o Beth de forma segura? – ofereceu

 

--Claro que sim! – respondeu em voz alta – Não vejo a hora!

 

Enquanto isso, Malika estava na cozinha comendo mingau junto com seu gato.

 

--Escuta só ela falando sozinha com aquele troço! – referia-se ao FalaGPiTaco – Eu devia ter colocado de castigo por um mês! – deu uma colherada – Mas deixa Nazira comigo! Se me aprontar mais uma, dou um sumiço no celular e aí eu quero ver! – resmungava

 

--Ruau shii! – o animal se manifestou antes de pular da mesa

 

--Nem Sultan tem paciência pras bobagens de Nazira! – Malika continuava falando sozinha – Ô, meu Pai... traz minha Zaida de volta... – pediu lamentando – Talvez ela conseguisse colocar juízo na cabeça dessa adolescente de quase trinta que eu tenho aqui em casa...

 

***

 

Vivinácia e uma mulher conversavam em um restaurante simples em Copacabana.

 

--Eu penei pra te encontrar, madame! – a mulher dizia – Vi propagandas suas na internet falando de uma sala aqui em Copa, que agora tá vazia, e fiz de um tudo pra ver se podia entrar em contato de alguma forma. – olhava para a caipira – Por sorte, a conhecida de uma conhecida de uma conhecida tinha seu celular e... – abriu os braços brevemente – aqui estamos! – sorriu – Fiquei feliz quando a senhora logo lembrou de mim! – bebeu um gole de chope

 

--E é claro que eu me lembraria, Beatriz! – Vivinácia respondeu de pronto enquanto suas memórias logo a visitaram

 

“--Araxá! Foi pra lá que ele foi! – orientou – Pega um ônibus, chega na cidade e pergunta pro pessoal do hotel balneário onde morava seu Gusmão e todo mundo sabe dizer. – olhava nos olhos de Beatriz – O telefone do escritório de advocacia tá escrito numa placa pendurada na porta da casa, que tá à venda! – Vivinácia soltou bruscamente as mãos da cliente e teve que se controlar para não cair – Ave Maria! – a cabeça girava – Ai... – sentia-se mal

 

--Obrigada, madame Vivi! – agradeceu com os olhos marejados – A senhora não sabe o bem que me fez! – sorriu – E eu prometo que assim que receber minha herança, eu venho lhe agradecer!”

 

--Pela sua fineza, -- reparava nos trajes da outra – deduzo que os trem da herança tudo se resolveram. – bebeu um gole de refrigerante

 

--Sim! – respondeu empolgada – Foi até mais rápido que eu imaginava e é por isso que vim lhe procurar! – debruçou-se sobre a mesa – Eu prometi e vou cumprir! – olhou para os lados para ver se alguém prestava atenção – Tio Gusmão tinha muito mais propriedades do que sonhei imaginar! – cochichou – E como agora é tudo meu, vou lhe dar um apartamento que ele deixou no Leblon

 

--O que?!! – engasgou-se com a bebida – Eita! – ficou sem ar – Ave Maria, crê em Deus Pai!

 

--Madame, calma! – levantou-se rapidamente e deu tapinhas nas costas da outra – Respira devagar, calma! – pediu preocupada

 

--Ai... – respirou fundo – Vixe! – ajeitou-se na cadeira – Tá tudo bem eu só... não esperava por isso. – tentava se controlar – “Pai Amado, será que eu tô sonhando?” – perguntou-se

 

Sentou-se novamente e continuou falando baixo. – Eu não quero mais viver no Rio, sabe? Gostei de Araxá e é lá onde quero morar, bem na mansão que o tio deixou. – olhava para a caipira – As outras propriedades dele tão todas em Minas. Fora de lá é só esse apartamento no Leblon, que mesmo valorizado não me interessa. – gesticulava – E pode ficar tranquila porque conheci um advogado fodástico e ele vai me ajudar a passar o imóvel pro seu nome como se fosse uma herança também. – sorriu novamente – E herança não faz jus a pagamento de imposto de renda. – piscou em cumplicidade

 

“É bom demais pra ser verdade!” – estava pasma – E já que o apartamento é no Leblon, porque não pegamos o metrô e vamo lá pra eu conhecer ele? – mal disfarçava a empolgação – Aproveitar o tempo, uai!

 

--Metrô que nada! – fez um gesto de discordância – Vou chamar um Uber Xique e a gente vai lá agora. Deixa só eu pagar essa continha. – procurou o garçom com o olhar – Faz favor? – chamou o homem – A conta?

 

“Eu morando na zona sul, apartamento no Leblon!” – Vivinácia pensou embevecida – “Tudo que eu sempre sonhei vai se realizar e eu vou morar em bairro nobre!” – sentia-se orgulhosa – “Mal posso esperar pra ver meu futuro lar!”

 

***

 

Vivinácia estava em seu barraco, deitada na cama e pensando no que aconteceu naquele dia. Não conseguia tirar da cabeça o apartamento que iria ganhar. Desde que chegou na portaria do prédio foi amor à primeira vista. “A caipira vai morar na Rainha Guilhermina, pertinho da praia!” – cruzou os braços por trás da cabeça – “Quem diria, hein, Vivinácia Soares Silva? Depois de tudo que passou, você finalmente vai realizar um sonho!” – sentia-se satisfeita

 

Empolgada e fazendo mil planos, Vivinácia deixou a mente vagar por memórias de inúmeras experiências do que vivera até então.

 

“--Essa menina é mesmo um azarão! – uma mulher idosa dizia – A mãe morreu no parto e agora foi o pai que bateu as bota do nada! – olhava para pessoas que estavam no velório – A única parente que tem é dona Dalva e essa aí não vai querer saber de cuidar de filha dos outros!

 

--Dalva já me disse que fica com ela, mas vai botar pra trabalhar duro! – um homem respondeu – Tá certa, não vai ficar dando boa vida, uai! – concordava – Além do mais ouvi dizer que a menina é meio mão leve! – dedurou – Parece que rouba os ovos das galinha dos outros por aí!

 

--Ah, eu tenho pena, gente! Ela só tem 7 anos e deixa eu te contar: o pai não era nenhuma boa bisca! – outra mulher falava – Beberrão, estúpido, vagabundo... Nem deixou a menina estudar direito e colocou ela pra esmoler! – gesticulou – O que vai ser dessa criança?

 

--Casar com marido rico é que não vai! – um idoso afirmou de pronto – Mulatinha um bocado feia, não promete que vai ser moça bonita, não!

 

A pequena Vivinácia ouvia tudo sem que os adultos soubessem.

 

***

 

Vivinácia saía pé ante pé da casa da tia. Com um saco de Avevita nas costas, o qual havia transformado em mochila improvisada, levava o pouco que julgava seu. Também carregava escondido no sutiã uma modesta quantia de dinheiro que havia roubado do armazém da mulher. “Tia Dalva já me explorou o suficiente, uai!” – pensava enquanto fugia – “Os trem que peguei dela não vai deixar ninguém em precisão de nada!”

 

Uma vez do lado de fora, a jovem caipira seguia apressada em direção à estrada. Buscava uma carona para sair daquela cidade e ganhar o mundo.

 

--Opa! – sorriu empolgada – Esse aí parou! – correu até o caminhão que a aguardava – Basnoite, moço! – cumprimentou assim que viu o homem – Pronde o senhor tá indo?

 

--Pra Bahia! – respondeu desconfiado – Tu não é menor de idade não, né? – reparava na jovem – E nem é puta, né? – queria saber – Eu me converti faz pouco tempo e não quero saber de bagunça nem de problema!

 

“Eita, bicho simpático!” – pensou – Tenho dezoito e não sou puta, seu moço! Só quero sair dessa roça mode ver se melhoro de vida!

 

--Então sobe. – chamou – Simbora pra Bahia!

 

Vivinácia subiu ne boleia do caminhão e logo se acomodou. Sentia-se livre pela primeira vez na vida.

 

***

 

--Ô, passa fome? – uma mulher chamou – Aqui, ói, mulherzinha! – acenou – Ô, caipira!

 

--Uai? – a caipira olhou na direção da voz – Passa fome por quê? – perguntou desconfiada – E a senhora quem é? – levantou-se devagar

 

A mulher aproximou-se e parou próxima à jovem. – Quem rouba despacho pra comer é o que? – colocou as mãos na cintura – Ou você pensa que eu não sei dos teus maus feitos, bichinha?

 

Ficou sem graça, mas tentou disfarçar. – Ô, dona, eu só tava sentada aqui no meio fio perto do seu terreiro... não quer dizer que tava fazendo jeito de roubar nada não, sô! – mentiu

 

Achou graça e cruzou os braços. – Não tenta me enganar que é pior! Não nasci ontem e já percebi que você tá ao relento nessa cidade. – reparava na outra – Tá precisando é trabalhar pra sair desse miserê.

 

Não entendeu onde a mulher queria chegar e teve medo.  – Olha, dona, eu tô saída, viu, fi? – deu um sorriso amarelo – Inté! – cumprimentou e se preparou para partir

 

--Fique, mulherzinha? – pediu com simpatia, fazendo a jovem deter o passo – Me ajude e te dou pouso e comida. – a caipira novamente virou-se de frente para ela – Em troca tu trabalha pra mim e me ajuda a tirar um dinheiro dos trouxa. – ofereceu – Meu nome é Marta, eu trabalho nesse terreiro, mas não quero ficar aqui a vida toda e também tenho meus parangolés. Preciso de uma... ajudante pra fazer a coisa andar! – reparava na moça – E essa é você!

 

“Uai? Então ela é golpista?” – surpreendeu-se – Ah, eu... – pensava no que fazer – Então tá então, dona! – concordou – Meu nome é Vivinácia. – apresentou-se -- Começo quando? Agora? – sorriu

 

Achou graça novamente. – Agora! – confirmou – Mas Vivinácia não é nome que se apresente! – balançou a cabeça negativamente – De agora em diante você será Vivi, minha jovem cigana cartomante!

 

***

 

--Você é doida, Vivinácia! – Marta ria lembrando-se das atitudes da jovem – Que conversa é essa de madame Vivi? Aonde? – balançava a cabeça – É cada maluquice que sai dessa sua boca que vai chegar um ponto que o povo há de desconfiar de ti! – continuava rindo

 

--Bote fé que esse meu disfarce tem futuro! – afirmou enfática – Todo mundo acha esse trem de cigana caipira um negócio diferente! – sorria – Eu tô bolando um jeito de fazer um tarô caipira que ninguém tem e vai ser um sucesso! – gesticulava – É só eu me atinar num jeito de fazer as carta bem convincente, não sabe?

 

--Ai, ai... – gastou uns segundos calada antes de voltar a falar – Me diz uma coisa, mulherzinha... – reparava na outra – Tu ainda é cabaço?

 

--Oxe! – ficou nitidamente sem graça – E o que isso tem a ver com nossos negócio, uai? – ajeitou-se no sofá

 

As duas mulheres estavam no barraco em que Marta morava, no bairro de Alto da Teresinha, em Salvador.

 

--Muita coisa! – levantou-se e se aproximou – Eu te ensinei o que sabia sobre a arte de ser cigana. – ajoelhou-se diante da jovem e abriu-lhe as pernas, acomodando-se entre elas – Agora vou te ensinar sobre a arte do deleite das mulheres... – buscava seduzi-la

 

--Uai? – sentiu um frio na barriga – Mas assim? – não sabia o que fazer – “Ora, mulher, tu nunca arruma nada mesmo!” – pensou – “Encara essa e sai do zero a zero porque não dá pra continuar virgem aos 20 anos!” – engoliu em seco – E eu faço o que? – estava tensa

 

--Nada. – enfiou as mãos por dentro da saia da outra e puxou-lhe as calcinhas – Só abre bem essas pernas e relaxa! – jogou a calcinha da jovem no meio da sala – Relaxa! – beijou-lhe o joelho direito e seguiu uma trilha de beijos e lambidas em direção ao sex* da caipira

 

--Ave Maria! – arregalou os olhos ao sentir a mulher invadindo-lhe a intimidade com fúria – “Faz o que ela falou!” – pensou ao fechar os olhos – “Relaxa e goz*!” – suspirou”

 

--Marta... – Vivinácia vislumbrou o rosto da outra em sua mente – Feia de doer, mas fazia um oral bom que misericórdia! – riu brevemente – Por onde andará aquela criatura? – perguntou-se

 

--Depois que você a roubou e fugiu pra Minas? – um conhecido ser do mundo astral materializou-se lentamente diante da caipira – Ela se refez e arrumou outra jovem pra usar no seu lugar. – olhava para a mulher – E você passou os anos seguintes vivendo de pequenos golpes como cigana caipira, furtos e momentos de honestidade trabalhando como diarista. – sorriu – Quer dizer, a menos quando roubava algo das casas que faxinava!

 

--Uai? – sentou-se na cama sobressaltada – O que é que o senhor quer comigo? – perguntou diretamente – Ultimamente é vira e mexe sua aparição sempre que acontece um trem sério na minha vida! – olhava para o homem sombrio – Quem é o senhor afinal? – queria saber

 

--Senhor? – sentou-se aos pés da cama – Agora seremos formais? – perguntou com ironia – Eu te acompanho desde que você conheceu a Marta. – prestava atenção nas reações da mulher – Mas você demorou a desenvolver e por isso eu demorei a poder me mostrar. – pausou brevemente – Agora te vejo aí, toda felizinha porque vai morar num apê no Leblon e fico pasmo em como pode pensar tão pequeno! – ironizou novamente – Quem você acha que inspirou aquela tal de Beatriz a te procurar? Quem acha que a ajudou a te encontrar? – abriu os braços brevemente – Ela andava feliz e saltitante sonhando como a nova vida em Araxá e nem lembrava mais da madame Vivi! Eu que a fiz cumprir o que te prometeu!

 

--E por quê? – perguntou diretamente – Você não me parece ser o tipo de espírito que faz os trem a troco de nada!

 

--Não mesmo! – concordou de pronto – Nasci pobre, não tive amor e carinho de ninguém e vivi uma vida miserável até a minha morte por tuberculose aos 32 anos! – resumiu sua história – Eu andava pelas cercanias daquele terreiro em que Marta trabalhava e me identifiquei com você logo de estalo, porque tivemos histórias um tanto quanto parecidas! – olhava nos olhos da caipira – Eu quero poder, quero sentir o gostinho da vitória ao menos uma vez e você pode ser minha porta pra isso! – falava com uma certa fúria – Fique do meu lado e dessa vez posso fazer de você uma verdadeira madame Vivi e não vai ter ladrão, traficante, miliciano ou merd* nenhuma pra te roubar novamente! – prometeu – Você nunca mais vai sentir o gosto da pobreza!

 

Vivinácia sentia medo, mas ao mesmo tempo via-se bastante tentada a aceitar aquela proposta.

 

***

 

“--Mas o que você está fazendo aqui? – Yesmin perguntou ao dar de cara com Zaida  – Quem te autorizou a entrar nessa casa e invadir meu quarto?

 

--Eu vim com Stefany porque ela me chamou e daí decidi vir no seu quartinho pra retribuir a visitinha que você me fez outro dia, lembra? – debochou

 

--Fico passada com os seus abusos! – aproximou-se da cuidadora – Saia do meu quarto agora mesmo ou... – sentiu as mãos da outra segurando-a fortemente pelos ombros – AH! – gritou surpreendida

 

Inesperadamente Zaida jogou a engenheira deitada na cama com um golpe de jiu-jitsu. – Fica quieta aí! – ordenou imperativa

 

--Mas o que...? – arregalou os olhos – Você é louca ou o que? – perguntou apavorada

 

--Sou louca sim! – respondeu ao rasgar a roupa de uma vez só – Mas por você! – pulou em cima da CEO e arrancou-lhe as roupas com fúria enquanto a beijava e mordia em todas as partes”

 

--AH!!! – sentou-se sobressaltada – Meu Deus!

 

--O que é isso, mulher? – Rogério acordou assustado também – Que grito foi esse? – sentou-se lentamente – Quer me matar do coração? – passou a mão no peito

 

--Tive um pesadelo! – levantou-se de um pulo – Aff! – passou a mão nos cabelos

 

--Eu não sei o que há com você! – reparava na esposa – Parece que vive tensa às 24 horas do dia!

 

Deu um suspiro profundo antes de voltar a falar. – É Stefany! – mentiu – Olha, eu vou no banheiro me recompor, mas na volta gostaria de conversar com você sobre isso! – pediu

 

--Às... – olhou rapidamente para o relógio – quatro e quinze da manhã?? – perguntou incrédulo – Tá bom, vai? – suspirou conformado – Vá se recompor e na sua volta conversamos. – recostou-se com seu travesseiro na cabeceira da cama

 

--Já volto! – entrou rapidamente no banheiro da suíte e se olhou no espelho – “Eu tô ficando louca, não é possível!” – pensou – “Que sonho ridículo foi aquele?” – sentou-se no sanitário e percebeu que estava toda molhada – “E o pior é que acordo desse jeito!” – suspirou – “Aquela Carmen foi um verdadeiro demônio na minha vida! Depois dela parece que perdi a noção!” – passou a mão nos cabelos – “E Zaida é outra peste que veio pra me infernizar o juízo!” – pegou a duchinha para se lavar – “Que ódio!”

 

“Stefany deve ter aprontado alguma de mestre!” – Rogério pensava – “Em todos esses anos nunca vi Yesmin acordar gritando por causa de pesadelo!” – considerou – “Mas as postagens dela até que andam tão comportadas ultimamente... O que será que essa menina fez?” – não conseguia imaginar – “Será que tem a ver com Luiza? Por mais de uma vez a governanta disse que aquela garota dormiu aqui! Desconfio que as duas andam tendo um caso!” – coçava o queixo – “Hum...”

 

 

Fim do capítulo