--Depois de tudo que ouviu, só me resta dois conclusões: -- Adma dizia – faltou humildade em seu conversa. – olhava para a neta – Não se pode pedir perdão a alguém condenando o pessoa por seu próprio desgraça. – viu que a jovem abaixou a cabeça – E o segundo ponto é que Yesmin é o solução! – afirmou enfática – Já não há mais como adiar envolvê-la nessa!

 

--Oi?? – Stefany levantou a cabeça surpreendida

 

--Tem todo sentido! – Zaida concordou de pronto – Fernanda não lhe falou que não guarda mágoas da sua mãe e que ela continua sendo a referência pra uma série de coisas? – repetiu o que ouvira da jovem – Portanto, não há outra forma de se fazer ouvir se não pela voz da sua mãe! – enfatizou

 

--Ah! – ficou pasma – Pessoas, olha só, -- a jovem gesticulava – vocês juram que tão acreditando que a toda poderosa CEO da BoFe vai comigo pra uma cadeia ferrada só pra dar moral pra hacker? – riu brevemente – Nem fudendo!

 

--Olha palavreado, aHHa! – Adma ralhou de cara feia

 

--Foi mal, vó! – desculpou-se – Mas não creio, tá ligada?

 

--É a única forma de dar certo! – Zaida insistiu – Entre você e Fernanda não tem mais como ter diálogo!

 

--Você tem que convencer Yesmin! – Adma insistiu igualmente – Só ela pode ajudar Fernanda e você a conseguir o que cada um precisa: recomeço e perdão! – ponderou – Eu sei que você consegue tudo que quer; você é do clã de Zahia! – destacou -- Eu não consegue imaginar Stefany Zahia Torricelli Beckman desistindo fácil de nada! – gesticulou

 

--Nem eu! – Zaida deu força

 

“Puta que pariu!” – a jovem pensou ao suspirar – “Tô fudida!” – pensava – “Era tudo tão mais fácil na vibe porr* louca e botão foda-se...”

 

***

--Dona Malika, a senhora não pode fazer isso! – Nazira protestava – Não é justo esconder meu celular e me deixar de castigo em casa! – cruzou os braços indignada – A senhora não diz que tenho que me comportar como adulta? Então como é que me castiga feito criança?

 

--Acontece que a madame trouxe pra dentro dessa casa, e sem o meu consentimento, uma tal de Nazaré que nunca vi na vida, além de ter enchido a pança da mulher com o tanto de comida que tava reservada pro nosso lanche da semana! – gesticulou com o dedo em riste – Tudo pelo fogo no rabo atrás do nerd do prédio! – olhava para a outra – Então vai ficar sem celular pra não ter brecha de conversar com robô digital! – referia-se ao FalaGPiTaco – E vai ficar sem sair pra aprender a tomar jeito de gente!

 

--Duas semanas de castigo é muito tempo! – continuava reclamando indignada

 

--Reclame bastante que passo pra um mês! – ameaçou – Agora com licença que tenho o que fazer na rua! E espero te encontrar aqui quando voltar! – foi até a porta da sala e a abriu – De preferência sozinha! – saiu de casa e trancou a porta – E vê se cuida bem do meu Sultan! – advertiu do lado de fora

 

--Mas que inferno! – chutou o sofá – Até hoje nunca pude tricotar com meu Pitaco pra dizer a ele tudo que minha cunha me contou! – resmungava sozinha – Droga, droga, droga! – viu que o gato roía a estante da sala – E ainda ter que aturar esse bicho possuído! – suspirou em frustração – Ai, meu nerd, casa logo comigo pra me tirar dessa sina triste! – benzeu-se

 

***

 

Malika reparou que uma senhora sentada ao seu lado havia chorado copiosamente durante toda missa e aquele sofrimento a tocou muitíssimo. Ao final, no momento em que as pessoas começaram a sair da igreja, aproveitou uma oportunidade para puxar conversa.

 

--Com licença? – cumprimentou gentilmente – Será que aceitaria? – ofereceu uma flor à mulher, que a recebeu – Eu acho que quando a senhora entrou na igreja as rosas tinham acabado. – explicou – São as rosas da Primavera Sagrada. – sorriu com simpatia – Desejo sinceramente que o desabrochar das flores da primavera amenizem o seu sofrimento!

 

--Oh, que gentil! – exclamou embevecida – Muito obrigada! – passou um lencinho sobre os olhos úmidos – Eu ando muito triste por causa de tudo que aconteceu com minha filha, sabe? – fungou – Aliás, nem me apresentei, perdoe. – estendeu a mão direita – Ana, prazer.

 

--Malika, encantada. – soltaram as mãos – Vamos indo? – levantaram-se e se encaminharam para sair – Mas, perdoe a indiscrição... sua filha está doente? – queria saber

 

--Não... é bem pior que isso. – respondeu enquanto caminhavam – Ela caiu na lábia de uma moça filha de gente rica e invadiu a internet de uma faculdade pra pegar a prova do vestibular. – pausou brevemente – Ela sonhava em trabalhar na BoFe e a moça era simplesmente a filha da chefona de lá! – pensava em Stefany – Prometeu a ela que se fizesse o que fez, ia conseguir trabalhar naquela empresa, mas no final, o que conseguiu foi ser humilhada e presa! – resumia o caso

 

--Eu acho que lembro dessa história na televisão... – Malika respondeu pensativa – Ei! Essa tal de BoFe não é aquela maldita empresa daquele negócio de inteligência artificial que fica dando pitaco na vida dos outros? – viu que a mulher balançou a cabeça positivamente – “Não é à toa que eu odeio aquele troço!” – pensou revoltada

 

--É... – suspirou – E por causa de tudo isso, desde então nossas vidas têm sido um martírio! – pausou brevemente – Mas confio em Deus, entreguei minha menina nas mãos da Virgem e sigo firme na luta pra conseguirmos superar tudo isso! – olhou para Malika – Que tipo de mãe abandonaria a própria filha, né? – sorriu com tristeza – Muito obrigada pela rosa! E novamente, prazer em conhecê-la! – despediu-se e partiu

 

--Que mãe miserável faria isso? – perguntou-se tristemente ao observar a partida de Ana – Você, Malika... – sussurrou para si mesma – Vá com Deus, dona... – suspirou e partiu também

 

***

 

Vivinácia preparava-se para sair após encerrar os atendimentos do dia. Havia acabado de se trocar quando teve sua sala invadida por dois homens armados.

 

--Uai, mas o que é isso aqui?? – arregalou os olhos

 

--Madame não sabe de tudo? – um dos homens perguntou debochadamente enquanto apontava-lhe um revólver – Então eu não preciso me apresentar, né mesmo? – riu com o parceiro

 

--Junta seus trapinhos e desce com a gente sem dar bandeira de nada! – o outro ordenou – A gente vai fazer um passeio rápido!

 

“Eu não acredito!” – pensou apavorada – “Oh, meu Deus, não pode tá acontecendo isso comigo!” – lamentou-se

 

Vivinácia desceu com os homens pelo elevador e saiu do prédio com eles sem que ninguém notasse que ela estava sendo vítima de um sequestro. Foi conduzida até um carro de vidros filmados, onde outro sujeito aguardava no volante.

 

--Entra aí! – um dos homens a empurrou assim que abriu a porta – Anda logo! – entrou também e sentou-se do lado dela

 

O outro homem deu a volta e se sentou do lado oposto, ensanduichando a caipira no banco de trás.

 

--Madame tá chique! – o homem ao volante debochou – Já até passeia de motorista! – riram e ligou o carro – Simbora pro banco mais próximo!

 

--Cê vai fazer uns saques e transferir o resto pra chave Pix que nós vai te passar! – um dos bandidos ordenou – E nada de gracinha, senão leva bala no meio dos cornos, entendeu?

 

A mulher nada respondeu e continuava sem acreditar no que estava acontecendo. Após realizar várias trans*ções em um caixa eletrônico e ainda rodar com os homens à revelia pelas ruas da cidade, Vivinácia foi deixada num ponto ermo do bairro de Guadalupe, próximo à Avenida Brasil. Era quase meia noite.

 

Andando sem ver o mundo exterior, a caipira só conseguia sentir ódio e revolta. “Eu não acredito! Fiz tanta coisa, trabalhei tanto e todo dinheiro que juntei foi-se todo embora nas mãos de bandido!” – chorava com raiva – “Fiquei praticamente sem um tostão! Mais pobre que nunca...” – sentia o coração batendo acelerado – NÃOOOO!!!!!!!!! – berrou descontrolada no auge do desespero

 

***

 

Zaida entrava no quarto da idosa silenciosamente. Percebeu que ela estava orando e não desejava atrapalhar aquele momento. Pingou as gotinhas do remédio no copo com água e se preparava para sair quando foi chamada por ela.

 

--Zaida? – Adma olhava para a cuidadora – Não vá embora. – pediu – Cadê o maluco da Wanderleya? – perguntou curiosa

 

--No banheiro, tomando banho. – aproximou-se e sentou-se na cadeira de frente para a cama da idosa – Percebi que a senhora estava em oração e não quis lhe perturbar.

 

--Você nunca perturba. – respondeu ao sorrir – Aliás, sabia que eu não tinha hábito de oração? – confessou – Mudei isso graças a uma certa cuidadora. – riram brevemente

 

--E o que mais a senhora mudou graças a uma certa cuidadora, hein? – perguntou brincalhona ao beijar-lhe a mão direita

 

--Tanto coisa que nem sei explicar. – recolheu a mão lentamente e baixou os olhos – Lamento não ter lhe conhecido antes...

 

--Antes do que? – perguntou com carinho

 

--Antes de virar um velha caquética. – mexia nas próprias mãos – Queria ter lhe conhecido quando ainda era um mulher interessante... – olhou receosamente para a outra – Mas naquela época você era o que? Criança? Não tinha nascido? – riu brevemente – Que pena que o tempo nos separou tanto... – lamentou

 

Estranhou o que ouviu. – Não separou, não. – respondeu com brandura – Nós nos conhecemos no momento certo! – afirmou convicta – Antes, nem eu e nem a senhora estaríamos preparadas. – sorria – E se quer saber, muita coisa em mim mudou depois da senhora. – confessou – Tanto que eu nem saberia me explicar! – pausou brevemente – Acho que... eu não teria tido coragem de deixar a Vivi, mesmo sabendo de tudo que ela fazia...

 

--Não? – perguntou surpresa – E por que me conhecer te deu esse coragem?

 

Não sabia o que responder, embora houvesse dito a verdade. – Eu... – pensava no que dizer – É que... eu...

 

--Meninas, cheguei! – Wanderleya entrava no quarto – Eu crente que as duas estavam dormindo e olha o que vejo? – dizia brincalhona – De cochicho no quarto na calada da noite! – olhava para as duas mulheres – Já tomou as gotinhas de antes de dormir?

 

--Olha essa minha cabeça! – Zaida se levantou e pegou o copo – Pinguei o remédio e esqueci de dar a ela. – entregou o copo à paciente

 

--E eu esqueceu de pedir! – recebeu o copo e tomou o remédio

 

--Que seria de vocês sem mim, viu? – Wanderleya brincou – Mas já que as duas tão sem sono, que tal jogarmos um baralhinho? – propôs

 

--Que baralho, mulher? – Zaida respondeu achando graça – Amanhã dona Adma tem a neurorreabilitação na piscina, não pode ficar dormindo tarde. – pegou o copo das mãos da idosa

 

--Não pode! – Adma concordou – Hora de dormir! – ajeitou-se para deitar na cama

 

--Então simbora dormir! – Wanderleya bateu uma palma

 

Após a idosa se acomodar na cama, as duas cuidadoras se prepararam para se deitar também.

 

***

 

Stefany percebeu que a mãe estava sozinha trabalhando no quarto e achou que era o momento certo de abordá-la. Não tinha ideia de onde o pai andaria, mas pelo adiantado da hora desconfiou que deveria ter viajado por conta de algum congresso ou evento de trabalho.

 

--Mãe? – deu uma batidinha na porta antes de entrar – Preciso levar um papo reto contigo, tá ligada? – anunciou – A parada é séria! – aproximou-se da mulher e parou diante dela

 

--Boa noite, filha, tudo bem? – perguntou irônica ao parar de digitar – Que parada séria a senhora teria pra tratar comigo? – cruzou os braços

 

--Seguinte: tenho uma missão pra você! – anunciou de imediato – E tem que agir pra ontem, sabe qual é? – passou a mão nos cabelos – Eu já tô na moral, mas agora é contigo!

 

--Será que dá pra ser mais clara? – não entendia – Como assim, tem missão pra mim? – continuava de braços cruzados – Desde quando você me passa tarefas, Stefany? – perguntou indignada

 

--Cê precisa agitar teus advogados pra tirar Fernanda do xilindró, tá ligada? – foi direto ao assunto – E arrumar uma parada pra ela fazer lá na BoFe quando sair. Não interessa qual! – gesticulava – Essa história toda já foi longe demais e não rola de manter!

 

--O que?? – debruçou-se sobre a mesa – Que conversa é essa agora? – continuava sem entender – Essa história passou e esse caso já foi! Ela que se vire com o advogado dela pra encurtar a pena!

 

--É ruim que já foi! – discordou de pronto – Ela já foi até estuprada naquela porr*, perdeu tudo que tinha, se fudeu por completo! – continuava argumentando – O mínimo que você pode fazer é o que eu tô pedindo, tá ligada? – encarava a mãe – A maluca tá toda mudada, emagreceu, envelheceu, parece nem a mesma!

 

--Mas, peraí! – levantou-se da cadeira lentamente – Como é que você sabe de tanta coisa, hein, Stefany? – olhava firmemente para a filha – Não me diga que...

 

--Eu fui ver ela na cadeia, porr*! – interrompeu a fala da outra

 

--O QUE?? – não acreditava

 

--Fui na humilde, na moral, pedir perdão, mas ela me odeia! – pausou brevemente – Só que ela super te venera e se você for lá comigo...

 

--VOCÊ TÁ MALUCA?? – exaltou-se – EU JAMAIS VOU BOTAR OS PÉS NUMA CADEIA! – afirmou furiosa – E você foi lá, meu Deus! – andava de um lado a outro do quarto – E se algum repórter, paparazzi ou coisa do gênero te viu...? Ai, não, eu não quero nem pensar nisso!! – falava mais para si do que para a filha

 

--Não delira, Yes me, paparazzi? – riu brevemente – Deixa de show e me escuta aqui, ó! – estalava os dedos das duas mãos – Cê tem que fazer alguma coisa pra ajudar! – insistiu – Eu quero isso e até minha vó quer, tá ligada?

 

--Sua avó?? – olhou novamente para a filha – E o que ela tem a ver com isso?? – continuava furiosa – Não me diga que foi ela que andou te enchendo a cabeça com essas ideias?? – queria saber – Claro que foi! Até a mim ela também andou perturbando com isso! – pensou em voz alta -- E você foi pra cadeia se humilhar, pedir perdão e aí? – gesticulou – Fernanda te exigiu que eu mexesse os pauzinhos pra tirar ela de lá e de quebra disse que te odiava? – desejava entender o que houve

 

--Ela não me pediu porr* nenhuma e pegou total ranço de mim, né? Mas eu não julgo, tá ligada? – olhava para a mãe – Não era pra ter sido como foi, a parada foi toda na sujeira... – gesticulava – Agora é a hora de desfazer a merd*! – pausou brevemente – Eu fiquei muito mal depois que saí de lá... me senti um lixo! – confessou – Mas depois da real que minha vó e Zai bateram comigo, tô certa que é hora de agir, sabe qual é?

 

--Humpf! – fez um bico – Claro que aquela maldita enxerida tinha que estar envolvida nisso! – cruzou os braços contrariada – Eu tenho que demitir aquela uma, não tem mais jeito!

 

--Meu cu que cê vai demitir! – revoltou-se – Minha vó adora ela, eu também e a maluca é muito pobre! Cê não pode fazer isso! – não aceitava – O muquifo que ela mora não chega ao tamanho da porr* do meu quarto!

 

--Olha lá como fala comigo, hein, Stefany? Olha lá! – aproximou-se com o dedo em riste – E como que você sabe como é a casa dela? – calou-se por uns instantes – Não me diga que aquela sapatão sem vergonha te levou pra casa dela?? – arregalou os olhos

 

--Eu que fui lá, tá ligada? – admitiu – Pedi o endereço pra agência e eles me deram. E se quer saber eu nem sabia que ela é bolacha! – dizia a verdade

 

--Bolacha! Ela tá merecendo é tomar umas bolachas naquela cara de santinha do pau oco! – mais revoltada ficou – Stefany, -- segurou a filha pelos ombros – não me diga que você foi pra cama com ela?? – apavorou-se com a possibilidade

 

--Não viaja, mãe! – desvencilhou-se – Eu fui lá porque tava down! – não entendia as reações da CEO – Mas o assunto nem era esse, tá ligada? – olhava nos olhos – A Fernanda te admira pra caralh*, te acha super foda e nem tá irada contigo apesar de tudo! O mínimo que você podia fazer era quebrar essa pra ela! – insistiu – E se você tem algum amor por mim, se eu valho alguma merd* pra você, quero que faça o que tô te pedindo: -- emocionou-se – vai pra porr* daquela cadeia comigo, fala com ela e se vira pros teus engravatados tirar ela de lá! – passou as mãos nos olhos rapidamente – E dá um emprego na BoFe também!

 

“Ela realmente se importa com isso!” – pensou admirada – O que deu em você, filha? – queria entender

 

--Caí na real! – respondeu de pronto – Agora falta você! – caminhou até a porta do quarto – Fui! – saiu rapidamente

 

--Eu não acredito nisso! – sentia-se desnorteada – Mas sei exatamente o que vou fazer antes de mais nada! – mirou um ponto no infinito

 

***

 

--Ai, seu Pedro, desculpa mas esse seu celular é muito ruim! – Nazira reclamava com o porteiro do prédio – Eu só escrevi uma coisinha e o Pitaco tá levando uma eternidade pra me responder! – suspirou – Ah, toma seu celular de volta! – desistiu – Daqui a pouco dona Malika chega, me vê aqui e a coisa vai ficar ainda pior!

 

--Eu fui assaltado dia desses, Nazira, levaram meu celular! – guardou o aparelho no bolso – Esse aqui é um quebra galho que meu filho me arrumou até eu ter dinheiro pra comprar outro. – explicava – Mas ele me serve de bom tamanho pra fazer Beth!

 

--Fazer o que? – não sabia do que se tratava

 

--Beth! – pegou o celular novamente – Isso é um aplicativo pra apostar! – mostrava para a mulher – Com ele eu posso apostar em time de futebol, jogar em cassino e outros bichos! E tudo dentro do celular, sem sair de casa e sem risco de cair em mão de malandro. – continuava apresentando o funcionamento – Tô sempre fazendo uma fezinha e já ganhei bem uns trezentos reais! – afirmou orgulhoso

 

--Jura?? – perguntou interessada – Então me explica direitinho como funciona que assim que eu recuperar meu celular quero usar isso aí! – exclamou empolgada – “Vai que eu fico rica, compro minha casa própria e daí o nerd se empolga e me pede em casamento?” – pensou – “Vou conversar com o Pitaco sobre isso. Vai que ele me dá umas dicas na hora de apostar?” – estava esperançosa

 

***

 

Vivinácia estava deitada na poltrona da sala de seu barraco. Já haviam se passado dois dias desde que sofrera o sequestro relâmpago e ela nada havia feito a respeito. Afinal, uma vez que o dinheiro roubado era fruto de trambiques, não se sentia segura para se queixar em alguma delegacia. Como justificar ter juntado tanto em tão pouco tempo?

 

“É um inferno, uma merd* mesmo!” – pensava com o coração revoltado – “Fiz tanta coisa, labutei tanto, estudei tanto com ajuda do FalaGPiTaco e pra que? Praqueles malditos terem chegado e levado tudo numa tacada só!” – sentia muito ódio – “Agora vou ter que me virar em mil pra pagar o aluguel da sala daqui a três dias e ainda ter dinheiro pra conseguir fazer o mínimo!” – cruzou os braços atrás da cabeça – “Aliás, é melhor eu mudar de pouso porque ali ficou manjado e não tem segurança nenhuma, uai!” – decidiu – “Merda, merd*, merd*!”

 

De repente, um conhecido homem horripilante se materializou diante da caipira. Apresentou-se de pé e usando um terno sombrio. – Olá, madame Vivi? – cumprimentou com certa ironia – O que foi? Amargando a sensação de derrota? – sorriu

 

Levou um susto e se sentou rapidamente. – O que é que você quer comigo, sô? – perguntou desaforada – Veio rir da minha desgraça, é isso?

 

--Muito pelo contrário! – respondeu pacientemente – Vim aqui pra te lembrar que você passa por coisas do tipo apenas porque quer! – enfatizou – Ainda não percebeu que te entregaram praqueles caras? – provocou – Como a poderosa madame não sentiu que às vezes o preço de uns minutos de prazer pode ser caro demais?

 

--Aquela maldita vadia! – os olhos faiscaram de ódio

 

--Você precisa focar no que interessa! – aconselhou – Quando estiver disposta a isso, lembre-se de mim! – desapareceu lentamente diante do olhar da mulher

 

Vivinácia ficou pensando sem saber o que fazer.

 

***

 

Zaida estava sozinha em casa e havia acabado de lavar a louça do jantar. Preparou a marmita para o dia seguinte e saía da cozinha quando o som da campainha chamou sua atenção.

 

--Ih, deve ser o seu Pereira! – disse para si mesma – Ele falou que talvez viesse aqui hoje pra eu aplicar a injeção do Ciprofloxacino na esposa dele. – lembrou – Tô indo! – falou um pouco mais alto – Pronto! -- abriu a porta sorridentemente – Mas o que...?? – desmanchou o sorriso – “Eu não acredito nisso!” – pensou em estado de choque

 

--Surpresa em me ver? – a mulher perguntou com sarcasmo – Pois eu também nunca esperei um dia por os pés num lugarzinho como esse! – entrou na casa da outra como um foguete – Mas, sinceramente? Você parece uma peste que veio pra me infernizar a vida! – acusou – A minha e a da minha família! – falava com raiva

 

--Ah! – fechou a porta – Convidada não foi, então o que a toda poderosa CEO da BoFe veio fazer aqui, hein? – perguntou desaforada

 

--Vim porque você virou a cabeça da minha mãe! – aproximou-se da outra – E não bastasse isso, agora tá virando a cabeça da minha filha! – olhava nos olhos – Que história é essa de convencer Stefany a ir atrás daquela hacker na prisão? – cobrou – Você é uma grandessíssima manipuladora e eu já percebi muito bem qual é a sua! – falava com o dedo em riste

 

--Manipuladora, eu?! – indignou-se – Quem uma capitalista sem alma como você pensa que é pra me acusar dessas coisas?

 

--Veja lá como fala comigo! – advertiu

 

--Na minha casa, falo como quiser! – aproximou-se ainda mais

 

--Eu vou demitir você e mandar a agência te escorraçar! – prometeu – E você nunca mais vai arrumar emprego de cuidadora na casa de ninguém!

 

--Qual é o seu problema comigo, hein, senhora Yesmin? – perguntou desafiadora – Isso não tem nada a ver com a história da Fernanda, com sua filha e nem com dona Adma! Você é cismada comigo e me persegue desde o início! – discutiam cara a cara – Me diz, olhando nos meus olhos, qual é o seu problema comigo? – ordenou – E você nem quer realmente me demitir, porque se quisesse já teria feito isso há muito tempo! -- desafiou

 

A engenheira sentiu-se perturbada com aquela proximidade, mas não se afastou. Mirava o rosto de Zaida e se debatia internamente entre o que fazer ou dizer.

Fim do capítulo