Stefany estava parada no pátio do presídio. Era o início do horário de visita e a carcereira indicara onde Fernanda havia sentado para tomar sol. Depois de uns minutos criando coragem, respirou fundo e se aproximou. – E aí? – foi o que conseguiu dizer

 

A hacker levantou a cabeça e sentiu o sangue ferver. Estava sentada de costas para a outra. – O que você veio fazer aqui? – perguntou entre dentes e sem mais se mover

 

--Eu sei que sou a última pessoa que cê queria ver, tá ligada? – contornou a mulher e parou diante dela – Mas precisava levar um plá contigo. – falava com humildade – Na moral.

 

Olhou para a influencer de cima a baixo e riu brevemente com sarcasmo. – Qual é o problema? – perguntou de cara feia – Fez outra merd* e foi condenada a cumprir pena fazendo serviços comunitários? – falava com raiva – Arruma outra pra fazer média às custas dela, porque eu tô dispensando! – virou o rosto para não mais encarar a jovem

 

--Né isso... – estava envergonhada – É que eu tive pensando e... achei que a gente... – sentou-se hesitante no mesmo banquinho que a outra ocupava – A gente precisava se acertar, sabe qual é? – aguardou resposta e como não houve, decidiu continuar – Cara, não era pra ter sido a parada como foi, tá ligada? – lamentou – Quando tu foi presa, apareceu um cara atrás do meu pai com intimação e o caralh* a quatro e deu um merdelê ferrado! – contava a história – Minha mãe surtou, eles meteram advogado no rolo... – gesticulou brevemente – Tu dedou todo mundo, aí ficou aquele clima de salve-se quem puder e pressão total em cima de mim! – justificou-se – Se tu tivesse ficado na tua, eu podia ter dado um jeito de te safar!

 

Achou graça novamente e olhou para Stefany. – Dado um jeito de me safar?! – perguntou descrente – Você não olhava nem na minha cara no colégio! – alegou com raiva – Sempre tirando onda de superior, de influencer de sucesso, como é que dava pra confiar em você? – levantou-se – A prova de que não dava é o que aconteceu nesse processo todo!

 

--Cara, tu jogou todo mundo na merd*, queria o que, porr*? – retrucou de pronto ao se levantar também – E o nosso combinado era o de fingir que nem se conhecia, claro que eu não te dava ideia no colégio! – lembrava – Mas se tu tivesse ficado na tua, eu ia dar meu jeito de te safar! Na moral que ia! – pausou brevemente para não acabar se exaltando – Pô, não rola discutir mais isso; já foi, perdeu! – suspirou – E eu vim aqui na paz! – olhava para Fernanda – Vim pra te dizer que vou cumprir minha parte no trato!

 

--O que?? – não entendeu

 

--Eu vou infernizar dona Yes me pra te tirar daqui e quando tu sair, vai ter um emprego na BoFe esperando por você! – olhava nos olhos – Na moral! Podes crer! -- prometeu

 

Fernanda gastou uns segundos calada mirando o rosto da influencer antes de responder: – Sabe o que me ocorreu agora? – riu brevemente – Se eu tivesse me tocado, tinha gravado essa conversa e tava na minha mão uma tremenda confissão de culpa e de toda mentirada que vocês armaram pra cima de mim! – riu mais uma vez – Segunda vez que paguei de otária contigo! – balançou a cabeça contrariada – Eu não acredito em mais nada que você fale e não quero saber dos seus planos mirabolantes. Também não tô interessada num emprego na BoFe! Não mais! – afirmou com revolta – Esse tempo já foi!

 

Stefany não esperava ouvir aquilo.

 

--Sendo bem sincera, apesar dos pesares nem tenho raiva da dona Yesmin, porque ela nunca fez trato comigo e eu sei que as mães fazem de tudo pra preservar os filhos. Embora ela tenha sido muito errada, tava só te protegendo e protegendo tudo que ela construiu na carreira! – gesticulou – Não vou deixar de admirar a profissional que pegou uma start up sem eira nem beira, engajou num projeto visionário, conseguiu convencer os investidores que valia a pena e transformou a BoFe na empresa mundialmente foda que é hoje! Ela é uma gênia incrível e não vai deixar de ser minha referência pra uma série de coisas!  – olhava para a outra – Aliás, eu cheguei até você por causa da minha admiração por ela, que sempre esteve anos luz à frente de tudo que eu pudesse sonhar pra mim! – confessou – Um belo dia comecei a acompanhar suas postagens, te achei irada, popular, descolada, tudo aquilo que eu queria ser! E ainda estudando no colégio em que eu era monitora, olha só! – riu de si mesma – Eu acreditei que você tava mais perto da onde eu pudesse chegar... – balançou a cabeça negativamente -- Maldigo o dia em que te abordei naquele estacionamento! – afirmou com o dedo em riste – Você é o contrário da sua mãe! É uma parasita, que transforma em merd* tudo aquilo que toca! – acusou – É só uma garota bonita, num corpo bonito que abriga o espírito de uma idiota, mentirosa, egoísta e nojenta! – os olhos marejaram – Eu não quero nada que venha de você, porque você é um lixo de pessoa!

 

A jovem sentiu-se perturbada pelo que ouviu e não conseguiu evitar que seus olhos marejassem também. – Eu sinto muito por tudo... e... não tive culpa pelo que te fizeram... – referia-se ao estupro

 

--Teve sim! – respondeu de pronto – Aquela Fernanda que você conheceu, morreu! – foi enfática – E essa que tá aqui, -- bateu no peito – tem nojo de você e te odeia profundamente! – percebeu o impacto de suas palavras sobre a outra – Agora vai embora, some, e nunca mais ouse voltar! – pediu enérgica – Porque do contrário, juro que você vai se arrepender amargamente! – trincou os dentes – Onde já se viu? Ferra minha vida e ainda tem a cara de vir me dizer que a culpa foi da minha boca grande! – riu debochada mais uma vez – E pra completar, vem dizer que vai me tirar daqui e me dar emprego! – aproximou-se e falou bem baixo – Pega o seu emprego na BoFe e enfia! – afastou-se e caminhou para longe

 

Stefany ficou completamente perturbada e saiu dali sentindo vontade de chorar.

 

***

 

--Olá, maama! – Yesmin entrava no quarto da mãe – Boa tarde. – olhou para a cuidadora que a acompanhava – Poderia se juntar a sua colega lá embaixo, por gentileza? – pediu ao se sentar – Gostaria de conversar a sós aqui.

 

A mulher respondeu ao cumprimento, balançou a cabeça e saiu rapidamente.

 

--Boa tarde. – Adma respondeu olhando para a filha – Você demorou a aparecer! – reclamou – Tudo isso por causa de evento em Brasília?

 

--Na verdade só tive um pernoite lá. – cruzou as pernas – Mas outros compromissos me tomaram tempo. – pausou brevemente – E afinal de contas, o que a senhora queria comigo? – perguntou intrigada

 

--Ver você! – respondeu de pronto – Não é meu filha? Sinto saudades!

 

Olhou bem para o rosto da mãe e acabou rindo brevemente. – Ai, maama, para, vai? – desacreditava – Nem quando eu era jovenzinha a senhora me dizia isso! – fez um gesto – O que é que tá acontecendo e o que a senhora realmente quer? – insistiu desconfiada

 

Suspirou com frustração. – Eu não sou mentiroso, Yesmin! – ajeitou-se na cama e se sentou melhor – Não vê que coisas tão acontecendo? Todo mundo nota que eu venho melhorando! – afirmou orgulhosa – Meu neta agora frequenta esse casa, gosta daqui... – gesticulava – Queria que acontecesse entre nós duas mesmo coisa que acontece entre Stefany e eu! – estava sendo sincera

 

Yesmin continuava desacreditando daquela conversa. – Sei que a senhora não é mentirosa, mas também sei que sentimentalismo e instinto maternal nunca foram o seu forte! – retrucou – E sei muito bem que teve o dedo daquela cuidadora intrometida nessa sua aproximação com Stefany, que agora é outra que morre de amores por ela. – referia-se a Zaida – Não duvido que a talzinha tenha lhe instruído a me procurar com essa conversa de mãe saudosa pra ver se me amolece e eu viro amiguinha também! – falava desaforada – Aliás, graças a Deus que hoje não é plantão dela! Detesto quando ela tá aqui!

 

--AHHa, mas será possível? – Adma reclamou – Eu não entende esse ódio que você sente por Zaida! – franziu o cenho – Ela nunca vai tomar o seu lugar, será que não percebe? – afirmou enfática – Zaida é especial pra mim, não é segredo! O único de cuidadoras que me olhou e me viu e se dedicou a mim de coração! Devo muito a ela! – reconheceu – Mas você e só você é filha! – pausou brevemente – É que todos esses coisas que têm me acontecido me fizeram pensar... – desabafava – E eu queria mais contato com você... – dizia a verdade – Estamos vivos, não se pode dizer que não há mais tempo pra isso. Não é?

 

Yesmin estranhava tudo o que ouvia e não sabia o que pensar. – Estamos vivas, mas eu não sou mais uma criança indefesa ou uma jovem insegura precisando de mãe. – respondeu com mágoa – E meu tempo é bastante tomado. – levantou-se – Agora preciso ir, pois meu dia pede por 72 horas! – passou a mão nos cabelos – Tchau, maama. – despediu-se – Vou mandar suas cuidadoras subirem de volta.

 

A idosa ficou triste com a reação. – Dê pelo menos um beijo em sua maama? – pediu com humildade – Stefany não sai daqui sem fazer isso. Você, só às vezes.

 

Hesitou um pouco mas deu um beijo na testa da mãe. – Até a próxima. – saiu do quarto e partiu rapidamente

 

--Tenha paciência, Adma! – aconselhou-se – Você não vai resolver anos de distância com um simples conversa. – reconheceu – Mas vamos tentando...

 

***

 

--Juro que quando ouvi sua voz no interfone cheguei a duvidar! – Zaida comentou ao abrir a porta – Nossa! – reparou no semblante da jovem – O que houve com você? – estranhou – Vem, entra? – deu passagem

 

--Valeu. – entrou de cabeça baixa – Antes que cê pergunte, -- olhou entristecida para a cuidadora -- consegui o endereço desse apê ligando pra agência, tá ligada? – esclareceu -- Mandei um kaô me passando pela minha mãe. – reparou discretamente no local – “Porr*, mas que pobreza!” – pensou penalizada

 

--Ah, foi? – chocou-se – “Esse pessoal da agência tá cada vez pior! Acreditar que Stefany é Yesmin, faça-me o favor!” – pensou abismada – Mas vem aqui, senta. – indicou o sofá e se sentaram – Me diz o que te aconteceu pra você ter ficado desse jeito? – fez um carinho breve no rosto da jovem – Você quer uma água, alguma coisa? – ofereceu

 

--Relaxa! – recusou gentilmente – Seguinte: minha vó me mandou uma real, eu fiquei uns tempos super boladona e no final decidi procurar Fernanda no presídio. – percebeu a surpresa da outra – Mas foi ruinzão; a maior merd*! – resumiu a história – Ela tá totalmente mudada, me cagou um monte na cabeça e mandou na lata que me odeia! – mais uma vez sentiu vontade de chorar – Aí eu saí de lá, Jorel me deixou em casa, mas eu nem entrei, tá ligada? – passou a mão nos cabelos – Fiquei por aí e no final decidi te procurar. – os olhos marejaram – Eu não vou poder fazer o que minha vó falou... – lamentou que nem criança – Perdi o bonde... – reconheceu – E ferrei a vida dela... – começou a chorar

 

--Own, meu Deus, vem cá. – fez a jovem deitar em seu colo – Chore, querida, desabafa o que você tá sentindo. – acariciava a cabeça dela – Desabafa...

 

Stefany gastou uns minutos chorando encolhidinha no colo de Zaida até que se sentou novamente e secou os olhos com as mãos. – Cara... a porr* da cabeça tá até doendo!

 

--Deixa eu pegar lencinho pra você. – levantou-se, correu até o banheiro e voltou com uma caixa de lenços de papel – Toma. – a influencer pegou alguns

 

--Valeu... – agradeceu de cabeça baixa

 

--Olha, Stefany, infelizmente o que aconteceu foi terrível! – sentou-se novamente – Fernanda saiu muito prejudicada nessa história e... – pensava em como falar – sem dúvida o estupro mudou tudo! É natural que ela tenha reagido mal ao te ver. Ela te culpa por tudo de ruim que vem passando... – olhava para a outra – É uma reação bem esperada... – segurou uma das mãos dela – Foi bacana que você tenha ouvido os conselhos da sua avó, mas precisa entender que consertar um erro nunca é um processo fácil!

 

--É... – concordou com tristeza – E eu não sei o que fazer, tá ligada? – confessou – A real é que eu só sirvo pra fazer merd*! – admitiu com tristeza

 

--Não pense assim! – ralhou com brandura – Ninguém só serve pra fazer merd*! – discordou – A gente pode fazer coisas muito boas ou muito ruins. Só depende das nossas escolhas!

 

Balançou a cabeça negativamente. – Então por que eu não consigo lembrar de nada de bom que tenha feito, porr*? – levantou-se – Deve ser por isso que toda babá logo ralava peito e ninguém nunca tinha tempo pra mim... – pensava no passado

 

“--Olha o presente que você pediu! – Yesmin chegava sorridente com uma caixa enorme – Mamãe trouxe direto dos Estados Unidos pra você! – sentou-se no carpete ao lado da criança – Mas vê se não vai destruir, viu? – beijou-lhe a cabeça – Tenha cuidado! -- advertiu

 

A pequena Stefany avançou na caixa e abriu o embrulho com pressa. – Oba, é a mansão da Barbie! – sorriu empolgada – E tem carro, tem piscina, tem tudo! – olhou para a mãe – Brinca comigo? – pediu

 

--Ah, querida, infelizmente não vai dar! – beijou-lhe a cabeça novamente – Você não tem babá? Brinca com ela! – olhou para a mulher – Lucia, dá uma atenção aqui? – levantou-se – Ajuda ela a montar o brinquedo, tá? – pediu – Tem um monte de pecinhas aí!

 

--Tá certo, ajudo sim. – a mulher concordou sorridente

 

--Tchau, meu bem! – despediu-se da filha – Mamãe agora vai fazer mil coisas! – soprou beijos e foi embora

 

--E então, Stefany? Vamos brincar? – a babá perguntou sorridente

 

--Não! – deu um chute na caixa – Eu nem gosto mais da Barbie! – fez pirraça

 

***

 

--Gostou da bicicleta nova? – Rogério perguntou sorridente – Agora tem que ser sem rodinhas, viu? Mas não precisa ter medo, porque ela vem com capacete, joelheira, luvinhas... – mostrava os acessórios – Você vai ficar uma verdadeira atleta! – brincou – Só precisa ter cuidado e não destruir logo, como você fez com a outra! -- advertiu

 

--Me ensina a andar nela, pai? – pulava ao redor da bicicleta – Eu bem quero andar na beira da praia! – a criança fazia planos

 

--Joana, ajuda aqui? – o homem chamou pela babá – Ensina ela andar na bicicleta, por favor? – pediu – Mas fica atenta porque não quero saber da menina se machucando!

 

--Pode deixar! – a mulher respondeu de pronto

 

--Agora o papai vai cuidar de coisas de adulto! – beijou a cabeça da filha – Tchau, meu bem! – despediu-se e partiu

 

Stefany olhou decepcionada para a bicicleta e a jogou no chão.

 

***

 

--Essa é sua nova babá! – Yesmin apresentou a mulher– O nome dela é Marília e de hoje em diante será sua nova amiguinha!

 

--Oi, Stefany, tudo bem? – cumprimentou simpática

 

--Outra? – a menina perguntou sem entender – Por que toda hora muda, mãe?

 

--Isso é normal, querida. Toda babá um dia vai embora. – fez um gesto despreocupado – E vê se você se comporta direitinho pra não assustar a Marília! – pediu

 

--Eu não me assusto fácil, não, dona Yesmin! – respondeu achando graça

 

“Ah, é? Vamos ver!” – a menina pensou chateada”

 

--Você é filha de um casal muito bem-sucedido profissionalmente e daí pessoas assim costumam a ser muito demandadas. – levantou-se também – É uma receita conhecida: -- aproximou-se da jovem – pessoas sem tempo acabam delegando os filhos aos cuidados dos outros e buscam compensar isso com presentes caros e fazendo todas as vontades. – olhava para ela – Tenho certeza que foi assim com você. – Stefany não respondeu – Daí você ficou carente e passou a fazer um monte de loucuras pra chamar atenção. Noto isso desde que comecei a te acompanhar na internet. – falava com brandura – Mas esse estado de coisas não te obriga a ser uma pessoa que só faz o que não presta! Não mesmo!

 

--Ninguém nunca gostou de mim! – afirmou como se nada tivesse ouvido – Geral sempre veio por interesse ou por me achar bonita... – derramou algumas lágrimas – Pode até parecer, mas não sou tão otária pra não sacar a real, tá ligada? – novamente pensou no passado

 

“--Mas por que vocês querem ir embora? – uma mulher perguntava para duas crianças – A festa de aniversário tá tão boa!

 

--Ah, mãe, Stefany é muito chata! Eu não gosto dela! – uma das meninas falou

 

--Nem eu! – a outra concordou – Ela é chata, chata, chata!

 

--Chata ela é, mas esquece ela e pensa na festa! – a mulher aconselhou – Na hora do parabéns a gente se manda! O importante é comer bolo e os docinhos! – brincou

 

Stefany estava no banheiro da casa de festa e ouviu toda conversa.

 

***

 

--Deixa de ser invejosa, Paola! – uma Stefany adolescente falava desaforada – Ficou toda putinha só porque eu peguei o Rodrigo! – provocou – Eu nem tô a fim dele, foi só zoeira! – desdenhou – Pode ir lá pegar a sobra! Pra mim tá de boas! – riu brevemente

 

--Você se acha, né? – a moça respondeu revoltada – Pois fique sabendo que todos os caras que ficam contigo só tão querendo te comer! – gesticulava com raiva – Todos dizem que você não passa de uma patricinha gostosa que se comporta como puta! Aí sabe como é homem: deu mole, ele quer! – olhava para a outra – Agora com essa palhaçada que você inventou de ficar com mulher, mais fama de vadia ganhou! E não pense que com as garotas é diferente, porque eu ouço as conversas e elas só te querem pela casca e de boca bem fechada pra não ouvir as merd*s que você fala!

 

Fingiu não ter ficado magoada com o que ouviu. – Jura? Nem vou dormir essa noite! – riu brevemente – Tô nem aí! – deu de ombros”

 

--Eu nunca nem namorei ninguém... – confessou envergonhada – E depois de um tempo também passei a nem querer, sabe qual é? – pausou brevemente – Foder por foder é muito melhor e pelo menos eu gozo...

 

Novamente surpreendeu-se com o que ouviu. – Tenho certeza que se você saísse dessa casca em que se meteu, haveria alguém legal pra se relacionar contigo. – Zaida segurou as duas mãos da jovem – A minha vida tem sido dura, sofri muito em relacionamentos, mas a gente não pode se jogar no lixo por causa disso! – sorriu com carinho – Você é valiosa, Stefany! Mas talvez devesse considerar que já é hora de amadurecer um pouco. – aconselhou – Parar com tantas loucuras, permitir-se ver as pessoas de fato e ser vista por elas... – pausou brevemente – Esse negócio de viver à espera de likes, de conquistar e manter seguidores, de viver em função da internet... isso pode até render um dinheiro com monetização, mas você nem precisa disso! E sinceramente? É muito pouco pra vida!

 

Libertou-se da cuidadora e andou brevemente pela sala. – Cara, cê não sabe o que tá dizendo! – discordou -- Cada curtida me dá uma sensação irada, tá ligada? Tô sendo reconhecida, vista, faço parte de uma parada maior! – gesticulava – Tu não entende isso, cara! – olhava para Zaida

 

--Entendo que isso te faça bem na hora, mas já parou pra pensar se essa sensação é duradoura? – provocou – É como um vício, Stefany! – alertou – E por mais que você receba likes e o escambau, fica uma sensação de que nunca é suficiente! Por isso que você alopra!

 

A jovem franziu a testa lembrando-se de quando tudo começou. – Eu sei que essa porr* vicia...

 

“Stefany começou a postar fotos despretensiosas nas redes, apenas para ver o que podia acontecer. Um dia, percebeu que uma imagem simples recebeu centenas de curtidas. A dopamina liberada naquele momento foi viciante. Queria mais. Começou a postar diariamente, buscando ângulos perfeitos, filtros ideais. Cada nova curtida era uma dose de felicidade.

 

Mas logo percebeu que, quando uma postagem não alcançava o esperado, sentia-se ansiosa, triste. A dependência das redes sociais se instalou silenciosamente. E com isso veio a necessidade de buscar fazer coisas cada vez mais impactantes para chocar.”

 

--Eu nem lembro de como me sentia antes... Acho que invisível, sei lá! – confessou – Nas redes a gente inventa a porr* que quiser e viaja naquela merd*! Neguinho vai na pilha e segue. É tudo surreal, tudo uma mentira... – gesticulava – Mas tu se sente uma pessoa foda!

 

--As redes sociais podem ser ferramentas incríveis, mas precisamos usá-las com consciência! – retrucou -- A busca incessante por uma validação externa pode nos afastar de quem realmente somos. – pausou brevemente – Será que você sabe quem realmente é? – provocou – Será que não é a hora de retomar o controle, de buscar conexões reais e significativas além das telas?

 

--Ah, ow, para! – respondeu impaciente ao secar os olhos com as mãos – Eu nem vim aqui pra falar disso! Não tô querendo terapia, porr*! – respirou fundo – Eu queria saber o que fazer porque não rola de ser como minha vó falou! – sentia-se angustiada – Eu queria ajudar, queria... mas não sei! – sentia-se impotente – Não sei! – olhou para Zaida em desespero

 

Segurou-a pelos ombros – Amanhã é meu turno de novo, então vamos conversar com dona Adma e pensar juntas! – propôs – A gente há de encontrar uma saída, Deus há de nos iluminar! – soltou-a devagar – Por ora, vamos tentar acalmar a mente e o coração; que acha? – sorriu – Minha casa é paupérrima, só que eu comprei um quebra-cabeças de 1000 peças e você bem que podia me ajudar a montar ele, que tal? – as duas riram brevemente – Programa de índio, mas distrai!

 

Concordou sem palavras. – E eu... rola dormir aqui? Pode ser? – pediu quase implorando

 

--Pode. – concordou – Mas liga pra avisar que não vai dormir em casa hoje. – pensou no que disse – Só não diz que vai dormir aqui porque sua mãe me detesta! -- advertiu

 

Achou graça. – Não rola de dar recadinho, fica tranks. – garantiu – Dona Yes me e seu Rogério nem vão estranhar que a filhota dormiu fora!

 

--Tá bem, então... – concordou reticente – “Deus do Céu, que a mãe dessa criatura não venha me infernizar depois por conta disso!” – pediu mentalmente

 

***

 

--Então foi isso, padre. – Malika contava a história ao homem – Saí de lá me sentindo um lixo e não consigo ter paz desde então! – confessou – E o pior é que sei que ela tem razão, mas me matou ter ouvido!

 

Ficou pasmo com a narrativa. – Dona Malika, por favor, me ouça: não convém buscar essas coisas pra resolver problemas! – aconselhou – Negócio de cigana, vidente, cartomante... não são coisas de Deus! – destacou – Além do mais, Nazira já havia ido nessa mulher, como a senhora mesma disse. Sabe lá se a tal não a sondou pra descobrir informações sobre sua filha? – especulou – Porque o que foi que ela disse? O nome da Zaida, a idade, que é cuidadora, o que nem sabemos se é verdade, e no mais lhe acusou! – pausou brevemente – Na minha visão, não passa de uma golpista que desejava lhe abalar o emocional para extorquir dinheiro! E muito dinheiro! – destacou

 

--De fato... – pensava no que ouviu

 

--Continue perseverando na fé que na hora certa Deus há de recolocar sua filha no seu caminho! – aconselhou mais uma vez – Nunca é no nosso tempo, dona Malika! É sempre no tempo dEle!

 

A idosa balançava a cabeça concordando com o que ouvia. – Tá certo, padre... tá certo...

 

***

 

Nazira chegava no prédio quando percebeu que uma mulher estranha rondava a portaria. Decidiu abordá-la para saber o que se passava. – Oi, moça, tudo bem? – cumprimentou – Posso ajudar? – sorriu

 

Olhou para a mulher. – Oi, tudo bem? – respondeu humildemente – Sabe o que é, moça? Vim visitar meu irmão, mas acho que ele não tá em casa! – sorriu encabulada – Eu avisei que viria, mas ele esqueceu, não sei. O celular também não responde... – contava a história – Estranho que o prédio tá sem porteiro, né?

 

“Esses porteiros, sempre voando!” – pensou contrariada -- E quem é seu irmão? – perguntou curiosa – Conheço todo mundo nesse prédio! – afirmou orgulhosa – Aliás, qual é seu nome? O meu é Nazira! – apresentou-se

 

--Prazer, moça! – estendeu a mão e se cumprimentaram com um aperto breve – Encantada! Meu nome é Nazaré e meu irmão é o Nazário, do 502. – esclareceu

 

“Gente, minha cunhada!!” – arregalou os olhos empolgada – Menina, que maravilha! – abriu a portaria imediatamente – Seu irmão e eu somos carne e unha! – mentiu – Vem, entra? – convidou – Enquanto ele não chega, fica lá em casa pra gente tricotar um pouquinho! – ofereceu – Aí você me conta as fofocas e babados fortes! – queria saber -- “Graças a Deus que dona Malika quis ir pra igreja sozinha!” – pensou – “Que demore bastante a chegar!”

 

--Carne e unha, é? – estranhou – Nossa, que coincidência então a gente se conhecer aqui, na portaria do prédio. – entrou seguindo a outra – Obrigada a acolhida, viu?

 

--Não me agradeça! – respondeu satisfeita – Tô super feliz de finalmente te conhecer! – sorria como boba – “É hoje que eu vou devassar a vida desse nerd de cabo a rabo!” – pensou decidida

 

***

 

--Madame, tô impressionada! – a mulher exclamou satisfeita – Essa consulta foi o must! Descobri mais coisa até do que sonhei em imaginar! – gesticulou afetada – Agora quero que a senhora me ajude a detonar a concorrência e assumir a gerência da loja! – pediu – Sei que ninguém lá merece mais isso do que eu! – afirmou orgulhosa

 

--A gente pode resolver isso e lhe dar essa gerência pra ontem! – afirmou fazendo cara de suspense – Mas tudo tem um preço, a senhora sabe! – estudava o rosto da outra – Podemos chegar aonde deseja por... – pensava em quanto cobrar – quatro mil reais!

 

“Puta que pariu!” – pensou apavorada – Nossa, mas o preço da felicidade é alto, não? – sorriu meio sem graça

 

--Certamente, uai! – respondeu de pronto – Mas considere isso como um investimento, viu, fi?

 

--Ah, mas e se... – debruçou-se sobre a mesa – E se eu pagasse em... outras moedas? – perguntou insinuante – Hein? – lambeu-se

 

--Outras moedas? – não entendeu – “Ela tá me querendo, é isso mesmo?” – perguntou-se

 

--Segundo dizem, eu tô super em forma, não? – ajeitou o vestido e abriu mais o decote – Madame também não é de se jogar fora... – alternava o olhar entre os olhos e lábios da caipira – E se a gente... tentasse se conhecer melhor? – espremeu os olhinhos – Será que funcionava? – levantou-se sensualmente – Tenho muito de mim pra dar... – caminhou até um sofá que havia na sala e parou diante dele  – A senhora não desejaria... – abriu lentamente o zíper do vestido  – receber?—derrubou a peça no chão ficando apenas de calcinha

 

Vivinácia sentiu-se excitada e se levantou rapidamente. – Ave Maria! – respondeu babando

 

--Quantas fodas comigo equivalem a quatro mil reais? – perguntou cheia de charme – Toda gostosinha, depilada... – tirou a calcinha rebol*ndo – Hum? – sentou-se no sofá e abriu bem as pernas – Dei tão pouco na minha vida... – fez beicinho

 

--Quantas?? – tirou toda roupa de uma vez só – Vamos descobrir, uai! – foi até a outra com pressa e se jogou entre as pernas dela com fúria

 

--Ai, madame! – fechou os olhos – Ai, tá me comendo toda com essa boca faminta! – encenava um tipo – Ai, que língua deliciosa, aff! Ah! Ah! Oh! – gemia alto

 

“Ô, mulher boa, sô!” – seguiu beijando e lambendo o corpo da outra até os seios – Gostosa! – mordiscou-lhe um mamilo enquanto introduziu dois dedos rijos

 

–Gente, que dedos! Ai, ah! – continuava gem*ndo – Ai, me come forte assim! AH!

 

--Agora você, vem! – ordenou ao interromper o que fazia – Vem aqui! – deitou-se e abriu as pernas – Vem e me faz goz*r pra eu descobrir quanto você vale!

 

--Seus desejos são ordens! – mergulhou entre as pernas da caipira e buscou deliciá-la o máximo que podia

 

--Ai, ai, isso... – fechou os olhos extasiada – Ah... – gemia satisfeita – “Umas vinte dessas deve vale quatro mil!” – pensou ao sorrir – “Ô, mundo velho sem porteira...”

 

***

 

--Zaida, Stefany? – Adma surpreendeu-se ao ver as duas chegando juntas em seu quarto – Mas o que houve aqui? – não entendia – De onde vieram??

 

--Bom dia, vó. – a jovem cumprimentou ao beijar-lhe a testa – Tudo tranks?

 

--Bom dia, dona Adma! – deu-lhe um beijinho também – Sua neta precisa de ajuda e nós contamos com sua sabedoria pra ver o que fazer. – olhava para idosa – É assunto sério!

 

--Meu sabedoria?! – estranhou – “Ultimamente eu não entende nem eu mesmo!” -- pensou

Fim do capítulo