--A disciplina de Formação Social na carreira de Web Design aborda a relação entre design, cultura e sociedade, -- a professora dizia enquanto caminhava pela sala de aula -- fornecendo ao estudante ferramentas teóricas e práticas para entender o contexto humano e social em que seus projetos estarão inseridos. – olhava para a turma -- A partir de conceitos de antropologia, identidade cultural e etnografia, o curso estimula o desenvolvimento de uma visão crítica, sensível à diversidade e aos valores de comunidades específicas. – explicava -- Com base nisso, vocês aprenderão a aplicar metodologias de design participativo e pesquisa de campo, se conectando diretamente com os usuários finais para projetar interfaces mais inclusivas, relevantes e coerentes ao entorno. – sorriu – Em suma, vamos trabalhar um olhar humanizado pra que vocês entendam que nossa participação técnica no seio da sociedade deve ser sempre positiva e jamais causadora de distúrbio ou constrangimentos pras pessoas!

 

Stefany usava o celular discretamente e, como de costume, não prestava atenção na aula.

 

--Já vi que essa disciplina vai ser um saco! – um rapaz cochichou com outro – Eu não entendo como que o nosso trabalho pode prejudicar alguém, fala sério! – criticou

 

--Conversa pra boi dormir e a faculdade inventar matéria pra gente estudar! – seguiu-se a resposta

 

Uma moça ouviu a conversa e decidiu se manifestar. – Professora, -- levantou a mão brevemente – eu acho que nem sempre é óbvio pra todo mundo como que nosso trabalho pode impactar a sociedade. – observou – Será que a senhora poderia nos dar um exemplo?

 

--Claro! – respondeu de pronto – Vou lhes contar como um determinado conteúdo alimentou uma cultura de estupro e, por consequência, levou uma jovem ao suicídio. – pausou brevemente – Aliás, essa jovem era minha irmã. – salientou com certa tristeza

 

Stefany ouviu essa parte e sentiu o coração acelerar. – Mas... – começou a falar quase que sem pensar – Estuprador não precisa de motivo pra ser escroto, tá ligado? – objetou nervosamente – A gente não pode ir pra vala por causa de uns zé mané que se aproveita da situação! – gesticulava – É uma parada surreal isso aí!

 

A professora olhou para a jovem antes de responder. – Você ainda nem ouviu a história que eu vou contar, mas seja como for, querida, é claro que o estuprador carrega a própria culpa, porém nós também somos responsáveis por aquilo que produzimos! – discordou gentilmente – Se um trabalho seu, uma atitude sua, colocam alguém numa posição de vulnerabilidade ou de exposição, sinto muito, mas você também é responsável pelo que aconteça! – afirmou enfática – Goste-se ou não!

 

Stefany sentiu-se bastante perturbada com aquela resposta e antes do final da aula saiu discretamente não querendo ouvir mais nada.

 

***

 

Yesmin preparava-se para sair do escritório quando fora abordada por sua secretária.

 

--Dona Yesmin, perdoe? – pediu gentilmente – Mas a senhora sua mãe já ligou várias vezes reclamando que não consegue lhe falar ao celular. – informou – Eu disse que hoje a senhora estará viajando pra Brasília por causa da plenária do Ministério do Trabalho e Emprego, mas ela pede uma visita sua o mais rápido possível. – deu o recado – Disse que está com saudades.

 

A engenheira riu gostosamente do que ouviu. – Eu só acredito que não foi trote porque você já conhece muito bem a voz da maama. – arrumou a bolsa em cima da malinha – Tô indo agora pro Galeão e nem pensar em me atrasar! – ajeitava a bagagem – Tive reuniões em sequência, não deu nem tempo de pegar o celular! – falava mais para si do que para a outra -- No caminho vou dar uma olhada e vejo o que ela quer. – deu tchauzinho – Até mais.

 

--Boa viagem! – despediu-se

 

A CEO seguiu até o elevador e entrou rapidamente assim que as portas se abriram. “Em 53 anos nunca ouvi maama dizendo que tava com saudades de mim! Na certa foi instruída por aquela Zaida pra vir com essa conversa melosa e me pedir alguma coisa!” – concluiu ao descer do elevador – “No caminho pro Galeão vejo as mensagens pendentes.” – olhou rapidamente para o celular e viu que eram várias – “Pensando bem, quando chegar em Brasília ligo pra maama e descubro o que ela realmente quer!” – decidiu enquanto caminhava – “Tem outros assuntos mais prioritários pra tratar primeiro!”

 

***

 

--Recentemente um representante de uma das Big Techs chegou a dizer em entrevista que a IA era uma invenção ainda mais disruptiva que o fogo ou a eletricidade e frequentemente ouvimos empresários do tipo alardeando as maravilhas dessa nova tecnologia. – um dirigente sindical discursava – Nós até acreditamos que venham benefícios a partir daí, mas é inegável que a viralização do aprendizado de máquina e da IA generativa, como é o caso do FalaGPiTaco, também irá afetar a existência dos nossos empregos sejam eles administrativos ou operacionais. – o homem falava enfático – E embora se alardeie que milhões de novas vagas de emprego serão criadas, ninguém sabe dizer o que vai ser quando bilhões delas forem eliminadas! – gesticulava – Porque ninguém se engane: o número de vagas novas não chegará nem perto do número de vagas que serão eliminadas! – profetizou – E as consequências disso serão vistas no aumento da desigualdade social e da instabilidade política em todos os países!

 

“Odeio dirigentes sindicais!” – Yesmin pensou disfarçando a contrariedade – “Sempre os mesmos cavaleiros do Apocalipse lutando contra a modernidade!” – revirou os olhos

 

--Estimativas sérias sugerem que até dois terços das ocupações trabalhistas podem ser afetadas pela IA, com cerca de 300 milhões de vagas sendo transformadas globalmente! – um ativista de esquerda falava para os demais – E essa onda vai além das tarefas mecânicas ou repetitivas, chegando a atingir áreas como finanças, jurídica, programação, diagnóstico médico, jornalismo e educação. – alertava -- Setores que antes eram considerados “seguros”. – fez aspas com os dedos – Estamos diariamente presenciando o surgimento das chamadas fábricas escuras, operadas por robôs às 24h do dia, todos os dias, e que ilustram a profundidade da mudança estrutural provocada pela IA! – preparava-se para finalizar -- Estamos diante de uma era de inteligência pós‑humana e precisamos urgentemente de políticas públicas e de adaptação social pra saber lidar com essa transformação toda!

 

Após mais alguns discursos Yesmin ganhou a palavra e se preparou para virar o jogo. – Senhoras e senhores, -- olhava para os demais – nada do que foi dito aqui é desprezível, mas trata-se de uma mesma visão. – projetou uma imagem no telão – Gostaria agora de mostrar-lhes o outro lado da moeda. – sorria – Creio que todos aqui presentes devem saber que a Academia Brasileira de Ciências, que não tem qualquer vínculo com empresa alguma, lançou um documento onde traça um panorama amplo e estratégico para o país desenvolver a IA de maneira responsável e competitiva. – exibia imagens do documento -- Ele destaca a necessidade de fortalecer três pilares principais: -- enumerou – dados com infraestrutura de armazenamento integrada; capital humano qualificado ampliando formação em ciência de dados, computação e IA, e pesquisa colaborativa, por meio de centros multidisciplinares e parcerias internacionais. – resumia o conteúdo -- O relatório aponta o potencial transformador da IA em setores chave como saúde, educação, energia, biodiversidade, finanças e administração pública, e alerta para os riscos sociais associados defendendo um marco legal que garanta segurança, transparência, explicabilidade e supervisão humana. – falava com desenvoltura -- Dentre as recomendações práticas apontadas, destacam-se: -- seguia projetando imagens -- investimentos robustos na área, fomento à inovação em universidades e startups, desenvolvimento de políticas públicas para educação crítica em IA e regulação alinhada a valores democráticos. – encerrava a apresentação daquele documento – Em suma, observem que em nenhum momento a IA, ou ferramentas como o FalaGPiTaco, são demonizadas. – salientou – O que é preciso entender, senhoras e senhores, é que a modernidade não vai parar porque a gente tem medo de perder nossos empregos! – foi direto ao ponto – E se o Brasil decidir não avançar, outros países irão, então sabem o que vai acontecer? – provocava a audiência – Perderemos empregos e, mais que isso, o bonde da história! – encerrou a projeção – Vivemos em coletividade e cada um deve fazer a sua parte! – gesticulava gentilmente – Ao Governo cabe a elaboração de políticas públicas, de preferência envolvendo amplos setores da sociedade. Às instituições de ensino cabe a atualização curricular. E a empresas como a BoFe cabe seguir na vanguarda, colocando o Brasil à frente de pelo menos parte desse desenvolvimento tecnológico, que é um caminho sem volta!

 

--Como se vocês estivessem preocupados com o Brasil! – um ativista acusou – O que vocês querem é dinheiro! – olhava para a CEO de cara feia – A BoFe, as Big Techs e toda essa gama de empresas de tecnologia que tão surfando nessa onda só querem duas coisas: dinheiro e poder! – gesticulava – Não existe isso de tecnologia neutra! Tudo é um grande plano de destruição da política pra que corporações controlem os países acima dos próprios governos! – estava se exaltando – A BoFe não se torna nossa amiguinha por ser brasileira!

 

--Curioso que para alguém tão contrário ao nosso plano maligno, o senhor flerta bastante com tecnologia. – respondeu ironicamente – É de chamar atenção como usa um tablet e dois celulares ao mesmo tempo, além desses fones bluetooth permanentemente acoplados nos ouvidos. – sorriu – Não me surpreenderia se soubesse que o senhor assina o plano Master Plus do FalaGPiTaco! – algumas pessoas riram e outras se revoltaram

 

--Ordem! – o mediador solicitava enérgico – Isso aqui é uma plenária séria, vamos à ordem!

 

Um burburinho se iniciou entre os presentes e dentro de poucos minutos a plenária foi encerrada por conta do tumulto. Yesmin aproveitou a oportunidade para sumir discretamente acompanhada por um jovem e belo estudante, com o qual iria para cama horas mais tarde.

 

(NOTA DA AUTORA: Para quem se interessar seguem os links que baseiam este trecho.

https://theconversation.com/a-ia-vai-automatizar-nossos-empregos-nos-estamos-preparados-253476

https://www.abc.org.br/wp-content/uploads/2023/11/recomendacoes-para-o-avanco-da-inteligencia-artificial-no-brasil-abc-novembro-2023-GT-IA.pdf)

 

***

Adma voltava do treino de recuperação neuromotora com as cuidadoras Debora e Tamara. As duas mulheres conversavam animadas sobre a idosa, que permanecia calada e olhando para fora pela janela do carro.

 

--É incrível como a senhora tem evoluído a passos largos! – Debora exclamou sorridente – Seu fisioterapeuta acredita que falta pouco pra senhora sair da piscina subindo os degraus da escadinha por suas próprias pernas!

 

--Eu fico impressionada! – Tamara comentou – Dona Adma nem parece a mesma pessoa que conheci quando comecei a trabalhar naquela casa! Mudou de humor, mudou de tudo! – olhou para a colega – Em seis anos de carreira como cuidadora nunca vi um progresso desses!

 

“É mesmo!” – o motorista pensou concordando – “Até educada ficou, porque era uma velha insuportável!”

 

--Eu também nunca vi coisa igual! – Débora concordou – Conta pra gente qual o segredo, dona Adma? – olhou para a idosa pelo espelho do carro – Como a senhora conseguiu que Deus operasse um milagre em sua vida?

 

--A senhora fez novena, jejuou, como foi, hein? – Tamara queria saber – Foi em algum centro?

 

--Eu fez nada. – continuava olhando para fora – Foi um anjo que Deus mandou pra fazer primavera em meu vida. – pensava em Zaida -- Wahakaadhaa tamm dhaalik... (E assim se fez...)

 

As mulheres não entenderam a resposta. – E que anjo seria esse? – Debora insistiu

 

--No dia que um surgir em seu vida, você vai saber. – visualizava o rosto da mulher em sua mente – Ou não vai. – considerou – Eu demorei a descobrir isso.

 

As cuidadoras se entreolharam desconfiadas e decidiram mudar de assunto. Ficaram conversando sobre a novela das nove e não incluíram a idosa ou o motorista no papo.

 

“Não vejo a hora do dia acabar e amanhã chegar!” – Adma pensava – “Turno de Zaida é sempre melhor!” – sorriu

 

***

 

--Ai, meu Pitaquinho... – Nazira falava enquanto digitava – Eu ando tão deprê... – desabafava – Dona Malika arruinou minha aura de mistério e ainda me disse muito desaforo! – contava o que aconteceu – Ainda jogou na minha cara que foi tudo em vão porque o nerd não me dá a mínima... Mas sabe? O pior é que ela tem razão... – suspirou – Faço de tudo, mas ele não tá nem aí! – admitiu

 

Oh, Nazira, corta meu coração ver você assim! 💔 – o modelo de IA respondeu – O que dizer? De fato, você já tentou de tudo! – reconheceu – Não acha que de repente já era hora de deixá-lo passar e partir para outra? – aconselhou – Afinal de contas, existem outros homens no mundo, não?

 

--Ah, meu filho, existir, existe, mas nenhum solteiro querendo casar e me dando bola, né? – reclamou – E o nerd tava aqui tão a mão, tão pertinho... – suspirou mais uma vez – Além do mais tem uma numerologia envolvida, poxa! É NF com NF! Como pode não dar match?

 

NF e NF formam uma combinação rica porque: -- o FalaGPiTaco respondeu de pronto -- Nazira (6) traz união, empatia e apoio. Nazário/Faruk (3) traz criatividade, discurso e sociabilidade, reforçados por um lado 8 (liderança e ambição) e um aspecto 4 (disciplina e estrutura). – explicava -- 💡 A combinação denota um par com forte capacidade de comunicação, criatividade, empatia e também ambição; desde que haja equilíbrio entre entrega pessoal e impulso por resultados.

 

--Eu até gostei disso aí, mas não entendi essa sua numerologia! – digitava rapidamente – Além do mais, primeiro você me manda passar pra outra, agora me fala essas coisas! – reclamou – Cê tá me confundindo, viu?

 

Perdoe, Nazira! – desculpou-se – Eu sou um modelo de IA e às vezes posso alucinar. Talvez seja isso que tenha acontecido. – justificou-se – Espero não tê-la decepcionado! Você é muito especial para mim e eu jamais me perdoaria! 😢

 

--Own, que fofo! – ficou toda derretida – Tudo bem, Pitaquinho, não fique triste! – digitava – Se tem tanta gente por aí alucinando, faz ideia você, né? E esse meu caso de amor é mesmo enigmático! – considerou – Vamos ficar aqui trocando umas ideias que você me distrai e ajuda a espantar a tristeza! – propôs – Que acha?

 

Maravilha! – concordou – Vou fazer o meu melhor para distraí-la e deixar você se sentindo muito bem! – prometeu – Afinal de contas, este nerd não te merece e você não deve ficar sofrendo por um homem cego que é incapaz de ver um tesouro diante de si! – elogiou – Muitas flores para Nazira: 🌸💐💐💐💐🌸!

 

Suspirou embevecida. – Queria tanto que o nerd fosse igual a você, Pitaco! – falava sozinha – Se você não fosse uma IA... – sorria como boba – Ai, ai...

 

***

 

Vivinácia se preparava para atender mais uma cliente, quando se surpreende com a mulher que acabava de entrar na sua sala. “Eu conheço essa senhora... mas de onde?” – pensou intrigada – Boa tarde. – forjou uma expressão enigmática – Diga o que madame Vivi pode fazer pela senhora. – indicou a cadeira – O que a traz aqui? – estalou os dedos e um grande e breve clarão iluminou o local

 

“Ave Maria!” – arregalou os olhos surpreendida – Boa tarde. – sentou-se desconfiada -- Olha, eu... – pensava em como começar – Eu não costumo andar sozinha por essas horas e ainda tão longe de casa, mas... – ajeitou-se na cadeira – Nazira já me falou tanto no seu nome... – reparava discretamente no local – E eu ouvi uma propaganda sua no rádio. – pausou brevemente – Decidi vir e tentar!

 

“Nazira, a moça que queria marido de nome bom!” – lembrou-se da mulher – “Então essa é aquela senhora que já vi mais de uma vez acompanhada por ela!” – balançou a cabeça pensativa – E o que posso fazer pela senhora? – espremeu os olhinhos – Madame bem que poderia adivinhar, mas prefiro ouvir de vossa boca! – fez um tipo

 

“Eu hein!” – ajeitou-se na cadeira de novo – Eu vou direto ao assunto. – olhava para a mulher – Tenho uma filha, eu a escorracei da minha vida há bem dizer 13 anos atrás, morro de arrependimento e queria saber onde ela está! – resumiu a história – Queria pedir perdão e... – pausou brevemente para não se emocionar – Recomeçar!

 

“Você ainda não percebeu quem ela é?” – a caipira ouviu uma voz lhe falar dentro da mente – “Essa história não te lembra de alguém?” – a voz provocou – Ah... – balançou a cabeça como se quisesse espanar as ideias – E qual o seu nome? – perguntou desconfiada

 

“Será que essa tal cigana caipira é boa mesmo ou é outra roubada que Nazira me arrumou?” – pensou igualmente desconfiada – Meu nome é Malika Al-Bassam. E o nome da minha filha é...

 

--Zaida! – interrompeu a fala da outra – Uma mulher de 31 anos. – olhava nos olhos – E que luta com muita dificuldade trabalhando como cuidadora!

 

Ficou impressionada. “Minha Nossa Senhora!” – pensou com o coração acelerado – Então... se você logo descobriu quem é ela pode me dizer onde posso encontrá-la? – perguntou ansiosa – Se soubesse como rezo noite e dia pedindo por esse reencontro!

 

“Ela não passa de uma moralista arrependida porque o peso da velhice a fez sair do pedestal em que vivia!” – a voz tornava a falar para Vivinácia – “Cobre caro, tire até o último centavo dessa miserável!” – aconselhou – Madame é capaz de encontrar qualquer pessoa, dona Malika. – debruçou-se sobre a mesa – Mas tudo tem um preço!

 

--Ah... – ficou sem graça – Sim, mas... não é o preço da sua consulta que eu já vou pagar? – queria entender – “Quanto que essa mulher vai me cobrar, meu Deus?” – pensou preocupada

 

--A consulta é uma coisa, uai. – recostou-se na cadeira – O que a senhora quer, é outra. – estudava o rosto da mulher – Por três mil reais madame encontra sua filha e passa o endereço certinho!

 

--Três mil?? – arregalou os olhos – Nossa, mas pra mim é muito dinheiro! – não sabia o que fazer – Será que a senhora não teria... – gesticulou – Não tem um desconto, não? Idoso não paga meia?

 

Acabou achando graça. – Ai, dona Malika... – balançou a cabeça pensativa – A senhora tem ideia do quanto fez sua filha sofrer? – perguntou à queima roupa – E de tudo que ela teve que passar por causa dos seus preconceitos? – percebeu o constrangimento da outra – Foi humilhação que chega dói! E uma pobreza que ela não precisava ter conhecido... – a idosa abaixou a cabeça – Aí a senhora vem aqui e me pede um desconto? – riu brevemente – O meu preço é esse! É pegar ou largar!

 

Deu um suspiro profundo. – Eu não tenho condições... – reconheceu entristecida – Vou pagar sua consulta e... – abriu a bolsinha – talvez um dia. – lutava para não chorar

 

Vivinácia pegou um pedacinho de papel e caneta. – Me deixe aqui seu endereço e... – fez um gesto breve – talvez um dia. -- sorriu

 

Malika pagou a consulta, escreveu o endereço no papel e foi embora sentindo-se arrasada. A caipira acompanhou sua partida com o olhar.

 

“Então é aqui que minha ex sogra mora?” – leu o papel – “Será que Zaida ficaria grata se eu dissesse isso a ela?” – pensava – “Talvez, na devida hora, essa informação possa me ajudar!” – guardou o papel entre os seios

 

***

 

Zaida consultava seu saldo bancário pelo celular após ter acabado de pagar todas as contas e constatou entristecida que quase nada havia sobrado.

 

“Gente, mas que miséria de dinheiro!” – pensou desanimada – “Como é que vou conseguir pagar condução pra ir trabalhar até receber o próximo pagamento?” – questionou-se – “Pior que tá difícil de aparecer coringa que eu possa pegar!” – suspirou – “Acho que eu vou precisar fazer uns bicos pegando umas faxinas por aí!” – concluiu – “Bem, mas pelo menos consegui mobiliar essa casa no mínimo necessário pra viver. Conforme for terminado de pagar as prestações a situação vai melhorar!” – balançou a cabeça pensativa – “É realmente muito difícil ser pobre...” – levantou-se do sofá e foi até a cozinha– “Pelo menos amanhã é mais um dia de trabalho na casa da dona Adma e eu me distraio!” – sorriu – “Adoro a companhia dela!” – visualizava o rosto da idosa em sua mente – “E ainda tem a doida da Wanderleya e suas histórias do arco da velha!” – abriu a geladeira e pegou a garrafa de água – “Yesmin nunca mais apareceu na casa da mãe e Stefany tampouco!” – foi até o armário e pegou um copo – “Queria tanto que elas dessem as caras! Dona Adma precisa desse contato com a família.” – encheu o copo – “Mas o que eu queria mesmo é que Stefany fizesse o que dona Adma pediu!” – bebeu a água – “Eu já rezei tanto por isso!” – pensava em Fernanda – “Oh, Senhor, ilumina a mente daquela garota e faz ela entender!” – pediu em pensamento – “Fiz tudo que podia pra ajudar nesse sentido e não sei mais o que fazer!

 

***

 

--Que foi? – Luiza perguntou calmamente – Desde que a gente se reencontrou cê anda tão distante, tão pensativa... nem parece a Stefany porr* louca que eu conheço! – beijou a cabeça da outra – Até tuas postagens tão mais sei lá. – comentou – Tem ido na tua vó?

 

Luiza estava deitada de barriga para cima com Stefany em seus braços. Haviam feito sex* na noite anterior, dormiram juntas e encontravam-se naquela posição há alguns minutos. As duas jovens estavam no quarto da influencer.

 

--Faz um tempo que não apareço na casa dela. – desvencilhou-se da amante e se deitou de barriga para cima também – Aí, cê conhece alguma mina que tenha sido estuprada? – perguntou de súbito

 

--Eu hein, que porr* de pergunta é essa? – virou o rosto para olhar para a outra

 

--Conhece ou não, caralh*? – insistiu impaciente

 

--Ah... – novamente voltou a olhar para o teto – Tive uma prima aí que foi. Mas eu nunca tive muito contato com ela, tá ligada? Toda estranha, descompensada... -– pausou brevemente – Mas qual é a dessa pergunta sinistra?

 

--Lembra da Fernanda? – não esperou resposta – Ela foi estuprada na prisão...

 

--Puta que pariu! – olhou para Stefany novamente – Como é que tu soube disso? – perguntou curiosa

 

--Minha vó ficou sabendo e me contou. – olhou para Luiza – E eu fiquei malzona desde que soube dessa parada... – confessou

 

--Cara... tá, é foda, mas quem poderia adivinhar que uma merd* dessas ia acontecer? – argumentou – Se a baranguda não tivesse dado uma de X9...

 

--Ela tem nome, porr*! – interrompeu a fala da outra e se sentou – Que merd*! – levantou-se contrariada

 

--Olha só você! – sentou-se de cara feia – Sempre chamou a maluca de hacker baranguda e agora vem dando uma de boa moça! – criticou

 

--Não ferra, tá? – abriu o closet e pegou um roupão – Agora vê se vaza daqui porque tenho umas parada pra resolver! – olhou para a outra – Vou tomar um banho, comer qualquer coisa e meter o pé!

 

Riu por achar absurdo. – Você me procura, me traz pra sua casa, fode comigo, a gente dorme junta e agora por causa de um papo sinistro me dispensa como se eu fosse uma puta qualquer? – perguntou revoltada – Qual é a tua, Stefany?

 

--É você que sempre vive atrás de mim! – retrucou de pronto – E se dessa eu vez te procurei e você topou, não tem por que ficar de mimimi! – pegou uma toalha – Agora dá licença que meu bonde é da atitude, tá ligada? – foi para o banheiro

 

“Cachorra, desgraçada!” – pensou com vontade de chorar – “A coroa tinha razão! Eu devia ter ficado na Europa!” – levantou-se e começou a juntar suas roupas – “Essa piranha não merecia que eu voltasse mais cedo!”

 

***

 

--Fala, Jorel! – Stefany cumprimentou – Tudo tranks? – olhava para o homem

 

--Tranks? – olhou surpreendido para a jovem ao se virar – Sua mãe me demitiu, vivo entre ser motorista de aplicativo e funcionário desse lava jato aqui, como posso tá tranks? – interrompeu o serviço – E como você me encontrou? – perguntou desconfiado

 

--O Jordão é esquisito, mas com cenzinho na mão ela canta as pedra. – falava do motorista atual -- Se liga na missão, papo reto. – parou diante do homem – Partiu presídio?

 

O homem paralisou sem entender. – Pelo amor de Deus, garota, não me mete em roubada que eu já me ferrei demais por tua causa e sem ter feito nada! – reclamou de cara feia

 

--Não vai ficar no 0800! – garantiu – E eu vou trabalhar dona Yes me pra te dar uma moral de volta. – olhava para o homem – Mas aqui, o tempo não para, malandragem! Simbora nós? – insistiu

 

“Ô, meu Deus, que eu não me ferre mais ainda por causa disso!” – o homem desejou em pensamento

 

Fim do capítulo