Stefany dirigia loucamente sem saber para onde ir. Estava nervosa por conta do que ouvira da avó e pela primeira vez um sentimento de culpa perturbava seu coração.

 

“Estupro é parada séria!” – pensava agoniada – “Essa porr* não podia ter acontecido, não podia!” – segurava o volante com as duas mãos – “É foda, cara!”

 

De repente o celular toca e como insistia muito, a jovem resolveu atender. Não olhou para o visor. – Alô? – ouviu a resposta do outro lado e estranhou – Quê que tu quer, porr*? – perguntou impaciente

 

“Adoro o jeito fofo dessa cachorra!” – Luiza pensou decepcionada – Eu tava num intercâmbio por aí, mas voltei mais cedo, tá ligada? – passou a mão nos cabelos – Queria te ver... – pausou brevemente – Tô em casa, sozinha... Cê... – mordeu o lábio inferior – tá a fim? – convidou – A gente podia...

 

--Demorou! – deu uma curva brusca e mudou de direção – Tô indo. Fui! – desligou sem esperar resposta – “Cara, uma boa foda é tudo que eu preciso agora!” -- pensou

 

***

 

Era noite alta e Yesmin dormia ao lado de Rogério. Agitava-se na cama inquieta por causa de um sonho incomum.

 

“-- A minha dúvida é muito simples e preciso de uma resposta clara e objetiva! – a CEO falava enquanto se via deitada em um divã – Se uma mulher passa uma vida inteira se relacionando com homens, mas numa única noite se relaciona com uma mulher, isso faz dela uma lésbica? – queria saber

 

--Eu diria que ao menos bi essa mulher seria! – respondeu sensualmente – E que mal há nisso, hein? – provocou

 

--Carmen?! – sentou-se de um pulo – Mas será possível que você me aparece em todos os lugares? – levantou-se do divã – Quer saber? Eu vou embora! – decidiu

 

--Apenas de calcinha e sutiã? – provocou novamente – Não acho que seja uma boa ideia...

 

--Mas como...? – olhou para si mesma e constatou ser verdade – Onde estão minhas roupas?? – perguntou nervosamente – Ora, você não brinque comigo ou eu...

 

--Ou você o que? – Carmen se levantou sensualmente e se aproximou da outra – Querida, você não quer aceitar, mas não tem jeito. – parou bem próxima – Você provou da fruta e gostou muito! – segurou a engenheira pelos cabelos da nuca e a beijou com fúria

 

--Me solte, sua louca! – desvencilhou-se nervosamente – Aquilo foi uma vez pra nunca mais!

 

De repente, as feições de Carmen se modificam e Zaida surge diante da engenheira. – Nunca mais? – perguntou decepcionada – Que pena... – aproximava-se lentamente – Eu gostei tanto... – alternava seu olhar entre os olhos e lábios da CEO

 

--Eu, eu... – engoliu em seco – Eu não sei como você veio parar aqui, mas... – congelou ao sentir o contato da pele da cuidadora com a sua

 

--Não sabe e nem tem que saber! – interrompeu a fala da outra – Chega de tanta conversa! – puxou-a pela cintura e a beijou com paixão

 

As duas mulheres começaram a se despir com fúria enquanto beijavam-se, mordiam-se e lambiam-se com fome uma da outra. Quando estavam completamente nuas jogaram-se sobre o divã e Yesmin foi à loucura ao sentir que Zaida percorreu-lhe o corpo com lábios ansiosos até encontrar lugar entre suas pernas.

 

--AH!!!!!!!!! – gem*u alto e segurou a outra pelos cabelos – AH!! – fechou os olhos extasiada”

 

--Ah! – Yesmin despertou nervosa e por pouco não caiu da cama – Meu Deus, o que foi isso? Ainda bem que Rogério não acordou! – levantou-se e seguiu apressada até o banheiro da suíte, fechando a porta – Gente, olha como eu tô! – sentia a forte umidade entre suas pernas – O que é que tá acontecendo com você, hein? – perguntou-se olhando para sua imagem no espelho – Melhor tomar um banho bem frio! – decidiu – Merda!

 

***

 

Um violento tiroteio infernizava a vida dos moradores da comunidade onde Vivinácia ainda morava. Duas facções rivais disputavam o domínio da região.

 

“Ô, meu Pai, acaba com essa pistinga, eu imploro!” – a caipira orava mentalmente enquanto se refugiava deitada de bruços debaixo da cama – “Eu não vejo a hora de ter dinheiro suficiente pra comprar um cantinho na zona sul!” – pensava

 

Nisso, alguns traficantes invadem a casa e não percebendo movimento, acreditam que ela estava vazia.

 

--Fica vocês três de guarda na laje! – um dos homens ordenou – Num vai dedar que eu tô aqui! – os comparsas obedeceram – E vocês aí monta a segurança nas janela! – falou com os demais – Vou pedir pro Gibão e os homi dele me dar uma moral! – pegou o celular e buscou se comunicar com o outro – Atende, merd*! – reclamava consigo mesmo

 

“Mas que inferno!” – Vivinácia pensou contrariada – “Se esses cabras sonharem em saber que eu tô aqui, ainda vão me pegar pra pato!” – buscava não fazer qualquer barulho – “Deus, por favor, me livra desses pestes!” – fechou os olhos e tentou orar – “Eu não aguento mais essa vida, esse inferno, que ódio!” – controlava-se para não chorar – “Eu odeio ser pobre, odeio, odeio!!!” – revoltava-se

 

--É revoltante, não é? – uma voz de homem ecoou dentro da mente da caipira – Quando se é pobre se está vulnerável a tudo, inclusive ao bel prazer de idiotas como esses merd*s que invadiram sua casa!

 

A mulher arregalou os olhos sem entender. “Como pode isso, uai?” – olhou para os lados – “Que voz é essa falando esses trem na minha cabeça?”

 

--Você lida com espíritos o tempo inteiro e ainda não entende desses trem? – a voz perguntou ironicamente – Puxa vida, madame Vivi! – apresentou-se deitado de bruços ao lado dela – O FalaGPiTaco não te ensinou da vida espiritual o suficiente? – piscou

 

Vivinácia congelou com a visão daquele homem de aspecto assustador e sentiu medo. “Ave Maria!” – pensou

 

--Eu vou te mostrar o que posso fazer por você. – continuava falando – E posso fazer muito mais! – ofereceu – Só depende de você, uai! – piscou e desapareceu

 

Com os olhos do espírito, Vivinácia viu quando aquele homem se aproximou dos traficantes, inspirou pensamentos a eles e dentro de poucos instantes o grupo se foi sem levar nada e sem destruir coisa alguma.

 

--Pode sair daí. – o espírito afirmou tranquilamente – Eles não voltam mais. – garantiu – E lembre-se: só depende de você! – desapareceu novamente

 

A caipira saiu de debaixo da cama desconfiada e ficou pensando em tudo que houve.

 

***

 

Nazira procurava seus modelitos em vão. – Meu Deus, como pode? – percorria a casa inteira – Minhas três burcas desapareceram como por encanto! Não consigo achar nem minha túnica preta, a capa com capuz... – sentia-se confusa – Isso não tem explicação a menos que... – parou para pensar – Dona Malika?! – concluiu – Mas será que ela teria coragem de destruir minha aura de mistério desse jeito?? – perguntou-se – E onde será que ela se encontra agora? – sacou o celular – Vamos ver o que o Pitaco acha disso! – começou a teclar

 

Enquanto isso, a dois quarteirões dali...

 

--Agora quero ver essa palhaçada continuar! – Malika despejava as roupas na caçamba de lixo de uma obra – Acabar com essa patifaria de mistério! – limpou as mãos – Desde que começou com essa bobeira, Nazira só vive fucinhando pela rua, correndo risco de se arrebentar toda e ainda me fazendo passar vergonha! – falava sozinha – Basta! – decidiu

 

***

 

--Sabe que desde que a senhora teve aquela conversa com sua neta, tenho lhe sentido tão distante... – Zaida observou – Já faz quase duas semanas que aconteceu, Stefany não voltou mais desde então, mas tenho certeza de que ela voltará. – olhava para a idosa – É isso que lhe entristece? – queria saber – O medo de que ela não volte mais?

 

--Não é tristeza... – dizia a verdade – O conversa que tive com ela me fez refletir sobre meu vida e... – sorriu pensativa – É duro constatar o tanto que errei... – admitiu

 

--E quem não erra? A senhora viveu mais, então teve mais tempo. – sorriu compreensiva – Imagine os causos que Wanderleya nos contaria agora se não tivesse no banho? -- brincou

 

Balançou a cabeça negativamente. – Não foi só questão de mais tempo... Foi de tudo! – mirou um ponto no infinito – Oh, Zaida, se você soubesse... – viajou em suas lembranças

 

“--Oh, bintii (minha filha), isso não é comportamento! – a mãe da jovem dizia – Você não precisa agir como majnum (louca) só porque é artista! – olhava para ela – Está deixando o dinheiro e a fama ocuparem espaços valiosos demais no seu coração! – advertiu – Nunca fomos conservadores, mas nem por isso permitiremos seus excessos!

 

--Laa taqūl kull mā taʿrif, wa laa tafʿal kull mā taqdir, wa laa tuṣaddiq kull mā tasmaʿ, wa laa tunfiq kull mā tamlik! (Não diga tudo o que sabe, não faça tudo o que pode, não acredite em tudo que ouve, não gaste tudo o que tem!) – o pai da moça citou um provérbio árabe – Você não foi criada para ser irresponsável, Adma! – afirmou convicto – Não existe liberdade sem responsabilidade! – olhava para ela

 

Deu um suspiro profundo. – Terminamos aqui? – perguntou sem muita paciência – Passei as últimas noites em claro e gostaria de dormir um pouco, min fadlak (por favor)! – olhava para os pais – Amanhã viajo para Damasco para um show. – informou – Quero estar bem.

 

--Choo (O que)?? – os pais perguntaram ao mesmo tempo – Você não pode simplesmente nos dizer isso como se fôssemos pessoas quaisquer! – o homem disse rigidamente – Somos seus pais, Adma! Você nos deve respeito!

 

--Quem você pensa que é? – a mãe questionou de cara feia

 

Passou a mão nos cabelos. – Sou maior de idade, tenho meu dinheiro e não devo mais satisfações a ninguém! – a cantora respondeu convicta – Agora com licença. – encaminhou-se para o quarto

 

--Ainda vai se arrepender muito por isso! – o pai advertiu decepcionado – Amaldiçoados os filhos que cospem sobre os pais!

 

Adma desprezou o que ouviu e seguiu adiante, decidida que já era hora de morar sozinha dali para frente.”

 

--Minha sede por fama e sucesso me fez desprezar meu família e abandonar todos... – reconheceu arrependida – O que se deu de maama e baba? – perguntava-se – O que se deu de todos que me ensinaram meus primeiros noções de vida? – os olhos marejaram – Laa acrif (Não sei)...

 

Zaida não fez juízo do que ouviu. – Mas depois que a senhora saiu de casa não manteve mais contato com sua família? – perguntou com jeito

 

--Raramente eu os procurava. Eles sabiam mais de mim pelo imprensa que por conviver. – abaixou a cabeça brevemente – No final todo família rompeu comigo por causa de escândalos. – olhou para a cuidadora – Imprensa já gosta de inventar escândalos e quando você dá margem pra isso, aí é que eles aproveitam! – novamente voltou a mente para o passado – E eu fez muito besteira...

 

“--Adma Zahia fumando, vejam! – um repórter gritou para os outros que fotografaram

 

--Habibit, -- um belo homem sussurrou no ouvido da cantora – os abutres estão fotografando você fumar. – advertiu gentilmente – Incrível como não têm o que fazer! – olhou brevemente para os homens que os espionavam por uma janela do restaurante

 

--Eles têm o que fazer, hayati (minha vida). – respondeu sensualmente antes de cuspir um pouco de fumaça – Vivem de perseguir as estrelas e tentar descobrir como vivem. – sorriu

 

--E como será que vivem? – o homem perguntou igualmente sedutor

 

Aproximou-se do ouvido dele e sussurrou: -- Vamos embora daqui e eu te mostro! – mordeu-lhe a pontinha da orelha – Mas antes, vamos escandalizar os abutres! -- sorriu

 

--Yaalah! (Vamos lá!) – o homem respondeu empolgado”

 

--Eu tive muitos casos amorosos e usei e abusei dos homens a meu bel prazer, mesmo naqueles tempos, mesmo naquelas terras onde as mulheres não tinha status igual. – Adma confessou – Vivi amores ardentes que logo me entediavam e isso feriu corações...

 

“--Quem você pensa que é, Adma?! – um homem perguntou enfurecido – Todo o Líbano ri da minha cara por causa de você! – jogou um jornal em cima dela – Portando-se como mahdia (vadia), num cabaré qualquer e na companhia de um maldito egípcio! – falava com ódio – Como pode me trair dessa maneira tão escandalosa? Morro de dor e vergonha!

 

--Eu nunca lhe jurei amor eterno, Seid! – respondeu ao jogar o jornal no chão – Adma Zahia nunca foi mulher para um homem só, especialmente um tão limitado quanto você, ya ghabī (seu estúpido)! – cuspiu no chão em desprezo

 

--Maldita! – esbofeteou-lhe o rosto com raiva – Desgraçada! – os olhos marejaram

 

A cantora caiu sentada no chão, mas teve tempo de sacar a pequena pistola que escondia presa na coxa direita. – Não se atreva a me bater novamente! – ameaçou empunhando a arma – Sei atirar e não seria a primeira vez que faço isso para me defender! – levantou-se lentamente

 

Surpreendeu-se e não reagiu. – Qaddamtu laki qalbi (Eu te entreguei meu coração)... – derramou uma lágrima sentida

 

--E eu o devolvo agora! – deu um tiro no pé do homem e partiu”

 

--Colhi o que plantei ao me apaixonar por Vicenzo, abrir mão de sonhos pra me casar com ele e viver no Brasil... – pensava no ex marido – E ele me tirou tudo: meu carreira, meu independência, meu dinheiro, meu saúde, meu alegria... – afirmou com mágoa – Por fim, me humilhou fugindo com outra e nos deixando sem nada!

 

Zaida segurou uma das mãos dela. – Veja pelo lado bom, dona Adma. – falava com carinho – Apesar de tudo isso, eu tenho certeza que a relação de vocês teve uma parte boa. – olhava para a paciente – Ao menos no começo não teve? – queria saber

 

Gastou uns segundos calada antes de responder. – Sim, é verdade... – balançou a cabeça concordando – O início de nosso relação foi... – pensava na palavra certa – mágico!

 

--E como foi que vocês se conheceram? – perguntou curiosa – Aliás, em que língua vocês se comunicavam?

 

--Francês. – respondeu de pronto – Depois de um tempo em Brasil é que Vicenzo falava comigo apenas em português. – lembrava do homem – Mas por várias vezes, palavras não eram necessárias... – riram brevemente – Ai, ai... – suspirou -- Tudo começou em um jantar de um magnata libanês que patrocinava cultura na nossa país. Foi lá onde nos conhecemos... – novamente viajou no tempo

 

“-- Oh, Aba! – uma atriz indicou discretamente -- Vejam que homem! – admirava o estrangeiro – Tipo diferente... – reparava – Alguém o conhece? – perguntou interessada

 

--Ouvi dizer que é um brasileiro! – outra atriz comentou – Parece que está em viagem de negócios e deseja firmar uma parceria aqui. – fofocou com as demais

 

--Se ele quisesse firmar uma parceria comigo, -- uma cantora falou assanhadamente – eu estaria à disposição! – riu de si mesma

 

--Hum... – Adma reparava no tipo – Se esse homem tiver de ser de alguma de nós esta noite, -- bebeu um gole da bebida – ele será meu! – afirmou convicta

 

--Não seja tão arrogante, habibi! – outra cantora comentou – Este jantar está cheio de beldades e estrelas.

 

Vicenzo conversava com um grupo de homens de negócios, mas de repente desviou sua atenção para admirar as mulheres que o observavam. Seu olhar cruzou com o de Adma e se deteve nela.

 

--Embora este lugar esteja cheio de beldades e estrelas, -- mantinha-se fixa no olhar do homem – só há uma Estrela Mor. – bebeu mais um gole – Wa hādhihi ana! (E esta sou eu!) – sorriu vitoriosa”

 

--Nós fugimos juntos antes de fim de jantar, -- a idosa dizia – fizemos loucuras pelos ruas de cidade e pegamos fogo no quarto de hotel dele! – riram mais uma vez – Naqueles tempos, sempre que estávamos juntos parecia que tempo parava... – suspirou – Vicenzo sabia ser muito romântico... E não poupava dinheiro nesses horas...

 

“Em uma noite estrelada, Adma foi surpreendida por um convite inesperado de seu namorado brasileiro. Ele vendou seus olhos e a conduziu de carro até um hangar privado, onde um elegante monomotor Cessna 172 os aguardava.

 

--Agora você já pode ver. – desvendou-lhe os olhos

 

--Smallah! Quelle surprise! (Que surpresa!) – exclamou admirada – Você sabe pilotar? – sorria empolgada

 

--Vamos descobrir? – desceu do carro e a convidou a fazer o mesmo

 

Ao embarcarem, Adma encontrou uma garrafa de espumante gelado e uma seleção de frutas frescas cuidadosamente dispostas. O homem decolou suavemente, revelando uma vista panorâmica iluminada e deslumbrante da costa. Já em cruzeiro, Vicenzo segurou a mão de Adma e, com um sorriso, disse: -- Quero que cada momento ao seu lado seja único, assim como este voo.

 

Emocionada, ela respondeu com um beijo terno, enquanto a luz refletida pela lua iluminava o interior da aeronave, criando uma atmosfera mágica”.

 

--Ele vivia indo e voltando pra me ver em Líbano sempre que o agenda permitia. – continuava a narrativa – E eu já não me envolvia com ninguém mais além dele. – olhava para Zaida – Foi em meio a tudo isso que recebi a convite de Hollywood. – lembrava – De dia, foi a convite e de noite, Vicenzo me aparece de surpresa, me leva para jantar em restaurante mais caro de Beirute e me faz o pedido que mudou meu vida.

 

“--Eu já não aguento mais vir para o Líbano cheio de desejo por te encontrar – olhava nos olhos – e depois voltar para o Brasil sozinho! – falava com emoção – Oh, Adma, case comigo! – pediu ao se ajoelhar -- Et fais de moi l'homme le plus heureux sous Allah! (E faça de mim o homem mais feliz abaixo de Allah!) – pegou uma caixinha do bolso do paletó e a abriu diante da cantora

 

--Oh, Aba! – a mulher exclamou admirada

 

Músicos se apresentaram tocando alaúdes e kamanjas (um tipo de violino), embalando aquele pedido ao som de um dos grandes sucessos de Adma na época.

 

--Seja minha esposa amada e única e venha passar o resto dos seus dias ao meu lado no Brasil! – pediu em tom quase súplice -- Je t'aime! (Eu te amo!) – os olhos marejaram

 

“Oh, meu Deus, o que eu faço?” – a mulher pensou emocionada – “Justo agora que recebi o convite de Hollywood para viver Cleópatra no cinema!” – sentia-se dividida

 

--Você... não me ama? – o homem perguntou receoso

 

--Oh, seu tolo! – segurou-o pelo paletó e o puxou para que se levantasse -- Je t'aime à la folie! (Eu te amo loucamente!) – beijou-o sem pensar em nada”

 

--Eu não disse sim naquele noite, mas disse depois... – passou a mão sobre os olhos – Pensei, pensei e por fim me rendi àquele amor que foi meu ruína... – lembrava do passado – O primeiro ano de casamento vivendo aqui foi perfeito, mas logo Vicenzo se aborreceu de vida de casado e tudo foi indo por água abaixo... E eu me arrependi amargamente!

 

--Ora, dona Adma, eu sei que ele a fez sofrer, mas... graças a esse casamento a senhora teve uma filha. –sorriu ternamente – E uma neta, que lhe adora!

 

Sorriu com tristeza. – Eu não fui bom maama, Zaida! – confessou – Vicenzo e eu tivemos Yesmin e nunca fomos realmente os pais dela, entende? – gesticulou brevemente – Criação de Yesmin foi delegada a babás. – revelou – Ele gastava o tempo com mulheres, jogatina, farra e um pouco de trabalho e eu gastava o meu enlouquecendo por causa dele e sonhando em recuperar meu carreira em vão. – pausou brevemente – Quando dei por mim, meu filha já era um mulher e eu percebi que simplesmente a havia perdido. – suspirou – Não me admira que ela não saiba criar Stefany; aprendeu comigo a ser maama ruim.

 

–Sabe, dona Adma, vou lhe confessar uma coisa. – abaixou a cabeça brevemente – Não interessa quantos anos a gente tenha... mãe sempre faz falta! – olhava para a idosa – Eu adoraria ter uma! – deu um sorriso triste – Tenho certeza que sua filha, mesmo com toda aquela pose que ela faz questão de mostrar pro mundo, também adoraria saber que ela tem maama! – pausou brevemente – A senhora tá viva, se recuperando dia após dia, ela tá viva... – abriu os braços – O tempo é agora, é hoje!

 

--Eu não sei... – balançou a cabeça negativamente – Yesmin deve ter muitos mágoas... – concluiu – E eu não culpo por isso...

 

--Deve ter, concordo. Mas isso não quer dizer que tudo tá perdido! – incentivava – Faz tempo que ela não vem aqui, mas a senhora podia convidar. – propôs – Tente, por que não? Quem perde por tentar?

 

--Pessoal, demorei porque lavei as madeixas, viu? – Wanderleya falou mais alto ao sair do banheiro – É uma vasta cabeleira, tem que tratar! São 20 cremes pra passar!

 

As duas mulheres acharam graça. – Vá secar o madeixa e não demore! – Adma advertiu brincalhona –Criatura louca! – riram novamente

 

--Pense no que lhe falei, viu? – beijou a testa da paciente – O tempo é agora! – repetiu

 

Sorriu com carinho e segurou as duas mãos da cuidadora. – Devo lhe dizer, filha. – olhava nos olhos – Hoje eu sei que colho na velhice tudo que plantei em meu vida irresponsável e egoísta! Demorou, mas aprendi a ver isso! – falava com certa emoção – E reconheço que Allah foi tão bondoso comigo, que apesar de tudo me mandou você: um anjo que veio iluminar meu vida cinza! – os olhos marejaram – Al-Ar-rabiic (A Primavera) fazendo minha inverno passar... – derramou uma lágrima – A sopro de vida numa alma quase morta!

 

Emocionou-se sinceramente com o que ouviu. – Ninguém nunca me disse isso! – os olhos marejaram também – A senhora me faz me sentir importante de um jeito como ninguém nunca fez!

 

--Eu te amo, Zaida! – declarou

 

--E eu também amo a senhora! – ajoelhou-se no chão e a abraçou com carinho

 

***

 

Todas dormiam tranquilamente na casa de Adma. Zaida sonhava e se via imersa num ambiente que nunca houvera conhecido.

 

“--Que lugar é esse? – olhava fascinada para todos os lados – Tudo tão diferente, tão...

 

--Mágico? – a voz de uma Adma jovem interrompia os pensamentos da outra – Bem-vinda a minha Beirute, habibi! – sorriu sensualmente ao se aproximar – Agora que você já me conhece melhor, que sabe quem realmente sou, o que acha de tentar? – parou diante da cuidadora – Ou não se agrada de mim? – olhava nos olhos

 

--Ah, eu... – não conseguiu responder, pois fora interrompida por um beijo ardente”

 

 

Fim do capítulo