Stefany finalmente havia conseguido sair do castigo. Uma vez que obedecera todas as regras impostas pela mãe e conseguira ser aprovada em todas as matérias no primeiro período sem usar de artifícios desonestos, estava liberada para uma vida normal. Aproveitando a primeira oportunidade surgida, esbaldava-se numa louca festa LGBT que acontecia em São Paulo, gravando cada lance para postar nas redes sociais.

 

--Aí, galera responsa, -- olhava para a tela do celular – primeiro período foi dominado, fase de reconexão com as raízes super na moral, mas ninguém é de ferro, né? – sorria no meio da multidão – Agora é hora de aloprar e botar pra fuder, UHUUU!!!!!! – gritou – Vem comigo!

 

Uma sucessão de imagens mostravam a jovem bebendo em exagero, dançando sensualmente na pista de dança e em cima de uma mesa, além de se pegar com moças e alguns rapazes em amassos nada discretos.

 

--Poxa... – Zaida assistia decepcionada – Deduzo que o tal castigo terminou. – falava sozinha – Quero ver se agora, com liberdade e dinheiro no bolso, Stefany vai se lembrar que tem vó. – não quis mais assistir – Já não apareceu na casa dela no final de semana... – suspirou – Tomara que essa garota não decepcione dona Adma... – desejou – E que finalmente amadureça... – pensava na jovem – Acho que já passou da hora delas duas terem uma conversa mais séria. – ponderou – No meu próximo plantão vou falar sobre isso com dona Adma. – decidiu – Mas agora é hora de faxinar a casa! – pegou vassoura e pá – Simbora, Zaida! – começou o trabalho

 

***

 

Rogério e Yesmin estavam na cama. Haviam feito sex* exaustivamente e descansavam deitados lado a lado, de barriga para cima.

 

--Incrível como o sucesso nos negócios te deixa acesa! – o homem comentava – Daqui a um tempo vou ter que começar a tomar o azulzinho pra dar conta de você! – brincou

 

--Continue se cuidando que isso não será necessário. – sentou-se na cama – Mas falando em necessidade, lembrei que tenho que fazer uma coisa urgente! – levantou-se – Leandro tá na Coreia negociando com o pessoal da Siangung e preciso passar um briefing pra ele! – olhou brevemente para o relógio – E a hora é essa! – olhou para todos os lados – Cadê meu roupão? – encontrou o que buscava e se vestiu

 

--Você é incansável, meu Deus. – sentou-se na cama e se recostou na cabeceira – Reparei que suas costas e coxas estão um pouco arranhadas. – comentou sem maldade – O que andou fazendo na academia pra ficar assim? – perguntou curioso

 

Ficou sem graça e não olhou para o marido. – Ensaiei começar um crossfit e... – pegou o notebook e se sentou na mesinha – não gostei! – respondeu o que primeiro lhe veio à mente -- Fiquei até com manchas roxas, não reparou? – ligou o notebook – Agora é hora de trabalhar! – cortou a conversa – “Ai, Carmen, mas você, hein?” – pensou constrangida

 

--Eu tampouco me interesso por crossfit. Muito pesado! – cruzou as pernas – Mas, mudando de assunto, creio que você não tenha visto a última postagem de Stefany. – comentou – Ela simplesmente foi pra São Paulo por causa de uma festa louca, bebeu todas e deve ter ficado com quase todo mundo que tava lá. – fez cara feia – Sinceramente, querida, se for pra voltar a vê-la nessa vida eu preferiria que se mantivesse o castigo! – olhava para a mulher

 

--Deixa ela se sentir alforriada. – respondeu sem dar importância – Quando as férias acabarem, dou uma prensa de novo. – olhava para a tela do notebook – Aos poucos ela vai entrando nos eixos. É o natural.

 

--Humpf! – discordou daquele ponto de vista – Eu estava muito mais satisfeito com ela indo na praia e na casa da avó. – reparava na esposa – Como pai, muito me desagrada vê-la se comportando como vadia noite e madrugada afora!

 

--Ah, Rogério, para! – respondeu impaciente – Aposto que se ela fosse um rapaz, você ficaria sorrindo de orelha a orelha por ser pai de filho garanhão! – alfinetou – Mas como é pai de moça, bate esse moralismo aí! – mantinha-se fixa no computador – “Quanto às visitas na casa da maama, vamos ver se enquanto estiver goz*ndo das liberdades que sempre teve, ela vai continuar indo!” -- pensou

 

--Engana-se minha cara, porque nunca tive uma vida de farras; você deveria saber disso!

 

--Você sempre foi irrepreensível, não é? – olhou para ele – Não à toa conseguiu convencer todo mundo que aquela garota era uma descompensada! – afirmou acidamente

 

Estranhou a observação. – Por que você tá trazendo isso agora? – não entendia – Nos últimos dias você tem andado tão estranha, tão...

 

--É muita pressão em cima de mim! – interrompeu a fala dele – E eu continuo achando que as farras de Stefany não são o fim do mundo! – respondia de mau humor -- Agora será que eu posso trabalhar em paz? – perguntou ironicamente – Vai dormir, Rogério, vai? – estava sem paciência – “Eu aqui com a cabeça completamente fora do lugar e ele ainda vem me perturbar com essa conversa fiada!” – pensou chateada

 

Deu um suspiro profundo e não respondeu. Virou-se de lado e se deitou. “Eu não sei o que diabos aconteceu naquela maldita semana de moda que Yesmin tem andado estranha!” – pensava – “Ela está cada vez mais workaholic! Trabalha tanto que parece que deseja não pensar em mais nada!” – considerou – “Não fosse isso, eu diria que está tendo um caso...” – ponderava mentalmente – “Mas, não, a rotina dela não mudou...” – queria entender – “Na verdade, ela só mudou mesmo desde a época daquele maldito escândalo...” – visualizava o rosto da jovem em sua mente – “Sempre tem uma desgraçada que estraga tudo e abala o casamento da gente...” – fechou os olhos para dormir

 

***

 

--Ora, ora, se não é a poderosa madame! – Fernanda saudava com ironia – O que foi? Por que veio me ver de novo? – falava de cara feia – Nem minha mãe toca mais no seu nome!

 

--Sua mãe me disse que você pediu pra que ela reduzisse a visitação. – repetiu o que ouvira de Ana – Isso machuca muito um coração de mãe, sabia? – sentou-se diante da presidiária – Ela não tem culpa do seu sofrimento e fazer ela sofrer não vai te ajudar em nada, não, uai! – olhava para a outra

 

Desviou o olhar e gastou uns segundos calada antes de responder: -- Eu prefiro ficar sozinha. – olhou novamente para a caipira – Espero que você também respeito isso!

 

As duas mulheres conversavam no pátio do presídio.

 

--Não vou ficar vindo sempre. Essa é só a segunda vez. – salientou – Mas eu te disse que seu caso não ia ficar esquecido e não ficou! – apoiou os cotovelos sobre as pernas – Conheci uma moça que lidera uma ONG pelo direito dos LGBTs e ela tem grande influência política, viu, fi? – destacou -- Ela veio me procurar querendo vingança! Foi roubada pelo ex noivo, queria saber onde ele andava pra recuperar os trem e tal... – contava brevemente a história – Proseado vai, proseado vem, falamos sobre você e ela me disse que pode fazer muito barulho pra retomar o caso e, de repente, tirar você daqui antes do tempo! – pausou brevemente – Simbora nessa, mulher? – ofereceu

 

Surpreendeu-se com o que ouviu. – Mas eu nunca fui LGBT! – respondeu de pronto – Que tem a ver o meu caso com isso? – reclamou – Você quer é me expor mais uma vez e à toa!

 

--Você não é, finge que é! – orientou – Não é melhor que ficar esperando completar 4 anos pra ver se vão te liberar por bom comportamento, sô? – fez um gesto breve – Exposição por exposição, você não tem nada a perder, uai!

 

A hacker não respondeu.

 

--Eu vou te deixar pensar, Fernanda. – levantou-se – Pelo menos até o final dessa semana. – olhava para a jovem – Pode nem funcionar, mas custa nada tentar, né verdade? – balançou a cabeça – Sábado tô de volta. Se você disser que não quer, fica tranquila que não vou insistir. – garantiu – Como também não vou mais ficar vindo aqui. – pausou brevemente – Inté! – despediu-se e partiu

 

Fernanda acompanhou a caipira com o olhar e ficou pensando quanto ao que fazer.

 

***

 

--Pelo amor de Deus, filha, mas por que não?? – Ana perguntava agoniada – Você parece que se desgostou da vida e quer morrer aqui! – olhava para a filha com os olhos marejados

 

--Pelo amor de Deus digo eu, mãe! – a hacker respondeu de pronto – Não existe ninguém nesse mundo que deseje mais a minha liberdade do que eu; nem a senhora! – gesticulou – Mas o tempo em que eu desejava uma coisa e ficava cega já acabou! Hoje em dia eu penso uma, duas, três vezes! – pausou brevemente – Se eu me fingir de lésbica e deixar a cliente da madame fazer enxame do meu caso de novo, sabe o que vai acontecer? – olhava para a mãe – Os advogados da família de Stefany vão aproveitar e dizer que fiz o que fiz por ser apaixonada por ela! E novamente eu perco! – passou as duas mãos nos cabelos – E aí, depois de ter sido enxovalhada em rede nacional como criminosa, mentirosa e caluniadora, ainda vou receber a pecha de sapatão despeitada! – riu nervosamente – Não, mãe! Pra mim chega! – decidiu – Eu não queimo mais cartucho com tiro no escuro, não! Tô fora!

 

Ana suspirou decepcionada e não argumentou mais.

 

***

 

Malika voltava da igreja sendo seguida por Nazira, a qual, por estar usando burca, tropeçava no tecido da roupa e não conseguia acompanhar o passo da idosa.

 

--Dona Malika, anda mais devagar, por favor! – pedia – É difícil andar com isso aqui! – olhava para o chão – Tem muita calçada ruim por aqui e a gente acaba não percebendo e trupica! Ui! – tropeçou

 

--Não mandei seguir conselho de computador e fazer maluquice pra fisgar um homem que não te dá a mínima! – respondeu mantendo a marcha – Onde já se viu? O computador manda trabalhar aura de mistério e ela me compra burca! – resmungou sozinha – Por que minha acompanhante tinha que ser justo Nazira, Senhor, por quê? – olhou rapidamente para o céu – Isso é castigo pelo que fiz com minha filha, só pode!

 

--Eu não tô entendo nada que a senhora tá dizendo! – Nazira reclamou – Ui! – tropeçou mais uma vez

 

--Vê se presta atenção pra não se estabecar na calçada! – a idosa advertiu – Se cair aí eu não vou mover uma palha! – ameaçou

 

--Ela fala toda hora e eu entendo é nada! – Nazira resmungou – Eu nunca tinha prestado atenção em como essas calçadas são péssimas! – reclamava novamente – Ui! – e tome de tropeçar

 

Mais ao longe, Zaida se dirigia para sua casa quando as duas mulheres despertaram sua atenção.

 

--Nossa, como aquela senhora me lembra maama! – ficou boquiaberta – O mesmo jeito de andar, o estilo de vestir... – reparava – Mas se bem que aquela senhora tem uma amiga muçulmana e isso maama jamais teria. Ela sempre teve preconceito com essa religião e tem verdadeiro horror a burcas! – lembrava do detalhe – Deve ser alguém muito parecida com ela. – concluiu – Bem, deixa eu entrar em casa porque tô doida pra tomar um banho! – abriu a portaria e entrou no prédio

 

***

 

--E aí, depois de 20 horas cortando cana no meio da noite, de repente eu olho pro lado e o que eu vejo no meio do canavial? – Wanderleya narrava um causo – Um tremendo ET parado ali e me olhando com cara de quem me estudava... – espremeu os olhinhos – Então ele me esticou um dedo luminoso, eu estiquei meu dedo pra ele... – levantou o indicador – e quando nossos dedos se tocaram tomei uma descarga de energia tão poderosa que cortei as cana toda e voltei andando de Ilhéus pra cá durante 20 dias sem parar! – gesticulava

 

Todas riram sem acreditar.

 

--Ai, ai, a conversa tá muito boa, mas a gente não tá com a vida ganha, colega! – Zaida falou ao se levantar – Dona Adma nos deu uma listinha de compras e o tempo urge! – bateu uma palma – Bora pra rua!

 

--Vê se vocês compra tudo que eu pedi! – Adma reforçou – Presta atenção pra não ficar indo e voltando! – advertiu

 

--Bota fé nas cuidadora! – Wanderleya respondeu animada – Stefany, se dona Adma precisar de qualquer coisa você dá conta, valeu? – fez joinha com as duas mãos

 

--Já é! – concordou

 

Zaida piscou para a idosa – Até mais, meninas! – deu tchauzinho para as duas – “Agora tá com ela o momento de enquadrar Stefany na categoria!” – pensou ao se retirar

 

Adma esperou as cuidadoras saírem para começar a falar: -- Filha, eu queria te fazer pergunta. – a jovem prestava atenção -- Zaida viu um vídeo de postagem seu no internet em festa de São Paulo. – contava – E de última vez que Yesmin teve aqui, ela disse que você tava de castigo e por isso é que me visitava. – Stefany abaixou a cabeça – Deduzo que castigo acabou, você até demorou pouco mas voltou aqui. – prestava atenção na neta – Então responda com todo sinceridade porque precisa saber: você só vem aqui pra ter mais assunto pra bombar no internet?

 

--Não... – levantou a cabeça novamente – No começo até foi, mas... a gente foi trocando umas ideia, né? Se conhecendo... – pausou brevemente – Eu curto a senhora de montão, vó... – dizia a verdade – E curto a Zai, a Leya... – olhou para as próprias mãos – A vibe da sua casa é irada!

 

--Hum... – deduziu o que aquela resposta significava – Eu gosta muito quando você vem aqui. – sorriu – Anima o casa! – interrompeu o que dizia e franziu o cenho – Só não gosta de palavreado! – advertiu com o dedo em riste

 

Riu brevemente. – Mas eu tô pegando leve aqui, vó! – sorria para a idosa – Suave, suave... – pensou numa coisa e decidiu perguntar – A senhora não xingava lá no Mundo Árabe? – queria saber – Tudo que é artista xinga, tá ligado?

 

--Eu xingava em árabe, mas nunca xingou em português! – afirmou orgulhosa

 

--É mole? – riu de novo

 

--Sabe, filha, eu tive pensando e você e eu somos mais parecidos do que um dia sonhei imaginar!

 

--Claro! A gente é artista! – respondeu toda prosa

 

--Não só por isso. – pensava em como introduzir o assunto – Eu vou te contar um história. Presta atenção. – ajeitou-se na cama – É segredo e você é único pessoa que vai saber! – avisou

 

--Caralh... – interrompeu o que dizia – Caraca, vó! – consertou-se a tempo – Pode contar que eu não sou bocuda! Fica tranks! -- garantiu

 

--Como você sabe, eu comecei a cantar aos 13 anos no coral do igreja ortodoxa. Mas eu queria mais! – lembrava do passado – Aquele vida de menina certinha não era o que eu desejava! – confessou – Corri atrás da sucesso, aprontei todas e aos 18 anos gravou primeiro disco. – gesticulava – Não dormi com ninguém em troca disso, mas aprontei! – riram juntas – Meu família não gostava, mas eu não me importava com opinião deles!

 

“Igualzinha ela e eu, aí!” – Stefany pensou – “Do caralh*!”

 

--Disco até fez sucesso, gravou mais depois, só que... me faltava mais! – continuava narrando -- Eu não queria ser só cantora, queria ser atriz! E... não era fácil! Não bastava querer pra entrar na cinema egípcio! Era preciso fazer mais! – pensava em como contar o resto da história – Então eu forjou a maior mentira de meu vida!

 

--É mesmo, vó? – perguntou interessada – E qual foi a do teu kaô? – puxou a cadeira para ficar mais perto da idosa – “História maneira, cara!” -- pensou

 

--Naqueles tempos, a grande celebridade egípcia, como nunca houve outra igual, era a cantora Oum Kalthoum. – lembrava da mulher – Era muito claro pra mim, que se queria abrir os portas de cinema egípcio, Kalthoum era o chave! Mas tinha um problema! – fez um suspense -- Ela era muito religioso e eu não ia conseguir nem chegar perto dela se continuasse aprontando. – gastou uns segundos calada – Então eu voltou a me aproximar do igreja e desse jeito criou toda uma situação pra conhecer Kalthoum e cantar com ela. – olhava para Stefany – Deu certo! Gravou cantando com ela!

 

--Irado, vó! – a jovem sorria animada – “Caralh*, minha vó é fodástica!” – pensou – Mas e aí? – perguntou curiosa

 

--E aí que com toda jeito pedi pra ela deixar eu fazer dança do ventre com uma das suas músicas e ela deixou. – contava -- E eu adaptei música e dancei num show que fiz no Cairo. – viajava no passado – Depois disso, logo me convidaram pra participar de filme, onde dancei. Depois veio convite pra cantar em filme, mas eu queria mais! – gesticulava – Queria convite pra atuar!

 

--E atuou tanto que quase mandou a Taylor pra vala no papel de Cleópatra! – Stefany lembrava da história – Só hitando nas parada!

 

Achou graça. – Sim, mas antes disso teve um história. – explicava – O convite pra atuar nunca vinha, então novamente eu decidi fazer alguma coisa pra conseguir o que queria! – pausou brevemente – Me aproximei de Leilah Karism, um atriz pouco mais velho que eu, que estava há um ano sem atuar porque teve filho e se preparava pra voltar. Ela foi casada com diretor egípcio que tinha morrido de pouco tempo e por causa dele tinha muitos contatos influentes na cinema. – lembrava da mulher – Ela sonhava em voltar como estrela principal de filme porque no carreira só fez papel de coadjuvante. – calou-se rapidamente – Eu prometi que faria música pra ela cantar em filme, se ela me apresentasse aos diretores que conhecia. – admitiu envergonhada – E ela acreditava que como cantora e atriz teria mais chances de voltar como grande estrela... – silenciou um pouco mais uma vez – Só que, no final das contas... convenci a todos que eu era muito mais interessante para ser estrela e foi o que aconteceu: roubei cena e virei atriz. Leilah ficou pra trás!

 

Stefany não fez comentários.

 

--Com o passar dos anos, meu carreira teve ascensão meteórico e me tornei uma lenda no Mundo Árabe. Enquanto isso, Leilah caiu na esquecimento. – admitiu com pesar – Ela sofreu muito com depressão e outras problemas de saúde.

 

--Acontece, né, vó? – a jovem balançou a cabeça em entendimento

 

--Não, filha. – discordou com leveza – O que eu fiz foi desonesto e mesquinho! – assumiu – E quando caiu em si, muito me arrependi! – dizia a verdade – Então, usei de meus influências para dar a ela o que mais sonhava em ter: o papel de estrela principal de filme! – percebeu a surpresa da neta -- Eu fez a música tema do filme e gravou. Um amigo roteirista fez a enredo e ela recebeu a convite. – sorriu – Leilah foi maquiada pra parecer mais velho e fez a papel de uma mulher idosa que se apaixonou por um homem muitos anos mais jovem e se sentiu renascendo por causa disso! – mirou um ponto no infinito – O nome de filme era Ar-rabiic, que quer dizer Primavera, e foi uma das maiores sucessos da cinema egípcio! – afirmou orgulhosa – E a música Ar-rabiic talvez tenha sido a composição mais intensa e sentimental de todo meu vida!

 

--Vó que presentão cê deu pra ela! – exclamou admirada – “Foda, cara, puta que pariu!” -- pensou

 

--Leilah ficou imensamente feliz, recebeu vários prêmios pela atuação e morreu quase dois anos depois. – encerrava a história – E eu me senti em paz porque ela me perdoou.

 

--Amei a história! – dizia a verdade

 

--Agora é a sua vez! – afirmou de pronto

 

--De que? – não entendeu

 

--Você não precisa me confessar porque fez e como fez, mas nós sabemos que aquele moça na prisão cometeu crime por sua causa! E porque ela perseguia um sonho!  – Stefany gelou – Então você precisa fazer igual seu gidda (avó) e dar a ela o que ela sonha! – pediu

 

--Mas...? – sentiu-se envergonhada – Eu... ela... – não sabia o que dizer

 

--Fale com Yesmin, e enlouqueça ela se necessário, pra que use das advogados que ela dispõe pra acelerar libertação desse moça! – orientou – E quando ela sair, peça a sua maama que dê um emprego a moça no BoFe! – olhava para a neta – Você não pode deixar que esse moça saia de seu vida com mágoa de nosso família por tudo que aconteceu!

 

--Mas vó... – não sabia o que fazer – Se eu fizer umas parada dessa... – levantou-se da cadeira -- vai ficar na cara que eu tava na treta e... posso ser presa! – respondeu nervosamente

 

--Ela é moça pobre! – continuava falando – Como será que anda vida de família dela com ela presa? – tentava sensibilizar a jovem – Você sabia que ela chegou até a ser estuprado no prisão?

 

--Foi?! – chocou-se – Cara, eu não sabia... – dizia a verdade – “Puta que pariu!” – o coração acelerou

 

--Eu não vou pedir pra você confessar em juízo que mentiu, porque no seu lugar não teria coragem! – confessou – Eu nunca tinha contado a história de Leilah pra ninguém até hoje; nunca tinha admitido o que fiz em busca de sucesso! – acompanhava os movimentos da moça com o olhar – Mas você pode e deve fazer alguma coisa por aquele garota! – afirmou com firmeza – Se ela está onde está, foi por sua causa!

 

Stefany andava de um lado a outro nervosamente. – Eu dependo da minha mãe pra fazer essas parada toda, vó! – não conseguia encarar a idosa – E ela não vai topar, tá ligada?

 

--Se você pedir e for insistente, ela vai! – garantiu – E tem mais uma coisa: você vai no prisão visitar esse moça, dizer que vai tirar ela de lá e pedir perdão! Igual eu fiz com Leilah! – falava com firmeza -- Você precisa ver ela como pessoa tão digna de felicidade quanto você!

 

Riu nervosamente. – Mas vó, não dá pra comparar nossas parada, aí! E a real é que...

 

--A real é que a verdade inconveniente é essa, Stefany: -- interrompeu a fala da outra – se nós erramos, nós temos consertar o erro! Artistas devem levar esperança e não desgraça pro vida de pessoas!

 

Nesse momento Zaida e Wanderleya retornavam das compras.

 

“Espero que tenha dado tempo delas conversarem!” – Zaida pensou – “Wanderleya é muito mais eficiente fazendo compras do que imaginei!” – seguiu com a colega para a cozinha – Vamos arrumar as coisas? – propôs

 

--Deixa eu falar pra dona Adma que a gente chegou! – deixou as bolsas sobre a mesa – Vai que ela pensa que é a ladroagem invadindo a casa?

 

--Ei, calma! – pediu em vão

 

A mulher foi para o quarto da paciente. – Queridas, cheguei! – anunciou brincalhona – Agora a gente vai arrumar tudo na cozinha, tá? – olhou para as duas estranhando– O que foi?

 

--Aí, tenho umas parada pra agitar! – Stefany pegou a bolsa e deu tchauzinho para a avó – Fui! – partiu apressadamente

 

--Vá com Deus, menina. – Adma respondeu em voz bem baixa

 

“E ela nem beijou a vó!” – a cuidadora não entendeu – “Que será que aconteceu aqui?”

 

Zaida ouviu a porta se fechar e deduziu que Stefany havia partido. Foi para o quarto da idosa também. – Wanderleya, pode me ajudar na cozinha, por favor? – pediu educadamente

 

--Tá bom. – olhou para as duas desconfiada e foi

 

--E então? – aproximou-se da idosa falando baixo – Eu fiz de tudo pra demorar mais, só que Wanderleya é muito rápida. – sentou-se perto da cama – Conseguiu conversar com ela?

 

--E foi por isso que ela aproveitou a chegada de vocês e partiu. – Adma respondeu – Eu disse tudo que deveria; agora é com ela! – olhava para a cuidadora – Não sei o que ela vai fazer e nem sei se um dia ela volta aqui de novo!

 

--Ela vai voltar, se Deus quiser. – segurou uma das mãos da idosa – Assim como vai fazer tudo que a senhora pediu! – afirmou esperançosa – Se Deus quiser!

 

--Inshallah! (Se Deus quiser!) – Adma desejou também

 

Fim do capítulo