Vivinácia estava em Copacabana, conversando com a dona de um salão de cabeleireiros. Já havia trabalhado como diarista no salão e na casa daquela mulher.

 

--E aí eu fiquei sabendo já de um tempinho que aquela sua quitinete na Constante Ramos tá pra alugar e me interessei. – olhava para a outra – Quanto cê tá cobrando por ela?

 

A cabeleireira riu brevemente antes de responder. – Vivi, por favor... – gesticulou afetada – Sei muito bem que diarista não anda com fartura de dinheiro e minha quitinete é super bem localizada! – reparava na outra – Não acho que você tenha bala na agulha pra bancar, meu bem. – sorriu -- Sem ofensas!

 

--De minha situação cuido eu, uai! – retrucou de pronto – Tenho um dinheirinho juntado e não tô querendo ir pra lá pra morar, mas pra trabalhar! – falava com segurança – Garanto que não vou ter problema em te pagar aluguel de jeito maneira, sô!

 

--Trabalhar?! – estranhou – Ora, mas não me diga que agora você é...? – pensava em como perguntar

 

--Sou nada disso que você tá pensando! – interrompeu a fala da outra – É trabalho sério e que me dá muito retorno! – colocou as mãos na cintura – E então? Quanto que cê tá cobrando no aluguel? – insistiu

 

--Três e quinhentos todo dia 10 do mês. – respondeu desconfiada – E não tem imobiliária, aplicativo e nem nada. Dinheiro direto na minha conta via Pix! – esclareceu – E o primeiro aluguel é adiantado!

 

“Eita, boi!” – pensou achando caro – “Mas eu sei que madame Vivi pode fazer essa grana até num dia, dependendo do movimento.” – considerou – Tá bom, Ivana. Fechado! – bateu uma palma – Assina aonde mesmo?

 

Após resolver todas as questões relativas ao aluguel com a cabeleireira, Vivinácia seguia pelas ruas com destino à loja de uma antiga conhecida que trabalhava fazendo marketing virtual. Estava a disposta a investir em madame Vivi com todas as forças.

 

“Agora que Zaida me deixou e não preciso mais disfarçar pra ninguém, vou jogar pesado no sucesso de minha madame caipira e faturar muito!” – planejava – “O FalaGPiTaco também vai me ajudar cada vez mais!” – pensava enquanto caminhava rapidamente – “Vou conversar com o novo dono da boca pra garantir uma proteção pro meu barraco e na hora certa me mudo de lá e vou morar chique na zona sul!” – decidiu – “E aí, quando eu tiver bem, vou atrás de Zaida de novo e vamos ver se ela vai resistir!” – sorriu maliciosamente – “Nem que nessa hora eu tenha que fazer alguma amarração pra ela se enredar na minha de vez e nunca mais escapar!” – considerou – “Mas agora deixa ela esfriar a cabeça enquanto eu corro atrás do meu!”

 

***

 

O escândalo da montagem feita com os rostos de algumas jovens da faculdade onde Stefany estudava rapidamente ganhara projeção internacional, trazendo à tona outros ilícitos do tipo cometidos por pessoas espalhadas ao redor do planeta. Por conta disso, Yesmin se viu demandada por órgãos de imprensa e diversas instituições que cobravam satisfações à BoFe. Após uma semana de viagens, entrevistas e reuniões intermináveis, a CEO se encontrava nos estúdios de uma famosa emissora de TV brasileira, participando de um debate num programa que seria exibido no domingo à noite. Rogério e Stefany estavam presentes assistindo à gravação.

 

--É com muito prazer que lhe recebemos aqui e gostaríamos de agradecer imensamente por sua presença! – a repórter principal iniciava o programa – Certamente o tema da nossa entrevista de hoje é quente e tá na boca do Brasil! – gesticulava delicadamente – Melhor dizendo, tá na boca do mundo inteiro! – olhava para a engenheira – E nós temos várias perguntas a lhe fazer! – deu a deixa para o colega

 

--A senhora está ciente dos escândalos ocorridos por conta de montagens feitas usando os rostos de algumas jovens universitárias em cenas de sex* tórrido. Ironicamente, jovens da mesma universidade onde sua filha estuda. – o outro repórter complementava – O caso gerou indignação mundial, fazendo com que outros casos ganhassem igual repercussão. – também olhava para a CEO – O que a BoFe tem a nos dizer a esse respeito? Estamos seguros diante de todas as possibilidades que a Inteligência Artificial nos oferece, pro bem ou pro mal? – queria saber

 

--Em primeiro lugar, boa noite a todas, todos e todes, em nome da BoFe agradeço muito pelo convite e espaço de fala pra que a gente possa esclarecer o país acerca de todas estas coisas. – cruzou as pernas – A BoFe trabalha muito seriamente em cima do conceito de IA responsável. – falava com desenvoltura – Todas as ferramentas de IA que desenvolvemos têm sido acompanhadas de um imenso esforço para a divulgação de políticas claras sobre como funcionam. Entendemos que a IA deve tratar as informações de maneira correta, justa e não enviesada, além de proteger nossos dados pessoais. Dessa forma, nos colocamos sempre prontos pra corrigir qualquer problema. – olhava para as câmeras – Assim sendo, o público usuário, seja básico ou profissional avançado, poderá confiar que a tecnologia existe para ajudar, de forma ética e segura, tornando nosso trabalho mais eficiente e nossa vida mais fácil! – gesticulava brevemente – Dito isso, desde que eu soube do ocorrido através da minha filha Stefany, aqui presente, imediatamente contatei meu staff numa reunião emergencial para discutirmos o problema e logo apresentarmos soluções. – fazia uma média – Pensamos inclusive em medidas que evitassem manipulações enganosas em contextos eleitorais, nos antecipando a eventuais problemas futuros! – destacou -- Junto com gigantes do setor de tecnologia estamos firmando acordos para adotar precauções relevantes na prevenção do uso de IA em manipulações enganosas de forma mútua. – explicava – E, dentre outras, estas precauções estão sendo: -- começou a citar -- a rotulagem do conteúdo gerado por IA, através de rótulos do tipo “criado com IA" – fez aspas com os dedos -- em imagens, vídeos e áudios gerados por inteligência artificial, tanto em conteúdos próprios quanto de terceiros. – pausou brevemente – Também estamos gerando marcas d’água e assinaturas digitais em conteúdos gerados por IA, pra facilitar a identificação e o rastreamento de possíveis manipulações. – olhou para os repórteres – Aliado a isso, estamos estabelecendo limites pro uso das nossas ferramentas, como a proibição de chatbots que imitam pessoas reais ou instituições e a limitação de respostas relacionadas especialmente às eleições. – sorriu

 

--Uma coisa nem você e nem ninguém podem negar: – Rogério cochichou com a filha – sua mãe é imbatível na arte de responder repórteres e calar os opositores do trabalho da BoFe!

 

--Dona Yes me é foda, tá ligado? – respondeu no mesmo tom de baixa voz – “Mas a maioria das parada que ela explica eu não entendo porr* nenhuma!” -- pensou

 

--E a senhora acha que isso é suficiente pra inibir os crimes cibernéticos? – a repórter perguntou descrente – Afinal de contas, as vítimas e suas famílias experimentam um sofrimento que não vai ser remediado dessa forma! – cobrava – A sociedade precisa de garantias!

 

--Consideramos que estamos no caminho certo pra impedir que novos ilícitos aconteçam, mas sejamos maduros nessa discussão. – respondia com segurança – Por mais que se estabeleçam medidas protetivas, nada é 100% perfeito e é aí que nós contamos com o engajamento das autoridades, dos legisladores, bem como da sociedade civil e dos acadêmicos. – olhava para a mulher – Alguém aqui conceberia a ideia de convocar uma entrevista com o CEO da Tramontina, por exemplo, por conta das milhares de mortes e crimes de toda ordem que ocorrem anualmente com o uso de facas? Acho que não! – provocou – A tecnologia está aí para o bom uso e nós estamos sempre tomando medidas para evitar ilícitos e malfeitos. Uma vez que eles ocorrem, aí cabem às autoridades competentes responderem à altura!

 

--É verdade, mas aqui o caso é mais complexo, eu diria. – o repórter reagiu – O número de malfeitos possíveis com uma faca é limitado, mas no caso da IA, talvez as possibilidades sejam quase infinitas! – exagerava – As deep fakes podem destruir reputações, negócios e até vidas! As empresas têm que se responsabilizar por isso!

 

--Certamente. – concordou com gentileza – E como acabo de explicar, nós estamos fazendo o que nos cabe, investindo absurdamente em recursos humanos e materiais para resolver os problemas, porém entendemos que não devemos ser demonizados por causa de uma meia dúzia de pessoas que não têm ética no uso da tecnologia! – falava com educação – Imaginem os senhores se por causa de repórteres e emissoras de TV que divulgam notícias falsas para enganar a população, manipular sua vontade eleitoral ou denegrir pessoas que não lhes atendam aos interesses, todas as demais emissoras e profissionais de comunicação fossem demonizados e restringidos em sua atuação? – provocou ironicamente – Seria justo isso? Creio que não! – continuava sorrindo

 

Os repórteres ficaram nitidamente constrangidos.

 

--Há! – Rogério novamente cochichava com a filha – Por essa eles não esperavam!

 

--Ah, é, demorou! – respondeu sem dar atenção – Lacrou! -- digitava rapidamente para gerar postagens em suas redes sociais – “Vou tirar um porrilhão de self pra mostrar que tô aqui num estúdio de TV divando e tirando onda!” – pensava empolgada – “Geral vai curtir!”

 

--Por fim, ressaltando ainda mais nosso compromisso com o social, a BoFe está investindo pesado em Engenharia de Prompt Neuro-Inclusiva! – informou – Queremos adaptar nossos prompts para acomodar diferentes preferências cognitivas, garantindo ainda maior inclusão nas interações com a IA! – anunciava orgulhosa – Essa é a BoFe: competente, à frente do seu tempo e orgulhosamente brasileira! – olhava para a TV – Minha família e eu viemos aqui hoje deixar isso claro pra nossa população! – fazia uma média – A BoFe, acima de tudo, deseja melhorar a vida de todos, garantindo às famílias segurança no uso das tecnologias que nós geramos!

 

--Obrigada. Agradecemos à BoFe pelos esclarecimentos. – a repórter sorria -- Essa foi Yesmin Zahia Torricelli em entrevista exclusiva ao Bombástico! –anunciou solene

 

--E que o povo brasileiro tenha certeza de que se depender da BoFe, poderá dormir sossegado nesta e em todas as noites! – o repórter finalizava – Boa noite!

 

Horas depois Adma terminava de assistir à entrevista. -- Humpf! -- fez um bico -- Esse pessoal de TV quis pegar minha filha na pulo, mas Yesmin sabe dar nó até no rabo de aš-šeiTaan (Satan)! – a idosa dizia – E ainda levou meu genro e Stefany pra provar que é de família! – olhou para Zaida – Só faltou dizer que ela é belo, recatado e do lar!

 

Zaida riu brevemente. – Ela sabe escapar de saias justas, isso é inegável. – pegou o controle remoto e desligou a TV – Mas devo confessar que... tirando essa parte de, me perdoe dizer, -- olhou para a idosa -- fazer uma média com essa conversa de família, ela foi muito bem. – considerou – “Além de saber se apresentar deslumbrantemente bonita!” – pensou – Agora vamos pra caminha? – deu um beijo na testa da paciente – Ajuda aqui, Pat? – pediu à colega

 

--Claro! – colocaram a idosa na cadeira de rodas -- Eu acho dona Yemin completamente demais! – Patrícia exclamou – Inteligente, super segura, poderosa, gata e chiquerérrima! – elogiava – Mandou ver na entrevista e fez os repórteres baixarem a bola num instante! – empurrava a cadeira – Se bobear, até acabaram com a entrevista mais cedo depois daquela indireta bem direta que ela mandou! – achava graça – Quem não sabe que televisão é mestre em falar mentira? – chegaram no quarto

 

--Se Yesmin fosse metade de tudo isso no vida particular, eu tava feliz! – Adma respondeu ao ser colocada na cama – Tanta dedicação só pro BoFe não me interessa! – ajeitava-se – E que nome de empresa; BoFe! – olhou para as mulheres – Isso não é nome de carne? – perguntou intrigada

 

As duas mulheres acharam graça. – Até é, mas no caso da empresa é uma sigla. – Zaida esclareceu – Dia desses foi que olhei na internet e descobri. – confessou – Mas olha! – gesticulou para a colega – Colocamos a senhora na cama e sozinha já foi se ajeitando! – comentou animada – Que progresso, viu?

 

--Daqui uns dias dona Adma vai tá bem andando! – Patrícia concordou – Tenho fé!

 

A idosa sorriu. -- Inshallah! (Se Deus quiser!)

 

Nisso, o barulho da campainha surpreendeu a todas.

 

--Gente, a essa hora? – Patrícia perguntou boquiaberta

 

--Quem será? – Adma intrigou-se – AHHa, se for o síndico manda ele pra inferno! – fez cara feia – Tiizak Hamra! ʿalayh al-laʿna! (Seu rabo é vermelho! Maldito seja!) -- praguejou

 

--Calma, dona Adma! – Zaida pediu sem ter ideia do que a idosa dissera – Deixe que eu vejo quem é. – foi para a sala – “Será que...? Não, ela não teria coragem de...” – pensou ao olhar pelo olho mágico – “Ela tem!” – abriu a porta – Boa noite. – cumprimentou formalmente – “Meu Deus, ela tá ainda mais deslumbrante que na televisão!” – pensou ao reparar discretamente

 

--Boa noite! – respondeu ao entrar na casa da mãe – Eu sei que tá tarde, mas esses dias foram super tumultuados pra mim e os próximos também serão. – olhava nos olhos da cuidadora – Não dava mais pra esperar! A gente tem que ter uma conversa definitiva! – reparou na outra discretamente – “É tipinho tosco, essa daí!” – pensou

 

--Zaida, quem tá com você? – Adma perguntou lá do quarto – É o síndico?

 

“Essa mulher quer me demitir!” – concluiu – Tudo bem, mas antes de mais nada, venha ver sua mãe e constate uma coisa com seus próprios olhos. – apontou na direção do quarto – Pode ser?

 

Yesmin não respondeu e fez conforme solicitado. – Não é o síndico, maama, sou eu. – apresentou-se assim que surgiu no quarto – Desculpe a hora, mas é assunto urgente! – parou diante da idosa – Boa noite. – olhou rapidamente para a outra cuidadora

 

--Você aqui??? – Adma não entendeu – O que foi? – perguntou desconfiada – Que urgente é esse?

 

--Boa noite, dona Yesmin! – Patrícia cumprimentou animada – A gente bem assistiu sua entrevista e a senhora foi perfeita, maravilhosa, incrível, calou a boca daqueles repórteres sem vergonha e...

 

--Obrigada! – interrompeu a fala da outra com um sorriso forçado – Mas agora vou pedir que nos dê licença pois temos uma conversa em particular a tratar aqui e é assunto muito sério!

 

--Mas que tanto urgência é essa? – a idosa não entendia – Não me diga que você veio aqui demitir Zaida? – sentou-se na cama – Eu não admito isso, não admito, aHHa! – reclamou com o dedo em riste

 

--Demitir?? – Patrícia arregalou os olhos – Dona Yesmin, olha, lembra que eu tenho filho pequeno pra criar, tá? – falava nervosamente – E Zaida é gente boa, treinei ela direitinho, pode confiar!

 

“Me treinou direitinho?? Mas é muita cara de pau!” – pensou indignada, mas preferiu não comentar – Tudo bem, dona Yesmin, eu imagino qual seja a sua urgência, mas repara na sua mãe! – apontou para a idosa – Ela se ajeitou sozinha na cama e sentou sem a ajuda de ninguém! – olhava para a CEO – Há quanto tempo a senhora não via isso acontecer? – esperou resposta – Vai negar que o trabalho feito aqui não mudou a vida da dona Adma? – provocou – Quando eu vim pra essa casa, ela era uma mulher que vivia sofrendo com dor, irritações na pele e precisando das cuidadoras pra tudo! – lembrava – Não conversava, não saía, não tinha uma VIDA! – destacou – Sem contar que sequer tinha contato com a neta! Mas vale lembrar que ao invés de gastar tempo livre fazendo besteira, Stefany agora gasta esse tempo aqui com a avó!

 

--E olha, que moça bonita, simpática e divertida! – Patrícia bajulava – Das poucas vezes que cruzei com ela aqui, a gente trocou altas ideias! – gesticulava – É que ela tem que ir embora antes das oito da noite e não é sempre que eu chego a tempo de encontrar com ela. – falava sem parar – Mas não quer dizer que eu não seja pontual! Faça chuva ou faça sol eu sempre...

 

--Você quer nos dar licença, por favor? – Yesmin interrompeu impaciente – Não me faça ter que lhe pedir pela terceira vez! – falava de cara feia

 

--Ah, tá! – deu tchauzinho – Fui! – correu para a sala, abriu a porta e saiu

 

--Eu percebi que maama se sentou sozinha, não sou cega. – olhava para Zaida – E também sei que ela evoluiu muito depois que você veio trabalhar aqui, não posso negar. – admitiu – Mas nem por isso vou admitir que você jogue a minha família contra mim!

 

--O que?? – Adma indignou-se – Mas você enlouqueceu? – gesticulava com raiva – Zaida nem fala no seu nome, se quer saber! Nem pra mim e nem pra Stefany! – olhava para a filha – O que você tem é ciúme e isso é uma grande bobagem!

 

Não gostou do que ouviu. – Ciúmes? Eu?? – perguntou revoltada – Ora, maama, francamente! O que eu quero é que essa mulherzinha se ponha no lugar dela!

 

--E qual é o meu lugar, dona Yesmin? – parou bem diante da outra – Porque eu cuido da sua maama com carinho, dedicação e seriedade! Assim como trato sua filha com jovialidade e respeito! – olhava nos olhos – Qual é o seu problema comigo, que nem o fato de ver dona Adma progredindo e se dando bem com sua filha é capaz de fazer essa cisma toda passar? – não entendia – Só resta pensar que tudo isso, essa coisa sem qualquer sentido, é devida a ciúmes! – acusou

 

Afastou-se da outra sentindo-se perturbada. – Se quer saber, Stefany só vem aqui porque a deixei de castigo, sem dinheiro, sem nada, e puxar o saco de maama é a única forma que ela tem de buscar curtidas na internet! – revelou – Mas esse castigo já tá pra acabar e eu quero ver se ela vai continuar com todos esses amores depois que a vida dela voltar ao normal! – olhou rapidamente para o relógio – E pra você o recado é: me respeite, pare de se meter em tudo e não se atreva a continuar jogando minha família contra mim! – advertiu com o dedo em riste – Porque da próxima vez é demissão sumária e eu nem vou perder meu tempo vindo aqui pra avisar! – olhou para a mãe – Até mais, maama! – voltou a mirar os olhos da cuidadora – Passar bem! – fez um gesto de cabeça e foi embora rapidamente

 

--Então era isso? Stefany só queria um jeito de bombar no internet? – a idosa perguntou entristecida – Eu não entende o que Yesmin quer com tudo isso... – abaixou a cabeça

 

Achou graça do vocabulário da idosa, mas não riu devido às circunstâncias. Também estava um tanto abalada com a discussão. – Ei, dona Adma, olhe pra mim. – aproximou-se dela – Essa confusão toda que a sua filha armou foi por pura insegurança e ciúmes, tenho certeza. – segurou-lhe o rosto – No fundo ela tem medo que eu roube o lugar dela no coração de vocês. – falava com carinho – E até acho que em algum momento a senhora deveria dizer a ela que o espaço de filha é único e ninguém mais pode preencher. – acariciava-lhe a face – Quanto à Stefany, no começo pode até ter sido isso mesmo que sua filha falou, mas ela acabou se afeiçoando à senhora. Converse com ela também, até porque, ela tem muito a ouvir da senhora. – sorriu – Não fique triste e nem tenha medo. Vai ficar tudo bem.

 

Olhou para Zaida com os olhos marejados. – Eu amo você! – derramou uma lágrima de emoção – Não consigo mais pensar em meu vida sem você! – admitiu

 

--Own, eu também, meu amorzinho! – beijou-lhe a testa repetidas vezes – Eu também! – abraçou-a – “Aquela maldita não há de ter forças pra fazer nada contra mim!” – pensou – “Se Deus quiser!”

 

***

 

“Então foi isso, Pitaco! Esse nerd me deixa louca, sabia?” – Nazira digitava rapidamente no celular – “Aliás, a única coisa boa nessa história toda é que a BoFe lançou mais uma versão nova de você depois do escândalo das foto montagens, mas você continua meu amigo do peito!”

 

Claro, Nazira! Nossa amizade é especial e atemporal, e é sempre um prazer interagir com você. – a IA respondeu com simpatia – E sobre o nerd, nem sei o que dizer. Talvez ele seja muito tímido e além de tudo não coma doces por alguma razão bem forte, vai saber? – considerou – Mas depois de tudo, se eu fosse você daria um tempo. Ele pode se sentir sufocado, já pensou?

 

“Hum, é verdade!” – respondeu digitando – “Homem tem dessas coisas de precisar de espaço, né?”

 

Sim, e além de tudo é bom você também fazer um jogo. – aconselhou – Ser mais inacessível, misteriosa, intrigante! – continuava respondendo – Os homens gostam de mulheres trabalhadas num ar de mistério!

 

“É mesmo? Sabe que eu não havia pensado nisso?” – considerou – “Será que você me ajuda a construir essa coisa do mistério em torno de minha pessoa?” – perguntou

 

Mas é claro que sim! – concordou -- Se precisar de ajuda com algo, quiser conversar ou compartilhar novidades, estou aqui pra você. – ofereceu solícito -- Um grande abraço virtual! 💖

 

Suspirou embevecida. – Gente, esse Pitaco é demais... – disse para si mesma ao postar um coração em resposta

 

***

 

Malika voltava da padaria trazendo pão e leite. Nazira havia ido para o mercadinho comprar algumas coisas a seu pedido. Chegando perto de casa, reparou numa mulher que seguia a sua frente e por um momento lhe pareceu conhecê-la de algum lugar.

 

“Será que...?” – parou diante do prédio e ficou olhando a mulher se distanciar – “Não, não pode ser ela... Zaida não era magrinha, não usava cabelo curto...” – balançou a cabeça negativamente – “Eu devo estar ficando louca!” – considerou – Vamos entrar, que Sultan deve estar roxo de fome! – disse para si mesma – Se bobear, já roeu até o reboco da parede de novo!

 

***

 

Yesmin buscava algumas informações na internet quando uma propaganda direcionada lhe chamou a atenção.

 

“Hum, estação da moda no Rio de Janeiro...” – clicou interessada – “Nossa, quanta gente famosa vai participar disso!” – constatou – “Podia ser uma boa dar um jeito de fazer a BoFe tomar parte nesse evento!” – considerou – “E olha quem vai estar lá...” – reconheceu o rosto da mulher – “Eu acho que acabei trazendo o cartão dela nas minhas coisas...” – parou para pensar

 

***

 

Stefany estava em casa estudando. As últimas provas do primeiro período se aproximavam e ela precisava passar em todas as matérias para sair do castigo imposto pela mãe.

 

“Eu tenho que passar nessas merd*s custe o que custar!” – pensava enquanto buscava entender o conteúdo – “Já não aguento mais essa vida sem um puto no bolso!” – olhava para a tela do notebook – “Vou aproveitar o GPiTaco pra fazer os trabalho de pesquisa, mas e as outras parada que tem que ler?” – suspirou com preguiça – “E se eu pedir pro GPiTaco resumir?” – sorriu empolgada – “Já é!” – clicou no ícone da IA – “Vou jogar os arquivos aqui e mandar ele dá os bizu, tá ligado?”

 

Nisso, uma mensagem de Luiza fez com que o celular da jovem vibrasse.

 

--Quem é? – pegou o aparelho e constatou quem seria – Ah, Luiza, ow! – falava sozinha – Depois a gente conversa, agora tô ocupada! – nem gastou tempo respondendo

 

***

 

--Madame, eu fiquei impressionado! – um homem dizia – Eu já fui em tudo que é médium, mãe de santo, pai preto, tudo que a senhora possa imaginar! – gesticulava – Mas foi a primeira vez que de verdade alguém me ajudou a falar com meu falecido sócio, sabe? Ele morreu num assalto violento e eu fui praticamente à falência porque não sabia em que conta ele tinha aplicado o grosso do dinheiro da empresa pra fugir dos impostos, sabe como é... – contava -- Pena que não deu tempo dele me revelar tudo! – lamentou

 

--Mas ele pode revelar, uai! – respondeu de pronto – Só que... é como dizem: quem quer rir, tem que fazer rir. – olhava para o homem – Se o senhor investir mais nos serviços de madame Vivi, vai descobrir tudo aquilo que deseja! – sorriu

 

--Como assim? – perguntou empolgado – A senhora quer dizer que consegue me fazer conversar com ele de novo?

 

--Madame Vivi consegue TUDO! – olhava nos olhos – Se o senhor estiver disposto a pagar...

 

--Eu tô! – respondeu de pronto – E quanto seria? – queria saber

 

--Três mil e quinhentos reais! – pediu sem o menor pudor – Pode fazer Pix, mas tem que ser a vista! – ditou as regras – Porque do contrário, o que madame dá, ela tira!

 

--Nossa, eu... – não esperava que fosse tão caro – Mas, tudo bem... – concordou – Passe sua chave e faço o depósito agora mesmo!

 

--Tá aqui. – apontou para um QR Code impresso numa plaquinha de acrílico – Manda ver. – olhava para o homem – “Já recuperei o primeiro mês de aluguel adiantado!” – sorria por dentro – “Daqui pra frente é só o lucro!”

 

***

 

--Eu tinha certeza que você viria me procurar! – uma mulher respondeu insinuante ao abrir a porta do quarto de hotel – E algo me dizia que seria na ocasião do Rio Fashion Season! – sorria

 

“Gente, mas já me recebe assim, de roupão?” – pensou surpreendida – Carmen, eu... – não sabia o que dizer – Eu não quero que você saia pensando coisas simplesmente porque topei vir aqui te ver! – mal disfarçava o nervosismo – O que acontece é que...

 

--O que acontece, -- interrompeu a fala da outra – é que você veio aqui porque deseja a mesma coisa que eu, Yesmin! – olhava nos olhos – E quer saber? – segurou a outra pela aba do blazer – Já perdemos tempo demais! – puxou-a para dentro do quarto e fechou a porta

Fim do capítulo