Capitulo 49
O sol já estava alto no céu quando Gabriela e Olívia finalmente perceberam que estavam completamente atrasadas. A luz suave da manhã iluminava o quarto, mas o relógio na parede mostrava que já haviam ultrapassado o horário de saída.
— Olívia, você me prometeu que seria rápido! — Gabriela disse, passando os dedos pelo cabelo molhado, visivelmente frustrada. Ela olhou para o relógio e confirmou o atraso de pelo menos meia hora. A correria transformava o clima descontraído da manhã em um verdadeiro caos.
Olívia, ainda deitada na cama, riu suavemente, sem pressa alguma.
— Eu? Você não tava reclamando até agora? — retrucou com um sorriso maroto, espreguiçando-se. — Tava até pedindo mais... e agora a culpa é minha?
Gabriela lançou um olhar acusador, mas não conseguiu conter o sorriso diante da tranquilidade debochada de Olívia. Ela, no ritmo oposto, já se movia freneticamente, catando suas roupas e tentando se vestir o mais rápido possível.
— Não é justo! — reclamou, vestindo a blusa com dificuldade. — Não acredito que a gente tá fazendo isso de novo!
Olívia levantou-se com calma e caminhou até o banheiro, ainda com um sorriso provocador.
— Relaxa, Gabi. Eles vão esperar. — disse despreocupadamente, parando na porta para lançar um olhar provocante. — E, convenhamos, você adorou cada minuto.
Gabriela revirou os olhos, mas não conseguiu esconder o sorriso. Estava irritada, claro, mas parte dela sabia que aquela dinâmica fazia parte da diversão entre as duas. Mesmo os atrasos viravam momentos intensos.
— Não disse que não gostei... — respondeu, aproximando-se de Olívia com um olhar desafiador. — Só acho que, da próxima vez, você podia cumprir suas promessas. Ou a gente vai viver atrasada.
Olívia sorriu, retribuindo o olhar.
— Isso é uma ameaça ou uma promessa?
— Apenas uma dica. — Gabriela respondeu, puxando Olívia para um beijo rápido. — Agora vamos, ou vou te deixar ir sozinha.
Olívia riu, finalmente cedendo à urgência da situação. As duas saíram apressadas do quarto, rumo à delegacia, ainda com a sensação de que, mesmo com pressa, o dia tinha começado da melhor forma possível.
Na delegacia, o clima já era agitado. A equipe se reunia em torno das mesas, trocando informações sobre os casos do dia. Assim que Gabriela e Olívia entraram, as piadinhas começaram.
— Olha só, chegaram as atrasadas do dia! — Fernanda comentou com um sorriso travesso, lançando um olhar curioso. — Dormiram demais ou estavam "trabalhando" cedo?
Gabriela fez um esforço para ignorar a provocação, mas o sorriso de Fernanda e os olhares da equipe não ajudavam. Ricardo, sentado próximo, soltou uma risada baixa.
— Eu bem que percebi que vocês estavam mais animadas hoje cedo — comentou com uma piscadela.
Gabriela respirou fundo. Não era fã desse tipo de comentário no ambiente de trabalho. Sabia que era brincadeira, mas gostava de manter as coisas profissionais. Era hora de colocar limites.
Olívia, com expressão indiferente, aproximou-se de Gabriela e murmurou, baixinho:
— Relaxa, Gabi. É só zoeira. Ninguém tá levando a sério.
Mas Gabriela estava decidida a mostrar que, ali, o foco era o trabalho. Olhou ao redor com firmeza.
— Só porque estamos na delegacia não significa que devemos esquecer o que estamos aqui pra fazer. Vamos focar, pessoal.
O ambiente ficou mais sério. A manhã seguiu sem maiores incidentes. Gabriela e Olívia acabaram designadas para tarefas diferentes: Olívia lidando com relatórios administrativos, enquanto Gabriela acompanhava um caso importante.
Mas, no meio do expediente, Olívia aproveitou um momento para seguir Gabriela até o banheiro.
Assim que as portas se fecharam, Olívia a puxou para perto. Não disse nada. O gesto foi discreto, mas carregado de tensão. Gabriela se surpreendeu, mas logo cedeu. O beijo foi rápido, suave, mas cheio de significado — o tipo de beijo que dizia tudo sem precisar de palavras.
— Profissionalmente, claro — Olívia brincou.
— Ah, sim, super protocolar — Gabriela respondeu, sorrindo tímida.
Foi um momento breve, mas de cumplicidade silenciosa. O que havia entre elas estava ali, vivo, mesmo que, por enquanto, só para as duas.
Mais tarde, Fernanda se aproximou de Olívia, que revisava documentos sozinha.
— Então... — começou, com uma pausa dramática. — Quando é que você vai pedir a Gabriela em namoro? Porque, né... todo mundo já percebeu.
Olívia levantou os olhos, encarando-a com uma expressão enigmática.
— Você tá se metendo onde não deve, Fernanda — respondeu, com um sorrisinho leve.
— Eu? Tô só observando. — Fernanda deu de ombros. — Vocês duas não escondem nada bem.
Olívia ficou em silêncio por um momento antes de responder, com voz baixa:
— E você acha que eu me importo com o que todo mundo pensa? Quando for a hora certa, vai acontecer. Até lá, não tenho nada a explicar.
— Tá bom, tá bom... só curiosidade mesmo — Fernanda disse, piscando antes de se afastar.
Olívia observou a amiga sair e ficou pensativa. Talvez Fernanda tivesse razão. Talvez já fosse hora de um próximo passo. Afinal, Gabriela com um anel... ficaria linda. Um bem visível, de preferência.
Assim que entraram na sala de reuniões, o clima ficou tenso. O caso do assassinato estava num ponto crucial. As pistas começavam a se alinhar, e o pai de Lucas, antigo delegado, surgia como o principal suspeito.
O silêncio dominou a sala. As provas estavam espalhadas sobre a mesa. Gabriela, ainda com as provocações de Fernanda na cabeça, sentia a tensão crescer. Olívia, ao seu lado, estava focada — e, curiosamente, reconfortante.
— A verdade tá aqui, na nossa frente — disse Olívia, quebrando o silêncio. — E precisamos enfrentá-la, mesmo que envolva o Lucas. A justiça vem antes dos vínculos pessoais.
Gabriela a olhou, surpresa com a firmeza. Sabia que Olívia era forte, mas aquelas palavras soavam especialmente intensas. Antes que pudesse comentar, Lucas entrou na sala, visivelmente abalado.
— Eu não consigo acreditar nisso, Olívia — disse, a voz carregada de frustração. — Meu pai não é esse monstro que estão pintando.
Gabriela se aproximou com cautela.
— Lucas, não é sobre o que você quer acreditar. As evidências estão aqui. A gente precisa agir com base na verdade.
— E você agora tá do lado deles? — Lucas retrucou, magoado. — Conhece meu pai, Gabi. Acha mesmo que ele seria capaz?
Olívia interveio, com firmeza:
— Ninguém tá acusando sem provas. Mas a verdade nem sempre é fácil. Você quer protegê-lo, eu entendo. Mas isso não muda os fatos.
Lucas ficou em silêncio, a tristeza evidente. A lealdade ao pai ainda era forte, mas ele começava a aceitar a realidade.
Gabriela e Olívia permaneceram sozinhas por um instante após a saída de Lucas.
— Isso vai ser difícil — Gabriela disse, sentindo o peso da situação.
— Justiça nunca é fácil — Olívia respondeu, pousando uma mão suave no ombro dela. — Mas é nossa responsabilidade.
Antes que pudessem seguir para o próximo passo da investigação, Fernanda reapareceu com aquele sorriso que ninguém confiava.
— Gabi, quando é que você vai pedir a Olívia em namoro? Todo mundo já tá falando... — Ela brincou, mas havia uma curiosidade genuína nos olhos dela.
Olívia lançou um olhar enigmático, mas Gabriela se adiantou, sem perder o humor.— Fernanda, foi minha mãe ou a Dra. Eleanor que te mandou? Isso tá parecendo muito coisa mandada.
Fernanda riu:
— Quem mandou desonrar a princesinha dos Santori?
Gabriela revirou os olhos.
— Você também com essa? — Disse com tom ironico, e saiu andando, rápida — mais pra esconder o sorriso do que pra fugir da provocação.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Sem comentários
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook: