Capitulo 3 - Visita inesperada.
Camila
Abri e fechei a boca repetidas vezes, tentando pronunciar qualquer palavra. Nem sei ao certo se eu estava paralisada por estar quase pelada em frente a uma desconhecida ou se paralisada com toda beleza que ela tem. Seus cabelos pretos lisos, quase indo até sua cintura.
— Então posso entrar? — Indagou novamente, me encarando com os olhos negros que me deixavam ainda mais desconfortável.
— Não posso deixar uma estranha entrar. — Ergui a sobrancelha. Ela me fitou sorrindo de canto, quase em deboche. Seu ar misterioso me deixa ainda mais irritada.
— Você teria evitado que uma estranha estivesse em seu apartamento se atendesse seu celular. — Respondeu com ar superior. Juro, posso até está pecando, mas no meu íntimo, desejei empurrá-la da escada tipo a cena da Nazaré Tedesco.
— Então você era a desesperada que estava me ligando?
— Se preferir, posso ir embora.
— Quem é você? — Questionei curiosa.
— Sou Mariana. — Era tudo que eu precisava, causar uma péssima primeira impressão na minha futura chefe. Ela sorriu vitoriosa vendo minha cara de desespero.
— Entre, pode ficar à vontade. Vou colocar uma roupa e já volto.
Corri para o quarto sem entender o que diabos ela fazia ali, afinal era um sábado. Eu estava esperando uma ligação para ir até à empresa, jamais imaginaria que ela se deslocaria até minha residência e que ainda por cima me pegaria quase nua. Calma lá, pegaria soa muito sexual. Ou sou eu que estou vendo maldade? Camila, veste algo e deixa de fantasiar.
Volto para a sala. Ela estava distraída olhando uma foto minha com a Diana e a Lívia. Soltou o porta-retrato delicadamente ao perceber minha presença. Vira-se em minha direção me observando atentamente. Porque o olhar dela me incomodava tanto?
— Então, senhorita Camila. Como pode perceber eu tenho pressa para começar a trabalhar. — Imagina, nem deu para reparar. Pensei.
— Percebi pela quantidade de chamadas e pelo fato de você ter vindo até aqui. — Foi o único momento que notei ela sentir vergonha. Seu rosto corou levemente, ela fitou as mãos.
— Me desculpe, isso não é do meu feitio. — Adquiriu uma postura completamente diferente da mulher que bateu em minha porta. — Mas, como eu disse antes, preciso mesmo que você comece logo. No dia que esteve na empresa tive alguns imprevistos e não pude ter o prazer de conhecê-la.
— Então resolveu bater aqui em casa? Afinal, como você conseguiu entrar?
— Sua vizinha é uma senhora muito simpática.
— Dona Lurdes. — Respondi já imaginando o que mais ela teria feito, além de deixar Mariana entrar.
— Me lembre de agradecê-la depois. Então, podemos falar sobre o trabalho? Na verdade, se você pudesse me acompanhar até a empresa, tenho uma papelada que precisa ser resolvida na segunda.
— Claro. Deixa-me apenas colocar minhas calças.
Fiquei completamente tensa ao entrar no carro de Mariana, eu poderia vender todos os meus órgãos no mercado negro e mesmo assim não teria dinheiro para comprar nem um dos pneus. Ela reparou meu desconforto, porém nada comentou. Chegamos à empresa e fomos até sua sala.
Ela não fez rodeios, me apresentou os contratos que eu deveria resolver o mais rápido possível. Pois, o prazo já havia sido extrapolado. Meu celular tocou e a foto da Diana e Lívia apareceu. Eu sorri imaginando que ela deveria estar preocupada, pois, eu acabei não avisando para onde iria.
— Não vai atender? — Questionou sem tirar os olhos da tela à sua frente.
— Alô.
— Camila, posso saber onde a senhora está? Cheguei em casa e não te encontrei.
— Eu sei desculpa, eu tive que sair. Na correria acabei esquecendo de te avisar.
— Pelo menos sei que você está viva.
— Não se preocupe, quando eu acabar aqui irei para casa.
— Tudo bem, beijo. Amo-te, sua chata.
— Beijo, eu também te amo. — Sorri, encerrando a ligação.
Mariana estava com uma expressão que eu não soube distinguir. Não trocamos nenhuma outra palavra durante o resto da manhã. Passava do meio-dia quando ela resolveu me levar para casa. Parou o carro, desligando-o.
— Obrigada pela ajuda.
— Eu agradeço a oportunidade.
— Percebi que você tem muita competência. Acredito que não me arrependerei de contratá-la. — Fitou-me risonha. Seu olhar era de satisfação.
— Eu preciso ir. — Não soube o que responder, queria apenas fugir daquele olhar penetrante.
— Claro. — Destravou o carro.
Dei dois passos para o prédio, ela abaixou o vidro do carro.
— Camila.
— Oi! — Virei surpresa.
— Diz para sua esposa que sinto muito ter te alugado em pleno sábado. — Subiu o vidro e saiu, sem me dar chance para uma resposta.
— Mas ela não é minha esposa. — Respondi para ninguém, pois o carro dela já dobrava a esquina.
Subi as malditas escadas. Coloquei minhas coisas no sofá e chamei por Diana.
— Diah, cheguei.
— Até que enfim. Posso saber onde a senhora estava? — Cruzou os braços me encarando.
— Julgo que esse foi o sábado mais maluco da minha vida. Você acredita que a dona da empresa veio aqui em casa?
— Como assim?
— Ela me ligou várias vezes, eu não atendi porque estava dormindo. Ela resolveu vir aqui em casa. Conseguiu convencer a dona Lurdes a deixá-la entrar.
— Deixa eu adivinhar. Ela te acordou do seu sono da beleza em plena manhã de sábado?
— Imagina o meu humor. Vim querendo a morte de quem estava me perturbando, quando eu abro a porta quase tenho um treco. A mulher tem presença, sabe. Aquela mulher que te olha e você se sente nua? Não que eu não estivesse, pois, levantei de calcinha e camiseta.
— Camila, não acredito!
— Pior é que eu fui um pouco rude com ela. Nunca havia visto a criatura e ela chega aqui pedindo para entrar. Onde já se viu? Quando ela disse o nome eu quase morri. — Diana ria de se acabar. — Resumindo ela me levou para a empresa, me mostrou o que tenho que fazer. Ah! Ela pensa que você é minha esposa.
— Oi? Como assim?
— Suponho que ela viu a nossa foto juntas, e quando você me ligou eu disse que te amava. Então, creio que ela pensa que sou lésbica e casada com você.
— Teu sonho, ser casada com uma deusa como eu.
— Menos Diah, menos.
— Você explicou? Contou que não somos um casal?
— Ela não me deu chance. Saiu cantando pneu. Bom, vou tomar banho. A Lívia vai ficar com o Luan?
— Sim, o final de semana é nosso, querida esposa. — Gargalhou.
Entrei no chuveiro e depois fui almoçar. Passamos a tarde de preguiça assistindo filme. Encarei meu celular lutando contra a vontade de saber algo mais sobre Mariana Carvalho. Tirei a cabeça de Diana do meu braço, levantei lentamente da cama e fui até a varanda. Sentei-me em uma cadeira, desbloqueei o celular, abri a aba de pesquisa e digitei o nome dela.
Não havia muitas coisas, apenas matérias relacionadas aos negócios. Não tinha nada sobre sua vida pessoal. Suspirei derrotada. Mas afinal o que eu esperava encontrar? Mariana parecia ser uma pessoa muito reservada, possivelmente se tivesse alguém deveria ser escondido.
— Camila. Cadê você?
— Aqui na varanda.
— Vamos tomar um vinho?
— Por favor.
Correu para a cozinha e trouxe a garrafa com duas taças.
— Um brinde a essa nova fase da sua vida.
— Saúde. — Falamos juntas.
— Preparada para começar a trabalhar?
— Sim, aparentemente a empresa está há muito tempo sem um advogado. Meus primeiros dias serão cheios, mas dou conta.
— Com certeza. Eles têm sorte em ter você fazendo parte da equipe.
— O que você está querendo puxando o meu saco desse jeito?
— Sem vergonha, sempre te elogio. — Respondeu com falsa tristeza.
— E você, como está no hospital?
— Nem me fale, os cortes estão de fato me preocupando, imagina se eu perco o emprego? Como vou manter a Lívia?
— Você sabe que não está sozinha, caso aconteça eu pago as coisas por alguns meses.
— Você é um anjo, sabia?
— Sei sim, porém adoro ouvir você dizer.
— Pronto cortou o clima. Como vamos manter nosso casamento se você é uma corta clima?
— Engraçadinha. Você acredita que pareço ser lésbica?
— Aí Mila, que pensamento mais retrógrado, desde quando para ser tem que parecer?
— Tá desculpa, mas isso não responde à minha pergunta.
— Bem que você deveria tentar namorar uma mulher, porque com homem o seu dedo é mais que podre. — Ela gargalhou.
— Está gostando do meu show? Então paga ingresso. — Resmunguei séria.
— Desculpa, mas me mostra uma foto da tal Mariana.
— Não tenho foto dela.
— Ela te ligou não foi? — Balancei a cabeça. — Salva o número dela, se ela tiver salvado o seu conseguiremos ver a foto do perfil ou quem sabe até um status, para saber o que gente rica faz em pleno sábado.
Apenas e tão somente por curiosidade fiz o que ela me orientou. Salvei o número, atualizei os contatos no WhatsApp e lá estava a foto dela, na pequena bolinha. Confesso que fiquei surpresa, por que será que ela já teria salvo meu número?
— Então?
— Só tem a foto do perfil, penso que deve ser desbloqueada para todos.
— Me deixa ver. — Tomou o celular das minhas mãos. — Ela não tem a foto desbloqueada, ela salvou seu número. Que mulherão da porr*, eu não sou lésbica, porém uma mulher dessa me faz até duvidar da minha sexualidade. Olha isso. — Passou-me o celular.
Segurei o aparelho e curiosa, observei a foto. Ela estava apenas de biquíni, sorria de forma leve e descontraída. Apesar de seu sorriso ser lindo, o que mais me chamava atenção na foto era seu corpo esculpido pelos deuses.
— Será que ela salvou seu número para ver o que você iria fazer hoje com sua esposa?
— Até parece que ela se importaria com o que eu faço. — Posso jurar que concluí essa frase frustrada.
— Ihhhh! Só temos um jeito de saber se ela quer saber de você. Vem, vamos tirar uma foto.
Puxou-me para perto, segurando a taça de vinho.
— Pronto, agora é só colocar uma legenda. “Noite de comemorar, com vinho, risada e muito amor”. Agora é só esperar que ela olhe.
Confesso que a cada dois minutos eu sentia uma necessidade de olhar o celular. Não sei porque queria tanto que ela tivesse interesse no que eu estaria fazendo. Diana levantou para ir ao banheiro e eu aproveitei para estar sozinha e conferi mais uma vez. Para minha surpresa ela havia visto a foto. Não sei se pelo susto ou talvez quem sabe o excesso de vinho senti meu coração acelerar.
Fim do capítulo
Oié! Confesso que estou empolgada para postar tudo de uma vez. kkk
E agora? O que será que vai rolar com esse novo emprego?
Até o momento tenho 53 capítulos escritos. Estou pensando em postar um por semana ou preferem um por dia? Me digam o que acham. Boa noiteee
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Lea
Em: 20/04/2025
Como disse a Sol, não posta tudo de vez,vai soltando aos poucos. Nos deixe degustar.
Sou apaixonada nos seus outros dois livros,tenho certeza que vou amar esse também.
maktube
Em: 20/04/2025
Autora da história
Ola, pode deixar. Não vou postar tudo. Fico feliz que me acompanhe mais uma vez mesmo depois do meu sumiço de apenas três anos.
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Lea
Em: 20/04/2025
Então,a prévia é: Camila e Mariana,vão se apaixonarem. As duas se consideram hétero,ou, só a Camila? Diana é amiga/irmã do coração da Camila,ou,tem algum parentesco?
Lívia ficou sozinha, quando a Camila saiu para a empresa com a Mariana??
maktube
Em: 20/04/2025
Autora da história
Camila tem um histórico de coração partido na adolescência. Mas finge que não é del VAle. kkkk Lívia tem um pai presente. Quando não aparece na história geralmente está com ele. Diana e Camila são melhores amigas, e Diana é a única que sabe do seu passado.
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Solitudine
Em: 19/04/2025
Salaam! Salve Maktube!
Maktub (?????) é uma palavra árabe que significa "estava escrito" ou "está escrito". Ela carrega a ideia de destino ou de algo que já está predestinado a acontecer. Ou seja, alguém com tal pseudônimo não poderia não ser excelente escritora.
Você tem 53 capítulos prontos?? Oh Aba Dalouna, um dia serei assim quando crescer. O maximo que fiz foi concluir A Autora quando postava o 5° capítulo, mas ali eram 28 e eu ainda mudei os trem tudo em função de fatos da vida! rs
O tempero de uma boa refeição vai fixando com o passar das horas. Posta tudo não. Deixa o sabor fixar, a mente sonhar... fica um trem mais bonito. Nos dias de hoje é tudo tão rápido...
Bem, eu raramente tenho lido conto porque a vida não tem deixado. Mas o título tem reflexos em mim. E moça procurando emprego, uma advogada no meio...tudo a ver! rs
Antes de ocupar o ofício que ocupo hoje, eu já era concursada, aprovada, mas deu uns enguiços, o trem desandou e demoraram muito a nos convocar. Aí sabe como é: caipira pobre, precisando labutar para ganhar dinheiro. Fui vendedora de licor de genipapo sem beber, vendedora de artigo de umbanda sem entender, provadora de roupa e catadora de lata de alumínio. Entendo a angústia de sua Camila.
Beijos,
Sol
Solitudine
Em: 19/04/2025
Entre parênteses estava escrito Maktub em árabe, mas virou tudo interrogação
maktube
Em: 19/04/2025
Autora da história
Caramba, que comentário maravilhoso. Eu tento manter a mente ocupada mesmo sem postar por aqui. Tenho essa quase finalizada e uma já encaminhada até o capítulo 47. Mas nem sem sempre o que escrevo tem intuito de divertir, as vezes é o tcc, resenhas para a faculdade. A vida acadêmica em fase final é uma loucura. Mas sigo na esperança de continuar colocando a criatividade para fora. Iria adorar escrever algo em parceria com você se tiver interesse.
E me conta mais sobre a sua vida. Tem feito de tudo para se virar em????
Solitudine
Em: 19/04/2025
Eita, que mulher eficiente! Já tem outro conto no freezer? Um dia chego lá! rs
Isso que te contei dos meus ex trabalhos corridos foi quando eu era recém formada. Quase há 25 anos atrás. Já tem esse tempo todo que minha realidade mudou, mas não deixou de ser louca! rs
Uai, você quer escrever comigo?? Está aí algo que nunca imaginei que te interessasse. Não sabia que algum dia na vida você tivesse lido proseado caipiresco.
Atualmente estou escrevendo A Cuidadora e ainda vou demorar. Tenho zero capítulos prontos em antecipação. rs Depois que acabar, podemos conversar. Mas se prepare porque não faço planejamento e não tenho a sua organização. Mas, pode dar certo, porque não ? Pelo menos a gente poderá se divertir.
Beijos,
Sol
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