Stefany estava sentada na cama chorando e abraçada com um travesseiro. Já havia explicado para os pais a maior parte da história com Fernanda. Uma forte dor de cabeça a atormentava, além de uma sensação perturbadora devido ao fato de estar alcoolizada. Também sentia medo do que poderia lhe acontecer.

 

--Eu não acredito, minha filha, não acredito! – Rogério andava em círculos pelo quarto – Que ideia de jerico foi essa de encomendar a uma hacker que roubasse as provas do seu colégio e mais as do vestibular da Faculdade Ecumênica? – reclamava nervosamente – E como se não bastasse ainda colocou suas amigas desmioladas no meio dessa merd* toda? – gesticulava

 

--Eu... eu pensava... que ela era responsa... – respondeu entre soluços

 

Yesmin olhava para fora da janela sem ver a paisagem exterior. -- Faz as merd*s e agora fica aí chorando agarrada com travesseiro! – resmungava baixinho – Tenho certeza que daqui a pouco a imprensa vai fazer um escândalo e essa história vai viralizar na internet! – falava consigo mesma – Merda! – passou a mão nos cabelos

 

--Eu... eu nunca imaginei que a hacker baranguda ia... ser presa... – fungava – Ela me disse que tava tudo dominado... – buscava conter o choro

 

--Ela agia sozinha, filha? – o pai perguntou – Sabe se envolveu mais alguém? – parou diante da moça

 

Yesmin virou-se de frente e mirou a jovem também.

 

--Pelo que saquei era só ela e... o FalaGPiTaco... – olhou receosa para a mãe – Ela queria... – conteve um soluço -- lacrar sozinha pra ficar cheia moral e você empregar ela na BoFe...

 

A CEO se surpreendeu e acabou rindo brevemente daquilo que ouviu. – Não me diga que você prometeu isso pra ela?? – perguntou indignada – Nem você pode ser tão absurda, Stefany!

 

--Não, eu não prometi! – respondeu de pronto – Mas... – voltou a chorar

 

--Mas deixou ela acreditar que seria possível! – completou a fala da jovem – E a idiota colocou a cabeça a prêmio por causa disso! – concluiu desgostosa

 

--Ela passou as provas da Faculdade pra você e mais quem? – Rogério perguntou preocupado – Alguém viu vocês duas conversando?? – sentou-se aos pés da cama

 

--Na escola... eu dava os bizu pra Luiza e Tati... – tentava conter o choro -- mas pra facul... era só eu. – secou os olhos com as mãos – E... ninguém via... a gente... – fungava – era tudo... escondido... – soluçou

 

A engenheira deu um suspiro profundo e se sentou aos pés da cama também. – Stefany, busque se controlar porque é hora de pensar com clareza! – olhava firmemente para a filha – Vamos traçar um plano aqui e é pra todo mundo seguir! – afirmou com o dedo em riste – Essa moça não tem provas de que você pediu a ela o que pediu; vai ser a palavra de uma contra a da outra e você vai dizer em juízo exatamente o que vou te orientar! – pensava em tudo que ouviu – Foi uma sorte muito grande que todas estas coisas tenham coincidido com o lançamento do FalaGPiTaco, então vamos tirar proveito da situação! – decidiu -- Os pais de Luiza e Tatiana também não iriam querer um escândalo e elas tampouco; então nós vamos precisar envolvê-los nessa conversa! – olhou para o marido

 

--Falarei com Borges sobre isso assim que acabarmos aqui. – o homem se referia ao advogado que já havia mobilizado por conta do caso – Tenho certeza que ele vai concordar com tudo que você tá dizendo!

 

--Até que você deu uma dentro e não deixou as meninas saberem que também pediu pra tal hacker roubar as provas do vestibular. – voltou a olhar para a filha – Que continue assim! – a jovem balançou a cabeça concordando – E foi muito bom que você não tenha conseguido memorizar tudo, porque se gabaritasse ou tirasse nota muito alta no vestibular isso poderia dar mais força pra acusação dela. – considerou

 

--E nós vamos dizer o que? – Rogério perguntou à esposa – Que a moça queria apenas aparecer pra você, fez besteira e acabou sendo pega pelo sistema de cibersegurança da Faculdade? – olhava para a mulher

 

--Você é o psiquiatra da casa, amor! – levantou-se da cama – Trabalhe as hipóteses pras pretensas motivações dela, alinha com Borges e nos orienta pro teatro que vamos ter que fazer durante as audiências! – passou a mão nos cabelos – Não duvido que a imprensa consiga até participar de alguma delas! – pensou em voz alta – O caso envolve simplesmente a filha da CEO da BoFe e do psiquiatra mais famoso do país! – cruzou os braços – O básico, né? – perguntou debochadamente

 

O homem se levantou também. – Filha, vá tomar um banho e tente dormir. – falou em tom mais brando – Enquanto isso vou pedir pra Ivane fazer um chá de camomila pra você. – referia-se a governanta

 

--Seria mais indicado que ela tomasse alguma coisa antirressaca, porque Stefany parece que bebeu todas nessa balada no baixo Leblon! – reparava na filha – Não pense que termina aqui, entendeu? – advertiu – Você será castigada por isso tão logo essa tempestade passe! – ameaçou – Por ora, e até pra não despertar suspeitas, seu castigo vai ser o inferno que essa história vai gerar! – gastou uns segundos calada olhando para a filha e saiu do quarto

 

Stefany voltou a chorar nervosamente. Rogério gastou uns minutos com ela e depois se uniu à esposa no quarto do casal.

 

--Você não deveria ter dito aquilo. – reclamou com a mulher – Ela tá muito nervosa! É jovem, mas nada impede que passe mal de tanto nervosismo! – afrouxou a gravata e começou a se despir

 

--Engraçado, você! – respondeu ironicamente enquanto tirava as roupas – Oras acha que eu deixo correr frouxo, outras vezes acha que sou muito dura! – abriu o closet e pegou o roupão – Eu não vou ficar bancando a boazinha com ela depois da merd* que fez! – vestiu-se – Essa história vai dar muita dor de cabeça pra gente! – pegou um prendedor e fixou os cabelos em um coque – Tenho medo que o burburinho chegue a derrubar o preço das ações da BoFe na bolsa!

 

Achou graça do que ouviu. – Você só pensa nessa empresa, como pode? – chocava-se – Tem coisa muito mais importante em jogo, como o nome da família, a reputação da menina e por aí vai. – abriu o closet e pegou um roupão também -- Eu quase tive um treco quando o Oficial de Justiça chegou! – desabafou – Não sabia do que se tratava e tive que fazer das tripas coração pra permanecer de pé e receber o homem com um mínimo de cortesia!

 

--Imagino! – lançou-lhe um sorriso debochado – Vai que mais uma mulher jovem e bonita te acusa de abuso sexual durante as sessões, né? – lembrava de um caso passado – Dizer que a bipolaridade da paciente a induzia a devanear poderia não colar dessa vez. – caminhou até o banheiro

 

--Você nunca acreditou em mim, não é? – foi atrás da esposa e a segurou pelo braço – Até hoje pensa que abusei mesmo daquela garota! – falava com desgosto

 

--O juiz acreditou em você! – desvencilhou-se dele – E mais a sua família, os seus pacientes e a sociedade como um todo. – olhava nos olhos – Tomara que Stefany tenha a mesma sorte! – ajeitou o roupão no corpo – Agora com licença que eu quero tomar um banho! – pediu – Sozinha! – deu-lhe as costas e entrou no banheiro fechando a porta

 

Rogério fechou os olhos e deu um suspiro profundo. “Que Stefany tenha a mesma sorte!” – pediu a Deus em pensamento

 

***

 

Malika se confessava com o padre nas primeiras horas da manhã. Havia ido para a igreja sem Nazira pois não desejava companhia. Estava agoniada.

 

--E foi isso, padre. – terminava seu relato – A noite toda sonhei que minha filha Zaida corria perigo e acordei com o coração apertado! – chorava contidamente – Apesar de minhas orações e novenas não tive qualquer notícia sobre o paradeiro dela. – lamentou -- Até uma vez que fui buscar informações em um certo lugar a coisa terminou em tiroteio! – lembrou-se da confusão no falso terreiro

 

O homem não entendeu o caso do tiroteio, mas decidiu não se deter nessa parte da história. – Vamos continuar perseverando nas orações, dona Malika! – aconselhou com brandura – E se existe alguém pensando em fazer mal a sua filha, vamos orar a Deus, implorado para que Ele a proteja. – pausou brevemente – Coloque Zaida no colo de Maria, pois como Mãe Sagrada que é, ela irá zelar pelo bem de sua filha!

 

--Amém, padre! – benzeu-se – Farei como o senhor me orienta! – garantiu

 

--Creia que esse reencontro vai acontecer e se prepare. – advertiu – Pois quando acontecer, não deixe que palavras duras ponham a perder a oportunidade que Deus lhes dará!

 

--Tá certo, padre... – concordou – Mesmo que eu ainda não aceite o jeito dela viver, prometo que não vou repetir os erros do passado! – dizia a verdade – Vou fazer um esforço imenso pra isso! – pausou brevemente – Eu não vivo falando pros outros, mas só Deus sabe o quanto já sofri por tudo isso ao longo dos anos... – admitiu – Vivo um teatro, essa é a verdade! -- confessou

 

--Não deixe que as aparências sejam mais importantes que a essência! – o homem novamente aconselhou – Muito pecamos nesta vida por causa disso!

 

Malika balançou a cabeça em entendimento.

 

***

 

Aproveitando o fato de ter acordado sozinha em casa, Nazira rondava as áreas comuns do prédio na esperança de encontrar com o vizinho nerd. Para sua surpresa, viu que o homem rasgava algumas cartas furiosamente e jogava os papéis em uma das lixeiras da garagem.

 

--Ai, meu Pai! – ajeitou-se toda – É agora! – respirou fundo – Vai Nazira, segue o plano que o GPiTaco te ensinou! – estufou o peito e caminhou até o homem – Bom dia, tudo bem? – sorria como assistente de mágico – Quer ajuda? – ofereceu – Ainda tem tanta carta pra rasgar, né mesmo? – reparou

 

--Ah... – ficou sem graça – Não precisa, obrigada. – falou sem olhar para a vizinha

 

--À propósito o meu nome é Nazira Faruk, e o seu? – estendeu a mão para cumprimentar – “É agora! Vamos ver se ele vai dizer Jacinto Pikas!” – pensou ansiosa – “Que não seja, não seja!” – novamente reparou na correspondência – A julgar pelo tanto de carta que você recebe, acho até que deve ser algum famoso! -- sondava

 

--É... – apertou brevemente a mão dela – Famoso nada... – continuava de cabeça baixa -- Tudo isso é por causa de uma safadeza que fizeram comigo! – rasgava cartas – Inventaram um sujeito que não existe e registraram meu endereço no nome dele. – reclamou

 

Sorriu. – Então você não se chama Jacinto Pikas?? – perguntou empolgada

 

Surpreendeu-se por ela conhecer o nome. – Eu não! – olhou rapidamente para a mulher – Meu nome é Nazário Farias! – parou de rasgar – Ah, quer saber? – jogou as demais cartas na lixeira – Chega! – ajeitou os óculos – Tchau! – retirou-se quase correndo

 

--Meu Deus! – pôs a mão no peito – Nazira Faruk e Nazário Farias! – sorriu – É NF com NF! Numerologia pura! – riu sozinha -- Dessa vez é sério: encontrei o homem da minha vida! – concluiu – Agora só falta fazer ele descobrir isso! – estava empolgada – Hora de conversar com o GPiTaco! – correu para o elevador

 

***

 

--Meu Deus, isso tá demais! – Zaida falou ao dar de cara com Quézila roubando alguns copos de vidro – Faça-me o favor, né? – cruzou os braços – Vai ter que te fazer revista em todo final de turno pra ver o que você tá querendo roubar dessa casa? – reclamou de cara feia

 

--Lá vem a puxa saco! – respondeu com deboche – Qual é, X9, vai me dedar pra agência? Ainda não fez isso por quê? – provocou – Quem tem cu tem medo, né? – deu uma risadinha

 

--Eu não vou te entregar pra agência, mas também não vou fingir que não vi! – aproximou-se da colega – Daqui a pouco Patrícia vai chegar, você vai querer testemunha ou vai devolver esses copos agora? – falava baixo – Ou prefere que a dona Adma ouça essa conversa?

 

Gastou uns segundos calada olhando para a outra. – O que é teu tá guardado! – ameaçou – X9, filha da puta! – devolveu os copos e foi para o banheiro terminar de se trocar

 

--Meu Deus! – Zaida esfregou o rosto com as duas mãos – E agora que esse escândalo com o nome de Stefany, dona Yesmin e a BoFe é a notícia do momento eu não vou conseguir nem um minuto de atenção pra falar sobre isso! – pensava em voz alta – Que situação!

 

--ZAIDA, CADÊ VOCÊ? – Adma gritou

 

--Tô indo! – seguiu para o quarto da idosa – Tô indo!

 

***

 

--Dona Adma, desculpa, mas tá o maior bafão! – Patrícia falava gesticulando – Seja na TV, na internet e até nas rádios a notícia do momento é a história que a sua neta pediu pra uma hacker roubar as provas do vestibular de uma faculdade aí! – contava – Ainda tão dizendo que a tal da hacker roubava as provas do colégio dela e por causa disso sua neta e outras garotas ficaram tirando notão! – olhava para a idosa – Mas sempre que tocam no assunto comigo, esclareço que a senhora não tem nada com isso e que sua filha é um espetáculo! – bajulava – Então a neta deve ser também, né? – sorria

 

--Humpf! – fez um bico – A única verdade nisso tudo é que eu não tenho nada com isso! – gesticulou – Esse fofoca é problema delas! – a idosa afirmou com veemência – Yesmin e o marido devem estar a ponto de infartar! – pausou brevemente – Agora acho que só vejo minha filha no ano que vem! – concluiu – Depois de carnaval!

 

Acabou achando graça. – Que é isso, dona Adma, ainda estamos em novembro! – Zaida respondeu – Quando menos se esperar sua filha aparece aqui!

 

--Pois sim! – respondeu descrente – Você não conhece ela! – ajeitou-se na cama – E quando se tem fama, qualquer coisa vira escândalo e dá trabalho contornar.

 

As três mulheres estavam no quarto da idosa.

 

– Quando a senhora era famosa viveu algum escândalo? – Patrícia perguntou – Ai, conta pra gente, conta! – pediu empolgada

 

--A imprensa no Líbano era igual por aqui, dona Adma? – Zaida perguntou curiosa – Sempre à caça de algum escândalo envolvendo gente famosa?

 

A idosa gastou uns segundos antes de responder. – Desde que fama chegou, acho que não faltou escândalo. – começou a contar – Eles sempre inventam que você namora um, namora outro, dizem que você brigou com tal cantora, com tal ator... – lembrava – Minha família rompeu comigo por isso. Acharam que eu envergonhava o nome... – deu um riso breve – Mas naquela época eu não me importava com família... – admitiu – De todos, o maior escândalo foi quando recusei o convite de Hollywood pro papel de Cleópatra e anunciei que ia casar com um empresário brasileiro! – mirou um ponto no infinito – Lembro que um jornal escreveu assim, traduzindo: -- gesticulou brevemente – o dia em que o Mundo Árabe parou!

 

--Parou por que a senhora tava largando tudo?? – Patrícia arregalou os olhos – Nossa!! – sorria encantada – E cadê esse jornal, hein? – perguntou curiosa – Queria fazer uma selfie com ele!

 

--A gente faz loucuras por amor... – Zaida considerou

 

--E vive de aparências também! – a idosa complementou – Por amor ou pela fama.

 

“E esse deve ser o caso da dona Yesmin!” – Zaida pensou – “Esse escândalo quebra a imagem de mulher perfeita que ela gosta de passar!”

 

***

 

--Eu ando muito preocupada, amor! – Zaida desabafava no colo de Vivinácia – Tive a impressão de estar sendo seguida quando saí lá da dona Adma e por isso fiquei dando voltas. – justificava a demora em chegar em casa – Não sei se ando neurótica, mas essa história com Quézila tem me perturbado!

 

--E não é pra menos! – respondeu de pronto – O pior é que com esse escândalo que tá na boca do povo, Yesmin não vai dar nem tchum pro seu pedido de falar com ela!

 

As duas mulheres estavam deitadas na cama do casal.

 

--Tanto não vai dar como não deu! – ajeitou-se no colo da esposa – Nem na casa da mãe ela tem ido! – comentou – Dona Adma acha que ela só aparece depois do carnaval!

 

--Eita! – arregalou os olhos – Dá pra esperar esse tempo todo, não, uai! – decidiu – A gente tem que fazer alguma coisa pra tirar essa mulher da casa de dona Adma e deixar ela bem longe do seu caminho! – pensava no que fazer – Ela e as patota dela!

 

--Sinceramente, amor? – desvencilhou-se com cuidado e se sentou – Não tenho mais a menor ideia do que fazer! – levantou-se da cama

 

--Você não tem, mas eu tenho! – sentou-se também – Deixa comigo! – ajeitou os cabelos – Essa ladrona de idoso não perde por esperar! – espremeu os olhinhos – “Vou botar minhas almas nos encalços dela!” – pensou – Amor, -- levantou-se também – você tem foto da safada? – queria saber – Vê aí no celular! – pediu

 

--Mas é claro que eu não tenho! – respondeu de pronto – E você tá pensando em fazer o que? – cruzou os braços – Vivinácia Soares Silva, não quero te ver envolvida com traficante, hein? – advertiu – Olha lá!

 

--Que traficante o que, uai? – descartou a hipótese – Eu confio nas minhas reza! – dizia parte da verdade – Essa tal de Quézila Maria não há de ter força e nem coragem de encarar minha falange caipiresca do Além! – gesticulou – “E nem os espíritos que têm me dado uma força ultimamente!” -- pensou

 

--Você não anda exercendo o papel de madame Vivi por aí, não, né? – perguntou desconfiada – Aliás, mudando de assunto, mas nem tanto, tenho achado muito esquisito a fartura de comida e bebida que anda nessa casa! – considerou – E essa história de reformar o barraco também não me passou despercebida! – estudava o rosto da esposa – O que você anda aprontando, hein, Vivinácia?

 

--Lá vem ela com essa história! – respondeu contrariada – Já disse que tô ganhando melhor porque pagam bem no hotel dos ricaços onde eu tô trabalhando tem um tempo! – mentia – Essas comida e bebida é tudo que sobra dos coquetel e eles deixa trazer! – continuava mentindo – E quanto as minhas reza, madame Vivi tem nada com isso! – garantiu – Não tenta entender, fica na sua e continua esperta com a safada! – aconselhou – Deixa o resto comigo!

 

--Hum... – continuava desconfiada – “Eu só espero que ela não esteja mentindo pra mim!” – desejou

 

“Essa Quézila Maria vai ter uma lição!” – Vivinácia pensou – “E nesse meio tempo é pra dar uma pausa nas atividades de madame!” – decidiu – “Zaida pode nem pensar que ando bombando por aí com minha cigana caipira!”

 

***

 

Vivinácia andava estudando sobre o mundo espiritual via FalaGPiTaco e andava muito confiante de estar no caminho certo por conta dos fenômenos mediúnicos que vinham acontecendo em suas sessões como madame Vivi.

 

Mesmo sem conhecer detalhes sobre Quézila Maria, sozinha à noite em um cemitério da cidade, aproveitava que Zaida fazia plantão na casa de Adma para fazer um trabalho espiritual contra aquela que perturbava sua esposa.

 

--Eu confio em vós! – falava enquanto seguia um ritual que aprendeu – E entrego sangue pelo sangue da mulher que quer prejudicar minha Zaida! – acendia velas pretas e vermelhas – Eu confio em vós, minhas almas!

 

***

 

--Tá foda, amiga! – Luiza contava – Geral me perguntando dessa história e eu mantendo aquela do FalaGPiTaco na ponta da língua! – conversava com as garotas – Até os coroas lá em casa já disseram que é pra morrer contando sempre a mesma versão dessa porr*!

 

--E eu tô na mesma! – Tatiana afirmou – Falo pra quem perguntar que nunca nem reparei na tal baranguda! – fez um gesto – Quem me conhece sabe que eu só curto as gatas, né? – deu uma risada

 

--É isso aí, galera, firme e na moral! – Stefany respondeu de pronto – Essa baranguda quis fuder a gente e vai sair fudida! – garantiu – Ela que espere!

 

--Eu fiquei passada dela ter citado o nome da gente no processo! – Luiza comentou – Eu não sabia que a cachorra tava por dentro do nosso esquema!

 

--E ainda disse que o nosso caso era de quadrilha, porr*! – Tatiana complementou

 

--Ela era monitora do colégio, né gente? E hacker! Tem acesso à porr* toda! – Stefany concluiu – Eu nunca falei nada pra ela, só pedi as provas com gabarito e fim! -- passou a mão nos cabelos – Ela quis aparecer e deu uma viajada! Não vê que inventou essa de invadir os sistemas da facul? – gesticulou – Se ferrou e veio mentindo dizendo que eu que pedi! – fez um teatro

 

--Cá pra nós, tu não pediu, não? – Luiza queria saber – Cê pediu pra invadir o sistema do colégio, porr*!

 

--Aqui é molezinha, né, filha? – desconversou de pronto – Não sou burra de pedir pra fazer a mesma coisa numa faculdade cheia das seguranças! – mentia – Se eu tivesse pedido tinha colocado vocês nos esquemas! -- disfarçava

 

--Eu cheguei até a acreditar nela! – Tatiana falou desconfiada – Tua mãe na pressão pra te ver na facul...

 

--Amore, como falei: sou louca, mas não sou burra! – continuava mentindo – Além do mais, quem tem FalaGPiTaco plano Master Plus à disposição não precisa de nada disso pra passar num vestibular! – fazia um tipo – “Tô seguindo direitinho o plano da gente!” – pensou orgulhosa de si mesma – “Vai ser irado manter essa mesma vibe no dia da audiência!” – sentia vontade de rir

 

***

 

--Ah, minha filha, por que você foi se meter nisso? – Ana perguntava com tristeza – Nunca na minha vida imaginei que um dia teria que visitar minha única filha na cadeia! – lamentou

 

Abaixou a cabeça envergonhada e não respondeu. – Me perdoa, mãe... – ergueu o rosto devagar – Mas olha, eu tô com esperança! – esboçou um sorriso – O advogado me disse que como a imprensa tá do meu lado isso aumenta minhas chances de...

 

--Com a imprensa do seu lado? – interrompeu a fala da outra – Esse advogado é iludido, se formou ontem, em que mundo ele vive? – discordava daquela interpretação – A imprensa não tá do seu lado, ela quer é enxame porque a tal da Stefany é influencer, filha de gente rica e famosa... – balançou a cabeça contrariada – Nós somos pobres, filha! – os olhos marejaram – Eles não tão nem aí pra nós! – passou a mão nos olhos – Você tem é que rezar muito pra conseguir abrandar essa pena, estudar e arrumar emprego depois que sair daqui!

 

--Vai dar tudo certo, mãe! – queria acreditar – Logo todos vão esquecer disso e nossas vidas vão voltar ao normal... – olhava para a mulher com tristeza – Hoje em dia é assim!

 

Ana tinha dificuldades em acreditar, mas nada respondeu. Apenas entregou a filha nas mãos de Deus.

 

***

 

Zaida dormia nos braços da esposa. Preocupada com as ameaças de Quézila demorou a pegar no sono, mas desde que adormecera um sonho diferente deixava-a inquieta.

 

“--Você tem que fazer alguma coisa! – pedia – Essa mulher é capaz de prejudicar a sua maama e a mim!

 

--E por que eu me abalaria por você? – Yesmin respondia debochada – Minha mãe tá a salvo; o problema não é com ela, é com você!

 

Aproximou-se com raiva e encarou a mulher. – Como sempre uma egoísta! – olhava nos olhos – Não me surpreendo que sua filha seja como é! Com o exemplo de mãe que tem!

 

--Tire minha filha fora disso! – aproximou-se também – Você não tem moral pra falar de mim ou dela, sua sapatãozinha tosca! – falava com desdém

 

--Tosca é a...

 

--Não se atreva a dizer que tosca é a maama dela! – a voz de uma Adma jovem interrompia a conversa – Porque se disser eu ficarei muito chateada!

 

Zaida olhou na direção da voz e se deparou com Adma em seu esplendor. Vestida como odalisca, ela começou a dançar e cantar com sua voz hipnótica.

 

“Tilka Al-Uyoon asāratnī (Aqueles olhos me prenderam),

Tilka Al-Uyoon (Aqueles Olhos),

Tilka Al-Uyoon (Aqueles Olhos)…”

 

A cuidadora sentia-se como que enfeitiçada. Afastou-se de Yesmin aproximando-se lentamente da cantora, cuja voz ecoava-lhe dentro da mente.

 

“Tilka Al-Uyoon asāratnī (Aqueles olhos me prenderam),

Tilka Al-Uyoon (Aqueles Olhos),

Tilka Al-Uyoon (Aqueles Olhos)…”

Tilka Al-Uyoon. Música caipiresca

 

--Você pensa o que? – a engenheira foi até Zaida e a segurou pelo braço – Acha que vou permitir que tenha um caso com minha maama? – perguntou indignada

 

--O que?? – reagiu perturbada – Um caso com dona Adma, como assim? – sentia-se perdida

 

--Vou te explicar o que você não entende, meu bem! – segurou a cuidadora pela cintura e a beijou os lábios com fúria”

 

Fim do capítulo