Dois meses depois...

 

 

 

--Eu ralei muito pra conseguir, mas tá aqui! – Fernanda sacou um pen drive do bolso – E só não demorei mais porque o FalaGPiTaco me deu umas dicas ótimas! – sorriu – Tenho certeza que quando eu contar tudo pra sua mãe ela vai ficar impressionada! – afirmou convicta – E vai ficar satisfeita de ver como tô dominando o uso do FalaGPiTaco!

 

 

 

--Muita calma nessa hora, mon cher! – Stefany recebeu o pen drive – Você diz que a prova do vestibular tá aqui, mas eu só vou saber no dia. – guardou-o entre os seios – E o vestibular tá super em cima, detalhe! – comentou de cara feia – Vou ter só uma semana pra decorar a porr* toda! – reclamou

 

 

 

--O importante é que eu consegui! – retrucou de pronto – E com isso cumpri minha parte toda no nosso trato!

 

 

 

--E eu vou fazer o que prometi só depois do vestibular. – passou a mão nos cabelos – Agora vaza poque também faz parte do trato ninguém saber do que rola! – advertiu

 

 

 

--Eu tenho palavra! – a hacker garantiu – E pode crer que a dona Yesmin só vai ter do que se orgulhar de mim depois que eu começar a trabalhar na BoFe!

 

 

 

***

 

 

 

Vivinácia forjava um clima de misticismo em atendimento a um viúvo. Sobre a mesa vinte e seis cartas, cada uma com uma letra do alfabeto, estavam posicionadas uma do lado da outra num formato de circunferência. Com a mão direita a cigana caipira segurava uma ponteira que havia comprado num mercado de pulgas.

 

 

 

--O senhor vai mentalizando aí, que com essa ponteira madame vai descobrir se tem mensagem do Além pra lhe passar. – falava com voz hipnótica – Pense na pessoa com quem o senhor quer prosear e deixe que o resto é com madame Vivi! – estalou os dedos e a luminosidade do ambiente diminuiu

 

 

 

O idoso se surpreendeu e se ajeitou na cadeira. – Tô mentalizando. – fechou os olhos

 

 

 

Vivinácia colocou a ponteira sobre a mesa, no centro do círculo de cartas, e sacou um lenço do bolso.

 

 

 

--Então vamos lá! – rodopiou o lenço no ar e o jogou para o alto – Madame Vivi invoca quem vem do Além pra ter um dedinho de prosa com seu Vicente! – usou um tom enigmático

 

 

 

O lenço caiu sobre a cabeça da caipira como se fosse um véu e a ponteira lentamente começou a se movimentar sozinha fazendo barulho. Vicente abriu os olhos e ficou surpreso com o que via.

 

 

 

--E, S, -- o idoso soletrava as letras que a ponteira indicava – T, H, E, R! – olhou maravilhado para a diarista – Esther é minha falecida esposa! – sorriu – E eu nem lhe disse o nome dela! – sentiu o coração acelerar – Como pode isso??

 

 

 

--Como pode?? Ora, seu Vicente! – tentava disfarçar o nervosismo – Eu sou madame Vivi, não sou bagunça! Não ouse duvidar da única cigana caipira dessa cidade! – fez uma pose e tirou o lenço da cabeça – “Minha Nossa Senhora das Caipiras, o que é que tá acontecendo aqui?” – pensou intrigada

 

 

 

--Esther, querida... – o homem começou a chorar – Eu sinto tanto a sua falta... – pegou um lenço e secou os olhos – Você sabe? – tentava conter a emoção – Os médicos disseram que nosso filho pode tá com câncer de intestino e eu fiquei apavorado! – fungou – Nossa nora e os meninos tão sofrendo muito também... – abaixou a cabeça brevemente – Se você tivesse aqui ia ser tudo tão mais fácil... – deu um soluço – Você sempre foi a nossa força!

 

 

 

A ponteira se movimentou lentamente marcando outra palavra.

 

 

 

--DrAnibal! – Vivinácia pronunciou a palavra indicada

 

 

 

--Doutor Anibal! – concluiu – Era um médico ervateiro que cuidava do nosso filho quando ele era criança! – lembrou – Meu Deus, será que ele pode ajudar? – sorriu esperançoso

 

 

 

--Realengo! – a diarista continuava acompanhando o movimento da ponteira – “E não é que esse trem é quente mesmo?” – pensou impressionada

 

 

 

--Isso aí! – bateu uma palma --Teve uma época que a gente ouviu dizer que ele foi trabalhar em Realengo! – Vicente se empolgava ainda mais – Eu me lembro do lugar pra onde falaram que ele foi! – dizia para Vivinácia – É que na época nosso filho já tava rapaz e não precisava mais de nada, então a gente relaxou e... – balançou a cabeça maravilhado – Ah, madame Vivi, a senhora não sabe o quanto me fez feliz! – olhou para cima – Obrigada, Esther! Eu te amo! – agradeceu

 

 

 

A ponteira marcou a sequência da palavra “eterno” e caiu sozinha no chão. Vivinácia ainda se sentia perturbada, mas disfarçava sua surpresa.

 

 

 

--E como isso a sessão termina aqui! – anunciou solene – Faça como foi indicado que seu filho cura. – debruçou-se sobre a mesa – E o pagamento de madame pode ser no dinheiro ou no Pix! – lançou-lhe um olhar misterioso – “Tenho que estudar melhor esse trem que aconteceu aqui hoje porque tem que acontecer mais vezes!” – pensou excitada – “Acho que agora virei uma cigana de verdade!”

 

 

 

***

 

 

 

Zaida deixou Adma deitada na cama e foi para a cozinha buscar uma fralda para a paciente. Chegando lá surpreendeu-se ao ver que Quézila, a mais nova cuidadora do grupo, sorrateiramente escondia algumas fraldas dentro de um saco de lixo vazio.

 

 

 

--Mas o que é isso aqui? – perguntou assustando a colega – E eu pensando que você tava no banheiro! – falava de cara feia – Roubando a casa, como é que pode? – repreendeu

 

 

 

--Shii!! – pediu silêncio – Qual é? A família da velha é rica, ela não vai sentir falta de umas fraldinhas! – fechou o saco de lixo – Minha tia tá doente, ela é pobre, não tem condição de ficar comprando fralda!

 

 

 

--Quézila, isso não tá certo! – Zaida respondeu de pronto – Não espere que eu concorde contigo nisso! – puxou o saco das mãos da outra – As fraldas são da dona Adma e você não vai levar nenhuma! – devolveu os itens roubados ao devido lugar

 

 

 

--Escuta aqui, X9, -- aproximou-se da outra – você não me conhece! – encarou – Se me cagoetar, os homi da onde eu moro vão ter um papinho contigo! – ameaçou

 

 

 

--São sete e meia da noite. – olhou rapidamente para o relógio – Vai se arrumar e vai embora daqui! – encarou também

 

 

 

--Fica esperta! – olhou para a colega de cima a baixo e se retirou para o banheiro

 

 

 

--E agora, meu Deus, o que eu faço? – Zaida perguntou-se – Essa mulher não é boa coisa, mas ela pode armar uma pra cima de mim! – olhou para cima – Ai, Deus, me orienta! – pediu

 

 

 

--Zaida, cadê você??? – Adma chamou

 

 

 

--Tô indo! – pegou uma fralda – Tô indo! – foi para o quarto da idosa

 

 

 

***

 

 

 

Yesmin chegou na porta do quarto da filha e a observou compenetrada estudando. Não sabia que, na verdade, a jovem lutava para memorizar todas as respostas da prova do vestibular da Faculdade Ecumênica.

 

 

 

“Muito bom, ela tá levando a sério o que eu falei!” – pensou satisfeita – “Vai passar de ano e se Deus quiser vai passar pra faculdade também!” – balançou a cabeça positivamente – “Vou deixá-la estudar em paz.” – encaminhou-se para seu quarto – “Enquanto isso vou tomar um banho de espuma mega relaxante e ligar pro SPA mandar alguém aqui pra me relaxar com uma boa massagem!” – decidiu

 

 

 

“Puta que pariu, a prova é enorme!” – Stefany pensava em desespero – “Será que eu vou conseguir decorar as respostas de tudo isso até o dia do vestibular?” – perguntava-se – “Aquela hacker baranguda me ferrou, que merd*!” – observou que mensagens pipocavam em seu celular – Ah, galera, foi mal mas eu tenho que me concentrar nisso aqui! – falou para si mesma – Me erra, pessoal! – decidiu desligar o aparelho – Não posso nem pensar na possibilidade de ficar sem dinheiro e sem liberdade! – lembrava das ameaças da mãe

 

 

 

--Cara, Stefany não responde! – Luiza comentou com as amigas – Será que ela tá estudando até agora? – riu brevemente – Quem diria, né?

 

 

 

--Claro, porr*! – Tatiana respondeu de pronto – Yesmin ameaçou à vera, honey! Se fosse eu tava na mesma vibe pra passar no vestibular, porque ficar sem dinheiro e trancafiada em casa não rola! – revirou os olhos

 

 

 

As jovens não sabiam que Stefany havia encomendado à Fernanda que obtivesse a prova do vestibular da Faculdade Ecumênica.

 

 

 

--Vocês de repente começaram a tirar notão e nem me incluíram nesse bonde aí! – Jaqueline reclamou chateada – Geral tá dizendo que foi tudo graças ao FalaGPiTaco!

 

 

 

--E foi mesmo! – Tatiana confirmou a mentira – O projeto da BoFe era secreto, tu é bocuda, ia estragar a surpresa do lançamento! – olhava para a amiga – Simples assim!

 

 

 

--Agora Stefany tá se virando com o GPiTaco pra passar no vestibular, deve ser isso. – Luiza concluiu – Foda-se ela, vamos pra night! – decretou

 

 

 

--Já é! – Tatiana concordou

 

 

 

--Demorou! – Jaqueline concordou também – “Tomara que não passe!” – desejou em pensamento o fracasso de Stefany

 

 

 

***

 

 

 

Adma dormia tranquilamente e as cuidadoras se preparavam para fazer o mesmo.

 

 

 

--Zaida, você não acha que os produtos que aquela dermatologista passou pra dona Adma tão acabando muito rápido? – Patrícia perguntou desconfiada – A pomada pro bumbum já tá no fim! – comentou – E o vidro de hidratante de repente ficou tão leve... – pegava sua roupa de cama – Até o algodão, quando eu dei por mim, se acabou!

 

 

 

--De fato... – concordou – O que você acha disso? – queria saber o que a outra diria

 

 

 

--Sei lá, não deveria dizer isso, mas depois que aquela tal de Quézila Maria veio pra cá... – balançou a cabeça contrariada – Sei não!

 

 

 

--Dona Adma me contou que algumas cuidadoras e outras pessoas que passaram por aqui roubaram algumas coisas dela. – lembrou do que ouviu da idosa – Você chegou a ver isso acontecer? – olhava para a colega

 

 

 

--Ouvi falar, mas não passei por nada disso. – deitou-se no colchonete – Marcilene foi que me contou de uma que roubava os cosméticos da dona Adma e foi cagoetada por sei lá quem. Não lembro. – ajeitou o travesseiro

 

 

 

--E aí aconteceu o que? – deitou-se em seu colchonete também

 

 

 

--A agência mandou a ladrona embora. – respondeu simplesmente – E acho que a outra que cagoetou pediu pra sair porque ficou com medo, sei lá. – virou-se de lado – Boa noite.

 

 

 

--Boa noite... – Zaida respondeu pensativa e deitou-se de barriga para cima – “E agora, meu Deus, o que eu faço? Não queria ter que sair desse trabalho!” – pensou – “Vou conversar com a Vivi sobre isso e ver o que ela acha que eu deveria fazer.” – decidiu – “Agora deixa eu ver um dos filmes da dona Adma!” – pegou o celular e clicou para assistir

 

 

 

***

 

 

 

--Eu ainda não entendi por que a gente tinha que vir nisso! – Malika reclamava enquanto seguia para a casa de festa – Lugarzinho contramão! – olhou para Nazira – E ainda essa palhaçada de vir com camisa de seleção brasileira! – fez um bico – Copa do Mundo foi no ano passado, que bobeira!

 

 

 

--Pois foi uma exigência do seu Tibúrcio: -- explicava para a idosa – pra entrar na festa de aniversário dele só se fosse com a camisa da seleção! – caminhava de braços dados com a idosa – Aí providenciei nossas camisinhas e aqui estamos nós! – conferiu o número do local – É aqui! – constatou desconfiada

 

 

 

--Parece nem uma casa de festa! – fez cara feia – E eu nem sei pra que você se empenhou tanto! A gente nunca foi chegada a seu Tibúrcio! – reparava na fachada do local

 

 

 

--Mas é bom se enturmar com a vizinhança, dona Malika. – tocou a campainha – E se ele convidou o prédio inteiro por que só a gente ia ficar de fora? – esperava ser atendida – “Será que o nerd já está aí dentro?” – pensou esperançosa

 

 

 

As mulheres foram atendidas por um homem que as conduziu até o interior da casa. Ao serem acomodadas em uma mesa, estranharam a decoração da festa.

 

 

 

--Ô, Nazira, que diabo é isso aqui? – reparava discretamente – Se eu soubesse que era coisa de político não tinha vindo mesmo!

 

 

 

--Mas eu não sabia... – reparava também – Nunca imaginei que seu Tibúrcio fosse tão fã desse político! – olhava para todos os lados – “E o nerd que é bom, nada!”

 

 

 

Uma mesa de bolo e doces estava montada próxima a uma parede onde uma imensa bandeira do Brasil estava estendida. Balões de gás verdes e amarelos adornavam o ambiente, junto com várias arminhas de plástico. Retratos de um ex presidente estavam pregados nas paredes, enquanto miniaturas do homem povoavam a mesa do bolo e a dos convidados. Tudo era verde e amarelo, inclusive um jogo de luzes de promoviam uma iluminação errática.

 

 

 

--Até político de pelúcia tem nessa bodega! – Malika constatou – Nunca vi disso na minha vida, misericórdia! – benzeu-se – E além de tudo não tô vendo ninguém conhecido por aqui! Acho que do prédio só veio a gente, as duas trouxa!

 

 

 

--Pior que é mesmo! – Nazira continuava reparando no ambiente – E eu que pensei que seu Tibúrcio fosse só um fã de futebol! – viu um banner com uma foto do aniversariante abraçado com seu político preferido perto da entrada dos banheiros – Ave Maria! – pegou o celular – “Deixa eu perguntar pro FalaGPiTaco se ele acha que o nerd vai vir nisso aqui!” – começou a digitar

 

 

 

--Pode parar, minha filha! – confiscou o celular da outra – Não me bastasse ter me trazido pra essa festa maluca ainda vai ficar fuxicando com negócio de GPiTaco? Nem pensar! – guardou o aparelho na bolsinha

 

 

 

--Ah, dona Malika, assim não vale! – reclamou como criança

 

 

 

--Que beleza! Vocês vieram! – o aniversariante se aproximou saudando – Ainda tá meio vazio, mas daqui a pouco vai bombar! – sorria – Vou pedir pro garçom dar uma atenção pra vocês! – reparou que a mesa estava vazia

 

 

 

--Acabamos de chegar, seu Tibúrcio, não se preocupe! – Nazira sorria também – Olha, feliz aniversário! – levantou-se para cumprimentar o homem – Deixamos o seu presente com o moço que abriu a porta pra gente! – sentou-se novamente

 

 

 

--Feliz aniversário. – Malika cumprimentou sem se levantar

 

 

 

--Obrigada! – balançou a cabeça – Agora com licença que eu vou cumprimentar o pessoal que tá chegando ali. – olhou para a porta

 

 

 

--É, seu Tibúrcio, o senhor sabe se o nerd do prédio vem? – prestava atenção nas pessoas que chegavam

 

 

 

--E eu sei lá quem é esse? – achou graça – Bem, divirtam-se! – fez arminhas com as mãos – Pá, pá, pá! – fingiu que atirava e saiu rindo

 

 

 

--Eu hein! – Malika reparou – Quer dizer que foi por isso que você meteu a gente nessa roubada, né, bicha? – deu-lhe um tapa na orelha – Fogo no rabo atrás desse nerd! – concluiu – E eu que pensei que essa paixonite já era! Humpf!

 

 

 

--Ai, dona Malika... – passou a mão na orelha dolorida – “Poxa... me dei mal de novo!” – pensou decepcionada – “Vou encarar um programa de índio à toa...”

 

 

 

Enquanto isso, Tibúrcio e alguns convidados faziam arminhas com as mãos e tiraram fotos segurando políticos de pelúcia.

 

 

 

***

 

 

 

--Ah, ah, ah! – Zaida gemia enquanto se esfregava rapidamente contra o sex* da parceira – Ai, ai, amor! – abraçava-a com força

 

 

 

--Ah, ah! – Vivinácia gemia igualmente empolgada – Ai, não para! – beijou-a com paixão

 

 

 

As duas mulheres estavam nuas, sentadas na cama uma de frente para a outra, mantendo os sex*s em contato íntimo enquanto se atritavam com força. Quando sentiram que o clímax se aproximava, interromperam o beijo e introduziram dois dedos no sex* uma da outra.

 

 

 

--AH!!! – Zaida fechou os olhos e sorriu – Ah... – suspirou satisfeita

 

 

 

--Ah!!! – Vivinácia beijou a parceira repetidas vezes e relaxou – Ô, trem bão... – sorriu

 

 

 

Abriu os olhos novamente. -- Hoje você tá pegando fogo! – beijou-a nos lábios e se desvencilhou lentamente para se deitar – Mas eu tô ficando cansada... – deitou-se de barriga para cima – Amanhã é dia de ir pra dona Adma. – abriu os braços – Vem? – chamou dengosa

 

 

 

--Mas é claro que eu vou, uai! -- a caipira deitou-se nos braços da amada e fechou os olhos – Não tem lugar que eu goste mais de ficar do que nesse seu colo... – acomodou-se melhor – É bom que chega dói...

 

 

 

Gastaram uns segundos caladas apenas se acariciando até que Zaida rompeu o silêncio. – Amor, o tempo passa e eu não tiro a história da Quézila da minha cabeça. – fazia um cafuné na diarista – Aquela mulher é uma ladra, insinua que tem ligação com traficantes e me faz me sentir ameaçada. – desabafava – Eu não gosto disso de dedurar os outros, mas também não aprovo o que tá acontecendo. Às vezes fico pensando que ela pode inclusive entregar a casa pros traficantes assaltarem ou sei lá o que!

 

 

 

--E muito me espanta que essa agência cheia de frescura pra onde vocês trabalham nunca tenha percebido a boa bisca que essa mulher é! – abriu os olhos – Mas, enfim, não dá pra manter isso! – levantou a cabeça e olhou para a esposa – Se ela fosse uma simples ladrona, até dava pra dar uma situada nela e ir levando, mas a bicha faz ameaça, age como se fosse gente do mal! – pensava na situação – De repente nem é, pode tá fazendo só uma onda pra assustar, mas não se deve pagar pra ver!

 

 

 

--Então você acha que eu devo denunciar ela pra agência? – queria saber

 

 

 

--Você tem que denunciar é pra Yesmin, uai! – respondeu enfática – Escreve pra agência e pede pra deixar um recado que você tem que falar com ela urgente! Mas não adianta o assunto! – aconselhou – Aí, quando ela vier, você abre o verbo!

 

 

 

--E por que isso?? – parou para pensar – Vivinácia Soares Silva, você não tá me dizendo isso pensando em conhecer essa mulher e...?

 

 

 

--Claro que não, uai! – interrompeu a fala da outra – E como que eu vou conhecer ela só por causa disso? – dizia a verdade – Tô falando assim porque se ela souber da treta vai mandar demitir a tal e pode também cuidar da sua segurança e a da mãe dela! – falava como quem diz o óbvio – Se você se limitar a entregar a situação pra agência, eles vão demitir a mulher e não vão dar nem tchum pra você! Muito menos pra dona Adma!

 

 

 

--Hum... – pensava no que ouviu – É... pode ser...

 

 

 

***

 

 

 

--Seu Rogério? – a secretária entrava timidamente na sala do médico – Tem um Oficial de Justiça aí fora esperando pelo senhor. – anunciou desconfiada

 

 

 

--Oficial de Justiça?? – perguntou apavorado – E você foi dizer a ele que eu estou aqui, criatura? – sentiu o coração acelerar

 

 

 

--Eu não sabia o que fazer, nunca passei por isso... – justificou-se – E agora, o que eu faço? – perguntou preocupada

 

 

 

--Manda ele entrar. – passou a mão no rosto – Vai, vai! – enxotou a mulher, que logo se retirou – Meu Deus, o que será que ele quer comigo? – perguntou-se nervosamente – Rogério, -- respirou fundo – mantenha-se calmo e encara a fera! – aconselhou-se

 

 

 

--Com licença? – o homem entrou educadamente na sala do médico

 

 

 

--Por favor, fique à vontade! – levantou-se para recebê-lo – Doutor Rogério Beckman ao seu dispor! – apertou a mão do outro – No que posso lhe ser útil? – aguardava ansiosamente pela resposta

 

 

 

--O senhor é o pai da jovem Stefany Zahia Torricelli Beckman? – perguntou formalmente

 

 

 

Sentiu o corpo gelar. – Sim, por que? – não entendia o que estava acontecendo

 

 

 

--Sua filha é acusada de ter ordenado a invasão dos sistemas da Faculdade Ecumênica. – entregou a intimação ao médico – E como se trata de uma menor de 21 anos ela precisa ser representada por um responsável. – explicou

 

 

 

--O que???? – continuava sem entender o que se passava

 

 

 

***

 

 

 

--Eu hoje andei sozinha dentro de água! – Adma contava para a filha – Depois que fisioterapeuta colocou eu na piscina, fui andando, andando e quando vi tava andando sozinha! – sorriu

 

 

 

--Mas que maravilha! – bateu palminhas – Continue treinando que é assim que começa! Primeiro anda dentro d’água e depois fora dela! – reparava na mãe – “Tenho que dar o braço a torcer: Zaida promoveu mudanças maravilhosas na vida da maama!” – pensou – Comigo as coisas também estão muito bem! – contava – E além de tudo o FalaGPiTaco está fazendo sucesso no mundo inteiro, já temos milhões de assinantes, vários parceiros e muitos projetos rodando com ele! – cruzou as pernas – Agora a ferramenta já pode se comunicar em várias línguas, inclusive em árabe! – informou empolgada – Tanto em caracteres árabes quanto em transliterações para o alfabeto romano! – gesticulou – Avise pras suas cuidadoras, já que se tornaram suas fãs, que elas podem traduzir suas canções através dele e até fazer legendas pros filmes ainda não legendados.

 

 

 

Fez um bico. – Ah, tá. – não se importava com o que ouviu – E minha neta, como vai?

 

 

 

As duas mulheres conversavam no quarto da idosa. Não era dia de plantão de Zaida e as cuidadoras jantavam na cozinha.

 

 

 

--Stefany melhorou muito! – afirmou convicta – Vai passar de ano muito bem, estudou bastante pro vestibular da Faculdade Ecumênica e fez a prova ontem! – gesticulou brevemente – Ainda não conversei direito com ela pra saber como foi, mas ela me mandou um QQOV? dizendo que acha que tá dominado! – riu brevemente – Escolheu a carreira de web designer. Vamos ver.

 

 

 

--E essa tal de web faz o que? – a idosa perguntou intrigada

 

 

 

--Ah, essa profissão é pra criar sites de internet e deixá-los atraentes pras pessoas visitarem. – explicou resumidamente – Ela quer ser digital influencer. Já é, de certa forma, só que com esse curso vai ficar ainda melhor no que faz.

 

 

 

--Hum. – não entendeu muito bem mas não perguntou – “Mas se ela só faz besteira no internet como pode ficar boa nisso aí?” – questionou-se mentalmente – Inshallah ela passe para esse faculdade! -- desejou

 

 

 

--Deus te ouça, maama! – ouviu um barulhinho e olhou na direção do celular que estava carregando – Tem alguém me ligando. – levantou-se e foi ver quem era – Ah, é o Rogério. – constatou – Um minuto, maama, deixa eu ver o que ele quer. – retirou o aparelho da parede – Alô, amor, tudo bem? – sentou-se novamente

 

 

 

Adma prestava atenção.

 

 

 

--Mulher, como você some assim?? – perguntou nervosamente – Tô te ligando há horas e nada! – reclamou – Como uma CEO de uma empresa de tecnologia tão importante pode ficar incomunicável desse jeito??

 

 

 

--Calma aí, o celular descarregou e eu só vi depois que cheguei na casa da maama, coloquei pra carregar... – não entendia a reação – O que foi que houve?

 

 

 

--Fui procurado por um Oficial de Justiça lá no meu consultório hoje! – foi direto ao assunto – Stefany tá sendo acusada de invadir os sistemas da Faculdade Ecumênica e como ela é menor de 21 anos tem que ser representada por um dos pais! – repetiu o que ouviu – E o escolhido fui eu!

 

 

 

--O que??? – perguntou em choque – Como assim, acusada por quem?? – levantou-se e caminhou em círculos pelo quarto – Explica isso melhor! -- cobrou

 

 

 

--Uma tal de Fernanda! – informou o que leu na intimação – Não faço ideia de quem seja essa, mas pelo que já me informei, a tal foi presa hoje de forma preventiva! – respirou fundo – Eu não sei como uma intimação contra Stefany pode ter chegado tão rápido, mas chegou!

 

 

 

--Puta que pariu, Stefany! – colocou a mão direita sobre a testa

 

 

 

--Olha palavreado em minha casa! – Adma ralhou – O que minha neta aprontou dessa vez, hein? – queria saber

 

 

 

Ignorou a pergunta da mãe. -- Você já esteve com ela hoje? – referia-se à filha

 

 

 

--Se estive com ela?? – riu brevemente – Claro que você não sabe, não acompanha o que sua filha faz na internet e nem fora dela! – criticou – Stefany tá se esbaldando numa danceteria do baixo Leblon! Como pude estar com ela??

 

 

 

Yesmin ficou calada e pensando em mil coisas

Fim do capítulo