Yesmin e o marido estavam deitados na cama depois de terem passado a noite fazendo amor. Ambos de barriga para cima, olhavam para o teto enquanto conversavam.

 

--Com o fogo que você voltou imagino que essa turnê do FalaGPiTaco pelo mundo tenha sido um arraso! – comentou brincalhão – Muitos investidores e futuros parceiros à vista?

 

Riu brevemente. – Foi uma longa e cansativa viagem de negócios... Porém, mais bem sucedida, impossível! – sorriu – “E com direito a homens jovens e deliciosos me divertindo nas minhas caminhas de hotel mundo afora!” – pensou relembrando

 

--As pessoas têm usado o GPiTaco cada vez mais! – Rogério continuou falando – Vários dos meus pacientes já me disseram que não conseguem mais estudar e nem fazer os trabalhos da faculdade sem ele. – virou o rosto na direção da esposa – Acho que o fato de ter transformado a vida nos estudantes numa molezinha justifica o EXTREMO engajamento de Stefany nessa cruzada que você e a BoFe iniciaram.

 

Olhou para o marido. – E que bom que nossa filha finalmente tá se interessando por alguma coisa útil, não acha? – respondeu provocando – Você não poderia me dar notícia melhor! – movimentou-se para se levantar – Que o ano termine com ela concluindo o Ensino Médio e passando pra Faculdade Ecumênica! – pegou o roupão ao pé da cama e se vestiu – E uma vez imersa no meio universitário acredito sinceramente que os ares de uma boa faculdade vão ajudá-la a amadurecer um pouco mais. – pegou um pente e começou a se pentear em frente ao espelho do closet

 

O homem riu gostosamente. – Ora, querida, você parece que esqueceu como são os ares do tal meio universitário! – ajeitou-se na cama – Mais fácil ela fazer mais merd*s que o usual! – prestava atenção na esposa

 

--Sempre pessimista... – admirava-se diante do espelho – Stefany vai achar o rumo dela assim como achamos o nosso. – afirmou simplesmente

 

--Acontece que encontramos o nosso rumo porque construímos um caminho! – retrucou de pronto – Nossa filha constrói o que??

 

Deu um suspiro profundo e guardou o pente. – Ela não tem nem 20 anos, querido! – caminhou até a mesinha e pegou o notebook – Tem muita coisa pra viver ainda. – puxou a cadeira e se sentou

 

--Você vai trabalhar às... – olhou rapidamente para o relógio - três e quarenta da manhã? – não acreditava

 

--Sexo me desperta o espírito criativo, você sabe! – falava olhando para o computador – Tive umas ideias e quero registrar! – digitava rapidamente

 

Após uns segundos calado, o médico voltou a falar: -- Você já parou para pensar...? – cruzou os braços – A neurociência nos diz que o cérebro humano apresenta toda uma plasticidade para se moldar e modificar de acordo com o ambiente e suas interações com esse meio. – conjecturava – Como serão as gerações futuras se os jovens de hoje em dia se acostumarem com modelos de linguagem e outras ferramentas de IA resolvendo todos os problemas e tomando decisões? – olhava para Yesmin – Empresas como a BoFe estarão preparando uma geração inteira de pessoas limitadas, sem auto crítica e capacidade de resolver problemas por si mesmas? – provocou

 

Parou de escrever e olhou para o marido. – Todas as Big Techs, a BoFe e nossas principais concorrentes temos neurocientistas nas nossas equipes. – esclareceu – E o principal objetivo da BoFe é guiar as pessoas para uma conduta mais social e menos belicosa, moldando o futuro em bases seguras para a humanidade! – respondeu seriamente – Se algumas pessoas ficarem com preguiça de pensar, será apenas um efeito colateral que vai valer a pena.

 

--Humpf! – fez um bico – Amor, não me venha com essa! – fez um gesto de desprezo -- O que todos vocês querem é ganhar dinheiro! – provocou – E muito dinheiro!

 

Ficou indignada. – Falou o médico psiquiatra que cobra dois mil e quinhentos reais numa sessão de 50 minutos! – voltou novamente o rosto para a tela do notebook – Me poupe, tá, doutor Rogério? – digitava – E falando em dinheiro, amanhã à noite vou dar uma passadinha na casa de maama pra entender a fatura que me chegou por parte da agência! – reclamou – É turno da Zaida e eu tenho certeza que ela tem tudo a ver com isso!

 

Estranhou a brusca mudança de assunto e acabou achando graça. – Eu não consigo entender a implicância que você tem com essa cuidadora! – balançou a cabeça pensativo – Por que tantos ciúmes? Você acha que ela vai tomar o seu lugar de filha junto à dona Adma? – analisava a mulher

 

Novamente interrompeu o que fazia e olhou para o marido. – Eu divido a cama com você, meu bem, mas nunca o seu divã! – passou a mão nos cabelos – Me poupe, tá? – ajeitou-se na cadeira e voltou a digitar – “Ainda mais eu, que nunca suportei consulta de psiquiatra!” – pensou desaforada

 

***

 

--Então eu já deixei umas três mensagens nas redes sociais dela. – Zaida dizia – Acredito que lá pelas tantas sua neta vai ter a curiosidade de vir aqui conferir essa história. – olhava para a paciente – Vamos aguardar!

 

--Humpf! – fez um bico – A que ponto se chega! – resmungou – Pra minha neta lembrar que tem uma gidda, é preciso ficar dizendo a ela que fui estrela internacional! – deu um suspiro profundo – Se eu tivesse sido apenas dona de casa não teria valor? – questionou revoltada

 

--Claro que teria! – a cuidadora respondeu de pronto – Mas nesse caso minha estratégia pra atrair ela pra junto da senhora teria que ser outra.

 

As duas mulheres estavam no quarto da idosa. Adma na cama e Zaida massageando-lhe os pés.

 

--Você já escreveu pra ela, agora chega! – decidiu – Se quiser vir, venha. E se não, que se dane! – fez um gesto rápido – Não preciso de neta pra nada!

 

--Tá certa... Seja lá o que Deus quiser. – respondeu pensativa -- Vou deixar de prestar atenção nas coisas que ela posta. – continuava com a massagem – “E só posta besteira ou então assuntos de FalaGPiTaco. Não sei como alguém tão sem o que dizer pode ter tantos seguidores!” – pensou abismada

 

--Boa noite! – Yesmin se apresentou na porta do quarto – Tudo bem, maama? – aproximou-se e deu um beijo na testa da idosa – Cadê a outra cuidadora? – olhou para Zaida – Estamos sozinhas as três, o que houve?

 

--Boa noite. –a mulher respondeu desconfiada – Patrícia tá no banho. – observou a mulher puxar uma cadeira e se sentar

 

--Boa noite. – a idosa respondeu igualmente desconfiada – E as viagens pelo mundo? – olhava para a filha – Já voltou ou tem mais?

 

Cruzou as pernas. – Por ora, fico por aqui. – colocou a bolsa em cima da mesinha – Foi quase um mês de muitas coisas interessantes acontecendo e meus objetivos sendo conquistados. – novamente olhou para Zaida – Igualmente aqui constatei que muita coisa aconteceu! A fatura da agência que o diga!

 

--Sua mãe tem progredido muito! Sabia que ela já está mexendo as pernas nos exercícios de piscina? – contou a novidade – O fisioterapeuta acredita que em breve ela poderá ficar de pé e, quem sabe, até andar sozinha! – sorriu

 

-- Inshallah! (Se Deus quiser!) – Adma postou as mãos brevemente para cima

 

Surpreendeu-se. – Que maravilha! – sorriu – Mas... vamos aos termos práticos, para além das expectativas. – pegou o celular e abriu um arquivo – Quero entender cada novidade que me apareceu aqui nessa fatura! – começou a ler – Por que apareceram coisas como: Chai Hu Shu Gan Tang e Zhi Bai Di Huang Wan?  -- encarou com a cuidadora – Não me diga que você sacou agora um médico chinês pra tratar de maama e ele me apareceu com essas fórmulas miraculosas? – queria explicações – E essa história de mocha de carvão, auriculoterapia, máquina de ozônio...? – gesticulou – Até uma cuidadora nova me apareceu! Agora somos quantas mesmo?

 

--Essa agência é pura fofoca! – Adma reclamou de cara feia – Tudo cogoeta!

 

Zaida achou graça da forma como a paciente pronunciou o verbo cagoeta. – Vamos por partes. – interrompeu a massagem e caminhou até o armário da idosa – Estes são os remédios que constam aí. – abriu a porta e mostrou os frascos – Em um dos treinos de dona Adma na piscina conhecemos uma médica especialista em medicina chinesa e ela recomendou estes remédios para controle da osteoporose e reduzir as dores da sua maama. – pegou uma caixinha – Essas são as mochas de carvão. A gente usa pra ativar os pontos da acupuntura. – continuava explicando – E quem tem feito a aurículo e a acupuntura em dona Adma é essa mesma médica.

 

--Melhorei das dores à beça! – interrompeu a fala da outra – E eu gosta da máquina de ozônio! É pra fazer massagem nos pés e desincha tudo!

 

--Exatamente. – Zaida continuou – A gente enche uma bacia com água, ela mergulha os pés e a máquina fica borbulhando ozônio na água. – abriu outra porta do armário e mostrou o equipamento – Olha! – apontou

 

--Maama! – levantou-se – A senhora não acha que tem sido sugestionada? – cruzou os braços – Isso tudo me parece placebo e conversa pra boi dormir!

 

--AHHa! – protestou – Só eu sei o quanto tenho melhorado! – gesticulou revoltada – Se é tudo mentira, então eu quero continuar sendo enganada! – decidiu -- Vá pesquisar no seu GPiTaco sobre esses coisas e vê se aprende! Sabe nada!

 

Zaida achou graça, mas se segurou. – Quanto à cuidadora nova, continuamos na mesma quantidade de sempre. – terminava as explicações – Cleide pediu pra sair porque a família se mudou do Rio e no lugar dela a agência mandou a Quézila Maria.

 

--Humpf! – fez um bico – Ok, se a senhora quer continuar investindo nessas coisas, que continue assim. – olhou para Zaida – Mas de hoje em diante, antes de me inventar qualquer novidade, quero ser consultada a respeito! – falava com energia – Chega disso de gastar o dinheiro primeiro e me enviar a fatura depois! – olhava nos olhos – Afinal de contas, não se pode esquecer que a filha dela sou eu!

 

--EU nunca esqueço! – devolveu de pronto – E a senhora? Lembra disso? – desafiou

 

--Se for esperar você dar atenção, eu morro e nada de resposta sua! – Adma protestou

 

A CEO sentiu o sangue ferver e quando ia revidar foi interrompida por Patrícia. – Dona Yesmin, que surpresa agradável! – sorria como assistente de mágico – Bem que eu imaginei! Senti um cheiro de perfume maravilhoso e logo pensei: só pode ser ela! – bajulou

 

--Boa noite! – respondeu sem muita graça – Diga-me, Zaida... – voltou a atenção para a outra – Pra ser tão bem relacionada com médicos, fisioterapeutas, professores universitários, o que você faz da vida além de ser uma simples cuidadora? – provocou – Estranho como você tem tanto tempo pra se dedicar a maama um pouco além da conta!

 

--A vida me apresentou a estas pessoas de diversas formas e eu dei muito valor ao fato de tê-las conhecido! –afirmou com tranquilidade -- Eu me interesso por meu trabalho, por meus pacientes, me dedico e vendo isso, os profissionais de saúde tão sérios quanto eu, se interessam em colaborar. – não entendia a outra mulher – Estranho porque isso incomoda tanto a senhora!

 

--Olha, dona Yesmin, sua maama mora aqui! – Patrícia deu dois tapinhas sobre o peito – É uma dedicação que nem te conto!

 

Ignorou a mulher e insistiu com Zaida: -- Eu estranho sua postura, sim! Até parece que não tem mais o que fazer da vida! – pausou brevemente – Você é casada, tem filhos? – questionou – Sua família não reclama de tanta dedicação? – ironizou

 

--Eu sou separada e só tenho um filho! – Patrícia novamente se meteu – Ele não estranha nada! – fazia um tipo – Sabe da mãe dedicada que tem! – gesticulou com o dedo em riste – Eu sempre disse que ser mãe e cuidadora é padecer no paraíso! -- mentia

 

--Não tenho filhos, sou casada e... – respirou fundo antes de falar – Minha esposa não estranha nada porque ela sabe muito bem o quanto me dedico aos meus pacientes!

 

--Ah! – a engenheira riu brevemente – Não me faltava mais nada! – gesticulou – A cuidadora é entendida!

 

--Sapatão, gente?? – Patrícia arregalou os olhos – Se bem que... os homens andam uma merd* tão grande que eu até entendo! – falava consigo mesma – Só dá homem cu por aí!

 

--Onde está aquela que diz que só quer ovo? – Adma repetiu o que já ouvira da filha – Sinceramente, Yesmin, se tudo isso é por causa de fatura de agência, francamente! – reclamava – Você aí, fazendo rios de dinheiro com esse PiTaco e vem chorar miséria comigo? – estava chateada – Eu que não entendo!

 

--Não me interessa se ela é lésbica ou não, maama! – garantiu – O que eu quero é que se pare com isso de gastar primeiro e eu descobrir a novidade só na hora de pagar conta! – reclamava também – Isso não tá certo!

 

--Pois eu não gasto um centavinho sequer! – Patrícia falou resoluta – Comigo não tem surpresa! – gesticulava – Aqui é tudo no 0800!

 

--Tudo bem, dona Yesmin! – Zaida balançou a cabeça concordando – Não acontecerá mais! – prometeu

 

--É bom, porque se acontecer, você tá na rua! – ameaçou

 

--Graças a Deus, desse susto não morro! – Patrícia novamente se meteu

 

--E você vai pra rua também se abrir essa matraca pra se meter em conversa alheia mais uma vez! – Yesmin ameaçou a segunda cuidadora – Passar bem! – despediu-se e saiu pisando firme

 

--Zaida, sua louca, como fala com a patroa do jeito que você fala? – ralhou com a colega – Depois sobra até pra mim de me ferrar por tua causa! – reclamou

 

--Eu não tenho medo nenhum da dona Yesmin porque minha consciência é tranquila! – respondeu de imediato ao se aproximar da idosa – Se ela quiser me demitir... – voltou a massagear os pés da paciente – Vai tá na consciência dela!

 

--E eu ainda sou a maama dela! – Adma protestou – Se quiser te demitir vai ter!

 

--Eu também, né, dona Adma? – perguntou esperançosa – A senhora me defende, né? – sorriu para a idosa – Nessa hora lembra da Pat, sua cuidadora há mais tempo que a Zaida! – fez um charminho

 

--Humpf! – fez um bico – “Você que vá pro inferno!” – pensou sem verbalizar

 

***

 

--Pois eu lhe digo, dona Marluce! – fazia salamaleques – Madame Vivi tá vendo que fizeram muita pururuca pra cima da senhora! – arremessou uma carta na mesa fazendo um breve clarão aparecer – Olha a prova aí: as cartas explodem! – gesticulou enigmática

 

--Misericórdia! – a mulher se benzeu apavorada

 

--Foi tanto trabalho de magia negra e mandingaria pesada que chega dói! – Vivinácia continuava encenando – Vamos ver o que dizem meus búzios caipiras! – pegou alguns e arremessou sobre a mesa fazendo uma fumacinha preta despontar – Eita, que a coisa tá russa pro seu lado!

 

--Crê em Deus Pai! – benzeu-se nervosamente – Eu já fui em várias cartomantes, mas é a primeira vez que vejo uma mesa que treme, copos que andam, cartas que brilham e búzios que cospem fumaça! – benzeu-se mais uma vez – Tô apavorada! – confessou

 

--Tenha medo, não! – lançou um olhar sorumbático – Madame Vivi é médium de efeitos anímicos e consegue captar os miasmas dos feitiços que fazem contra meus clientes! – fez um gestual – Mas não vos lobrigueis e nem vos arreceie! – pausou brevemente – Não há mal que não se cure e madame sabe como desfazer qualquer obra de magia ou feitiçaria! – pegou um lenço cor de rosa, girou no ar e o deslizou perto da orelha da mulher – Madame Vivi sabe fazer brotar rosas até debaixo de uma pedra! – fez surgir uma rosa e a entregou para a cliente

 

--Meu Deus! – arregalou os olhos – Nunca vi tanto poder! – segurou a rosa embevecida

 

--Madame Vivi nasceu na cidade mais mística desse país: Muçambinho d’Oeste! – fazia um gestual – Situada no coração de Goiás, aquela cidade recebe OVNIs do mundo todo! – mentia descaradamente – Madame foi criada na base da cultura alienígena! – agitava o lenço –Fui abduzida, mamei em teta de ET, vi a verdade nua e crua no olho e me tornei essa que a senhora vê: -- fez um suspense – uma mulher de poder! – bateu uma palma e um forte estrondo se fez ouvir

 

--Minha Nossa! – encolheu-se toda na cadeira – Madame, que a senhora tem poder eu já sei, mas... – pensava em como perguntar – Como faço pra anular toda obra de feitiçaria que fizeram contra mim? – queria saber

 

--Acalme vosso coração opresso, mulher! – falava com voz hipnótica – Vou lhe passar uma listinha de uns trem pra comprar, a senhora me paga uma quantia simbólica de três mil reais e o resto é comigo! – espremeu os olhinhos

 

--Três mil? – perguntou indignada – Que isso, madame, tá pegando pesado, né?

 

--O QUE?? – bateu com o pé no chão fazendo-se ouvir um grande estrondo –Não ouse contestar as orientações de madame Vivi! – advertiu – Ou vosso futuro será maligno!

 

--Calma, tudo bem! – endireitou-se na cadeira – Eu pago! – decidiu – É só me dizer o que fazer, explicando tudo direitinho, e eu pago!

 

--Sábia decisão! – sorriu misteriosa – Deixe-me seu número de celular e daqui a pouco lhe mando uma mensagem explicando tudo! – olhava para a mulher –  E madame só trabalha no Pix, mas pode parcelar. – sorriu -- “Nunca foi tão fácil!” – pensava – “FalaGPiTaco, eu te amo!”

 

***

 

Uma polêmica reunião docente acontecia em uma escola particular na zona sul do Rio de Janeiro.

 

--Eu não tenho mais nem gosto de passar trabalho de pesquisa pros alunos porque ninguém tá pesquisando mais nada! – uma professora se queixava – Depois desse tal de FalaGPiTaco e de toda propaganda que nossa aluna Stefany vem fazendo sobre ele, os alunos simplesmente pedem pra IA fazer a tarefa, dão control C, control V, fazem uma capinha trans*da e entregam! – olhava para os colegas – E não adianta querer proibir de usar, porque eles conhecem milhões de subterfúgios e você fica sem conseguir provar que eles usaram!

 

--Até nas provas esse modelo de IA tá interferindo! – um professor se pronunciou – Stefany e as amiguinhas dela tiveram um aumento de desempenho considerável! – gesticulou – Primeiro pensei que estivessem colando, mas não! – balançou a cabeça negativamente – Com certeza é por causa desse GPiTaco!

 

--Eu ando super desconfiada com essas jovens! – outra professora falou – E elas tiveram esse aumento de desempenho desde antes do lançamento do FalaGPiTaco! – lembrava – Sei lá, mas desconfio que elas estejam invadindo nossos sistemas de alguma forma e roubando os gabaritos das provas! – acusou

 

--Que é isso?? – a diretora se alarmou – Eu não acredito que a dona Yesmin iria colocar algum subordinado dela pra fazer algo assim! – discordou – Se tivesse que ter feito isso já teria feito há tempos!

 

--É, mas esse é o último ano da filha dela no Ensino Médio! – um coordenador salientou – Essa garota sempre passou de ano aos trancos e barrancos!

 

--Eu ainda acho que isso é coisa do GPiTaco! – outra professora insistiu -- Sabe lá se agora querem que ela brilhe pra poder promover essa IA? – levantou a hipótese – Lembrem-se que como filha da CEO da BoFe, ela e as amiguinhas íntimas não precisam esperar o lançamento do modelo de IA pra utilizá-lo! – cruzou as pernas – Além do mais, TODOS os alunos da escola estão viciados nesse GPiTaco, especialmente com Stefany postando verdadeiros tutoriais de uso nas redes sociais dela! – comentou

 

--Gente, sinceramente? – um professor resolveu se pronunciar – Acho que vocês tão fazendo uma tempestade num copo d’água! – considerou – Eu tenho usado o GPiTaco pra fazer meus planos de aula, elaborar provas, gabaritos, corrigir trabalhos... – sorriu – E com isso minha produtividade aumentou demais! O que eu fazia em dias tenho feito em horas!

 

--Só faltava essa! – outro professor reclamou de cara feia – Se até a gente adotar o caminho da preguiça, onde é que vamos parar?

 

--Usar uma ferramenta tecnológica pra aumentar a produtividade é ser preguiçoso? – uma professora reclamou – Por que você vem trabalhar de carro? Usa cavalo então! – provocou

 

--Daqui a pouco vão questionar substituir a gente por essas IAs, vocês vão dar mole? – outra professora salientou

 

--Substituir os incompetentes pode até ser! – outro professor discordou – Os bons, jamais!

 

--Ah, tá vai nessa! – duas professoras disseram ao mesmo tempo

 

E um falatório desordenado tomou conta da reunião.

 

--Gente, por favor, vamos controlar os ânimos! – a diretora pedia em vão – Gente! – olhava para os colegas falando todos ao mesmo tempo – Aff! – suspirou desanimada

 

--Aí, tão sabendo? – Tatiana sentou-se do lado das amigas para contar as novidades – Professorada quebrando o pau na sala de reunião por causa do GPiTaco! – achava graça – Tayná passou por lá agora, disse que ouviu partes da conversa e o pau tá comendo! – riu

 

--Caguei! – Stefany deu de ombros – Deixa eles! – cruzou as pernas – O que eu quero saber é da festa do DJ G-TECH hoje à noite. Tão dentro? – convidou

 

--Com certeza! – Luiza respondeu – Mas, olha só; tô bolada com uma coisinha. – apontou uma direção com o queixo – A hacker baranguda já passou por aqui umas três vezes. Acho que ela tá querendo falar contigo. – olhou para Stefany

 

--Que se dane ela! – respondeu de pronto – Temos um trato muito claro: a gente não se conhece, não se fala, não tem contato nenhum! Ninguém pode imaginar que um dia a gente sequer conversou!  – olhava para as amigas – Ela sabe o que tem que fazer. Não tenho mais o que dizer! – deu o assunto por encerrado – E aí, Tati? Vai na festa hoje ou não? – insistiu

 

--Demorou! – a jovem confirmou

 

“Puta merd*, ela nem me olha!” – Fernanda pensou reparando nas três garotas – “Tô com umas ideias, queria saber se ela vai concordar... Acho que a mãe dela ia ficar impressionada!” – suspirou – “Seja lá o que Deus quiser!” – decidiu ir embora

 

***

 

--E daí essa dor nas pernas acontece só à noite? – o médico perguntava enquanto digitava no computador – Fale um pouco mais sobre isso, dona Mavica. – pediu

 

--É Malika! – respondeu desconfiada – É, a dor acontece à noite, mas nem sempre. É só quando eu ando muito de dia ou quando o tempo esfria. – esclareceu – Não sei se é reumatismo ou o que seria isso. – olhava para o homem – Nunca fui de ter dor!

 

--E a senhora toma algum remédio pras dores? – continuava olhando para o computador – Aliás, a senhora é hipertensa, diabética...?

 

--Não tomo remédio e nem tenho hipertensão nem nada. – reparava no homem  – “É o diabo do médico que nem olha pra minha cara de tanto que fica vidrado em computador e Nazira que não larga desse celular!” – pensou ao olhar brevemente para a mulher

 

“GPiTaco, ainda não arrumei jeito de descobrir o verdadeiro nome do nerd!” – digitava rapidamente – “Dá uma luz, o que eu faço?” – esperou resposta

 

Que tal ficar aguardando desde manhã cedo no andar do apartamento dele? – sugeriu – As pessoas costumam a sair para trabalhar nas primeiras horas do dia! – complementou

 

“Aí, não! Como faço com dona Malika?” – digitava – “Ela acorda cedo e já amanhece o dia me pedindo as coisas!”

 

--Qual o seu peso e altura, dona Matika? – o médico permanecia digitando e olhando fixamente para o monitor

 

--É Malika! – corrigiu novamente – Eu tô com 60 kg. A altura não tenho certeza. Deve ser... 1,57m, não sei.

 

--Ok! – digitava – E... dona Makita, a senhora tem histórico de queda, coisa assim?

 

--É Malika! – corrigiu impaciente – Não, eu não vivo caindo pelos cantos! – estava de cara feia

 

O médico gastou uns segundos digitando em silêncio.

 

Fica difícil lhe sugerir o que fazer pois são muitos impeditivos. – o modelo de IA respondia – Talvez você vá precisar contar com a sorte. Quer que eu faça um cálculo probabilístico para estimar o tempo de espera que você vai ter até encontrar com o nerd do seu prédio? – ofereceu

 

“GPiTaco, daqui a pouco faço 29!” – Nazira digitava – “Não tenho tempo pra calculeta! Quero casar, meu bem!” – revoltou-se

 

Revoltada com a espera e o silêncio ao redor de si, Malika resolveu falar: -- Doutor, será que o senhor podia parar de futicar esse computador e me dar um pouquinho de atenção? – cobrou chateada – Desde que cheguei aqui o senhor ainda nem olhou pra minha cara!

 

--Mas eu tô dando atenção, senhora! – continuava sem olhar para a paciente – É que tava usando o FalaGPiTaco pra ver se descobria o que a senhora tem. – digitava – Agora vou perguntar pra ele o que devo lhe receitar! – esclareceu – Tenha calma, sim?

 

--Mas agora veja isso! – levantou-se revoltada – Nazira, vamos embora! – chamou pela outra – Não quero ser tratada pela praga de um doutor que precisa de fuxico de computador pra fazer o trabalho de médico! – percebeu que a mulher não ouviu o que dizia – Vambora, criatura! – deu-lhe um tapa na orelha

 

--Ai! – esfregou a orelha e se levantou – Ah, tá! – respondeu sem nem saber o que dizia

 

--Dona Mazika, o que é isso? – olhou para a mulher pela primeira vez – Eu sou um médico de muita competência, apenas tô usando de tecnologia pra atender meus pacientes cada vez melhor e...

 

--Ah, vai pro inferno! – fez um gesto de desagrado e caminhou para fora do consultório – Vambora, Nazira! – chamou de novo

 

--Vamos! – olhou desconfiada para o médico – O senhor é casado? – perguntou

 

--Mas... – o médico estava desconcertado – Sou, por que? – não entendeu a pergunta

 

--Então fique praí mesmo! – jogou os cabelinhos – Passar bem! – seguiu os passos da idosa

 

--Que mulheres doidas! – o homem voltou a atenção para o computador – “E agora, GPiTaco? A paciente foi embora, faço o que?” -- digitava

 

--O mundo tá perdido mesmo! – Malika resmungava – Até médico nessa danação com negócio de Pitaco! – seguiam caminhando pela rua – Tá tudo errado!

 

--É mesmo, né? – Nazira concordou – É cada coisa! – digitava enquanto caminhava – Tá amarrado! – falava sem prestar atenção ao que dizia – “Vai pensando aí e vê se me dá uma sugestão melhor! Até agora suas ideias não tão me ajudando a resolver o mistério do nerd! – reclamava com o modelo de IA

 

Pode deixar. Vou consultar minhas bases e te dou um retorno tão logo você me procure novamente. – respondeu – Até a próxima! 😉

 

Fim do capítulo