Malika e Nazira saiam do prédio quando cruzaram com um homem que passou por elas como uma flecha. A mulher mais jovem apenas suspirou.

 

--A julgar pela sua reação mansa e pelo fato de ter voltado a se vestir como gente normal, deduzo que você desistiu do tal nerd do prédio. – a idosa comentou – “Até que essa paixonite durou pouco!” – pensou

 

--Ah, dona Malika, eu sou uma mulher criteriosa, sabe? – respondeu enquanto caminhavam – Não posso querer me casar com um homem que atende pela alcunha de Jacinto Pikas. – justificou-se – Imagine como seria isso! E o trauma dos futuros filhos? – lembrava-se de seu sonho – Não, melhor não!

 

--O nome dele é esse?? – chocou-se – Eu hein, é cada coisa! – balançou a cabeça contrariada – Seja como for, você sabe que vou na igreja agora. Então já que preferiu ir fazer as compras da semana no mercadinho, vê lá se não vai ficar atrás de homem enquanto isso! – advertiu – Nada de se meter em encrenca!

 

--Ih, que é isso? – retrucou ofendida – Até parece que ando à caça de homens no mercadinho. – fez um tipo – “Quase nem tem homem por lá!” – pensou – “Eu vou antes dar uma passadinha naquela loja de material de construção que abriram recentemente!” – decidiu – “Esses lugares sim costumam viver cheios de homens!”

 

***

 

--Fazia muito tempo que eu não me confessava, padre Assumpção, mas aquele seu sermão sobre perdão e recomeço não saiu da minha cabeça e me incentivou a vir lhe procurar. – admitiu – Nunca lhe disse isso, mas carrego uma cruz há muitos anos. – pausou brevemente – Vivo sob o peso do arrependimento por ter escorraçado minha única filha e ao mesmo tempo não sei se devo voltar atrás porque continuo não aprovando a escolha de vida dela. – suspirou – Há 12 anos não a vejo e há 6 anos não tenho quaisquer notícias dela.

 

--E por que isso, dona Malika? – o padre não entendia – O que a levou a tomar atitude tão drástica?

 

Gastou uns segundos calada antes de responder. – Eu... descobri que ela era lésbica quando estava com 18 anos... – respondeu pensativa – Fiz de tudo pra que se emendasse, mas não teve jeito. – rememorava – Aí expulsei de casa. – novamente se calou – Minha cunhada Elmira e o marido tinham um único filho que morava em Goiás há muito tempo e talvez por isso a chamaram pra ir morar com eles. De quando em vez ela me dava notícias de Zaida. – suspirou -- E assim foi por seis anos, até que os dois morreram num acidente de carro.

 

--Sinto muito por tudo isso. – o padre respondeu – E o que se deu de sua filha Zaida depois da morte destes tios? – perguntou curioso

 

--Do que soube, o filho deles voltou pra cuidar do inventário, vendeu o imóvel e não sei onde Zaida foi parar. Por isso nunca mais tive notícias. – contava

 

--E sua filha nunca veio lhe procurar? – queria saber – Ela não tentou uma reconciliação?

 

--Enquanto vivia com minha cunhada, ela tentou; eu que não dei brecha. – assumiu envergonhada – No mesmo ano em que Elmira e o marido morreram, mas antes disso acontecer, decidi me mudar prum apartamento que meu marido herdou de um tio em Bonsucesso e vendi o nosso. – explicava -- Fazia tempo que eu queria me mudar de lá pra poder fugir das lembranças de tudo que houve desde que descobri a verdade sobre Zaida. – pausou mais uma vez – Minha filha nunca soube desse apartamento porque o processo de herança tomou muito tempo, meu marido e eu nunca comentamos sobre isso com ela, ele morreu, aí tive que passar tudo pro meu nome e quando finalmente o enrosco se resolveu foi justo naquele ano do acidente... em resumo, ela não sabe onde moro.

 

--E com tudo isso as duas se perderam... – o padre concluiu o final da história – Pena que tenha sido assim. Mas a realidade pode mudar, por que não? – pausou brevemente -- Dona Malika, é importante entender que quando Deus nos presenteia com a maternidade ou a paternidade é pra que nós sejamos tutores daquela vida que desabrocha através de nós, mesmo que não concordemos com alguma coisa que nossos filhos façam ou escolham para si. – falava sem acusação – Se sua filha é lésbica, cabe somente ao Pai Celestial julgá-la; não a nós. – ponderou – O importante é que ela conduza sua vida sob a prática do Bem ao próximo, honrando a Deus com o coração puro. E se não é o caso, a senhora como boa cristã pode ajudá-la a se encontrar, sem por isso bater de frente com a opção sexual dela. – aconselhou – As redes sociais estão aí e talvez a senhora possa usá-las para procurar por Zaida. – pensava em como resolver o caso – E, acima de qualquer coisa, orar todos os dias pedindo a nossa Mãe Maria Santíssima que se apiede e lhe mostre como encontrar sua filha. Recomendo que faça também uma novena a Santo Expedito.

 

Malika ouviu atentamente e nada respondeu.

 

***

 

--Perdoe a demora, mas é muito complicado costurar com certos materiais sem causar avarias. – a costureira se justificava – No entanto creio que fiz a roupa conforme você me encomendou. – olhava para Stefany – “Se é que se possa chamar isso de roupa!” – pensou

 

--Demorou! – recebeu a sacola das mãos da outra – Segura aí que eu vou provar! – correu para o banheiro da suíte

 

--Eu espero. – acomodou-se em uma cadeira que havia no quarto da jovem

 

Minutos depois...

 

--Caraca, ficou foda! – Stefany apareceu trajando a roupa – Quando eu usar isso aqui na night vai ser pra abalar geral! – deu uma voltinha – Ficou perfeito! – sorria

 

--Ah, é, vai abalar... – a costureira fingiu que concordava – “Mais fácil ser presa!” – pensou

 

A jovem usava um macacão quase totalmente transparente, no qual somente uma pequena parte do sex* e nádegas estavam cobertos. Nos seios apenas os mamilos ficavam parcialmente tampados.

 

--Passa teu Pix que daqui a pouco vou te pagar! – a jovem se admirava em frente ao espelho do closet

 

--Passo sim. – concordou – É... – pensava em como perguntar – Seus pais concordam com esse tipo de moda? – perguntou reticente – “Se fosse minha filha jamais que eu deixava usar uma desgraça dessa!” – pensou

 

--Ih, se liga, ow! – fez um gesto de desprezo – Eu não peço permissão a ninguém! – continuava se admirando no espelho – O que Stefany quer, Stefany tem! – sorriu para si mesma – Agora é só esperar o momento certo de estrear!

 

***

 

Era noite e Vivinácia e a dona do falso terreiro onde trabalhava discutiam sobre a atuação da cigana caipira.

 

--Olha só, eu não quero problema por sua causa! – a mulher advertia – Essa sua montagem é caricata demais! – olhava para a diarista – Além de me inventar essa de cigana caipira ainda tem o detalhe do tarô caipira! Nunca vi isso! – balançou a cabeça contrariada – Não só eu como ninguém mais, né?

 

--Mas é esse o meu diferencial, uai! – retrucou de pronto – Ciganas e falsas ciganas existem aos montes! Cigana caipira sou apenas eu! – gesticulou – Por isso que sua sócia me convidou pra labutar aqui!

 

--Humpf! – fez um bico – Dia desses uma cliente importante decidiu se consultar contigo e antes de ir embora ouvi que ela comentava com outra mulher sobre você e esse tal tarô. – contava – Não me parecia convencida de que era coisa firme e me deixou muito preocupada! – andou em pequenos círculos – Desde o começo eu disse pra minha sócia que não me descia uma farsante como você e só de pensar que seu baralho tem cartas como o menino da porteira, bicho de ruma, panela véia e fuça de caveira já fico esperando pelo pior!

 

--Ora, pois deixe de peitica! – discordou – Madame Vivi existe há anos e nunca que dei uma rata ao longo dessa carreira solo de sucesso! – gesticulou com o dedo em riste

 

--Você deu foi muita sorte, isso sim! – devolveu de pronto – Além de estar acostumada a lidar com gente ignorante das coisas do mundo espiritual. – mirava os olhos da outra – Se quiser continuar aqui, trate de estudar sobre o esoterismo, além de conhecer ao menos o mínimo sobre umbanda, kardecismo e mediunidade! – ordenou – Ou estuda ou vai pro olho da rua!

 

--Oxe! – arregalou os olhos – Isso aqui é o que? – cruzou os braços indignada – Um terreiro falsificado ou faculdade espírita? – riu brevemente – Não me venha com essa porque não tenho tempo sobrando pra estudar! – respondeu com desdém

 

--Ah é? – retrucou igualmente debochada – Ou estuda ou você tá fora! – ameaçou – Daqui por diante, quero te ver queimando a mufla, senão quem vai te queimar sou eu! – olhou para a outra de cima a baixo – Agora vai trabalhar que nossa vida não tá ganha!

 

--Humpf! – fez um bico – Tô indo! – saiu da sala e foi para o banheiro se trocar – Onde já se viu? Querendo que eu estude! – resmungava sozinha – Bestagem!

 

***

 

Yesmin e o marido estavam deitados na cama. Haviam feito amor e conversavam. Ambos estavam deitados de barriga para cima.

 

--Ultimamente Stefany tem militado nas redes sociais em prol do seu projeto FalaGPiTaco. – o homem dizia – Além de ficar te babando, ainda posta uns vídeos se mostrando estudiosa ao mesmo tempo em que vai pra balada com as amigas fazer as mesmas merd*s de sempre. – criticava – Pra mim é muito claro que ela tá armando alguma e quer nos convencer de que se tornou minimamente responsável.

 

--Calma, doutor Rogério. – a mulher respondeu relaxada – Vamos ver o que vai ser quando as notas dela aparecerem. – pausou brevemente – Muito me agrada que ela esteja buscando trazer o interesse dos jovens pro projeto mais ousado da BoFe e como diria meu diretor de marketing: “não quero saber se o pato é fêmea ou macho; eu quero é ovo!”

 

Riu brevemente por achar absurdo. – Fico pasmo com certas coisas que você fala, sabia? – virou o rosto de lado e olhou para a esposa

 

--Assim como fica pasmo com certas coisas que eu faço. – olhou para ele também – Inclusive na cama! – beijou-o brevemente nos lábios e se levantou – Stefany pode ser louca mas não é maluca. – caminhou até o banheiro da suíte – Ela sabe que vai ter que se enquadrar se quiser manter o padrão de vida que tem. – sentou-se no vaso sanitário – Quem me intriga não é bem ela, mas uma das cuidadoras de maama. – pensava em Zaida – Em pouco tempo trabalhando na casa parece que fez uma revolução! – limpou-se e se levantou para dar descarga – Acredita que maama iniciou um tratamento com hidroterapia e já aceita até passear de cadeira de rodas na orla? – lavou as mãos – Não anda mais tão reclamona, conversa com as cuidadoras... – secou as mãos – É de se admirar!

 

--E por que isso te intriga? – Rogério perguntou sem entender – Talvez o que faltava na vida da dona Adma fosse exatamente isso: alguém que lhe desse um mínimo de atenção!

 

--Ah, tá, até parece que não faço isso! – respondeu desaforada ao voltar para cama – Apenas não tenho tempo disponível pra viver em função de ninguém! – deitou-se novamente – Também acho esquisitíssimo que uma mera cuidadora conheça médicos e fisioterapeutas renomados que ainda sabem quem ela é e cubram de elogios!

 

--Continuo sem entender o motivo da sua cisma. – continuava olhando para a mulher – Será que isso não seria uma coisa chamada ciúme? – provocou

 

--Ah é, tô morrendo de ciúmes da Zaida! – debochou – Uma morena sem sal, pobre e com um cotidiano sufocante e super sem graça! – ajeitou-se na cama – Eu acho que ela quer conquistar maama pra ver se ganha alguma vantagem. Parte na herança dela ou coisa do gênero! – acusou

 

Riu mais uma vez. – Então ela perde tempo, porque sua mãe tem absolutamente nada além de bugigangas! – virou o rosto na direção do teto – Tudo tá no seu nome, ela não tem renda e nada mais valioso que lembranças do passado.

 

--É, mas Zaida pode pensar o contrário disso aí! – novamente acusou – Mas eu tô prestando atenção e ao menor deslize, mando que a coloquem no olho da rua!

 

Rogério nada respondeu e fechou os olhos querendo dormir.

 

***

 

--Você acha que eu pode melhorar? – Adma perguntava – Aquele fisioterapeuta disse que talvez pode voltar a andar! – queria ter esperanças

 

--E por que não? – respondeu com carinho – Deus pode nos trazer surpresas muito bem-vindas se a gente luta por uma vitória!

 

Zaida empurrava a cadeira de rodas da idosa enquanto passeavam na orla.

 

--Talvez... – respondeu pensativa – Cadê aquela uma? – olhou para os lados procurando pela outra cuidadora – Disse que ia comprar meus remédios e sumiu! – reclamou

 

--A senhora sabe que de vez em quando ela é chegada a uns sumiços. – respondeu brincalhona – Mas conhece muito bem seu endereço e não vai se perder por aí. – continuava empurrando a cadeira – Mudando de assunto, consegui fazer uma listinha da sua discografia e ao menos acho que descobri o nome de pelo menos a maioria de suas músicas. – contava – Já baixei quase todas e vou começar a ouvir quando pegar tudo. Depois queria sua ajuda pra traduzir e entender o que se diz. – pediu – Também queria que me dissesse os nomes dos filmes em que trabalhou porque isso aí tá mais difícil pra mim.

 

Estranhou o pedido. – Tá. – respondeu simplesmente

 

--É verdade que a senhora foi responsável pela composição de quase todas elas? – perguntou interessada – Fazia letra e música?

 

--Verdade. – confirmou – Letra eu sozinha e música com ajuda de outros. – esclareceu – Só gravei três músicas que não eram minhas.

 

--Fico orgulhosa da senhora! – estava sendo sincera – Tem sido legal pesquisar sobre sua história e também gosto muito desse convívio que temos pra irmos nos conhecendo melhor. – admitiu

 

Ficou feliz ao ouvir, mas ao mesmo tempo desconfiada. -- Por que? – queria saber – Se pensa em ganhar herança meu desista porque meu marido perdeu tudo que tínhamos na pata do cavalo. – foi logo dizendo – Além desse vício no jogo se perdeu em outras bobagens e foi enganado por sócios. – falava com mágoa -- Quando me deixou estávamos praticamente falidos. Nem sei como aquela moça quis ele! – referia-se à amante do homem – Tudo de valioso que você pensa que tenho é de Yesmin.

 

--Não mesmo porque sua alma nunca será dela; isso é valioso! – parou com a cadeira e deu a volta para ficar de frente para a idosa – Eu não sou movida por coisas materiais e já me acostumei a ser pobre e lutar com dificuldade. Embora isso canse, não me magoa, nem revolta. – dizia a verdade – O que me interessa nas pessoas é o que está aqui. – tocou suavemente na direção do coração da outra – E aqui. – tocou a testa – Pode acreditar! – beijou-lhe a cabeça

 

Adma sentiu uma felicidade como há muito não se lembrava.

 

***

 

Sozinha em casa e após ter feito serviços domésticos, Zaida descansava no quarto navegando na internet pelo celular. Sabia que deveria estar dormindo para se refazer para o próximo plantão com Adma, porém continuava desejosa por encontrar algo do filme onde a cantora estreou fazendo sua primeira dança do ventre no cinema. Após muito buscar, encontrou um fragmento que mostrava exatamente a cena da dança.

 

--Finalmente! – exclamou empolgada – Vamos ver como foi isso! – clicou para assistir

 

(Nota da autora: se quiserem ver uma dança do ventre deliciosamente interpretada, assistam a cena do filme Wakr Al Ashrar disponível aqui – https://www.youtube.com/watch?v=te-mAHP5NiA)

 

Zaida ficou imediatamente encantada com a graciosidade dos movimentos de Adma e se sentiu transportada para aquela época. Imaginava-se assistindo ao vivo àquele show de arte e sensualidade, o que a fez repetir o vídeo várias vezes como se desejasse eternizar o momento.

 

***

 

--Aff, cansei! – Nazira jogou-se na cadeira e mirou a mulher diante de si – A senhora perdoe, mas tive que fazer uma verdadeira maratona grega pra vir aqui fazer uma consulta! – confessou – Se dona Malika sonhar de saber disso ela me arranca o fígado! – passou a mão nos cabelos – E eu vim porque vi uma propaganda sua num poste e me interessei. Ainda mais que era um poste em frente a uma loja de material de construção e isso me pareceu um bom sinal!

 

Vivinácia não entendeu a relação entre uma coisa e outra, mas não questionou. – Madame Vivi sempre sabe quem se senta nessa cadeira e sempre capta o desejo daqueles que a procuram, mas prefere ouvir da própria boca da pessoa. – espremeu os olhinhos – Diga moça, -- debruçou-se sobre a mesa – quem é você e o que quer? – esperou a resposta – “Essa aí parece totalmente despinguelada!” -- pensou

 

--Ah, vamos lá! – cruzou as pernas – Meu nome é Nazira, sou governanta de uma idosa e busco me casar! – foi direto ao ponto – Só que hoje em dia tá difícil, viu? – desabafou – Só dá homem estranho ou que não quer compromisso ou que já vem casado e só quer saber de saliência! – olhava para a falsa cigana – Cansei, né? Quero um homem pra chamar de meu, mudar de vida e acima de tudo, desencalhar!

 

--Entendo, compreendo... – estudava o rosto da outra – E o que você busca num companheiro, uai? – prestava atenção em cada gesto da cliente – Beleza, charme, dinheiro? – queria saber – Eu já sei a resposta, mas quero ouvir de você o que abunda nesse peito! – fazia um tipo

 

--O que eu busco? – suspirou – Sabe... – gastou uns segundos calada – Sabe o que é ser prioridade de ninguém? – mirou um ponto no infinito – Fiquei órfã muito cedo, sempre fui empregada de alguém e nunca tive uma pessoa que me olhasse e me visse. – admitiu com certa tristeza – Eu queria alguém que, apesar de todas as minhas maluquices e trapalhadas me amasse como sou... – pausou brevemente – Eu queria saber o que é um amor sincero, companheiro... não precisava ser aquela coisa de cinema com vento soprando nos cabelos, música de fundo e coraçãozinho no ar! – gesticulava – Queria apenas que fosse real.

 

Vivinácia sentiu-se profundamente tocada por aquele relato e decidiu não abusar da inocência da mulher diante de si. – Eu sei o que você sente, moça. – respondeu com sinceridade – Também fui prioridade de ninguém por muitos anos até encontrar o amor. – pensava em Zaida – Até encontrar alguém que me ama apesar de tudo, de todos os meus erros, que foram e são muitos. – confessou – Não busque ajuda comigo e nem nesse tipo de lugar. – aconselhou com carinho – Peça a Deus que lhe apresente a pessoa certa, cuide de si com amor, se valorizando, e o homem certo virá. – pegou a bolsa e a abriu – Ganhei esse terço de uma cliente que muito me agradeceu porque a livrei de ser lesada por um vizinho – entregou o objeto a Nazira – Reze com ele e tenha fé, que Deus vai lhe atender.

 

--Nossa, que coisa forte! – emocionou-se – Eu vou seguir seu conselho! – sorriu – E que me venha um homem com nome normal! – desejou

 

Achou graça. -- Agora vá. – pediu com brandura – Comece a rezar hoje e tenha fé. – sorriu com sinceridade – Tudo vai dar certo!

 

--Obrigada. – guardou o terço na bolsinha – E quanto lhe devo? – procurava dinheiro – Dependendo de quanto for posso pagar à prestação? – perguntou

 

Achou graça novamente. – Nada! – recusou – Essa consulta é um presente de madame Vivi pra você.

 

--Poxa! – exclamou satisfeita – A senhora é mesmo incrível! – levantou-se – Muito agradecida! – segurou a mão da outra e a beijou – Saravá minha mãe! Axé!

 

--Axé! – retirou a mão devagar – Vá com Deus!

 

Após a despedida de Nazira, Vivinácia decidiu que não mais permaneceria no falso terreiro naquela noite e também partiu.

 

***

 

Zaida chegava em casa e surpreendeu-se ao ver que a esposa a esperava sentada na poltrona da sala.

 

--O que foi, amor? – fechou a porta desconfiada – Esperando na poltrona a essa hora? – aproximou-se da esposa e reclinou-se para beijá-la rapidamente nos lábios – Não foi trabalhar, aconteceu alguma coisa? Tá se sentindo mal?

 

Levantou-se do sofá e parou diante da outra. – Não, nada disso. – segurou as duas mãos dela – É que ontem conheci uma cliente que me disse umas coisas que me tocaram profundamente! – pensava em Nazira – Ela me fez me lembrar o quanto sou sortuda que chega dói por ter um amor! – olhava nos olhos – O seu amor!

 

--Nossa! – arrepiou-se e sorriu

 

--Eu sei que você tá cansada e não tava aqui pensando em fazer amor. – colocou-a no colo sem que esperasse – Tava pensando em cuidar de você. – seguiu andando para o banheiro

 

--Adorei a surpresa! – beijou a bochecha de Vivi – E qual o roteiro?

 

Chegaram no banheirinho. – Você vai ver. – colocou-a novamente de pé – Você vai ver. – puxou-a pela cintura e beijou-a com paixão

 

***

 

Meses depois...

 

--Você jura que vai ter coragem de descer desse carro vestida assim? – Luiza perguntou descrente – Cara, nem você pode ser tão maluca! – achava graça

 

--Às vezes parece que você me conheceu ontem. – colocou os óculos de noite e ajeitou os cabelos – O que Stefany Zahia Torricelli Beckman diz que vai fazer, ela faz! – segurou a maçaneta da porta – Faz como combinado e grava TUDO! – abriu a porta e desceu do carro

 

--Essa porr* é muito louca! – ajeitou os cabelos e desceu também – Que comece o show! – celular a postos para filmar – Aí, galera, essa noite vai entrar pra história! – iniciou a narração

 

Fim do capítulo