--MEU PESCOÇO, MEU PESCOÇO!! – Adma gritava – TÁ DOENDO!!

 

--Calma, dona Adma, fique calma. – Zaida pedia – Eu vou fazer massagem, fique calma. – começou a pressionar cuidadosamente o pescoço da idosa – Patrícia, prepara a compressinha morna, por favor? – pediu para a colega

 

--TÁ DOENDO, TÁ DOENDO! – continuava gritando

 

--Vou fazer agora! – Patrícia correu para a cozinha – Daqui a pouco tô de volta! – falou mais alto para ser ouvida – “Graças a Deus ela pediu isso, porque não tem coisa que eu odeie mais do que aturar a gritaria dessa velha!” – pensou contrariada

 

--TÁ DOENDO, TÁ DOENDO! – berrava – FAZ PARAR!!!

 

Patrícia colocou a bolsinha no microondas e ficou parada esperando esquentar.

 

--AI, MEU DEUS, MEU DEUS, POR QUE ESSA DOR, MEU DEUS?? – a idosa se lamentava

 

Assim que tirou a compressa do forno e a enrolou na toalha, a campainha toca. -- Quem será? – perguntou-se curiosa antes de olhar pelo olho mágico – Meu Deus! – abriu a porta rapidamente – A senhora deve ser a dona Yesmin! – abriu um sorriso – Meu nome é Patrícia e sou sua fã! – apertou-lhe a mão empolgadamente – É uma verdadeira honra conhecer a senhora! -- bajulava

 

“A casa tá diferente!” – pensou desconfiada ao entrar -- Obrigada. – deu um sorriso formal ao soltar a mão da outra – Zaida está aqui hoje, certo? – continuava reparando na casa

 

“Mas o que diabos essa Zaida tem?” – pensou revoltada – Lá no quarto com a mãe da senhora. – respondeu disfarçando a contrariedade -- E eu já tava indo levar uma compressinha morna pra colocar no pescocinho da dona Adma. – fez uma média

 

--Pode deixar que eu levo. – pegou a compressa das mãos da outra –Enquanto isso, pode ir lá no Arab fazer um lanche, aproveitando que eles fecham bem tarde. – tirou do bolso do blazer duas notas de cem reais – Creio que será suficiente. – entregou o dinheiro nas mãos da cuidadora

 

--Ah, sim! – recebeu o dinheiro imediatamente – Vou lá, tá? – apertou novamente a mão da outra – Prazer lhe conhecer! Sou fã, viu? – despediu-se com um gesto e partiu – “Pois sim que vou lanchar!” – pensou enquanto seguia para o elevador – “Vou pro play esperar ela ir embora e embolso esses duzentinhos!” – sorriu

 

Yesmin seguiu para o quarto da mãe e se surpreendeu mais ainda com o que viu: Adma estava calmamente deitada de barriga para cima sendo massageada em seu pescoço por Zaida, que cantava baixinho. Jarrinhos de violetas lilás adornavam o quarto, que lhe parecia mais vivo.

 

--Você aqui?? – Adma perguntou surpreendida – Você não atendeu telefonema meu! – reclamou – Resolveu o que eu pedi? -- cobrou

 

--Boa noite. – cumprimentou ao entrar no cômodo – A senhora sabe que minha agenda é uma loucura e não posso ficar conversando ao telefone. – olhou para a cuidadora – A compressa. – estendeu para a outra pegar

 

“Caramba, que mulher bonita e chique!” – pensou surpreendida – Boa noite. – aproximou-se e pegou a compressa – Obrigada. – voltou para junto a idosa e colocou a compressa no pescoço dela – Sou Zaida, prazer. – cumprimentou – A senhora deve ser a dona Yesmin.

 

--Yes, me. – respondeu com um bordão que fazia com o próprio nome – E vim aqui hoje porque desejava lhe conhecer e conversar com você. – sentou-se em uma cadeira que estava próxima a cama da mãe – Aliás, muitas mudanças na casa desde a última vez em que estive aqui.

 

--Você quase não vem. Sabe nada! – Adma retrucou de imediato

 

--Conversei com dona Adma e ela concordou comigo que a casa precisava ganhar um ar mais leve, mais colorido. – fazia massagem nos ombros da idosa – E como a cor preferida dela é lilás, investimos. – sorriu – Não foi? – perguntou para a paciente

 

--Foi. – respondeu simplesmente

 

--Estranho porque a agência não me passou a conta desse investimento ainda. – cruzou as pernas – “Ela parece ser atenciosa com maama.” – reparava

 

--Não, não teve nada a ver com a agência. – esclareceu de pronto – A maior parte dessas coisas a dona Adma tinha e só não usava. As roupas de cama e as violetinhas foram um presente meu, pelo que ela fez por mim. – olhou rapidamente para Yesmin

 

--E talvez seja por isso que ela quer fazer ainda mais por você, não? – examinava a outra com o olhar – Maama me falou que te quer aqui em turnos de 24 horas.

 

--Ah, é? – não sabia – A senhora não tinha me dito isso. – sorriu novamente para a paciente – E eu adoraria se assim fosse! – exclamou com a verdade – “Vai dar um maior alívio financeiro lá em casa!” – pensou

 

--Eu mandei Yesmin tratar com agência! – olhava para a filha – Quero Zaida 24 horas e Marcilene na rua! – ordenou – Aquela uma é das mais abusadas!

 

--Coisa a se pensar, maama. – continuava reparando na cuidadora – Antes disso gostaria de obter mais informações sobre Zaida. – passou a mão nos cabelos – Você me conseguiria ao menos duas cartas de recomendação das famílias de seus últimos pacientes?

 

--Acredito que sim, mas vou levar um tempinho pra isso. – continuava massageando a idosa – “Qual será o receio dela?” – não entendia

 

--Pra que isso, Yesmin? – Adma retrucou de cara feia – Eu não quero carta, quero Zaida aqui 24 horas e fim! – gesticulou com raiva – Sou sua maama, faça como mandei! – ordenou

 

--Há que se analisar algumas coisas, maama! – levantou-se da cadeira – A senhora nunca se ligou em cuidadora e se agora Zaida lhe chama atenção tenho que avaliar se isso convém! – olhou para a cuidadora – Você me entende, não?

 

--É natural que a senhora queira me conhecer melhor. – respondeu com tranquilidade – E, aproveitando que está aqui, gostaria de lhe dizer algumas coisas que também acho que a senhora poderia analisar a pertinência. – olhou para a mulher – Dona Adma não me parece estar se tratando com o que há de mais promissor pro caso dela e seria muito importante investir em mudanças. – falava firme e respeitosamente – Desde na medicação até na fisioterapia.

 

Riu brevemente por achar absurdo. – Minha querida, você por acaso tem ideia de quem eu seja? – perguntou arrogantemente – Sou CEO da BoFe, simplesmente uma das mais inovadoras organizações de pesquisa e desenvolvimento de tecnologias avançadas de Inteligência Artificial! – olhava nos olhos da cuidadora – Acha que alguém como eu proporcionaria algum atendimento insatisfatório pra saúde da maama? – desafiou – O neurologista dela é de São Paulo, profissional renomadíssimo! O fisioterapeuta fez vários cursos nos Estados Unidos! – gesticulou brevemente -- Essa agência que te contratou, por exemplo, é simplesmente a mais conceituada e cara da cidade!

 

--E só tem cuidadora de merd*! – Adma interveio – Até hoje só prestou Zaida!

 

--Maama?! – ficou sem graça

 

“Que mulherzinha esnobe!” – pensou revoltada -- Eu não quis dizer que a senhora seja uma relapsa com sua maama. – Zaida respondeu com tranquilidade – Mas talvez o neuro dela não esteja tão bem atualizado assim. – interrompeu a massagem e pegou o celular – Hoje em dia, pacientes com Parkinson usam canabinoides em adição ao tratamento convencional e os resultados têm sido excelentes. Foi o caso de vários pacientes meus. – localizou um número – Posso lhe passar o contato de um médico pesquisador da UFRJ especializado em canabinoides e que tratou de uma paciente minha. Tá aqui. – mostrou brevemente – E a fisioterapia em casa é muito limitada. – olhava para Yesmin – O Rio tem dois excelentes centros de recuperação neuromotora que eu conheço também por causa de ex pacientes. – reparava na expressão corporal da engenheira – Seria excelente pra ela realizar um trabalho fisioterapêutico em piscina, além de ter contato com outros idosos, o que a ajudaria a recuperar o lado positivo do convívio social.

 

--Eu quero! – a idosa logo falou

 

Surpreendeu-se com os conhecimentos de Zaida e com a empolgação de Adma. – Vamos ver tudo isso com muita calma. – continuava olhando para a cuidadora – Eu não acho seguro investir nessas novidades tão empolgadamente assim! – respondeu desaforada

 

--E eu que pensei que a CEO de uma grande empresa de tecnologia pensasse mais fora da caixa. – provocou

 

Yesmin ferveu de ódio, mas não respondeu. – Aguardo as cartas de recomendação. Não demore muito. – olhou rapidamente para a mãe -- Eu vou indo. – fez um gesto de cabeça e partiu

 

***

 

Stefany e duas amigas conversavam em um barzinho.

 

--Então a parada é essa, gente: -- Stefany dizia para as amigas – a hacker baranguda vai baixar os gabaritos daqui por diante e nós vamos começar a bombar nas provas. – olhava para as garotas – Mas sem essa de tirar dez em tudo, que isso é dar muito mole pra ser pega. – orientava – Sejamos humildes e fiquemos na faixa entre nove e nove e meio! – riu brevemente – E pra fazer a parada ficar sólida, vamos fazer vídeos tirando umas de – fez aspas com os dedos – “vou pra balada mas meto a cara nos estudos!” – riu mais uma vez

 

--Foda, cara! High five! – cumprimentou Stefany com um tapa de mãos – Tô dentro sem pensar duas vezes. – Tatiana aceitou na hora

 

--Também tô, mas e a Jaque? – Luiza perguntou – Cê já fudeu muito com ela, não vai incluir a garota nessa jogada? – queria saber

 

--Eu não, Jaque é a maior encagaçada! – retrucou de imediato – Bocuda do caralh*, pode ferrar tudo à toa. – fez um gesto de desprezo – Vai ser só a gente e é nóis! – bebeu um gole do drinque

 

--Lacrou! – Tatiana ergueu o copo no ar – Um brinde a nossa nova fase de as cabeçudas do colégio! – riu

 

--Tintim! – as outras duas responderam em coro

 

***

 

Vivinácia chegava em casa às escondidas e correndo contra o tempo para Zaida não perceber que ela havia passado a noite fora.

 

--Vou tomar um banho voada pra mulher não se atinar que cheguei agora. – correu para o banheiro – Ela não pode nem sonhar que fiquei naquele terreiro falso mandando ver com madame Vivi! – falava consigo mesma

 

Após secar o boxe e guardar as roupas, vestiu o pijama e se deitou na cama. “Vou aproveitar e tirar uma soneca!” – pensou ao fechar os olhos

 

Segundos depois...

 

--Ô de casa! – Zaida brincou ao entrar – Vivi? – fechou a porta – Será que ela já saiu pra trabalhar? – perguntou-se

 

“Ave Maria, deu nem tempo de esquentar a cama...” – a diarista pensou desanimada – Oi, amor! – sentou-se – Tô aqui.

 

--Ainda deitada? – surpreendeu-se – Não tem serviço hoje? – aproximou-se e beijou-a nos lábios – Cê tá com uma cara de cansaço... – reparou – Pior que eu, que não preguei o olho. – estranhava

 

“Se ela soubesse o quanto dancei na roda da gira essa noite...” – pensou – É que me deu um piriri que nem te conto!  – forjou uma expressão de dor – Tive diarreia, me borrei toda, tomei dois banhos na madrugada pra poder me limpar... – mentia – Nem vou trabalhar hoje porque não tô dando conta! – fazia cara de cão pidão – Comi algum trem que não deu certo!

 

--Own, tadinha! – segurou o rosto dela e beijou-a mais uma vez – Então deite aí que te faço um chá de boldo. – acariciava os cabelos da esposa – Depois tomo um banho e me deito com você nessa cama porque também tô cansada.

 

--Não precisa do chá, já tomei! – recusou de pronto – Mas toma seu banho e volta pra deitar aqui comigo. – sorriu – Abraçadinha contigo não há mal que não cure!

 

Achou graça. – Tá bem. – concordou – Me dê dez minutos e logo volto. – saiu do quarto

 

“Uff! Dessa vez escapei por pouco!” – deitou-se novamente – “Mas a graninha que faturei essa noite valeu o risco!” – sorriu

 

***

 

--Então ela disse que me quer fazendo turnos de 24 horas. – contava – Se der certo, vai dar mais uma folguinha financeira pra gente, porque vou ganhar cento e cinquenta reais a mais por plantão! – comentou empolgada

 

--Uai, mas se a idosa quer, por que você acha que não vai dar certo? – não entendia

 

Vivinácia e Zaida estavam deitadas de lado na cama, uma de frente para a outra.

 

--Porque a filha dela tá cismadona comigo, me pediu cartas de recomendação e o escambau! – acariciavam-se as mãos – Ela apareceu lá essa noite, querendo me conhecer. – contava – Tinha que ver, amor, que mulher metida! – lembrava-se da outra – Mas também confesso que é muito bonita. – reconheceu -- Uma morena toda atlética, cabelos negros compridos, olhos castanhos marcantes iguais aos da mãe e chiquérrima. – descrevia

 

--Oxe, pelo que vejo você reparou bem, viu, fi? – Vivi reclamou de cara feia –Só faltou babar!

 

--Own, minha ciumentinha! – beijou-a – Tem nada a ver, bobinha! – achou graça – Ela não é o meu tipo, ainda mais que fez questão de me passar na cara que é a toda poderosa CEO da BoFe! – riu brevemente – Eu, hein, sabia nem que existia empresa com esse nome!

 

--O que?? – sentou-se de um pulo – A filha de tua paciente é Yesmin Zahia Torricelli?? – deduziu – Amor, você tem que dar um jeito de me arrumar de fazer limpeza na casa dela! – pediu –Uma cliente dessa é tudo que eu preciso! – pensava em mil possibilidades – “Deve ter tanto trem diferente na casa dessa mulher!” -- conjecturou

 

--Ih, eu hein? – virou-se para o outro lado – Nem pensar! – ajeitou-se na cama – De uma pessoa assim quero distância. -- fechou os olhos – E que você fique bem longe dela também. – advertiu – Agora vamos tirar um cochilinho porque daqui a pouco vou ter que sair à caça de cartas de recomendação.

 

--Humpf! – deu um muxoxo – “Tenho que arrumar um jeito de conhecer essa Yesmin!” – pensou ao se deitar – “A BoFe é uma empresa muito massa e essa mulher tem a maior moral no meio.” – encaixou-se nas costas da esposa – “E se ela fizesse umas consultas com madame Vivi meu passe ia nas alturas!”

 

--E nem pensar de querer ressuscitar madame Vivi pra impressionar aquela metida, viu? – Zaida advertiu – Nem ouse!

 

--Que é isso, amor? – beijou-lhe a nuca – Fica quietinha e vai dormir. – pediu com carinho – “Ave Maria, que agora ela já lê até pensamento!” – abraçou-a pela cintura – “Simbora dormir também!” – fechou os olhos

 

***

 

--Nazira, já se arrumou? – Malika perguntou enquanto seguia para o quarto da outra – Daqui a pouco é hora da gente descer e... – estancou na porta e arregalou os olhos – Meu Deus, o que é isso?? – chocou

 

Olhou para a idosa. – Tô pronta e vestida pra ocasião. – colocou as mãos na cintura – Vamos?

 

--Vestida pra ocasião?? – não entendia -- Que você escuta mal, já percebi faz tempo, mas dessa vez foi demais! – reparava na outra – Eu disse que ia pra reunião de condomínio e não prum inferninho!

 

Nazira usava um short jeans curtíssimo e um top que deixava pouco de seus seios a se imaginar.

 

--Mas eu entendi que era reunião de condomínio! – retrucou – E não tem nada de errado com minha roupa! – cruzou os braços – O que é bonito é pra se mostrar!

 

--E isso é bonito? – discordou de imediato – Já não acho bonito nem pras menina nova de 15 anos, faz ideia pra você, com quase 30 na cara! – gesticulou – Tá parecendo até uma Pepa Pig! – reparava – Tira isso aí, se veste feito gente e vamos descer pra reunião. – pausou brevemente – Ou nem vamos, porque me recuso a andar com uma Pepa nos meus encalços!

 

Revoltou-se. – A senhora sempre pra me esculachar! – fez pirraça – Eu quero ir na reunião! – bateu o pé no chão – Quero, quero, quero!

 

--Nazira, eu não tô te entendendo! -- pensou um pouco. – Ah! Não me diga que isso aí é porque você quer usar da reunião pra seduzir o tal nerd que nem olha na tua cara? – concluiu – Pois fique sabendo que o dono do apartamento dele nunca deixou inquilino participar das reuniões, é ele que sempre vem! – informou – Portanto o seu nerd não vai dar as caras e consequentemente vai se poupar de te ver nestes trajes de Pepa periguete.

 

--Ele não vem? – perguntou decepcionada – Poxa, me produzi tanto à toa! – lamentou

 

--Humpf! – a idosa fez um bico – Já que você só queria saber de chamar a atenção do bisco e eu me recuso a andar acompanhada por alguém semi nua, fique praí porque tenho que ir. – preparou-se para ir embora – Vê se toma vergonha! – advertiu antes de sair

 

Suspirou desanimada. – Mas será que eu fiquei tão feia assim? – abriu a porta do armário e se olhou no espelho – Pior que fica essas carninhas sobrando pro lado... – apertou ao redor da cintura – Gente, minhas coxas tão cheias de celulite! – arregalou os olhos – Hum, eu acho que não vai dar pra manter essa estratégia de atiçar o desejo com roupas ousadas... – concluiu – Será que se eu arrumar um vestidão branco e fizer um look tipo princesa Leia vai ser melhor, hein? – conversava consigo mesma – Ele gosta de Guerra nas Estrelas... – lembrava-se da máscara de Darth Vader nas mãos do homem – Hum... – pensava em possibilidades

 

***

 

Zaida seguia no ônibus para mais um dia de trabalho na casa de Adma. Enquanto aguardava chegar em seu destino, navegava na internet usando o celular.

 

“Sabe que eu nunca procurei por ela pra ver como era?” – pensou – “Vamos ver se eu acho a cantora Adma Zahia.” – digitou o nome no buscador – “Hum, olha, parece que o Fuçapédia tem alguma coisa.” – clicou para ver

 

Adma Zahia

Cantora e atriz nascida em 1943 na cidade de Beirute, Adma Zahia tornou-se uma das cantoras mais conhecidas no mundo árabe sendo considerada uma das melhores artistas do Oriente Médio.

Famosa por seu estilo passional de música vocal e capacidades únicas, foi muitas vezes referida como a "Rainha do Romance" ou "Rainha dos Sentimentos". Em 1964, Adma tornou-se a primeira artista a interpretar com sua dança uma das músicas mais clássicas da época, o que lhe transformou em uma das grandes divas da chamada Era de Ouro da dança do ventre no cinema egípcio. A cena mais antológica interpretada pela artista, foi um número de dança no famoso filme Wakr Al Ashrar, o que lhe rendeu vários prêmios e um convite de Hollywood.

 

“Minha nossa, ela não era qualquer coisa!” – ficou impressionada – “Depois vou procurar ver esse filme!” – decidiu – “Cadê uma foto dela?” – perguntou-se – “Essas aqui tão super borradas.” – procurava no site – “Melhor pesquisar em outro lugar.” – buscava – “Hum, achei um clipe!” – empolgou-se – “Vamos ouvir!” – colocou os fones e clicou no link

 

Logo de início, o rosto de Adma aos 20 anos apareceu na tela e Zaida congelou ao vislumbrar aqueles vibrantes olhos castanhos diante de si.

 

“Al-masīr alqānī bi ḥayātika bidūn indhār (O destino me jogou em sua vida sem avisar),

wa lam yatruk lanā ikhtiyār (ele não nos deixou escolher)...”

 

A voz de Adma parecia sussurrar nos ouvidos da cuidadora.

 

“Wa kuntu ataḥaḍar ḥāḍiratan (E eu fui me fazendo presente),

ḥattā al-laḥẓa allatī iqtaḥamat su’āl fikrak (até o momento em que uma pergunta invadiu seus pensamentos),

nahāran wa laylan, bidūn inqiṭā‘ (dia e noite, sem cessar)...”

 

Zaida acompanhava enfeitiçada os movimentos da cantora.

 

“Man hiya hiya? Limā lā ansāhā? (Quem é ela? Por que não a esqueço?)”

 

Os olhos da mulher apareciam em destaque no clipe.

 

“Tilka Al-Uyoon asāratnī (Aqueles olhos me prenderam),

Tilka Al-Uyoon (Aqueles Olhos),

Tilka Al-Uyoon (Aqueles Olhos)…”

Tilka Al-Uyoon. Música caipiresca

 

Zaida nem percebeu que havia perdido o ponto para saltar do ônibus.

 

***

 

--Eu adoro quando você vem cheia de calor pra mim desse jeito! – Rogério sentia-se devorado pela esposa – Vem, sua leoa! – deu-lhe um tapa nas nádegas

 

--Eu sei muito bem como você gosta! – rebol*va sobre ele – Ah! – fechou os olhos e gem*u alto – AH!!

 

--AH!! – o homem gem*u também ao goz*r – Ah... – fechou os olhos e sorriu

 

--Você não vai conseguir trabalhar amanhã... – saiu de cima do marido e começou a beijar, morder e arranhar o pescoço dele – Não vai... – falava com voz hipnótica

 

--E quem quer trabalhar, hein? – mudou de posição e ficou por cima da esposa – Quem? – beijou-a – Hum? – beijou-a mais uma vez – Amanhã você não vai pra BoFe! – mais um beijo

 

--Mas é claro que eu vou, amor... – respondeu dengosa – Especialmente depois que você me der o acesso àquele banco de dados que te pedi! – mordeu-lhe o lábio inferior

 

Rogério interrompeu o que fazia e olhou nos olhos da engenheira. – Eu não acredito nisso! – saiu de cima dela e se sentou na cama – Então... você preparou essa noite especial, com direito a dancinhas e tudo mais apenas pra me convencer a te dar acesso ao banco de dados internacional de pacientes em sessões psiquiátricas? – riu por achar absurdo – Eu não acredito! – levantou-se da cama – Não acredito! – caminhou até a janela

 

--Amor, por favor, que reação foi essa? – levantou-se e foi até ele – Claro que eu tava com saudades de fazer amor com você! – abraçou-o pelos ombros e beijou-lhe a nuca– Foi você quem falou da BoFe e aí eu simplesmente comentei...

 

--Simplesmente comentou? – virou-se de frente para ela – Maldita hora que eu contei pra você que falamos sobre esse banco de dados no congresso! – andou brevemente pelo quarto – Eu não posso te dar acesso a dados confidenciais de pacientes de vários países simplesmente pra você treinar seus modelos de GPiTaco!

 

--Querido,-- aproximou-se dele novamente – até a legislação brasileira, européia e estadunidense entendem que dados de saúde, se devidamente anonimizados, podem ser usados para fins de pesquisa. – argumentou – Especialmente se essa pesquisa é para um bem maior. – sorriu – Fala que você também não quer ver uma sociedade melhor? – acariciava o rosto dele – É isso que a BoFe quer fazer: construir um futuro melhor pra todos nós!

 

Rogério ouviu calado e ficou pensando sem nada responder.

 

Fim do capítulo