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Sombras e neon por thays_

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Palavras: 4127
Acessos: 222   |  Postado em: 31/01/2025

CodeWitch

Lux despertou com os olhos pesados, piscando contra a luz do dia que atravessava o quarto. O suor colava sua roupa ao corpo, e uma tontura leve tornava o movimento ainda mais difícil. Sentou-se na beira da cama, os músculos protestando. A garganta seca parecia um deserto e o braço latej*v* com insistência.   

Ao lado da cama repousavam duas ampolas vazias. Lux deduziu que Judy devia tê-la medicado enquanto ela dormia. Será que tinha dormido tanto assim? Sozinha, provavelmente nem teria se dado ao trabalho de tomar a medicação. Sempre acreditou que era forte o suficiente para suportar qualquer coisa, confiando que seu corpo (leia-se: seus implantes cibernéticos) dariam conta do recado. Mas agora, ao observar a cicatriz da cirurgia, visivelmente menor, não pôde negar o óbvio: seguir o tratamento à risca parecia estar fazendo efeito mais rápido do que esperava. 

O olhar de Lux vagou pelo ambiente até encontrar Judy, adormecida no sofá da sala. O beijo voltou à sua mente, trazendo uma onda de calor que percorreu seu corpo, a lembrança tão vívida que quase podia sentir novamente. Ela estava encolhida de lado, uma almofada abraçada ao peito, os cabelos bagunçados caindo sobre o rosto em mechas desalinhadas. O espaço ao redor parecia mais limpo, como se Judy tivesse dedicado algum tempo a organizar o que pôde. Ainda assim, algumas coisas permaneciam fora do lugar, como se ela tivesse deliberadamente evitado mexer demais, talvez por receio de ultrapassar algum limite. Era evidente que Judy havia feito apenas o essencial. E, mesmo assim, o essencial parecia algo que Lux não conseguia dar conta há tempos. 

Uma pontada de vergonha surgiu no estômago e subiu até o rosto de Lux. Não bastava tê-la deixado ver o caos em que vivia, Judy ainda tinha colocado um pouco de ordem, e ela poderia dizer que tanto ao seu redor quanto dentro dela. A conversa da noite anterior ecoava em sua cabeça. E Lux não tinha ninguém. Sua vida sempre fora uma sucessão de silêncios, segredos e barreiras que ela mesma ergueu, cada uma mais alta e mais densa que a anterior.  

Ela se levantou andando devagar para não fazer barulho. Parou ao lado do sofá e ficou ali por um momento, apenas observando. Era um hábito seu, analisar tudo, medir as circunstâncias. Mas, dessa vez, não havia perigo iminente, nem estratégias a serem traçadas. Havia apenas Judy. Sua mente já começava a buscar desculpas, argumentos para afastar o que estava sentindo. "Foi só um momento", pensou. Mas, ao mesmo tempo, algo dentro dela gritava que não era verdade. 

A outra adormecida no sofá, representava tudo o que Lux achava que não merecia. No fundo, carregava a convicção de que precisava sofrer as consequências pela morte de Aurora, que aconteceu sob seus cuidados. E a culpa era uma sombra constante, pesada. 

Foi até o banheiro e tomou outro banho, dessa vez um pouco mais demorado. Seu estômago começou a reclamar de fome e quando saiu percebeu que Judy estava de pé. Ela parecia um pouco sonolenta, os olhos pesados. Ao perceber Lux, um sorriso discreto se formou nos lábios dela, mas havia algo em seu olhar que fez Lux desviar rapidamente, como se tentasse esconder algo que não estava pronta para encarar. 

Novamente sentiu aquela onda de calor tomar conta de seu corpo, lembrando-se de Judy dizendo baixinho: “Eu quero você”. 

- Bom dia - Judy disse. - Ou seria boa tarde? 

- Acho que é boa tarde. - Lux respondeu, ainda um pouco sem graça, seus olhos evitavam os de Judy enquanto ela tentava organizar seus pensamentos. Não sabia direito como lidar com tudo aquilo. 

- Você está melhor? Você ardeu em febre essa noite. Eu fique preocupada. 

- É... normal - Lux disse, tentando se recompor. - Quando tenho alguma fratura ou corte, acontece. - Ela fez uma pausa. - São ossos do ofício. - Ela deu um leve sorriso irônico, tentando amenizar a tensão. - Literalmente. 

Elas sorriram. Ficaram em silêncio. Judy olhou ao redor, seus olhos tocando as mudanças sutis no ambiente. 

- Espero que não se importe... É que eu sou meio neurótica com limpeza. 

- É, eu... não sei como lidar com isso. Me sinto até um pouco constrangida. 

Seu apartamento parecia mais leve, mais claro. Era como se o ar estivesse menos denso, mais fácil de respirar. Lux reconhecia que tinha abandonado completamente aquele lugar. 

- Eu sei, é meio estranho. Uma garota dorme na sua casa e, do nada, faz uma faxina. Parece até um serviço premium. 

Lux riu, balançando a cabeça. Sentindo-se mais relaxada pela forma leve como Judy lidava com tudo aquilo. 

- Se soubesse que vinha com esse benefício, eu tinha te convidado antes. 

As duas riram e seus olhares não se desgrudaram nem por um segundo. 

- Eu não tenho nada pra comer aqui. - Lux continuou, a voz mais baixa - Você não quer dar uma passada no tailandês que tem aqui embaixo? Quer dizer, você deve estar querendo ir pra sua casa... Deve estar cheia de coisas pra fazer... 

O convite parecia mais uma desculpa para prolongar a presença de Judy, como se, no fundo, a ideia de companhia fosse mais atraente do que qualquer refeição. 

Judy sorriu. 

- Adoraria.  

 

 

Juntas, caminharam até o elevador. Diferente da noite anterior, viram algumas pessoas circulando pelos corredores, conversando em tons baixos. O som abafado de uma TV ecoava de algum apartamento. 

Quando as portas do elevador se fecharam, o mundo encolheu ao redor delas. Judy encostou-se na parede metálica, os braços cruzados, o olhar intenso pousado em Lux. Nem sabia de onde tinha vindo tanta coragem para se aproximar dela daquela forma na noite anterior. E, naquele momento, tudo dentro dela pedia por mais, queria beijá-la de novo, queria tocá-la, mesmo que de relance, queria qualquer coisa que a aproximasse de Lux outra vez. Mas conteve-se. Sabia que Lux tinha suas ressalvas e reservas e tinha medo de assustá-la com toda aquela urgência que lhe queimava.  

Mas Judy sabia que ela sentia. Que percebia. E talvez, só talvez, quisesse aquilo tanto quanto ela. 

Lux mantinha os olhos fixos no painel do elevador, como se os números tivessem alguma resposta para o que se passava dentro dela. Sentia o olhar de Judy sobre si, intenso, como se estivesse sendo analisada, desnudada de alguma forma. Aquilo mexia com ela de uma maneira desconcertante.  

Quando chegaram ao restaurante, desceram por uma escada aberta. O ambiente era um refúgio escondido no subsolo. O cheiro forte de especiarias impregnava o ar, criando uma sensação de aconchego e acolhimento. O tipo de lugar onde o tempo parecia desacelerar. 

Escolheram uma mesa no canto, um pouco afastada, o suficiente para garantir certa privacidade. A luz suave de lâmpadas pendentes iluminava o espaço de forma suave. 

- Descobri um cara que pode ter o que a gente procura, nome dele é CipherJack. -  Judy disse com o tom focado e profissional. - Ele fica na área das Docas. Eu marquei um encontro com ele hoje às 20:00. 

As Docas estavam situadas em um dos distritos mais caóticos e industriais de Night City. Lá tráfico de mercadorias ilegais e o contrabando reinavam e o local era controlado por facções violentas. Ali, tudo tinha um preço e ninguém ia para lá sem saber o que estava arriscando. 

- Lá é território dos Maelstrom. - Lux disse, tomando um gole de sua bebida, já pensando sobre os próximos passos. 

Os Maelstrom eram conhecidos por sua brutalidade e por suas modificações corporais grotescas. As histórias sobre eles circulavam por Night City e nenhuma delas era boa. 

- Eu vou conversar com o cara. - Lux concluiu com a voz firme. 

Ela sentia a necessidade de controlar a situação, de tomar as rédeas. 

- Você ainda não está 100% recuperada. - Judy respondeu tentando manter a postura.  

- Não vou deixar você se arriscar. - Lux cortou sem hesitação, seu olhar fixo no de Judy. Sua voz era firme, sem espaço para discussão. - Você não sabe lidar com esses caras. Você nem sabe atirar. 

 A responsabilidade pesava sobre ela, como sempre. 

 - Eu só vou pegar a ND com ele, já está tudo combinado. - Judy rebateu, tentando soar despreocupada.  

 Lux soltou um suspiro curto. A proposta parecia simples demais. E simples nunca era um bom sinal. 

 - Nem pensar. Eu vou no seu lugar. 

- Então vamos juntas. - Judy rebateu de imediato. 

Lux franziu a testa, ponderando em silêncio. Sentia o impulso automático de negar, mas Judy não era do tipo que cedia facilmente. E no fundo, bem no fundo, ela queria que Judy permanecesse por perto, por mais que aquilo pudesse ser perigoso. 

 - Tá bom. Mas você fica no carro. Sem gracinhas. 

 O canto da boca de Judy se ergueu. 

 - Só se for no seu carro… e se me deixar dirigir. 

 Lux estreitou os olhos para ela, mas Judy manteve o olhar firme, desafiador. 

 - Você quer mesmo testar a minha paciência? 

 - Quero. - Judy sorriu, despreocupada. - E aposto que vou conseguir. 

 Lux olhou para ela, um sorriso quase imperceptível nascendo em seus lábios, a expressão um pouco mais suave do que o habitual. Era difícil não gostar da maneira como Judy a desafiava sem pressa. 

- Tá bom. Mas se amassar ele, vai se arrepender. 

 - Nossa, não sabia que era tão fácil te convencer. 

 - Você tem seu jeito. - Lux murmurou, a voz carregando um toque de diversão, mas os olhos entregando algo mais. 

 O silêncio entre elas pairou, carregado de significados não ditos, até ser interrompido pela garçonete, que chegou com os pratos de comida tailandesa.  

- Então, o que te trouxe para Night City? Judy perguntou, retomando a conversa com um tom curioso. - Não parece o tipo de lugar que você escolheria para... viver. 

A pergunta ficou no ar, mas antes que Lux pudesse responder, a garçonete se afastou, deixando-as sozinhas novamente. 

- Acho que todos vem pra cá a procura de algo. Comigo não foi diferente. 

- O que você procurava? 

- Dinheiro, liberdade, anonimato. 

- Vejo que encontrou o queria. 

- Sim, mas a que preço? - Lux respondeu, seus olhos se desviaram brevemente para o prato à sua frente, como se não quisesse olhar diretamente nos olhos de Judy enquanto falava. - Essa cidade tem me consumido. Dia após dia. Victor não está de todo errado.  

Ela fez uma pausa. Judy ficou em silencio, olhando para Lux.  

- Como você virou uma mercenária? - Judy perguntou, a voz baixa, mas cheia de curiosidade. 

Lux hesitou, mas não desviou o olhar. 

- Minha vida nunca foi um mar de rosas. Desde cedo aprendi que não dá pra esperar muito do mundo. Se você não pega o que quer, alguém pega no seu lugar. 

Judy não respondeu de imediato, apenas observou, até que afirmou: 

- E você decidiu pegar.  

Lux esboçou um meio sorriso, cansado. 

- Sim. A vida aqui não te dá muito espaço pra ser… gentil. - Ela fez uma pausa. - Eu aprendi a lutar. E, quando percebi, já não sabia mais como parar. A violência sempre fez parte da minha vida, Judy. Mas... - baixou os olhos, a tristeza pesando em sua voz. - Mas nunca imaginei que, aos 30 anos, minha vida estaria desse jeito. 

Judy ficou quieta por um instante, como se refletisse não só nas palavras de Lux, mas também em algo dentro de si. Então respondeu: 

- Às vezes, é mais fácil seguir o fluxo e deixar a vida acontecer do que lutar contra ela o tempo todo. - Ela fez uma pausa, o olhar distante, pensativo. - Você acha que era meu sonho produzir ND’s pornográficas? Claro que não. Eu sempre achei completamente errada a forma como a mulher é objetificada nesse tipo de conteúdo. Mas quando a oportunidade apareceu eu também a peguei, precisava de dinheiro. Você sabe, tanto quanto eu, que a realidade aqui em Night City não é simples. E se você não se adapta, acaba ficando pra trás. 

Lux permaneceu em silêncio por um momento, os olhos fixos em Judy, sentindo uma conexão mais profunda com ela naquele momento. O peso das escolhas, o dilema entre lutar e se render… Ambas estavam ali, tentando encontrar seu caminho em um mundo que não oferecia muitas respostas fáceis. 

 

 

Passaram o final da tarde repassando o plano diversas vezes, garantindo que, dessa vez, nada saísse do controle. Quando a noite caiu, cruzaram a cidade rumo às Docas, com Judy ao volante (e adorando cada segundo da experiência de dirigir um esportivo). 

Lux, por outro lado, mantinha o foco no que estava por vir. Seu braço ainda latej*v*, mas não o suficiente para distraí-la. 

- Então, me conta mais… como é a vida de uma mercenária? Quero dizer, além do óbvio. 

Lux olhou para a estrada, o som do motor ocupando o espaço entre elas. Depois, sua voz saiu baixa e sem emoção, quase como se estivesse descrevendo uma rotina qualquer. 

 - Você recebe a missão, executa o trabalho e é paga. Nada mais, nada menos. Não tem glamour, não tem história. A única regra que vale é não fazer perguntas. O resto é apenas uma questão de sobreviver até o próximo trabalho. 

 Ela deu uma rápida olhada para Judy, um sorriso rápido. Continuou:  

- Acredite, você não quer saber os detalhes. Se você souber, provavelmente vai se arrepender. 

Judy ficou pensativa, então perguntou: 

- Qual foi o pior trabalho que você já pegou? 

Lux deu uma risada baixa, mas sem humor, o olhar distante, como se a pergunta tivesse puxado uma memória que ela preferiria manter guardada. 

- Eu não costumo contar essas histórias. Não vale a pena. 

- Eu sei. Mas não me diga que nunca houve um trabalho que te fez pensar: "Isso foi demais, eu não devia ter feito isso." 

Lux hesitou por um instante.  

- Tem alguns que... se eu pudesse voltar no tempo, não teria aceitado. Mas na hora, você só vê a missão, não as consequências. 

- Quais foram as consequências? 

Lux olhou pela janela, como se as palavras a incomodassem. Não queria ir fundo. Ela não queria que Judy visse mais do que já tinha mostrado. Mas decidiu responder:  

- Pessoas... inocentes. Não foi a primeira vez, e nem a última, que a linha entre o que é certo e o que é necessário se mistura. A coisa que mais fode é que, no fim, você sabe que poderia ter feito diferente. Mas aí já é tarde demais. Às vezes as coisas saem do controle. 

Judy ficou em silêncio, sentindo o peso das palavras, mas sem saber o que responder.  

Por um momento, elas só ouviram o som do motor, enquanto as luzes da cidade passavam pela janela como borrões. 

 - Isso é... pesado. - Judy disse por fim. 

O silêncio se arrastou entre elas, denso, quase palpável. Lux pensou em deixar o assunto morrer ali. Mas, por algum motivo, sentiu vontade de compartilhar aquilo com Judy. Talvez porque, pela primeira vez em muito tempo, alguém realmente quisesse ouvir. 

- Se quer saber qual eu mais me arrependo... foi o último contra a Zetatech. 

Judy virou o rosto para ela. 

- O que aconteceu? 

- O contratante queria dados sobre um novo implante neural. Algo que podia transformar qualquer um em uma marionete remota. 

- E o que deu errado? 

Lux respirou fundo, como se revivesse o momento. 

- Era pra ser uma operação furtiva. Só que quando acessamos os dados, despertamos uma IA. Em segundos, ela tomou controle dos drones e das torretas do laboratório. Fomos alvejadas ali mesmo. 

- Você estava com a Aurora? 

Lux concordou com a cabeça, ainda olhando pela janela do carro.  

- Eu achava que era invencível, sabe? Já tinha várias modificações cibernéticas, mas ela... não tinha nada disso. Eu pensava que poderia protegê-la de tudo. Que nada poderia nos derrubar. Mas naquela noite... foi diferente. Eu precisei fugir. Levei ela até o Victor, mas eu sabia que ela tinha morrido antes mesmo de chegarmos lá. 

Judy permaneceu em silêncio por um momento, o peso das palavras de Lux pairando no ar. Ela não sabia o que dizer. Ela então parou o carro no acostamento e desligou o motor. Ficaram no escuro, iluminadas pelas luzes da cidade que nunca dormia.  

Lux franziu a testa, surpresa. 

- O que está fazendo? - Sua voz saiu mais áspera do que pretendia. - Judy, temos trabalho a fazer. 

Judy não respondeu de imediato. Ficou ali como se estivesse escolhendo com cuidado suas próximas palavras, então disse: 

- Espera só cinco minutos. 

Lux respirou fundo e olhou para fora do veículo.  

- É por isso que sente tanta culpa, não é? – Judy perguntou após alguns segundos. 

- Eu fui a responsável pela morte dela. 

- Você atirou nela? 

- Claro que não! 

- Então você não foi a responsável. Foi uma missão que deu errado. Essas merd*s acontecem.  

- Não é tão simples assim, Judy. 

- Sei que você deve ter feito seu melhor. E por mais que metade de você seja de cromo, você ainda é humana. E te digo mais, dependendo da situação nem uma máquina daria conta.  

Lux soltou uma risada curta, sem humor, balançando a cabeça. Seus dedos deslizaram pela cicatriz no seu braço. Sentia o peso das modificações no próprio corpo, como se fossem marcas de todas as vezes em que sobreviveu quando não deveria. Mas de que adiantava continuar inteira por fora quando, por dentro, tudo estava quebrado? 

- Ainda dói? - Judy perguntou, olhando para Lux encarando o corte. 

- Um pouco. 

O silêncio se alongou no carro.  

- Você não precisa fazer o que está tentando fazer, Judy. Não perca seu tempo comigo.  

Judy recostou a cabeça no encosto do banco. Em silêncio, deslizou a mão sobre a coxa dela, os dedos traçando um caminho hesitante até encontrarem os dela. E então, sem pressa, entrelaçou-os firmemente, sem deixar espaço algum entre suas mãos. Lux não recuou. Apenas permaneceu ali, imóvel, sentindo o calor daquele toque se espalhar por todos os lugares de seu corpo. 

- Eu não chamo isso de perda de tempo. Pelo contrário. 

Estava tão silencioso que foi difícil Lux manter sua respiração no ritmo normal sem deixar que Judy percebesse o efeito que aquele gesto simples tinha sobre ela. Ela se sentia ridícula. Como um toque tão simples como aquele podia deixá-la... molhada? 

Parte dela não queria que Judy se afastasse. Mas outra parte achava que ela deveria. 

- Precisamos ir. Vamos nos atrasar. - Lux disse baixinho, ainda sem conseguir encará-la. 

- Eu só... queria que você soubesse que não está sozinha. Não mais. - A voz de Judy soou suave, mas firme.  

- Eu não consigo entender... isso não faz o menor sentido. - Dizia isso mais pra si mesma do que pra Judy. - Você nem me conhece. 

Judy ficou em silêncio por um instante. Então, sua voz veio calma, mas carregada de uma confissão que Lux não estava esperando: 

- É que você não tem ideia a quanto tempo via você de longe no bar da Lizzie... e ficava tentando criar coragem pra falar com você. 

Lux finalmente olhou para ela. Judy deslizou o polegar suavemente sobre o dorso de sua mão, um gesto simples, mas carregado de algo que Lux não sabia como nomear. 

Ela não conseguiu resistir. 

Moveu-se em direção a Judy, devagar, quase sem perceber. Mas, no último instante, algo dentro dela a fez parar. O corpo travou, a respiração prendeu na garganta, como se uma barreira invisível tivesse surgido entre elas. 

Desviou o olhar para a estrada e, com um gesto sutil, afastou a mão do toque de Judy, rompendo o contato como quem se afasta de algo perigoso. 

- Podemos ir? - Sua voz saiu firme, mas não tão fria quanto gostaria.  

Ela apenas permaneceu ali, receptiva, sem forçar nada, apenas esperando.  

Lux precisou respirar fundo para se conter. 

- Temos trabalho a fazer. Temos menos de quinze minutos pra chegar lá.  

Sem dizer nada, Judy ligou o carro. O motor preencheu o silêncio, mas não foi o suficiente para dissipar a tensão. Elas seguiram em frente, cada uma imersa demais nos próprios pensamentos para dizer qualquer coisa. 

 

Chegaram ao local na hora marcada. O motor do carro silenciou, e Lux já levava a mão à maçaneta quando Judy estendeu o chip neural pra ela. 

- Já te disseram que você é muito controladora? - Lux perguntou, pegando o chip que tinham utilizado na primeira missão. 

- Só pra ter certeza que você vai ficar segura.   

- E se eu não estiver você vai fazer o que? 

Judy sorriu de canto e disse: 

- Atropelo o cara, pego você e saio cantando pneu. 

Lux soltou um riso curto. 

- Lembre-se do combinado de não danificar a lataria. 

- Você está me devendo um drone, então ficaríamos quites. 

As duas riram. 

Lux encaixou o chip em sua entrada neural e piscou ao sentir a conexão estabilizar. 

“Me ouve?” 

- Em alto e bom som. 

“Boa sorte.” 

Lux saiu e fechou a porta do carro atrás de si. A voz de Judy surgiu suave pelo chip neural, vibrando direto na mente de Lux.  

Quente.  

Íntima. 

"Tô louca pra te beijar de novo." 

O corpo de Lux estremeceu. 

- Judy, não me desconcentra. - O tom saiu baixo, quase um rosnado. 

Um riso curto e abafado veio como resposta, mas Judy não insistiu. Lux soltou o ar pelo nariz e focou na missão. 

O cheiro ao redor era de ferrugem, óleo queimado e maresia. O vento úmido das docas soprava e os faróis dos navios cargueiros piscavam ao longe. Ela escaneou a área rapidamente. A poucos metros dali, um homem encostado em um container vermelho puxava tragadas de um cigarro sintético, a fumaça azulada se dissipava ao redor de seu rosto cheio de cicatrizes mal soldadas ao redor de implantes rudimentares. 

Ao invés de olhos, ele tinha no lugar uma lente metálica de um tom vermelho, como se uma lâmpada de néon estivesse constantemente piscando por trás da íris. Ele vestia uma jaqueta pesada, rasgada nos ombros, com o símbolo distorcido da Maelstrom estampado nas costas. Um dos antebraços exibia uma lâmina retrátil. 

Ela se aproximou dele. Ele a observou atentamente, seu olhar percorreu cada pedaço de seu corpo. Ele franziu a testa, apertando os olhos cibernéticos, ajustando a leitura, como se estivesse varrendo Lux em busca de mais informações. Por um momento, ela sentiu o frio metálico da tecnologia passando por ela, medindo suas intenções e habilidades. 

- CipherJack? - Ela perguntou. 

Ele cruzou os braços. Sua voz saiu com um chiado distorcido: 

- Eu marquei com a CodeWitch. Não com uma cadela aleatória com implantes de combate. 

Lux manteve-se firme, não deu sinais de que a provocação tinha lhe afetado. A sua mão direita permaneceu levemente sobre o coldre, pronta para reagir. 

- Surpresa. - Ela disse. - Isso é um problema? 

Ele soltou uma risada seca. 

- Depende. Vocês não são da porr* da NCPD, né? 

NCPD era o Departamento de Polícia de Night City. 

A voz de Judy veio pelo chip neural, suave e tensa: 

"Diz que não e pega logo a droga da ND, Lux." 

Lux ignorou o nervosismo na voz dela e deu um passo à frente. 

- Se fosse, já estaríamos metendo um rastreador na sua careca e te arrastando daqui. Você tem o que queremos ou vamos perder tempo com conversa fiada? 

Ele girou algo entre os dedos cromados - um chip, sem dúvida a Neurodança que procuravam. 

- O que me faz pensar que você é digna de levar a ND e não a garota que fez o trato? 

Lux suspirou, inclinando um pouco o corpo, sem pressa. 

- Eu sou a garantia de que ninguém vai passar a perna em ninguém aqui. 

Ele ficou em silêncio por um momento, então bufou. 

- Certo, certo. Você tem atitude, mercenária. Isso eu respeito. 

Ele girou o chip mais uma vez antes de jogá-lo para ela. Lux pegou no ar sem esforço e o guardou no bolso interno da jaqueta. 

- Tá limpo? - Lux perguntou. 

- Claro. Eu não quebro negócios. Mas… vocês deviam tomar cuidado com essa ND. É pesada. 

Lux não demonstrou reação. 

- Se eu quisesse coisa leve, não estaria aqui. 

Ele soltou uma última risada rouca. 

- Curti você, mercenária. Agora cai fora antes que eu mude de ideia. 

Lux recuou sem virar as costas para ele, mantendo o olhar afiado. Só quando estava longe o suficiente, virou-se e caminhou de volta para o carro. 

- Consegui. Tô voltando. 

"Boa. Esse cara me dá arrepios." 

Lux abriu a porta e deslizou para dentro do carro. 

Judy acelerou, deixando as Docas para trás. 

Fim do capítulo

Notas finais:

Oi, pessoas lindas! :D

Depois deste capítulo, as postagens devem se tornar semanais, a não ser que minha escrita continue fluindo bem. Não sei se é a inspiração, o antidepressivo novo, ou as duas coisas juntas, mas há muito tempo não escrevia absolutamente nada. Não planejo que a história seja muito longa, mas como adoro conversas profundas sobre sentimentos e drama, quem sabe ganhamos mais alguns capítulos.

Agradeço demais a todos que estão acompanhando!

Até breve! ??


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Comentários para 6 - CodeWitch:
alexvause
alexvause

Em: 03/02/2025

maratonando a leitura, aguardando o proximo, estou adorando

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Mmila
Mmila

Em: 01/02/2025

Temos um embate emocional. 
Espero que Lux consiga dar abertura para o vai vir.

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