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Sombras e neon por thays_

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Palavras: 4265
Acessos: 207   |  Postado em: 27/01/2025

Guardiã Silenciosa

A loja Esotérica da Misty estava fechada, forçando-as a sair por um pequeno portão lateral, escondido no fim do beco que desembocava na rua. Enquanto caminhavam, passaram por um grupo de viciados, entregues a substâncias que devastavam tanto o corpo quanto a mente. Suas expressões vazias e movimentos descoordenados denunciavam o abismo em que haviam caído, alheios a tudo ao redor, como se o mundo já não tivesse nada a oferecer a eles ou eles ao mundo. 

Aproximaram-se do furgão. 

- Em quanto tempo você acha que consegue localizar o Drexler? - Lux perguntou encostando-se na lataria fria do veículo 

Judy ficou pensativa por alguns segundos, os olhos baixos, concentrados, como se já estivesse formulando um plano mental. 

- Geralmente, eles vendem esse tipo de conteúdo doentio na Dark Web. Com uma ND dessas na mão, consigo rastrear a origem e até o local onde foi gravada. 

- Se é tão simples assim, por que ninguém faz nada?  

- Não é tão simples assim. Eu só consigo porque tenho experiência com ND's. A maioria nem sabe por onde começar. E na verdade, ninguém quer se envolver com esse tipo de merd*, muito menos a polícia. Você sabe que eles não estão nem um pouco interessados em caçar esses caras aqui em Night City. Eles têm outras prioridades, e, se dependermos deles, Evelyn pode estar morta antes que eles se mexam. Se é que ela já não esteja... - Judy falou com a voz baixa, a tristeza se espalhando em suas palavras, como se o peso da realidade tivesse caído sobre ela.  

- Eu sei que meu braço tá fodido, mas isso não vai me parar. Não vejo a hora de botar minhas mãos nesse desgraçado. 

Judy permaneceu em silêncio por alguns segundos, observando Lux. Havia algo na determinação feroz dela que a deixava fascinada, ainda que preocupada. 

- Está com dor? - perguntou, um pouco hesitante, mas com genuína preocupação na voz. 

Lux deu de ombros, soltando um suspiro curto. 

- Um pouco, mas já estive pior. 

Judy assentiu e, sem dizer mais nada, tomou a frente. 

- Vamos. Vou te levar até o seu apartamento.  

Entraram no furgão. Judy deu a partida, o ronco do motor preenchendo o silêncio desconfortável. 

- Você sabe que não precisa fazer isso. Sabe que não tem obrigação nenhuma de ficar de olho em mim só porque o Victor pediu - disse Lux, olhando pela janela, tentando manter a voz neutra. 

Judy lançou um rápido olhar para ela, mas manteve o foco na estrada. 

- Você se feriu prestando serviços pra mim. Claro que preciso. 

Lux suspirou. 

- Meus contratantes nunca se importam. Só querem saber se o trabalho foi feito. Você pode fazer o mesmo. Aliás, eu nem devia ter te deixado ir comigo até lá. Não sei onde estava com a cabeça. 

Houve um momento de silêncio, quebrado apenas pelo barulho dos pneus no asfalto. 

- Eu não sou como eles, Lux - respondeu Judy, firme. - Achei que isso já estava claro. 

Lux hesitou, os olhos fixos em um ponto qualquer. 

- Você mal me conhece. 

Judy apertou levemente o volante, mas sua voz permaneceu segura: 

- E daí? - rebateu, com um tom que misturava determinação e ternura. - Não preciso te conhecer a vida inteira pra me preocupar com você. 

Lux piscou, surpresa pela resposta, mas não disse nada. Havia algo na simplicidade daquelas palavras que a desarmava completamente. 

- Eu sou só uma mercenária fodida da cabeça. - Lux disse num tom baixo. - Não mereço que ninguém se preocupe comigo. As pessoas não se importam com quem só faz o trabalho sujo. Ninguém espera algo de bom de mim. E eu também não espero. 

- Não é assim, Lux. - Judy respondeu, com a voz suave, mas firme. - Você se vê dessa maneira, mas isso não é quem você é. Você aceitou esse trabalho de encontrar a Evelyn como um favor, sem cobrar nada de mim. Isso diz muito sobre quem você é, não importa o que você pense. Você pode tentar se convencer do contrário, mas isso não muda o fato de que você é uma boa pessoa. 

- Estou indo atrás dela por você, Judy. - Lux disse. - Não porque sou boa, mas porque você merece ter ela de volta na sua vida. Eu só fiz o que era necessário, mas não tem nada de heróico nisso. 

Judy não hesitou. 

- Você é mais heróica do que pensa. 

Lux respirou fundo, desviando o olhar para a janela do furgão. A paisagem urbana passava em borrões de neon, mas não era o suficiente para distraí-la. Judy tinha uma habilidade irritante de mexer com ela, de ir além das barreiras que passara anos construindo. 

E, no fundo, bem lá no fundo, uma culpa aflorava. Como uma sombra que nunca desaparecia, Aurora ainda estava ali, na memória e no coração. Todas aquelas sensações, desejos e sentimentos que Judy despertava dentro dela... era impossível ignorar. Lux sentia como se estivesse traindo algo que nem sabia se ainda era real. Uma parte dela queria ceder, mas outra se agarrava ao peso do passado, como se isso fosse o único jeito de se manter fiel à memória de Aurora. 

 Night City parecia presa à escuridão. O céu, quase sempre encoberto, deixava a cidade envolta em uma névoa onde as luzes artificiais ofuscavam qualquer tentativa do sol de aparecer. A cidade parecia pulsar, com suas ruas iluminadas por lâmpadas fracas e displays digitais que não desligavam nunca. As sombras ainda dominavam, dando à metrópole uma sensação de que o dia nunca chegava de verdade. Para Lux, era como se a cidade nunca descansasse, e isso, de certa forma, a fazia se sentir invisível.  

Ela preferia ser invisível.  

E Judy parecia perceber a resistência de Lux. Ela já sabia que se tratava de um jogo de paciência. E talvez, só talvez, ela estivesse disposta a jogar esse jogo. 

O que Lux não sabia, o que sequer poderia imaginar, era que Judy já a enxergava de uma forma diferente há algum tempo. Entre os olhares trocados no Lizzie's Bar, demorados e cheios de significados, algo começou a crescer dentro de Judy, algo que ela não ousava nomear, muito menos expressar. Afinal, Lux sempre manteve uma postura austera e extremamente reservada, como se qualquer aproximação mais profunda fosse uma ameaça ao que restava de si. Judy entendia isso, ou ao menos achava que entendia. Mas isso não impedia o que sentia. 

Quando Evelyn desapareceu, no entanto, algo dentro de Judy mudou. O medo de perder mais uma pessoa, somado ao sentimento de urgência, a levou a finalmente se aproximar de Lux.  A urgência de salvar Evelyn lhe deu coragem, uma desculpa para se aproximar, mas, no fundo, Judy sabia que já queria isso há muito tempo. Talvez, mais do que estava pronta para admitir, até para si mesma. 

- Vou te pagar tudo o que gastou comigo. - Lux resmungou, tentando se distanciar daquilo tudo que sentia. 

- Já está resolvido.  

- Não vou deixar você gastar seu dinheiro comigo. 

- Você é muito orgulhosa. - Judy disse, a voz suave, mas com um tom de frustração que Lux não conseguiu ignorar. 

Lux franziu a testa, sua expressão endurecendo, mas havia algo em Judy que a fazia querer explicar, ou talvez apenas entender. 

- Eu não sou orgulhosa. - respondeu, um pouco mais alto do que pretendia, tentando manter a calma. - Eu só não gosto de me aproveitar de ninguém.  

- Você acha que eu me importo com isso? Era só um pedaço de metal, se estiver falando do drone. Você tá viva, e pra mim isso é o que importa. Então, por favor, para de complicar as coisas e me deixa fazer isso por você. 

Judy parou o carro em frente ao prédio onde Lux morava. O motor do furgão ronronava baixinho, preenchendo o silêncio tenso entre elas. 

- Você não entende... Eu não quero te arrastar pra essa merd* que é minha vida - disse Lux, quebrando o silêncio. Sua voz carregava uma mistura de cansaço e frustração. - Eu nem sei como te permiti chegar até aqui, pra ser bem sincera. E nem sei por que você tá parada aqui, na frente da minha casa. 

No fundo, Lux sabia o porquê. Mas admitir isso? Nem pensar. 

- Eu tô aqui porque eu quero estar. - A outra respondeu, a voz firme, mas com uma ternura inconfundível. - Estamos tentando encontrar a Evelyn. Estamos juntas nessa, quer você goste ou não. 

Lux respirou fundo, desviando o olhar para a janela. O peso das palavras de Judy fazia algo apertar dentro do peito, mas ela empurrou essa sensação para longe. Seu braço latej*v* de dor e isso era o suficiente para distraí-la. 

- Já vou te avisando que meu apartamento tá uma bagunça - murmurou, resignada, como se aceitar a presença de Judy fosse uma derrota. 

Judy sorriu de leve, quase imperceptivelmente. 

- Tudo bem. - Sua voz era tranquila, desarmante. 

O silêncio voltou, mas dessa vez parecia diferente. Não tão pesado, quase... confortável. Elas saíram do furgão. Na entrada do prédio, Judy segurou a porta para Lux, um gesto simples, mas cheio de cuidado. Uma de suas mãos permanecia ligeiramente estendida, pronta para ajudar caso fosse necessário, embora soubesse que Lux dificilmente aceitaria. 

O caminho até o elevador foi silencioso, os passos ecoando no corredor estreito e vazio. As luzes fluorescentes lançavam sombras longas no chão, ampliando a sensação de que, por mais que estivessem acompanhadas, cada uma carregava sua própria solidão. 

Quando entraram no elevador, o espaço pequeno parecia encolher ao redor delas, como se o ar estivesse saturado de algo não dito, algo que ambas sentiam, mas não sabiam como nomear. Judy apertou o botão do andar e recostou-se discretamente na parede, as mãos nos bolsos. 

- Victor parece ser bem legal. - Judy disse de repente, quebrando o silêncio com um tom casual, mas que carregava uma leve tentativa de aliviar a tensão. 

- Ele é. - Lux respondeu de forma curta, quase seca. 

O silêncio voltou, mas agora tinha um peso diferente. Era como se cada segundo se esticasse, forçando-as a lidar com tudo o que pairava entre elas. 

Quando o elevador parou com um leve tranco, Lux foi a primeira a sair. Ela caminhou pelo corredor com passos firmes até a porta número 304. Passou pela leitura de íris no painel ao lado, e um leve bip sinalizou que a trava havia sido destrancada. A porta deslizou suavemente, revelando o interior do apartamento. 

- Bem-vinda ao meu caos.  

Lux não tinha deixado ninguém pisar ali desde que Aurora tinha partido. Algumas coisas dela ainda estavam por ali e mexer nelas parecia impossível. Mas, ao ver como Judy parecia tão à vontade, como se quisesse genuinamente ajudá-la, Lux sentiu uma confiança repentina, algo que não sabia que ainda era possível. Talvez fosse impulsivo, ou um pedido silencioso de socorro, mas ela permitiu que Judy entrasse, de algum modo, sem resistir. 

As luzes se acenderam automaticamente, revelando o pequeno loft. Apesar de ter um estilo moderno e futurista, com móveis minimalistas e tecnologia de ponta, o ambiente estava completamente desorganizado. Roupas estavam espalhadas pelo chão, um cinzeiro transbordava na mesa de centro, e garrafas vazias repousavam em vários cantos do ambiente. 

- Eu vou tomar banho. Tem cerveja na geladeira, se quiser. - Lux disse, num tom monótono, já caminhando para o banheiro, como se quisesse se esconder do olhar de Judy. 

Judy permaneceu em silêncio, mas seus olhos varreram o lugar com preocupação. A bagunça parecia refletir algo mais profundo. Ela ficou ali paralisada olhando tudo ao redor, como se pudesse conhecer mais de Lux, como se quisesse absorver cada detalhe de sua vida. 

Caminhou até o sofá e tirou a mochila de suas costas, abrindo espaço. Suspirando recolheu algumas roupas espalhadas ao seu redor colocando-as em um cesto. Jogou as cinzas do cinzeiro no lixo e empilhou as garrafas vazias no canto. Encontrou um pequeno comprimido rosa neon caído no chão com a sigla X-22 impressa em um dos lados. Aquilo a deixou ainda mais preocupada. Recolheu-o e jogou-o igualmente no lixo. Voltou a sala e se abaixou para pegar algo atrás da mesa de centro, quase debaixo do sofá, encontrou um pequeno quadro. 

O vidro estava trincado, mas a imagem ainda era visível: uma mulher deslumbrante com olhos de um lilás hipnotizante e cabelos escuros como a noite. Ela parecia feliz, e o cenário atrás dela não era Night City, mas Judy não conseguiu identificar onde era. 

Nesse mesmo instante, Lux saiu do banheiro. Seus cabelos estavam úmidos e uma toalha estava jogada de qualquer jeito sobre seus ombros. Vestia uma roupa mais confortável: uma calça de moletom e uma camisa branca, estava descalça. Quando viu Judy segurando o quadro, sua expressão imediatamente mudou para algo entre preocupação e irritação. 

- O que está fazendo? 

- Nada. Só estava caído no chão. - Judy respondeu calmamente, mas manteve o olhar fixo em Lux, avaliando cada reação dela. 

Lux se aproximou, pegou o quadro e, sem dizer nada, caminhou até seu pequeno guarda-roupa. Abriu uma gaveta no canto e jogou o quadro lá dentro, fechando-a com força. 

- Essa é a Aurora? - Judy perguntou, a voz suave, mas cheia de intenção. 

Lux parou abruptamente e virou-se para encará-la, os olhos levemente arregalados. 

- Onde ouviu esse nome? 

- Victor. - Judy respondeu, sem hesitar. 

Lux bufou, claramente irritada. 

- Ele é um boca aberta. 

- Na verdade, ele perguntou se a gente… sabe… 

- O quê? - Lux estreitou os olhos, a voz um pouco mais baixa. 

- Se estávamos juntas. - Judy disse, tentando parecer casual, mas havia um leve rubor em suas bochechas. 

Lux piscou, surpresa. O comentário a desarmou. Apesar de tudo, algo nela se aqueceu com a ideia. Não era exatamente desconfortável - na verdade, era quase agradável ouvir aquilo em voz alta.  

- Eu disse que não. - Judy continuou. - E então ele me contou sobre Aurora. 

- O que ele te disse? 

- Disse que você não era a mesma desde que ela morreu.  

- O que mais? 

- Que estava preocupado vendo você se destruindo. 

Lux caminhou até sua cama e sentou-se na beirada, o olhar perdido enquanto examinava a cicatriz em seu braço. Permaneceu em silêncio de cabeça baixa. Vários pensamentos inundando sua cabeça.  

- Ele te contou como ela morreu? - Lux perguntou ainda olhando para baixo. 

- Disse que ela era sua parceira. Que foi em uma missão. 

Lux assentiu, a dor visível em seus olhos. 

Judy disse: 

- Sinto muito que você tenha passado por isso. Não deve ser fácil. Eu… acho que entendo um pouco como você se sente.  

Lux riu, mas sem humor. 

- Você não entende. Ninguém entende como eu me sinto. 

O silêncio pairou entre elas, pesado. Judy ponderou suas palavras antes de quebrá-lo. 

- Você conhece Laguna Bend? 

Lux ergueu o olhar, intrigada. Perguntou: 

- Aquela vila que inundou há alguns anos? 

- Minha família inteira morreu naquele dia. - Judy disse, a voz baixa, mas firme. - Acho que consigo entender o que é perder alguém que eu amo. 

Lux encarou Judy, surpresa. Pela primeira vez, viu algo mais nos olhos dela: uma dor familiar, tão profunda quanto a sua. Ela abriu a boca para responder, mas as palavras não vieram.  

Sua voz soou quase como um sussurro. 

- Eu sinto muito. Eu não imaginava… 

- Tudo bem. - Judy respondeu, um pequeno sorriso triste nos lábios. - Ninguém imagina. A maioria nem pergunta. 

Lux ficou em silêncio, mas o peso das palavras de Judy parecia reverberar dentro dela. Pela primeira vez, sentiu um aperto no peito, uma empatia que não estava acostumada a experimentar, especialmente por alguém que não fazia parte de seu passado. 

- Você era próxima da sua família? - Lux perguntou, hesitante, sem saber se estava ultrapassando um limite. 

- Eram tudo o que eu tinha. Minha mãe, meu pai… meu irmão. - Judy fez uma pausa, seus olhos perdidos em alguma memória distante. - Quando tudo aconteceu, eu me senti… vazia. Como se o mundo tivesse me arrancado de mim mesma. Me senti culpada. Senti que eu preferia mil vezes ter ido no lugar deles. Senti que devia ter feito algo, qualquer coisa, mas estava quilômetros longe dali.  

Lux assentiu lentamente, reconhecendo a dor, a sensação de impotência. Disse com a voz carregada de culpa: 

- Fico repassando aquela noite na minha cabeça, várias e várias vezes, tentando entender onde eu errei, o que eu deveria ter feito diferente, o que eu poderia ter feito para salvá-la.  

O peso das palavras pairou no ar entre elas, como se um vínculo silencioso tivesse se formado na troca da dor compartilhada. O sofrimento de Lux estava exposto, não mais disfarçado ou guardado em algum lugar escondido de si mesma.  

- Eu até hoje sonho que chego e levo eles pra longe dali. Antes de tudo, sabe? - Judy falou com a voz embargada pela frustração de uma perda irreparável. 

Lux continuou: 

- Às vezes eu penso que, se eu parar de me culpar, vou esquecer dela. Como se fosse um jeito de mantê-la viva. 

Judy então, num ato de coragem levantou e caminhou lentamente até a outra. Sentou-se ao seu lado, o colchão afundando levemente com seu peso. Por um momento, nenhuma das duas falou. O silêncio que antes era pesado parecia agora eletrizado, como se o ar entre elas estivesse carregado de algo que nenhuma queria reconhecer. 

 Lux desviou o olhar, tentando esconder a vulnerabilidade que ainda latej*v* sob sua pele. Mas Judy estava perto demais, e o calor de sua presença parecia atravessar todas as defesas que Lux insistia em manter. 

 - Você não precisa carregar esse peso pra lembrar dela. As memórias que você tem, as coisas boas... elas não desaparecem só porque você está tentando seguir em frente. 

Lux virou o rosto na direção dela, o olhar hesitante, mas intenso. Pela primeira vez, deixou seus olhos realmente encontrarem os de Judy. O brilho gentil, mas dolorido, que encontrou ali a desarmou.

Judy continuou: 

- Você não precisa carregar isso sozinha, sabe? -  Disse baixinho. 

- E se eu não souber como dividir? - A pergunta escapou antes que pudesse pensar. 

Judy sorriu de um jeito quase imperceptível, inclinando-se levemente. Seus dedos hesitaram por um instante antes de tocar a mão de Lux.  

 - Então a gente aprende junto. 

Lux sentiu o coração acelerar. Não era o tipo de tensão que vinha de perigo, era algo mais sutil, mais assustador. Seus olhos caíram para o toque de Judy em sua mão. O gesto era leve, quase distraído, mas cada movimento parecia incendiar algo dentro de Lux. 

 Ela respirou fundo, sentindo o peso do momento prender em sua garganta. 

 - Judy... – começou, sua voz baixa e hesitante, tentando formar palavras que pareciam sempre fugir. 

Judy interrompeu suavemente, sua voz quase um sussurro. 

 - Você sente isso? – perguntou, enquanto seu polegar traçava lentamente a linha dos dedos de Lux. 

Lux congelou por um instante, suas defesas internas travando uma batalha contra a verdade que não queria admitir. O toque de Judy parecia mais quente agora, ou talvez fosse o calor que subia de dentro dela mesma, confundindo todos os seus sentidos. Era hipnotizante. Os pensamentos de Lux estavam em uma mistura caótica de desejo e medo. Ela queria aquilo, mas ao mesmo tempo, parecia estar caminhando em um terreno instável.  

Antes que pudesse pensar, Judy inclinou-se um pouco mais, aproximando-se devagar. Não havia pressa, apenas uma tensão que crescia de forma sutil. Seus olhos buscaram os de Lux por um instante, como se pedissem permissão, antes de seus lábios tocarem os dela em um beijo breve e delicado. 

Lux sentiu o mundo desacelerar. O toque era suave, quase hesitante, mas carregava uma intensidade que a fez fechar os olhos automaticamente. Quando Judy se afastou, não mais do que alguns centímetros, ela a observou e disse suavemente. 

- Só pra deixar claro...  

- O que?  

- Que eu quero você. 

Judy ainda estava próxima. Aquele perfume que deixava Lux desnorteada. 

- Minha cabeça ta toda ferrada, Judy. Eu não sei se consigo. - O medo era palpável em sua voz.  

Judy pareceu entender. Seu sorriso foi pequeno, quase imperceptível, mas cheio de uma certeza tranquila, sua voz quase como um abraço 

- Eu sei que talvez seja muito cedo, mas eu só queria que você soubesse disso. 

O olhar de Lux estava carregado de uma vulnerabilidade que era ao mesmo tempo nova e assustadora.  

- E eu não tô aqui pra te apressar ou te forçar a nada. – Judy afastou-se apenas um pouco. Sua mão apertou de leve a de Lux, como se quisesse transmitir que ela estava segura.   

Lux quem deslizou seus dedos sobre os dela dessa vez, experimentando as sensações que aquilo lhe trazia. Era um gesto pequeno, mas carregado de significado, como se, mesmo sem palavras, quisesse mostrar que aquilo também importava para ela. Que, apesar de ainda não estar pronta, não queria afastar o que estava crescendo entre elas. 

 - Você é boa nisso. – Lux disse, tentando aliviar o peso da conversa. – Dizer as coisas certas. Acalmar as pessoas. 

Judy riu suavemente, mas logo voltou seu olhar para Lux. 

- Acho que eu só aprendi com o tempo... – Judy falou com calma, quase pensativa, os dedos ainda entrelaçados aos de Lux. – A gente aprende a ouvir, a entender o que não é dito. E, talvez, a dar o espaço certo para o que ainda não pode ser dito. 

 Lux sentiu o calor das palavras, a suavidade delas tocando um ponto sensível. Ela queria protestar, fazer uma piada para desviar do olhar de Judy, mas algo a impediu. Era como se o que ela mais desejasse naquele momento fosse continuar ali, naquela troca silenciosa e quase íntima. 

- Está com dor? - Judy perguntou. 

- Sim.  

Não era apenas dor. Ela sentia um vazio no peito, uma dor silenciosa que tinha se instalado ali há tanto tempo que nem sabia mais como afastá-la. Era uma dor crônica, como uma ferida aberta que não cicatrizava nunca, mas que tinha aprendido a viver com ela.  

Mas Judy tinha apenas perguntado de sua dor física. 

Sem dizer mais nada, Judy levantou-se e pegou uma ampola de analgésico na mochila que Victor a tinha entregado. Com movimentos meticulosos, ela retirou a tampa da ampola, a ponta do vidro reluzindo sob a luz fraca do ambiente. Segurando-a firmemente, usou o polegar e o indicador para pressionar a parte inferior da ampola, forçando o líquido transparente a subir. 

 Com uma precisão quase automática, ela pegou a seringa, inseriu a agulha na ampola e, com um leve estalo, aspirou o líquido até a medida certa. O som da seringa sendo preenchida ecoou baixinho no silêncio da sala. 

- Minha mãe precisava de insulina regularmente, antes que pense que eu seja uma viciada. - Judy brincou, tirando um sorriso de canto de boca de Lux. 

 Voltou a se sentar ao seu lado, a seringa agora pronta.  

 - Posso? - perguntou, esperando por um sinal de aprovação. 

Lux assentiu, sentindo a proximidade de Judy de uma forma que ia além do físico. O toque delicado de Judy ao segurar seu braço, quase como se tivesse medo de machucá-la, a desarmou. Com cuidado, Judy localizou a veia no antebraço de Lux e, quando a agulha entrou suavemente na pele, Lux soltou um leve gemido de alívio. O líquido começou a percorrer suas veias e, com isso, uma onda de conforto tomou seu corpo quase que automaticamente. 

- Isso é... muito bom. – Lux murmurou, permitindo-se deitar na cama, seus olhos se fecharam lentamente enquanto a dor física que a consumia se dissolvia, dando lugar ao cansaço. 

Judy permaneceu ao seu lado, os olhos fixos em Lux. Ficou ali, parada, observando-a com uma intensidade silenciosa, como se estivesse tentando absorver cada detalhe dela, admirando algo que ia além da superfície. 

- Judy. - Lux resmungou, já meio adormecida. 

- Tô aqui. - Judy respondeu automaticamente, a voz baixa. 

- Obrigada. Por tudo. 

Judy sorriu, um sorriso pequeno e contido, mas genuíno.  Ficou ali, em silêncio, por longos minutos, o som ritmado da respiração de Lux enchendo o quarto. 

Judy estendeu a mão por um momento, como se quisesse tocar o rosto de Lux, mas parou no meio do caminho, deixando-a cair em seu colo. O simples pensamento era suficiente para fazer seu coração acelerar. 

Enquanto Judy observava Lux dormir, um misto de emoções a envolveu. Ela viu as linhas de tensão desaparecerem do rosto da mercenária enquanto a tranquilidade do sono tomava conta dela. Naquele momento, Lux parecia quase serena, tão diferente da mulher que carregava o peso de tantas perdas e responsabilidades. 

Havia algo tão íntimo naquele momento, algo que ela não queria quebrar. Seus olhos percorreram as feições de Lux, os traços marcantes e a cicatriz em seu braço. 

- Você é mais do que pensa que é, Lux. - Murmurou para si mesma, as palavras saindo como um pensamento em voz alta. 

Ajeitou uma manta sobre Lux, que se mexeu levemente, mas não acordou. Sentando-se no chão, encostada na beirada da cama, Judy finalmente permitiu que seus próprios pensamentos tomassem conta. Ela sabia que estava se envolvendo mais do que deveria, mas algo em Lux fazia isso parecer inevitável. Ficou ali, sabe-se lá quanto tempo, como uma guardiã silenciosa, cuidando de alguém que talvez precisasse mais disso do que jamais admitiria. 

Fim do capítulo

Notas finais:

Oi pessoas lindas :)

Eu amei escrever esse capítulo. Confesso que não esperava que fosse rolar um beijo nessa altura, mas às vezes a escrita vai fluindo de uma forma tão natural que acabou se tornando inevitável.

Eu mudei a arte da capa, mas não sei se já está aparecendo aqui no Lettera, incluí uma imagem da Judy, tal como ela é em Cyberpunk 2077.

Algumas coisas acontecem realmente no jogo, tal como o desaparecimento da Evelyn Parker, mas não existe um envolvimento tão intenso entre Judy e V, personagem do jogo. Fato que resolvi abordar nessa fanfic, agora criando uma nova personagem, a Lux, para ser par romântico da Judy.

Espero que estejam gostando do andamento.

Ignorem possíveis erros na escrita (e se os encontrarem me sinalizem, por favor).

Comentários são muito bem vindos! 

Até breve!


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Comentários para 5 - Guardiã Silenciosa:
alexvause
alexvause

Em: 03/02/2025

que coisa mais linda esse capitulo, amiga, a judy é muito linda, né? nao vejo a hora delas ficarem juntas logo

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Dessinha
Dessinha

Em: 28/01/2025

Com uma fanfic tão envolvente se houver erros de ortografia eles provavelmente passarão desapercebidos. Lux merece um amor tranquilo e a Judy parece uma pessoa foda, como ela tá precisando mesmo. Muito top!


thays_

thays_ Em: 31/01/2025 Autora da história
Ahh, muito obrigada! Fico feliz que a história esteja envolvente! Lux realmente precisa de alguém como a Judy, mas será que ela vai conseguir permitir isso? Espero que continue acompanhando! :DDD


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