Capitulo 5
Eu já estava naquele restaurante há três horas. A conversa com Mariana não tinha fim. Enquanto ela me fazia rir com as histórias da faculdade de gastronomia, eu não vi o tempo passar.
- Nossa! - me assustei ao olhar a hora. - Eu preciso ir, vou levar Lais ao cinema.
- Ah, que pena... Come a sobremesa primeiro. - Ela levantou, mas eu segurei seu braço.
- Vamos deixar a sobremesa para a próxima. - Ela me deu um sorriso de canto. - Você pode solicitar a conta, por favor?
- Não! Leve sua sobrinha ao cinema. Na próxima você paga. - Encarei seus olhos na tentativa de ler e entendê-la.
- Esse vinho deve custar os olhos da cara. - Ela riu e negou com a cabeça de uma maneira engraçada.
- Relaxa, vai lá. - Levantei, e ela me abraçou forte, deixando um beijo na minha bochecha.
- Obrigada pela tarde. Há muito tempo eu não ria tanto.
- Se precisar de palhaço para festa da Lais, estarei disponível. - Nós duas rimos juntas.
- Perfeito! - Ela sorria genuinamente. - Obrigada pela refeição, estava divina... Anjo da Lais.
Ela me acompanhou até a porta do restaurante e ficou me olhando entrar no carro, com os braços cruzados. Quando saí de lá, ela me deu um tchauzinho. Não vi quando ela entrou, mas pude respirar aliviada depois que ela sumiu de vista.
Levei trinta minutos até a casa de Larissa. Havia um carro preto estacionado em frente. Estacionei atrás e desci do meu carro. Só aquele fato já me deixou estranha. Toquei a campainha algumas vezes até que ela apareceu, estava feliz, era impossível não notar isso.
- Que sorrisinho é esse, hein? - Ela negou, colocando a mão na boca, e abriu o portão para que eu entrasse. Passei por ela, adentrando a porta de entrada e dando de cara com um homem sentado no sofá. Na mesa de centro, havia duas xícaras e alguns doces em uma bandeja.
- Boa tarde. - Falei sorrindo, porque, independentemente de qualquer coisa, minha mãe me deu educação.
- Boa tarde. - Ele sorriu, levantou-se e estendeu a mão para que eu apertasse. Apertei sua mão enquanto prestava atenção nas roupas que aquele homem usava. Eram roupas formais, como se ele estivesse indo ou voltando de algum lugar muito importante.
- Então... você é a irmã da Larissa? - Assim que ele fez essa pergunta, imaginei de quem se tratava. Suas roupas, seu sapato e o cheiro de perfume amadeirado... Esse era o advogado.
- Isso, muito prazer.
- Titia! - Lais correu para mim, pulando nos meus braços. Enchi-a de beijos enquanto ela se acomodava em mim.
- Cadê sua bolsa? - Perguntei. Coloquei-a no chão, e ela apenas saiu correndo para dentro do quarto dela.
- Ela vai dormir lá em casa hoje, viu? - Larissa só confirmou com um sorriso no rosto. Acho que era tudo o que ela queria. Lais logo voltou com sua bolsa rosa, brilhosa, com detalhes em lantejoulas.
- Dê tchau para sua mãe. - Larissa e Lais se abraçaram, e assim que Larissa largou sua filha, agarrei minha sobrinha pelo braço e segui com ela para fora da casa. Minha irmã nos seguiu, e quando saímos, ela dava tchau, com o corpo escorado no portão.
- Está animada? - Olhei para o banco de trás para perguntar a Lais, pois ela estava na cadeirinha. - Já sabe o que vai comer?
- Eu quero um milkshake de morango e uma pipoca gigante. - Ela parecia animada com a ideia do cinema.
Andamos devagar pelas ruas. O shopping tinha uma fachada grande, alta e inconfundível. Lais, mesmo sem saber ler, já sabia onde estávamos entrando. Quando passamos pela cancela, ela batia as mãos uma na outra e pulava na cadeirinha. Estacionei próximo à entrada, desci do carro e ajudei a tirar Lais da cadeirinha. Saímos de lá de mãos dadas.
Lais, como sempre, escolheu o filme que iríamos assistir e o que ela queria comer. Faltavam dez minutos para o filme começar, então decidimos entrar para a sala de cinema.
Sentamos nas cadeiras escolhidas e, antes mesmo de começar, eu e Lais já estávamos devorando a pipoca. Eu com o meu refrigerante zero e ela com o seu milkshake. O jeitinho dela, o sorriso só por estar ali, mostravam como sua mãe estava lhe dando uma boa educação. Já que aquele tipo de programação era uma coisa simples
[...]
Entrando em casa, subimos para o meu quarto, tomamos banho. Lais vestiu um pijama de unicórnio, com a calça azul e vários unicórnios estampados. A blusa também era azul e tinha um unicórnio grande em relevo, com algumas franjinhas rosas. Deixei Lais de frente para a TV e fui para a cozinha fazer meu chá de todos os dias. Voltei para a sala com a xícara, me sentei no sofá com os pés em cima, enquanto Lais estava esparramada nele. Estava passando "Marsha e o Urso", o desenho preferido dela.
- Lais, você está animada para sua festa?
- Muito! Você sabia, tia, que o Miguel, meu amigo da escola, disse que vai? - Sorri e puxei ela para que colocasse a cabeça no meu colo. - deu o convite a mulher que me salvou?
- Sim, eu entreguei a ela hoje.
- Eba! - Ela falou de uma maneira fofa, me fazendo sorrir. Por incrível que pareça, Lais não era a única que estava animada com a ida de Mariana ao aniversário dela. Fiquei ali com ela assistindo até perceber que ela estava dormindo.
A coloquei no braço e subi as escadas com ela até o meu quarto, colocando-a em cima da minha cama. Cobri o enorme unicórnio com um edredom e deixei o ar-condicionado no mínimo, do jeito que ela gosta. Fazia um friozinho gostoso. Desci somente para ligar o alarme e voltei para o quarto. Fiquei sentada na cabeceira da cama, com o abajur ligado, enquanto eu lia um livro.
Eu amava romances, mas depois da tragédia, prefiro ler terror. Eu estava totalmente imersa na leitura, parecia viver aquilo, quando senti uma mão no meu braço, o que me fez soltar um grito. Lais ria descaradamente, gargalhava como se a vida dela dependesse disso.
- Meu Deus! - Falei, colocando a mão no peito, enquanto ela sorria alto e apontava para mim.
Depois que o susto passou, me juntei a ela na risada, e nós deitamos juntas. Desliguei o abajur, e ela se juntou a mim como em um casulo. Eu a abraçava e sentia o cheirinho de tutti frutti do shampoo para cabelos cacheados. Assim, nós dormimos, sem hora para acordar.
Fim do capítulo
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Marta Andrade dos Santos
Em: 11/11/2024
Que momento descontraído kkkkk.
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