Capitulo 6
Acordei de um sonho perturbador, melhor... pesadelo. Eu fico revivendo aquele fatídico dia como se vivesse o mesmo dia todos os dias, em looping.
Fui direto para o banheiro. Fiz o que a minha terapeuta recomendou: coloquei a banheira para encher enquanto lavava o rosto, intercalando a respiração para acalmar os batimentos cardíacos. Comecei a andar dentro do meu quarto contando os passos. Precisava sentir que estava em casa e bem.
O banho foi reconfortante e fez com que aquela agonia acabasse. Ao sair, fiquei andando só de toalha pela casa, descalça, sentindo que aquele lugar me pertencia.
Fiz meu café, regado com frutas, enquanto via as notícias. Olhei a hora no relógio, que marcava dez horas e alguns minutos. Enquanto comia e navegava pelas atualizações do dia, apareceu na tela o nome de Larissa e a foto dela.
- Oi! - atendi a ligação, mas ela parecia eufórica, além do barulho ao redor.
- Que horas você chega? - parei para pensar por fração de segundos e lembrei que hoje era o aniversário de Lais. O sonho acabou me fazendo esquecer disso, algo que venho preparando há meses.
- Chego em vinte minutos.
- Tá. - A ligação foi encerrada por ela, e eu saí correndo dentro de casa para me arrumar. Demorei mais de vinte minutos para sair de casa, mas no carro acelerei um pouco, mesmo não gostando disso.
A fachada do local que Larissa escolheu era gigante. Um lindo arco-íris na porta, feito de balões, já estava lá. Entrei e, dentro, o lugar era enorme. À direita, vários brinquedos infláveis de diversos tipos estavam sendo preparados. As maquininhas de comida, como pipoca e algodão doce, estavam bem no canto, mas muito bem arrumadas. Um grande salão com várias mesas e cadeiras, todas com toalhas rosas e arranjos de flores com um unicórnio em cima. No canto, o local onde ficaria o bolo e algumas decorações. Balões por toda parte, unicórnios por todos os lados, além de mais arco-íris.
- Que bom que finalmente chegou! - Larissa gritou do outro lado, fazendo com que eu virasse na sua direção. O cabelo dela estava bagunçado, e ela parecia desapontada com a minha demora.
- Calma, garota. - Ela cruzou os braços e eu fui até ela. - Coloca uma música animada. - Falei, jogando minha bolsa em uma das cadeiras que estavam ali, numa espécie de cozinha, e olhei ao redor. Aparentemente, havia poucas decorações ali. - O que houve?
- As pessoas que iriam fazer a decoração só fizeram aquela parte. Eles disseram que o custo era só daquele painel, das mesas e dessa área. - Ela apontou para o painel, que estava bonito, mas ainda faltava algo.
- E agora?
- Vamos ter que fazer nós mesmas. - Ela suspirou e me deu as costas, ligando o sistema de som do lugar. - No dia em que tudo sair certo no aniversário da Lais, eu mudo o nome dela. - Nós duas rimos. Realmente, sempre que vamos organizar algum aniversário para Lais, algo sempre acontece. Da última vez, o buffet errou o endereço e quase ficamos sem comida.
- Então vamos lá! - Falei, amarrando o cabelo e dobrando a manga da blusa de forma engraçada, tirando um sorriso do rosto dela, que estava tão preocupado.
Não sei se foi a falta de maturidade, a falta de habilidade ou o fato de que nós duas não sabíamos exatamente o que estávamos fazendo, mas demoramos seis horas para deixar tudo pronto e, acredite, faltava apenas uma hora para o aniversário e nós duas estávamos suadas e cansadas.
Fui para casa o mais rápido possível. Só precisava pegar o presente dela antes disso. Entrei quase correndo. O sol já estava se pondo e a luz da lua passava a iluminar a rua, com o auxílio dos postes. A maquiagem foi rápida e simples, alguns acessórios, minha roupa e uma sandália baixa, nada demais. Afinal, era um aniversário infantil.
Parei o carro no mesmo lugar que havia deixado mais cedo. Algumas pessoas já tinham chegado. O lugar que foi separado para os presentes já estava cheio, e várias pessoas estavam sentadas nas mesas. Duas mesas grandes foram separadas para os familiares da Lais. Duas mesas porque a família do pai não se dá bem com a família da mãe.
Fui à procura de Lais. Eu precisava entregar o presente dela. Levava uma caixa enorme nos braços, que estava pesada, com um laço vermelho muito mal feito por mim. Quando ela me viu, saiu do castelo de bolinhas correndo em minha direção.
- Titia! - Ela me abraçou forte, me fazendo rir e levantar a caixa.
- O que você acha que tem aqui? - Coloquei a caixa no chão para que ela abrisse.
- Uma bicicleta? - Neguei com a cabeça, e ela se apressou para abrir. Quando conseguiu, ela gritou, chamando a atenção das pessoas para nós.
- TIA LENA! - Ela me abraçou forte de novo, fazendo com que eu a pegasse no colo. Dei alguns beijos em seu rosto. - Muito obrigada, Lala te ama. - A abracei o mais forte possível e depois a coloquei no chão para que ela pudesse pegar o cachorrinho nos braços. Eu nunca a vi tão feliz, nunca a vi chorar por algo. Ela se sentou no chão mesmo e abraçou o cachorro.
- Pensando bem, acho que eu deveria ter deixado para dar só amanhã.
- Não, amei! - Ela saiu andando com o cachorro nos braços. Eu estava feliz por fazê-la feliz, mas... olhei para Larissa. Ela me encarava com os braços cruzados e os olhos cerrados. Assobiou: "Vou te matar." *Entendo leitura labial. * Eu só ri e saí.
Me sentei em uma mesa, já que a mesa da nossa família estava lotada de pessoas com as quais eu não me dou bem. Estava sozinha na mesa, mas isso não me importava muito. Um cheiro familiar invadiu minhas narinas e me deu uma sensação de nostalgia.
- Parece que ela gosta muito de unicórnio... - A frase foi sussurrada bem perto do meu ouvido. Virei e dei de cara com um par de olhos azuis.
- É, ela gosta! - Há muito tempo eu não me sentia tão nervosa. A sensação no estômago estava presente, e os batimentos cardíacos? Ainda bem que não estou usando nada para aferir, ou alguém perceberia.
Fim do capítulo
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Marta Andrade dos Santos
Em: 11/11/2024
Aí você morre Helena kkkkk.
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