— Sônia acabou de me ligar… Mais um cliente perguntou por mim no escritório.

            Laila estava aguando as plantas na varanda. Deixou o regador vazio na mesa e olhou para ela:

            — Você acha que eles vão mudar de escritório quando você voltar a trabalhar?

            Deu de ombros e se sentou:

            — Não sei. Eu não vou atrás deles, não faria isso com…

            Fez uma pausa e completou baixo:

            — Meu pai.

            Depois de alguns segundos continuou:

            — Mas se eles me procurarem…

            Laila se sentou na frente dela:

            — Você já decidiu o que vai fazer?

            Não perguntava aquilo com frequência porque sabia que era um assunto ainda complicado para Marisa.

            — Não. Mas eu quero resolver logo isso, não aguento mais ficar só estudando. Preciso pegar uma causa, escrever uma petição, participar de audiências, ter cliente me ligando às nove da noite de um sábado…

            Laila riu da última frase:

            — Eu sei que você sente falta do trabalho. E essa decisão é sua… Pensa no que você quer, no que vai te fazer bem. Acho muito madura e empática essa sua postura de se preocupar com sua família, mas… Você também tem que pensar em você, meu amor.

            Marisa respondeu balançando a cabeça:

            — Eu sei, eu sei. E juro que tô tentando.

            Depois recostou o corpo na cadeira e disse:

            — Eu pensei numa outra possibilidade… Ainda não analisei profundamente, é só uma ideia que passou pela minha cabeça.

            Laila a esperou completar:

            — Talvez eu pudesse abrir um escritório… Só eu, no começo, pra ver como vai ser, se vai dar certo… Captar alguns clientes. E futuramente, se tudo corresse bem, expandir um pouco.

            Laila sorriu para ela:

            — É uma ideia considerável. Experiência e conhecimento pra isso você tem de sobra.

            Marisa pegou a mão dela e beijou:

            — Você sempre me coloca pra cima, sabia?

            Depois acariciou o rosto dela e disse a olhando nos olhos:

            — Obrigada.

            Laila devolveu o carinho e falou:

            — Quem sabe eu não serei uma futura contratada desse escritório?

            Marisa a puxou para mais perto:

            — Não sei… Eu teria que fazer uma entrevista minuciosa, bem detalhada e demorada.

            Laila disse indignada:

            — Ah, você pretende entrevistar todas as suas candidatas assim? De forma bem detalhada?

            Marisa beijou o pescoço dela, depois o queixo, antes de chegar aos lábios:

            — Claro que não. Esse tratamento é especial pra você.

*****

            — Então quer dizer que agora a coisa é séria?

            Laila sorriu enquanto mastigava e acenava positivamente com a cabeça.

            — Ela já se mudou?

            Respondeu à amiga depois de um gole no gin:

            — Praticamente sim. Amanhã vamos pegar as últimas coisas que ficaram lá e entregar as chaves do apartamento.

            Bárbara a encarou por alguns segundos, depois sorriu:

            — Você sabe que a gente se preocupa com você, por isso nossa…

            Laila completou a fala dela, também sorrindo:

            — Desconfiança?

            Tales entrou na conversa:

            — Cautela.

            Laila estava estranhando o amigo estar tão calado. Olhou pra ele quando falou:

            — Eu sei. E amo vocês por isso.

            Ele estendeu a mão e segurou a dela:

            — Mas nós também estamos vendo o quanto você está feliz. E isso é o que importa.

            O celular tocou e Laila atendeu imediatamente:

            — Oi, amor.

            Percebeu os amigos fazendo caras e bocas diante da voz melosa. Riu e fez uma careta para eles antes de responder à Marisa:

            — Tá bem… Quando você chegar pode subir direto, Tales já deu seu nome na portaria. Beijo… Também te amo…

            Assim que desligou e colocou o celular de volta na mesa, ouviu Bárbara dizer:

            — Clima de lua de mel.

            Tales brincou:

            — Só falta o casamento.

            Laila riu com eles e disse:

            — Quem sabe um dia.

            Falando um pouco mais baixo, como quem toca em um assunto proibido, Bárbara perguntou:

            — E o ex-marido? Ele aceitou numa boa?

            Suspirou e respondeu devagar:

            — Numa boa, não… Mas eu achei que fosse ser pior. Nós o encontramos em um aniversário há duas semanas… Ele e os pais de Marisa.

            Tales projetou o corpo para frente, demonstrando interesse no assunto:

            — Como assim? Que aniversário? O que aconteceu? Teve barraco?

            Cortando um pouco a empolgação dele, respondeu:

            — Não, não teve barraco. Foi o aniversário da nossa ex-secretária do escritório.

            Bebeu mais um gole do gin antes de falar:

            — Vocês acreditam que ele teve a coragem de ir até nossa mesa pedir pra gente ir embora?

            Os dois amigos falaram juntos, quase gritando:

            — O quê?

            Depois perguntaram, se complementando:

            — Como assim?

            — E o que vocês fizeram?

            — Mas ele simplesmente mandou vocês saírem?

            — Não tô acreditando!

            Laila riu da indignação deles e depois explicou detalhadamente tudo que havia acontecido, desde o momento em que chagaram na festa de Sônia, até a hora em que Edgar e os pais de Marisa foram embora.

            — Olha, preciso admitir que a doutora ganhou pontos comigo.

            Bárbara concordou com o amigo:

            — Total!

            Ainda conversaram por alguns minutos até a campainha tocar. Como anfitrião, Tales levantou imediatamente e abriu a porta já sabendo que era Marisa. A cumprimentou com dois beijinhos:

            — Seja bem-vinda, não repara a bagunça… Cheguei do trabalho em cima da hora.

            Depois Marisa cumprimentou Bárbara e se sentou ao lado de Laila, dando um beijo rápido nos lábios dela, que perguntou:

            — Conseguiu terminar?

            Marisa a respondeu no momento em que Tales colocou uma taça, já cheia, na frente dela:

            — Sim. Já até enviei.

            Depois olhou para ele e sorriu:

            — Obrigada!

            Bárbara perguntou logo em seguida:

            — Laila falou que você precisava finalizar um artigo pro doutorado. Como está sendo? Você tá gostando? Tenho vontade de fazer, mas às vezes me bate um desânimo…

            Emendaram em uma conversa sobre estudos e vida profissional, fazendo com que, dessa vez, não houvesse nenhum tipo de constrangimento ou clima estranho entre eles.

            Algumas horas depois, Laila se pegou apenas observando os três conversando, como se também fossem amigos há anos. Sorriu sem nem sentir, extremamente feliz e aliviada em ver Marisa entrando de vez no seu mundo.

            *****

            Semanas depois, quando Laila chegou do trabalho, Marisa estava a esperando na porta. Beijou Laila rapidamente, mas com bastante ímpeto.

            Laila já conhecia cada sorriso dela, e sabia que aquele significava que ela estava genuinamente feliz e queria dizer alguma coisa. Perguntou, tirando o blazer:

            — O que foi?

            Ela se aproximou e a abraçou pela cintura:

            — Oficialmente tenho meu primeiro cliente.

            Laila sorriu, passando os braços pelo pescoço dela:

            — Parabéns, meu amor! Que notícia boa!

            Beijou Marisa na boca e na bochecha repetidas vezes, antes de completar:

            — Tô muito feliz por você!

            A decisão de Marisa tinha sido tomada rodeada de cautela e um pouco de insegurança. Laila esteve ao lado dela o tempo inteiro, a apoiando e incentivando. Depois que resolveu a parte burocrática, disse para Sônia que se alguém a procurasse de novo, poderia passar seu contato.

            Recebeu a ligação no meio da tarde. Era um cliente que já conhecia há bastante tempo. Ele disse que não teve nenhum problema com o escritório de doutor Adriano, mas confiava e gostava do modo de Marisa trabalhar e se comunicar com a empresa. Depois de algum tempo de conversa, disse que o jurídico mandaria um e-mail para acertarem tudo.

            — Eu sei, se não fosse você, eu ainda estaria na dúvida sobre o que fazer.

            Laila a beijou de novo:

            — Nada disso, eu só te dei apoio. O mérito é todo seu.

            Beijando o pescoço dela devagar, subiu a boca até o ouvido de Laila, falando com a voz travessa:

            — Que tal se a gente comemorasse agora? Hum?

            Laila fechou os olhos com o arrepio que a boca de Marisa causou. Com certa dificuldade, disse:

            — Acho ótimo, mas eu preciso de um banho antes.

            Marisa levantou o rosto, a olhando e sorrindo:

            — Excelente ideia, doutora.

            Sem dar chance para que Laila dissesse alguma coisa, ou protestasse, a puxou pela mão até a suíte do quarto. Voltou a beijá-la e, demonstrando a vontade que estava de ter o corpo dela no seu, quase arrancou a camisa e a calça dela.

            Laila apenas se deixou levar, correspondendo as beijos de Marisa com a mesma paixão. Colou os corpos, se esfregando contra Marisa com vontade. Separou as bocas apenas para tirar a blusa dela, que estava sem sutiã. Sorriu com a visão, antes de voltar a beijá-la, passeando as mãos pelos seios de Marisa, sentindo a pele dela completamente arrepiada.

            Terminaram de se despir juntas, sem cessar os beijos e carícias. Laila entrou primeiro no box e ligou o chuveiro, sentindo Marisa a abraçar por trás — colando o corpo nu no dela — logo em seguida. Não soube se o arrepio que sentiu foi causado pela água morna ou pelas mãos de Marisa que não pararam de explorá-la nem por um segundo. Passou as mãos pelo rosto e pelos cabelos molhados, colocando-os para trás. Virou de frente para Marisa, a puxando para que ela também pudesse se molhar por completo.

            Depois que ela molhou os cabelos, Laila a puxou pela nuca, voltando a beijá-la, e encostou o corpo de Marisa contra a parede. Passou a boca dos lábios para o queixo dela, descendo pelo pescoço, até parar nos seios. Marisa enfiou os dedos nos cabelos molhados dela e fechou os olhos, enquanto as pernas se apartavam involuntariamente. Sentiu a mão de Laila descer da sua cintura, passar pelas coxas e parar em seu sex*, acariciando devagar.

            Um gemido escapou de sua garganta, quando sentiu os dedos de Laila entrarem. Ela subiu a boca, voltando a encontrar os lábios de Marisa, enquanto movimentava os dedos dentro dela. Marisa interrompeu o beijo várias vezes, apenas porque precisava respirar — o que estava sendo muito difícil naquele momento — mas as bocas continuavam unidas. Foi desse jeito, contra a boca dela que Laila pediu, com a voz rouca:

            — Dá pra mim…

            Marisa se agarrou a ela quase com desespero, gem*ndo ainda mais alto, e fez o que Laila pediu, rebol*ndo nos dedos dela, já totalmente sem controle sobre o próprio corpo, apenas seguindo o que o desejo ordenava. Quando sentiu os primeiros espasmos, puxou o rosto de Laila e a olhou nos olhos.

            Laila sentiu a respiração falhar quando encontrou os olhos de Marisa. Ver o rosto dela cheio de desejo fez com que  intensificasse o ritmo dos dedos e não demorou para sentir o corpo de Marisa vibrando, enquanto ela fechava os olhos e jogava a cabeça para trás.

            Ficaram na mesma posição por alguns minutos, com Marisa se apoiando em Laila, pois as pernas estavam fracas:

            — Como você consegue fazer isso comigo?

            Laila beijou o pescoço dela, a apertando ainda mais contra si, antes de perguntar:

            — Isso o quê?

            Marisa colocou as duas mãos no rosto dela:

            — Isso… Eu só sinto dessa forma com você… Nunca, em toda minha vida, foi assim…

            Desceu as mãos para a cintura dela e a beijou devagar, querendo expressar o sentimento que tinha acabado de tentar explicar. Depois sorriu, lembrando que foi aquele mesmo sentimento que a assustou a ponto de fugir, muito tempo atrás. Mas agora que podia senti-lo, e usufruir dele sem nenhuma barreira, uma felicidade exorbitante fez uma corrente elétrica atravessar todo seu corpo:

            — Eu te amo, Laila. Você é a melhor coisa que aconteceu na minha vida.

 

Fim do capítulo