Capítulo 25
Marisa desceu do carro primeiro e deu a volta até a porta do carona, que já estava aberta, mas Laila ainda não tinha descido. Estava retocando o batom usando o espelho do quebra-sol. Marisa esperou, a observando com um sorriso bobo nos lábios. Quando ela terminou e desceu, estendeu a mão direita para ela:
— Você está absurdamente maravilhosa…
Laila sorriu segurando a mão dela, se aproximou e sussurrou próximo ao ouvido de Marisa:
— E você está muito gostosa nesse vestido… Tô doida pra chegar em casa e aproveitar…
Marisa soltou uma risada deliciada e as duas caminharam até a entrada do salão de festas, de onde já ouviam a música do ambiente. Assim que entregaram os convites individuais, Laila soltou a mão da de Marisa, que imediatamente olhou para ela:
— O que foi?
Olhando para dentro do local, Laila perguntou:
— Nós vamos entrar de mãos dadas?
Marisa virou o corpo, ficando completamente de frente para ela. Apesar da segurança com que disse:
— Por mim, sim… A não ser que você não queira.
Laila ainda não parecia convencida:
— Não é isso. Você sabe que as pessoas… Vão olhar e comentar, né?
Marisa voltou a segurar a mão dela na sua:
— Sim. Isso é um problema pra você?
Laila sorriu para ela e fez que não com a cabeça. Estava apenas preocupada com Marisa, se ela ficaria confortável com a situação. Tinha medo de que Edgar ou o pai dela reagissem de forma inapropriada no meio de todos, mas percebeu que Marisa não estava brincando quando disse que não devia satisfação a nenhum deles. Refletindo a certeza de Marisa, respondeu apertando a mão dela:
— Vamos entrar.
Como imaginou, os outros convidados notaram imediatamente a presença delas. Percebeu olhares curiosos e sussurros disfarçados. Reconheceu algumas pessoas do escritório do pai de Marisa, que acenaram de longe, outras nunca tinha visto. Estavam quase no meio do salão quando Sônia veio ao encontro delas, sorrindo:
— Que bom que vocês vieram!
Marisa a abraçou primeiro, enquanto desejava ainda dentro do abraço:
— Feliz aniversário! Que você tenha muitos anos de vida!
Depois Sônia se virou para Laila:
— Doutora, você não imagina como estou feliz com sua presença.
Laila sorriu e pediu, antes de também abraçá-la:
— Sem doutora, por favor…
Depois disse:
— Feliz aniversário! Eu adorei o convite.
Outros convidados chegaram e Sônia apontou uma mesa vazia para que elas se sentassem, antes de ir em direção às outras pessoas.
Assim que se acomodaram, um garçom se aproximou oferecendo cerveja. Laila disse para Marisa:
— Se quiser, eu dirijo. Não vou beber hoje.
Agradecendo ao garçom, Marisa respondeu:
— Ainda não. Talvez daqui a pouco.
Laila manteve os olhos nela e disse calmamente:
— Seus pais estão sentados algumas mesas atrás da nossa.
Marisa não olhou na direção que ela tinha informado:
— Pelo menos vão saber que estou viva.
Laila já conhecia aquele pequeno sorriso que Marisa usava para esconder a decepção. Depois de alguns segundos completou:
— Edgar está com eles.
Ela meneou a cabeça:
— Como esperado.
Buscou a mão dela por debaixo da mesa:
— Tudo bem?
Marisa entrelaçou os dedos no de Laila e disse com firmeza:
— Sim.
Sorriu para Laila e ia falar mais alguma coisa, mas foram interrompidas por uma voz detestável:
— Sua mãe não está se sentindo bem com sua presença.
Olharam juntas para Edgar, em pé ao lado delas. Marisa respondeu sem hesitar:
— Eu estou aqui porque fui convidada pela dona da festa.
Ele manteve o tom rude:
— Seu pai quer que vocês saiam.
Marisa franziu o cenho:
— Como é? A única pessoa que pode nos convidar a sair é a aniversariante.
Laila percebeu as pessoas ao redor olhando. Apesar de os dois estarem mantendo o que parecia uma conversa normal e a música não permitir que os outros ouvissem o que eles falavam, quem os conhecia sabia da tensão estabelecida.
— Vamos evitar constrangimentos, Marisa. Vocês nem deveriam ter vindo.
Nesse momento Sônia se aproximou da mesa, colocando a mão no ombro de Marisa:
— Tudo bem aqui?
Edgar se virou para ela e começou a falar em um tom completamente diferente e dissimulado:
— Sabe o que é, Sônia… Doutor Adriano gostaria que essas duas se retirassem. Inclusive ele está um pouco desapontado com você. Esse é um evento de família, não é apropriado que…
Mantendo a mão apoiada em Marisa, e colocando a outra no ombro de Laila, ela o cortou:
— As meninas são minhas convidadas. Não estou entendendo o que a vontade do doutor Adriano tem a ver com a situação.
Sem querer que aquela conversa se tornasse, de alguma forma, um inconveniente para Sônia, e temendo que ela fosse prejudicada no escritório, Marisa interveio, olhando para ela:
— Se você preferir, a gente vai embora.
Sônia imediatamente respondeu:
— De jeito nenhum!
Depois ela olhou para Edgar:
— Eu mesma vou falar com o doutor Adriano. Você me acompanha?
Assim que os dois se afastaram, as duas voltaram a se olhar e Marisa perguntou:
— Você quer ir?
Apesar de estar desconfortável e temendo que algo mais extremo acontecesse, Laila não cederia assim tão fácil a Edgar e ao pai de Marisa. As duas não tinham feito nada, não tinham provocado aquela situação, apenas estavam vivendo suas vidas:
— Não. São eles os incomodados.
Marisa sorriu para ela e estendeu a mão por cima da mesa. Laila sorriu de volta e pousou a mão por cima da dela. Nesse momento viram os pais de Marisa e Edgar passarem pelo salão, até saírem pela porta. Sônia voltou até a mesa delas e disse:
— Eles tiveram que ir embora.
Marisa se desculpou com ela:
— Me desculpa… Não queria causar esse problema.
A mulher sorriu para as duas:
— Vocês não causaram problema nenhum. Só quero nessa festa pessoas que gostam de mim e querem celebrar comigo. O resto não tem importância. Agora vamos aproveitar!
Algumas horas depois, Marisa já tinha bebido alguns copos de cerveja para relaxar. Sem a presença de doutor Adriano na festa, outros ex-colegas de escritório ficaram a vontade para ir até elas e cumprimentá-las. Conversaram com vários deles por muito tempo, sem que ninguém demonstrasse nenhum tipo de constrangimento por elas estarem juntas.
Quando ficaram sozinhas de novo na mesa, Marisa se levantou e estendeu a mão para Laila, que a olhou sem entender.
— Vamos dançar?
Laila segurou a mão dela e se levantou rindo:
— Não foi você quem disse que não sabia dançar?
Já colando o corpo no dela, respondeu:
— Não sei mesmo… Mas adoro quando você me ensina.
Dançaram duas músicas com os corpos e os rostos colados, até Marisa dizer:
— Acho que esse é o meu limite.
Riram juntas, voltando a sentar. Laila a olhou fixamente, o riso se transformando em sorriso, até ficar com a expressão séria. Não soube por que exatamente naquele momento, mas a vontade de verbalizar o que estava sentindo a inundou. Diferente das outras vezes que tinha acontecido, não quis reprimir, nem se assustou, apenas se permitiu dizer:
— Marisa, eu te amo.
A surpresa com aquela declaração inesperada ficou evidente na forma com que as sobrancelhas de Marisa se arquearam. O sorriso que apareceu em seus lábios foi involuntário. Acariciou o rosto de Laila num gesto repleto de carinho e cuidado, depois disse:
— Eu também amo você, meu amor.
*****
Quando Laila estacionou o carro na garagem do prédio, olhou para Marisa adormecida ao seu lado e sorriu. Tirou o cinto de segurança e se aproximou dela, acariciando seus cabelos:
— Marisa…
Ela se mexeu devagar, mas não despertou. Laila beijou seu rosto e disse um pouco mais alto:
— Chegamos.
Abriu o olhos parecendo confusa. Olhou para Laila e perguntou:
— Quanto tempo eu dormi?
Ela respondeu rindo:
— Durante todo o caminho.
Subiram de mãos dadas e quando entraram na casa de Laila, Caju já estava na porta as esperando. Pulou e cheirou as duas, como se não as visse há anos.
Marisa foi tomar banho primeiro. Laila deitou no sofá e ligou a TV, enquanto esperava. Caju se acomodou perto dela, que o abraçou, acariciando a barriga dele.
Quando Marisa saiu do banheiro e foi até a sala, a imagem que viu aqueceu seu coração. Brincou, enquanto enxugava o cabelo com a toalha:
— E onde eu deito?
Laila apertou Caju nos braços:
— A gente deixa você colocar um colchão aqui do lado, não é, Caju?
Marisa riu, foi estender a toalha e quando voltou à sala, Laila já estava sentada. Ela esticou a mão, chamando Marisa:
— Vem cá.
Assim que ela se sentou, Laila beijou seu rosto, e cheirou seu pescoço. Depois a olhou:
— Sabe o que eu estava pensando?
Marisa beijou os lábios dela rapidamente antes de perguntar:
— O que?
Laila sorriu e segurou sua mão:
— Acho que o Caju gosta do meu apartamento.
Marisa riu e acariciou o pelo dele, que continuava confortavelmente deitado ao lado de Laila:
— Do apartamento e de você.
Laila disse devagar, como se quisesse testar a reação dela:
— O que você acha de… Vocês dois… Se mudarem pra cá em definitivo?
Marisa a olhou e perguntou calmamente, demonstrando o receio na forma pausada com que falou:
— Eu iria amar, mas… Você... Tem certeza? Não vamos atrapalhar?
Ela se aproximou, precisando suprir a vontade de contato físico, e sentou no colo de Marisa:
— Tenho. A gente já dorme junto todo dia… Eu não consigo ficar nem vinte e quatro horas longe de você.
Marisa a apertou contra si:
— E eu não consigo nem a metade disso…
Laila a beijou devagar, depois disse:
— Até que a gente demorou para os padrões das lésbicas… Geralmente uma namorada se muda para a casa da outra no segundo encontro.
A única coisa que Marisa ouviu foi:
— Namorada?
Laila afastou um pouco o rosto para olhá-la nos olhos:
— Não somos?
Marisa tentou controlar o sorriso, fazendo charme:
— Eu não fui pedida em namoro…
Laila a olhou, colocou as duas mãos no rosto dela e perguntou:
— Marisa Chermont Gouvêa, você aceita namorar comigo?
Sorrindo abertamente, encostou a testa na dela e sussurrou, antes de buscar os lábios de Laila com vontade:
— Claro que sim, meu amor.
Fim do capítulo
Oi! Estamos chegando ao fim. Na terça vou postar o penúltimo capítulo e na quinta o último. Abraço!
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Julika Sempre
Em: 02/09/2024
Lindas
Bem que elas poderiam abrir um escritório juntas. E chamar a Sônia pra trabalhar com elas
Parabéns
Continue
AlphaCancri
Em: 03/09/2024
Autora da história
É uma possibilidade, hein rsrs
Obrigada, que bom que gostou do capítulo :)
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SeiLá
Em: 02/09/2024
Que capítulo fofo socolo!
AlphaCancri
Em: 02/09/2024
Autora da história
As duas estão absolutamente melosas… É o amor, né?
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HelOliveira
Em: 02/09/2024
Tão lindas juntinhas e olha viraram namoradas e já vão morar juntas ..
Sonia é uma amigona será que vai sobrar algo pra ela?
AlphaCancri
Em: 02/09/2024
Autora da história
Acho que nenhuma das duas quer perder mais tempo…
Sônia uma amiga de verdade, né?
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Mmila
Em: 02/09/2024
Lindas!!!!!!
Muito bom deseconomia de romance.
Em, como todo romance (tô falando da escrita), tem começo, meio e fim. Vai deixar saudades.
Muito bom autora. Parabéns!
AlphaCancri
Em: 02/09/2024
Autora da história
Muito obrigada! Que bom que gostou do capítulo.
Romance em exagero por aqui rsrs
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AlphaCancri Em: 03/09/2024 Autora da história
Só amor por aqui!