POV Cecília.

 

Os dias se tornaram semana e as semanas se tornaram meses.

 

Havia três meses que eu não dirigia uma única palavra com Sarah, eu a evitava de todas as maneiras possíveis. Não queria uma pessoa como ela perto de mim novamente.

 

Desde o dia em que a deixei sozinha na minha sala até o dia hoje, foram muitas lágrimas derramadas e muita maquiagem para disfarça o caco que eu estava por dentro.

 

Doía ainda mais o fato dela ter me acusado de algo tão ruim como se cúmplice em um assassinato. Não posso pregar aqui que eu fui santa, porque a verdade é que nunca fui, mas nunca chegou em um ponto tão grande como esse. Eu sabia que teria que conquistar o João Pedro, mas apenas isso, nada mais foi me passado, se eu soubesse tudo, nunca teria aceitado. De qualquer forma eu fui depor na delegacia contra João Pedro e confesso que me sentir um pouco melhor em fazer isso.

 

Manuela ficou furiosa com a Sarah e até tentou ir falar com ela, mas eu não deixei. Só queria um pouco de paz. Renata veio falar comigo depois de uns dias e se desculpou por tudo, ela parecia decepcionada com a melhor amiga, mas ela não tinha culpa de nada e fiz questão de deixar isso claro. Denis ficou sem entender porque me afastei de todos, mas eu só disse que precisa de um tempo, óbvio que o loiro sabia que tudo tinha a ver com sua prima, mas ele respeitou minha vontade.

 

Bruna percebeu que eu não estava bem e ficou mais próxima. Ela sabia do meu término e eu sabia que ela não ficou nenhum pouco triste, mas mesmo assim a garota vivia tentando me animar. Ela sempre trazia algo para mim, um doce, um bombons, era sempre algo de comer e algumas vezes isso arrancava alguns sorrisos meus. Só que nada mudou, eu ainda a enxergava apenas como uma amiga.

 

Deborah tentou encher meu saco nas primeiras semanas, mas percebendo minha apatia por tudo e até mesma por ela que sempre conseguia me tirar do sério, ela decidiu fazer algo de útil pelo menos uma vez na vida e não me procurou mais.

 

Marcos faria aniversário e no sábado seria a comemoração. Os amigo se reuniram para dar uma festa surpresa ao garoto, já que Marcos não tinha a menor condição de bancar qualquer festa. Todos foram convidados e eu tentei escapar de todas as maneiras possíveis, pois não tinha clima nenhum para comemorações, mas Manuela insistiu tanto que eu não tive como fugir.

 

A festa de Marcos estava acontecendo nesse mesmo momento, mas eu passei o dia todo trancada no quarto que Denis deixou eu ficar. Aliás, a festa de Marcos era na mesma casa de praia que havia sido a festa do Denis, com a diferença que a do Marcos estava acontecendo durante o dia e do loiro foi apenas na parte da noite. Eram quase seis da tarde quando decidir sair do quarto, vesti um short leve e um blusão que cobria todo ele, nos pés uma havaiana, eu iria a praia ver o por do sol e depois comeria alguma coisa.

 

Desci as escadas um pouco mais animada, por sorte não tinha ninguém dentro da casa, passei rapidamente pela a sala e saí em direção ao portão, havia algumas pessoas na entrada da casa e eu tinha certeza que uma delas era Sarah que estava com a Lorena, obviamente que não olhei na direção da duas, apenas abrir o portão e caminhei tranquilamente em direção a praia. O vento estava maravilhoso e bagunçava meus cabelos loiros acinzentados que estavam soltos. Coloquei uma toalha sobre a areia e sentei esperando o sol se pôr, aproveitei para colocar um boné e evitar os raios do sol sobre os olhos que mesmo sendo fracos ainda causava um pequeno incômodo, ainda mais que estava sem os óculos. Fiquei alguns minutos curtindo a vista até o sol se pôr e ficar escuro. Suspirei feliz e agradecida. Fiquei mais um tempo de olhos fechados sentindo o vento e escutado o barulho da ondas, que terapia boa, muito boa.

 

Meu momento de tranquilidade acabou quando percebi que não estava mais sozinha e pelo cheiro, eu sabia muito bem quem era.

 

-- Foi lindo - ela comentou encantada.

 

-- Sim, foi - falei ainda de olhos fechados.

 

Alguns minutos de silêncio.

 

-- Cecília, eu...

 

-- Não - sussurrei - por favor, não acabe com esse momento.

 

Ela ficou em silêncio, mas não foi embora. Fiquei mais alguns minutos de olhos fechados tentando voltar a minha terapia, mas a presença da garota atrapalhou tudo. Suspirei frustrada e levantei pegando a toalha e batendo para tirar a areia. Sarah observava cada movimento meu, caminhei em direção a casa de Denis e Sarah me seguiu em silêncio.

 

Minha barriga deu sinal de vida então lembrei que eu estava com fome, aliás muita fome, não comi nada o dia todo. Olhei em volta e não tinha quase nada aberto, bom de qualquer jeito eu iria procurar algo. Sarah ameaçou me seguir.

 

-- Não voltarei agora, pode ir aproveitar - falei curta e fria.

 

Sarah pareceu se abalar um pouco com a forma que falei, mas ela tentou disfarçar.

 

-- Você tá procurando algo? - disse solicita.

 

Pensei em ignorá-la, mas isso nunca foi muito minha cara.

 

-- Estou com fome, conhece algum lugar bom para comer algo?

 

Eu a encarei nos olhos pela primeira vez em meses e ela pareceu se abalar com meu olhar sobre os negros de seus olhos.

 

-- Serve pizza? - perguntou com a voz tremida.

 

-- Qualquer coisa, eu só preciso me alimentar.

 

-- Então vem comigo.

 

Sarah passou na minha frente e eu tive que segui-la. O lugar que ela me levou não parecia ser tão caro, mas era aconchegante. A pizza estava uma delícia e ela me acompanhou comendo feliz. Eu deveria odiá-la ou ao menos tentar evitá-la como fiz durante todos esses meses, mas a verdade é que eu estava cansada e ainda a amava então era difícil, mas ainda tinha meus receios com relação a ela, muitos por sinal. Sarah tentou se aproximar de mim muitas vezes e eu só dizia não, sempre era não, nunca com grosseria, mas sempre repleta de indiferença. Suas energias foram minguando aos poucos juntos com os brilhos dos seus olhos. Ela estava mais magra e ainda aparentava estar muito mal, eu soube disso em poucos segundos olhando em seus olhos. Não queria o seu mal nunca e eu esperava de verdade que ela melhorasse assim como eu estava melhorando aos poucos. Comíamos em silêncio, cada uma absorta em seus pensamentos. Meu celular tocou tirando um pouco o foco de nossos pensamentos e Sarah encarou o aparelho vendo o nome de Bruna no visor, ela apenas continuou a comer a pizza e fixou os olhos na TV que passava os vídeos das músicas que estava tocando.

 

-- Oi Bru... Não, não estou na casa do Denis, ah você chegou... Logo estarei aí, só vim comer uma coisa... - rir do que ela disse - Obrigada. Tchau, até depois.

 

Voltei a comer minha pizza e arrisquei um pequeno olhar para Sarah que parecia hipnotizada com alguma coisa que estava a sua frente, eu não conseguia ver pois estava de costas, mas vendo Sarah fazer caretas engraçadas e mandar beijinhos, eu já imagina o que seria e apenas me virei para ver um lindo bebê sorrindo para ela. Não aguentei e também sorrir ao ver aquela coisinha tão fofa.

 

-- Ele é lindo - falou toda fofa - Acho que eu nunca comentei com você, mas quando estiver com uns 25 pretende ter um bebê.

 

Fiquei surpresa ao saber disso, mesmo sabendo que Sarah sempre levou jeito com crianças e animais.

 

-- Uau, surpreendente.

 

Ela apenas sorriu dando de ombros.

 

Depois que terminamos a pizza voltamos para a casa do Denis em silêncio, pelo menos por algum tempo, pois a garota de cabelos escuros parecia um pouco mais animada e Sarah animada significa Sarah falante.

 

-- Se o Denis descobre que saímos da festa pra comer ele morre do coração - disse rindo e eu não aguentei e rir também imaginando a cara do loiro de indignado.

 

-- Por que? - perguntei curiosa.

 

-- Ele diz que os convidados precisam estarem satisfeito com tudo, por isso as festas deles são sempre as melhores, muita comida e bebida, disso as pessoas não podem reclamar - falou enquanto chutava um pedrinha para longe.

 

-- Seu primo é um cara muito gente boa - minhas palavras eram as mais sinceras possíveis.

 

-- Eu sei, e ele realmente é... - o sorriso que Sarah ostentava morreu de repente, mas percebi o motivo aquando olhei para frente da casa de Denis e Bruna estava me esperando, ela acenou quando viu que eu a encarava e eu acenei de volta. Antes de chegarmos perto o suficiente de Bruna, Sarah me disse outra coisa.

 

-- Eu não te disse isso mais cedo pois não queria te constranger, e aliás peço desculpas por ter invadido seu espaço, mas eu achei que só assim pra você falar comigo - suas mãos estavam no bolso do casaco e seu cabelo preto e liso estava soltou - Quando eu te vi eu só pensei o quanto você fica linda com esse tipo de roupa, principalmente com esse boné, uau, ele te enche de charme, é isso... Foi bom falar com você.

 

Sarah acelerou os passos e passou por Bruna a ignorando e entrando na casa.

 

Bruna veio em minha direção e me abraçou apertando, se afastou e tocou no meu boné.

 

-- Você tá muito gata! - disse encantada.

 

-- Valeu! - sorri simpática.

 

Ela havia me elogiada como a Sarah também me elogiou, pena que Bruna não me fez sentir um tremor por todo o corpo como Sarah fez com apenas poucos palavras, mas completamente sinceras.

 

Bruna não desgrudou mais de mim durante toda a noite, Manuela e Marcos vieram nos fazer companhia por um tempo. Manu apesar de estar muito puta da vida com Sarah, ela não estava preparada para me ver com Bruna e também não queria, mas isso na minha cabeça pelo menos por enquanto estava fora de cogitação.

 

Não vi mais Sarah durante o restante da noite, até eu subir para o quarto sendo acompanhada por Bruna.

 

-- Não tem problema mesmo eu dormir com você? - Bruna perguntou hesitante.

 

-- Relaxa, a cama é grande e tem espaço para nós duas.

 

Fui tomar banho enquanto Bruna esperava, e logo que eu sair do banheiro ela entrou para tomar seu banho. Deitamos e ficamos em silêncio, eu tentava dormir, mas Sarah não saía da minha cabeça, que ódio.

 

-- Cecília - Bruna me chamou baixo.

 

-- Hmmm

 

-- Você não gostaria de tentar?

 

-- O que?

 

Bruna se mexeu e ficou mais próxima do meu rosto. Ela passou a acariciar meus cabelos.

 

-- Você sabe que gosto de você, poderíamos tentar aos poucos.

 

-- Não posso - neguei baixinho.

 

-- Eu sei que você ainda sente algo pela Sarah, mas me diz uma coisa vai querer viver a vida toda assim? Não acha que tá na hora de seguir em frente ou você pretende voltar pra ela e viver a mesma coisa novamente?

 

-- NÃO! - falei um pouco mais alto do que devia.

 

-- Então Cecília, se permite, se deixa levar, relaxe, amanhã a gente decide o que fazer, não precisa ser nada sério, pode só ser momentos, eu não importo.

 

-- Não quero te usar, Bruna.

 

-- Mas eu também vou te usar, meu amor.

 

Parei e pensei e não sabia exatamente o que dizer, mas acho que Bruna entendeu o meu silêncio como algo positivo e eu só sentir ela encostar seus lábios nos meus. Eu não sabia o que dizer então apenas fechei os olhos de decidir viver o momento.

 

Bruna tinha um beijo delicado e muito bom, mas eu não sentia nada, juro nada, nadinha. Quando pensei e encerrar o beijo a porta do quarto se abriu e uma Sarah alegre entrou e acendeu as luzes. Bruna e eu nos afastamos rapidamente, mas não foi suficientemente rápido para Sarah não ver nada, além disso, meus lábios provavelmente estavam vermelhos.

 

O sorriso de Sarah se apagou e ela me encarou tão rápido, mas eu vi as nuvens tempestuosas em seu olhar escuro.

 

-- Desculpe - falou fechando a porta rapidamente, mas sem muito força.

 

-- Mas que merd*! - Bruna resmungou.

 

-- Sim, isso é uma merd* mesmo - concordei.

 

Fiquei preocupada com Sarah, mas nem passava pela minha cabeça ir atrás dela. Era melhor cada uma seguir sua vida, era a melhor coisa a se fazer. Mas eu definitivamente não iria ficar com Bruna.

 

 

 

 

 

Fim do capítulo