Beatriz por stela_silva
Capitulo 26
POV Sarah.
Fazia duas semanas desde o aniversário do Marcos. Eu não falei mais com Cecília, eram poucas as oportunidades de falarmos, eu não a evitava, mas estava um pouco menos desesperada por seu perdão. Minha terapia estava finalmente fazendo efeito, depois de anos decidir cuidar da minha saúde mental. Eu não poderia nunca manter um relacionamento sendo uma garota impulsiva e problemática. Eu não fiz isso por Cecília ou para conquistá-la novamente, até porque fui praticamente obrigada por Renata a procurar uma psicóloga que pudesse me ajudar a controlar meus impulsos emotivos. No início eu detestava, mas depois de um tempo foi se tornando algo muito importante e libertador.
Ver Cecília aos beijos com Bruna me deixou muito mal e de uma maneira horrível, mas foi gratificante ver o olhar de orgulho da minha melhor amiga quando ficou sabendo que eu não fiz um escândalo e nem nada, apenas fui embora chorar e me consertar novamente, sozinha dessa vez. Renata estava muito orgulhosa e feliz com a minha evolução, eu sentia o mesmo quando me olhava no espelho e percebia minha mudança genuína.
Carla devolveu toda a fortuna de João Pedro, ela cortou qualquer tipo de contato com o sobrinho. João estava preso e foi condenado há alguns anos de prisão, não iria cumprir toda a pena, ainda mais por ser um homem rico. Carla sabia disso e foi pensando nisso que decidiu se mudar para os Estados Unidos, um dia qualquer ela bateu na minha porta oferecendo uma proposta que para mim era totalmente absurda.
-- Morar com você nos EUA? - perguntei sem realmente acreditar.
-- Podemos tentar, Sarah. Sei que nada mais te prende aqui, seu namoro foi um fracasso em poucos meses. Vivemos anos juntas, podemos tentar novamente - disse com esperança.
-- Não dá, não passa pela minha cabeça deixar tudo para trás por sua causa Carla, eu não faria isso nem mesmo por Cecília. Você sabe mais do que ninguém o quanto eu me anulei para fazer nosso casamento dar certo, tudo foi um fracasso, eu desejo sua felicidade, mas eu não sou a pessoa pra você - falei o mais sincera possível.
-- Tudo bem, mas não custava nada tentar - disse a mulher divertida e isso me fez sorrir.
Carla mudou-se para os Estados Unidos um mês depois dessa nossa conversa, decidi não manter contato e esperava de verdade que ela pudesse conhecer o amor verdadeiro.
Eu estava a caminho da faculdade quando o maldito carro resolveu morrer no meio da rua me fazendo xingar de todos os palavrões possíveis. Estava chovendo muito, mas eu precisava fazer algo, não iria ficar esperando o resgate de sei lá quem. Saí do carro e abri o capô e fiquei olhando sem entender nada.
-- Merda de geringonça! - falei chutando a roda do carro com força e me arrependo em seguida ao sentir a dor aguda - Puta que pariu desgraçado! - gritei tentando pôr o pé no chão e só sentindo dor. Não é possível que eu tenha dado mal jeito.
Eu já estava só os restos mortais quando um carro parou perto de mim e a motorista abaixou o vidro do passageiro.
-- Sarah, entra antes que fique doente.
Parei de lamentar a minha dor e andei mancando em direção ao carro abrindo a porta do passageiro e sentando. Eu estava completamente encharcada, mas por sorte o banco era de couro.
-- O que aconteceu? - Cecília perguntou preocupada.
-- O carro quebrou, tentei consertar e me estressei, fui chutar a roda na hora da raiva e acabei dando um jeito no meu pé, é isso, sou um desastre total - falei irritada.
-- Você tem roupas reservas na faculdade? - disse com tranquilidade.
-- Não, e se eu não for muito incomodo, poderia me levar até meu apartamento, eu preciso trocar de roupa e colocar gelo nesse maldito pé.
-- Tá doendo muito?
-- Só quando eu tento forçar.
-- Você precisa trocar de roupa o mais rápido possível, vamos para meu apartamento que é mais perto e eu te empresto algo.
Apenas balancei a cabeça concordando pois estava morrendo de frio. Quando chegamos Cecília logo me mandou tomar banho e trocar de roupa e foi o que eu fiz quase correndo. Credo, que frio! Quando terminei de me trocar deitei em sua cama e abracei seu travesseiro, que saudade de ficar grudada nela o dia todo, aff.
Larguei o travesseiro e saí de seu quarto, percebi que Cecília estava na cozinha e parecia preparar algo. Eu não sentia mais dor no pé, acho que foi apenas o choque do momento e meu imenso drama pra contribuir.
-- Oi - falei tímida.
-- Ah, oi - ela disse me olhando rapidamente - Senta aí, estou preparando chocolate quente.
Sentei em uns dos bancos altos que tinha junto do balcão que separava a sala da cozinha.
-- Você está atrasada para faculdade - comentei fazendo careta porque era minha culpa.
-- Tudo bem, não tinha aula importante hoje - ela terminou o chocolate e me entregou a caneca com o líquido quentinho.
-- Isso aqui parece muito bom - falei provando um pequeno gole - Hmmm... Delícia.
-- Aprovado? - perguntou sorrindo.
-- Muitooo
Ela fez chocolate para ela e sentou ao meu lado, bebíamos em silêncio. Eu ficava muito tímida em sua presença, principalmente depois do que fiz, eu sabia que ela já havia me perdoado, mas eu precisava de mais sensações para evoluir e parar de me sentir uma estúpida em sua presença, ainda me sentia uma grande vadia quando encarava o lindo olhos azuis da garota que eu amava.
-- Cadê a Manu? - perguntei curiosa e tentando disfarçar o nervosismo.
-- Ela tava com saudades dos pais e foi passar essa semana com eles.
-- Ela não pensa em fazer faculdade?
Cecília riu com sinceridade e me encarou com uma carinha fofa de deboche.
-- Manuela e faculdade é uma coisa que nunca daria certo, eu não estou dizendo que ela é burra e incapaz de fazer, mas isso é algo que passa longe dos seus pensamentos futuros. Manu não quer passar mais de quatro anos presa em uma sala de aula, não é algo que ela deseja sabe, escolha dela própria porque já tínhamos conversado sobre isso antes.
-- Então o que ela pretende fazer?
-- Acho que ela será dona de casa e terá mais de cinco filhos.
Eu a encarei assustada e pensei que ela estivesse brincando, mas Cecília estava muito séria.
-- Tá tirando onda né? - perguntei para ter certeza.
A loira negou com a cabeça e tirou os óculos que haviam embaçado com a fumaça que subia do chocolate quente, ela deixou o objeto sobre o balcão e suspirou pensativa.
-- Infelizmente não, mas de verdade eu espero estar errada.
-- Eu espero que você esteja mesmo. Manu merece conhecer o mundo antes de tentar ter uma família, ela é tão jovem.
-- É o meu pensamento também.
Mudamos de assunto e conversamos sobre nossas faculdades. Cecília sempre ficava animada em falar sobre seu curso. Depois que terminamos o chocolate, fui lavar as canecas e Cecília foi procurar algo para nós assistirmos juntas. Ela escolheu uma série que estávamos vendo antes de terminarmos e colocou exatamente no capítulo que havíamos parado de assistir, acho que nem eu e nem ela voltamos a assistir sozinhas.
Sentei ao seu lado no sofá e me aconcheguei abraçando um dos travesseiros fofinhos, cada uma de lado e perdida em seus próprios pensamentos. Tentei me manter acordada nos primeiros trinta minutos, juro que tentei, mas fazia algum tempo que não me sentia tão bem assim para dormir que acabei adormecendo profundamente.
Quando acordei estava deitada no sofá e totalmente coberta. Olhei em volta e a sala estava no escuro. Peguei meu celular e vi que passava das sete da noite, meu Deus! Eu dormir horrores. Levantei e olhei pela janela do apartamento e ainda chovia. Vai com calma aí, papai. Como eu iria voltar para casa? Acho que vou ligar pra Renata, procurei o contato da minha amiga, mas quase morri do coração ao escutar uma voz no escuro.
-- Você acordou - Cecília falou baixo, mas isso não evitou meu susto e nem que eu derrubasse meu celular. A loira correu para ligar a luz e me olhou tímida enquanto eu via o estrago que estava meu aparelho - Desculpa, eu não queria te assustar, só vim ver se já tinha acordado.
-- Tudo bem, eu estava pensando em pedir para Renata vim me buscar já que essa chuva não dá trégua alguma.
-- Esquece, há vários pontos de alagamentos pela cidade, senão eu mesma iria te levar, portanto hoje você pode dormir aqui.
Eu quase morri do coração com suas palavras gentis. Que linda dizendo para eu dormir em sua casa, mesmo que não fosse com ela, que na boa, de verdade verdadeiro, era tudo que eu mais queria, deitar em sua cama e dormir abraçadinhas e quentinhas, mas era um passo de cada vez, não é mesmo? Então dormir no sofá já estava de bom tamanho, aff, como eu sou iludida.
-- Tem uma lasanha que fiz ontem a noite para comer, vou esquentar para o jantar.
Cecília era tão doce comigo, ela nem tem o costume de ser assim com qualquer pessoa, na verdade ela costuma ser bem séria e distante, a exceção era a Manuela. Mesmo que ela gostasse do Denis e de sua turma, ela ainda mantinha certo limites entre eles. Talvez a Bruna quebre um pouco desse gelo dela também.
Aff, eu tinha mesmo que pensar na Bruna.
Fui responder mensagens no WhatsApp enquanto Cecília esquentava o jantar.
Jantamos em meio a muita conversa e risos e depois fomos ver filme, dessa vez eu assistir de verdade e falamos as vezes sobre o que acontecia. Tudo estava ficando mais descontraído e eu sentia aquela nuvem de tensão que estava sobre nós cada vez mais longe e isso deixava meu coração quentinho e cheio de esperança que tudo iria se resolver.
Depois desse dia em que dormir em sua casa, as coisas voltaram a mudar entre nós duas. Voltamos a ficar mais próximas e agir como amigas novamente e eu gostava tanto de ser sua amiga e poder ficar junto dela e ver o seu lindo sorriso tão de perto. Por estarmos mais próximas percebi que Bruna não se aproximava mais e Deborah, pelo que fiquei sabendo trancou a faculdade, não poderia ter notícia melhor.
-- Como aquela infeliz trancou a faculdade do nada? - eu realmente estava confusa.
Eu e Cecília sempre almoçávamos juntas e a fofoca sobre Deborah corria solta pela faculdade naquele dia.
-- Não foi do nada - Cecília comentou dando de ombros.
-- Você fez alguma coisa? - perguntei incrédula.
-- Fiz um vídeo dela e ameacei expor na mídia - disse rindo - Ela ficou desesperada, você devia ver a cara dela.
-- Eu queria muito ter visto esse vídeo. O que tinha demais lá?
-- Tive que fazer um sacrifício para te minha paz de volta, eu a beijei e pedi para Renata gravar tudo e ela fez com muito ânimo.
-- Renata te ajudou? - ignorei a parte que ela disse que beijava Deborah e foquei apenas na solução maluca que ela arrumou para finalmente se ver livre daquela cobra albina.
-- Sim, foi de muita importância sua ajuda.
-- Ela não me disse nada - comentei pensativa.
-- Eu pedi pra ela não falar nada, ainda não estávamos tão de boa como estamos hoje.
Fiquei em silêncio e imaginei o que Cecília estava pensando de mim durante todo esse tempo.
-- Tenho que viajar semana que vem - falei ansiosa - Preciso resolver algumas pendências da empresa do meu pai, com a morte dele, minha mãe não dá conta de fazer tudo sozinha. Provavelmente vou assumir o cargo de presidente e viver toda a pressão que vem junto - meu desânimo era evidente e obviamente que a loirinha percebeu.
-- Você não precisa fazer algo que não gosta - ela disse séria - Não faça isso.
-- Antes do meu pai morrer eu não pensava muito sobre isso, mas acho que logo irei começar a me entender, então terei uma conversa séria com minha mãe.
-- Faça isso, Sarah. Não é legal você passar o resto da vida trabalhando em algo que não gosta, ainda mais você que tem várias opções, diferente da maioria de nós brasileiros.
-- Sarah, vamos? - Lorena me chamou.
Encarei Cecília que sorriu e apenas acenou positivamente. Ela sempre teria essa calma invejável.
Lorena havia me chamado pra sair e eu confessor que nem lembrava, mas tive que desmarcar, pois minha viagem a São Paulo estava marcada para sexta.
Não aconteceu nada de interessante no resto da semana que passou, apenas a novidade de eu estar a cada dia mais grudada em Cecília..
Eu ainda tinha muitas coisas para resolver comigo mesma, então nesse momento o foco era sobre mim e o que eu queria para meu futuro. O assunto relacionamento, eu deixaria em segundo plano por um tempo.
Fim do capítulo
Aii me desculpa, eu simplesmente esqueci de postar
Eu não consigo fazer tantas coisas ao mesmo tempo, sorryyy
A adolescente Stela deu lugar a uma adulta péssima de memória
Bjs meninas
Comentar este capítulo:
Marta Andrade dos Santos
Em: 07/09/2024
Sarah não vai fazer merda é sua última chance.
[Faça o login para poder comentar]
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]