You and Me
Depois de sair do almoço com o primo, Julia foi direto para casa. O saldo para ela havia sido até positivo, Pedro não admitiu com palavras, mas Julia sabia que ele estava a perdoando e isso era bem mais do que ela podia esperar em tão pouco tempo. Ela não quis admitir para si mesma no primeiro momento, mas a conversa com o primo a deixou atordoada. Falar tão abertamente de Manuela era perturbador. Aquele fim de tarde para Julia veio acompanhado de memórias e lembranças do passado ao lado da ex-namorada.
**
7 anos antes
— Você toca piano?
Manuela sorriu para Julia já se sentando em frente ao piano. As duas estavam na casa de um amigo de Manu que Julia não conhecia, aparentemente a estudante de publicidade tinha ficado responsável por cuidar do apartamento enquanto o amigo estava viajando. Fosse o que fosse, para Julia pareceu que o tal amigo era rico, afinal alguém que mora em uma cobertura e tem um piano na sala só pode ter muita grana na conta. Manu indicou com a mão o lugar ao seu lado para Julia se sentar.
— Eu não sou nenhuma musicista, mas eu comecei a tocar piano ainda criança e sempre gostei. — Explicou Manu.
As duas estavam sentadas muito próximas, e Manuela sorriu se lembrando de como haviam chegado até ali. Depois de ver Julia pela primeira vez ela até tentou esquecer, mas não teve sucesso. Por isso acabou fazendo de tudo para ser apresentada para a moça, daí a se tornarem amigas foi um passo curto. Juntas naquele apartamento, Manu resolveu, pela primeira vez, deixar o seu, sempre tão bem escondido, romantismo florescer.
— O que você vai tocar? — Julia perguntou totalmente encantada com mais aquela surpresa de Manu. Era sempre assim com Manuela, Julia acabava sempre se enfeitiçando, um pouquinho de cada vez, com a maneira gentil e simples que ela tinha de se mostrar. A estudante de arquitetura não era ingênua e sabia por onde aquela relação poderia ir. Depois de conhecer Manu ela logo tomou conhecimento de que a moça era lésbica, o que para Ju não era nenhum problema. Ela também sabia que no começo Manu estava interessada nela, mas logo que soube que Julia era hétero, e tinha um namorado, não fez nenhuma investida e as duas acabaram estabelecendo uma relação de amizade.
— Tem um tempo que eu quero te falar umas coisas, mas não sei como. Essa música diz exatamente o que eu queria que você soubesse. — Manu falou olhando nos olhos de Julia.
Quando Manuela se virou para o piano e começou a tocar, totalmente concentrada, Julia imediatamente reconheceu a música. Manu não cantou e nem precisava, Julia conhecia a letra inteira. Manu tocava perfeitamente, naquele momento Julia teve consciência do quanto a achava linda e o tamanho do espaço que ela ocupava em sua cabeça nos últimos dois meses.
Alheia aos pensamentos de Julia, Manu tocou aquela música com a maior concentração possível. Se Julia não gostasse ou não entendesse o que ela queria dizer com aquela música, era um problema que ela pretendia resolver mais tarde. Manuela estava tentando tirar da cabeça a ideia de que ela e Julia poderiam ter algo mais que amizade, mas estava difícil. Ela sabia que Julia não ignorava o interesse velado que ela sentia por ela, por isso Manu ficava sempre intrigada com o fato de Julia parecer não se importar com isso.
Manuela tocou a música toda sem olhar para Julia. Quando a música terminou ela colocou as mãos espalmadas sobre as próprias pernas e encarou Julia com um sorriso. Julia sentiu o coração falhar quando recebeu o sorriso de Manu, era o sorriso mais lindo que ela já havia visto e quando ela olhou dentro os olhos castanhos de Manuela tudo pareceu simples e descomplicado. Julia tocou suavemente o rosto de Manu e sentiu todos os pelos do corpo se arrepiar, a reação foi a mesma nas duas. Como num passe de mágica Julia entendeu tudo, aceitou e sorriu de volta para Manuela.
A iniciativa do beijo foi de Julia, o que deixou Manuela totalmente surpresa e derretida. Foi um beijo bom, quente, íntimo e intenso. Manu deixou que Julia ditasse o ritmo, Ju enfiou os dedos nos cabelos de Manu e a puxou para mais perto e quando sentiu as mãos da outra segurarem a sua cintura ela teve ganas de aprofundar ainda mais o contato.
Com a mesma suavidade que o beijo começou, ele foi interrompido quando as duas já estavam sem ar. Julia olhou dentro dos olhos de Manu e sentiu o corpo inteiro pegar fogo. Manuela não queria assustar Julia, mas tinha que admitir que se a intenção era esquecer a ideia de ficar com Julia aquele beijo só serviu para aumentar ainda mais a sua vontade. Sem querer pensar muito em como ou porque elas estavam ali, elas voltaram a se beijar. Naquele momento o que mais importava eram os lábios que se provavam e as línguas que se descobriam.
**
Julia até pensou que não era uma boa ideia ficar se lembrando de momentos tão específicos, mas foi impossível. Ela estava se sentindo tão sufocada que foi até a varanda em busca de ar e terminou vendo a noite chegar acompanhada de lágrimas e tristeza. Manuela fazia tanta falta que às vezes chegava a doer fisicamente, Julia até já estava acostumada, mas em certos momentos ela simplesmente se deixava levar. Aquele choro não era só de saudade, era por tudo que estava acontecendo e pelas coisas que ela sabia que jamais voltariam a acontecer.
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O resto da semana passou rapidamente. Manu voltou de Fortaleza e continuava evitando se encontrar com o Pedro, mas sabia que não conseguiria ficar sem falar com o amigo. Na realidade a publicitária nem queria isso, a verdade é que Manu simplesmente não sabia como agir agora que sabia que Pedro havia falado com Julia.
A tentativa de se esquivar do encontro teve seu insucesso sentenciado quando os amigos resolveram fazer um jantar para se reunirem na sexta-feira à noite. Manuela não teve como se negar a ir e quando pensou em inventar qualquer desculpa, Amanda, que foi quem ligou para avisar do compromisso, a alertou de que fugir de Pedro era tão infantil quanto o fato de Manu deixar a volta de Julia para o Brasil afetar a sua vida. Diante destes argumentos, só restou uma resposta positiva para a intimação da amiga.
Pedro, Willian, Isabela e Amanda estavam sentados na sala cada um com uma taça de vinho enquanto contavam anedotas da semana uns para os outros, o clima agradável e familiar só era afetado por uma sutil apreensão de Pedro. O rapaz não sabia muito bem o que dizer para a amiga quando a encontrasse e isso estava o deixando inquieto. A última conversa que ele teve com a prima serviu para esclarecer alguns pontos e para o rapaz ter certeza que aquela história certamente ainda guardava muitas emoções.
Manuela chegou ao prédio em que Isabela e Amanda moravam com alguns minutos de atraso. Ela passou direto pela portaria, onde já era conhecida, e subiu para o apartamento das amigas. Isabela foi quem atendeu a porta.
— Ora, ora, ora. Se não é a publicitária mais requisitada de São Paulo, aqui, na minha porta. — Isabela falou com um sorriso enquanto abraçava a amiga.
— Não é para tanto, minha querida. Que saudade de você. — Manu respondeu enquanto as duas se dirigiam, de braços dados, para a sala.
— Olha quem resolveu nos dar honra da sua ilustre presença, acompanhada desse vinho maravilhoso."
Manuela sorriu e balançou a cabeça em negação enquanto Isa fazia gestos teatrais para anunciar a sua chegada. Ela abraçou cada um dos amigos e os cumprimentou antes de se sentar, na ponta do sofá, ao lado de Amanda.
— Como foi a viagem? — Questionou Isabela depois de servir Manu com uma taça de vinho e se sentar ao lado da esposa.
— Bastante produtiva. Will e eu estamos para fechar uma parceria muito boa. — Manu respondeu sorrindo para o sócio e amigo.
— É verdade. Se o negócio der certo, nós vamos conseguir consolidar ainda mais o nome da iDraw no mercado. — Willian comentou.
— Vai dar certo, Will. — Manu falou levantando a taça em um brinde à distância com o amigo.
Pedro e Amanda que ainda não haviam se manifestado estavam tentando sondar qual era o estado de espírito da amiga. Manuela fingia não notar o olhar analítico de Amanda, mas estava totalmente consciente de que na primeira oportunidade ela a iria chamar para conversar.
— E como estão as coisas por aqui? — Manu tentou desviar o foco da conversa.
Foi Pedro quem respondeu.
— Nenhuma novidade bombástica, embora a mamãe tenha anunciado que vai dar uma festa, nas palavras dela, escandalosamente maravilhosa no aniversário dela. O que será no próximo mês.
— Ai, amor, sua mãe tem que arrasar mesmo nessa festa. Eu já me disponibilizei pra ajudar na organização. — Completou Will.
— Nossa, então vai ser ‘O’ evento né? — Amanda falou rindo da cara de medo de Pedro.
— Você não faz ideia, querida. Aguarde. — Willian disse dando uma piscadinha para Amanda.
— Onde vai ser a festa? — Inquiriu Isa.
— Boa pergunta. Vai ser no Morumbi mesmo, ou ela vai alugar algum salão de eventos? — Completou Manu.
— Não sei ainda, mas acho que vai ser no Morumbi mesmo. — Respondeu Pedro.
Os amigos seguiram falando sobre os planos da festa de aniversário de Silvia. A intimidade estabelecida entre os cinco não era algo recente, o grupo estava junto há bastante tempo e a harmonia entre eles raramente era afetada por alguma coisa. Embora Amanda, Pedro e Manuela estivessem apreensivos sobre como lidar com o retorno de Julia, resolveram naquele momento apenas estarem juntos e deixar para resolver depois os eventuais problemas.
**
Bem mais tarde, depois de terem jantado e de terem bebido algumas garrafas de vinho, eles estavam na sala entre gargalhadas e vários sorrisos. Amanda, sempre moderada, era quem havia bebido menos, Pedro e Isa eram os mais animados e, como usual, os que haviam bebido mais. Quando os dois decidiram que queriam ligar o som e fazer da sala do apartamento uma pista de dança, Pedro e Amanda decidiram que era hora de encerrar a noite e levar seus respectivos companheiros para dormir. Manuela que estava totalmente habituada a dormir em um dos quartos de hóspedes da casa das amigas e havia bebido o suficiente para não querer ir para casa nem de táxi, foi direto para o quarto que era praticamente dela naquele apartamento.
Ela já estava pronta para dormir quando ouviu leves batidas na porta. Pedro resolveu falar com Manu logo depois de levar Willian até o quarto, o namorado havia dormido quase que imediatamente com o efeito do vinho e Pedro foi até o quarto ao lado para trocar algumas palavras com Manuela.
— Posso entrar? — Pedro perguntou com a cabeça projetada para dentro do quarto pela fresta da porta.
— Claro. — Manu falou e logo que o amigo entrou ela o convidou para se sentar com ela na cama.
— E o Will? — Ela perguntou se deitando e olhando para o teto.
— Apagou. — Respondeu Pedro imitando o gesto da amiga.
Os dois ficaram em silêncio durante alguns minutos. Manu foi a primeira a se manifestar.
— O que nós vamos fazer? — Manu perguntou virando o rosto para o amigo.
Pedro suspirou e levou algum tempo para olhar para Manu.
— Não sei, mas precisamos descobrir. — Ele disse apoiando o rosto na mão e ficando totalmente virada para a amiga.
Manuela voltou a encarar o teto. Era horrível não saber o que dizer. Antes de decidir como agir, ela precisava entender o que estava acontecendo e naquele momento ela não sabia nem por onde começar a desenrolar o emaranhado de pensamentos conflitantes que tinha na cabeça.
— Desde a nossa última conversa eu tenho tentado pensar em uma solução, mas ainda não tive sucesso. — Manu desabafou.
— É, acho que posso dizer o mesmo. — Concordou o rapaz.
Pedro voltou a se deitar e encarar o teto. Se a situação estava difícil naquele momento, provavelmente ficaria insuportável mais para frente. Manuela não queria perguntar sobre Julia, a publicitária continuava resignada a não deixar aquela história interferir em sua vida. Diante do silêncio de Manu, Pedro se viu obrigado a continuar a conversa.
— Eu tive uma outra conversa com ela enquanto você esteve fora. — Ele começou cauteloso e diante da passividade de Manu prosseguiu. — A minha relação com ela ainda não está cem por cento, mas pode ser que ainda exista uma chance de nos acertamos.
— Eu fico realmente feliz em ouvir isso, eu sei o quanto é importante para você. Deve ser um alívio finalmente poder se acertar com a sua prima. — Manu falou sincera.
Antes que Pedro pudesse responder alguma coisa Amanda entrou no quarto e também se deitou na cama, deixando Manu entre ela e Pedro.
— E então? — Amanda perguntou também olhando para o teto.
— Sua esposa fez um ótimo trabalho nesse quarto, é incrível como até o teto combina com cada detalhe. — Manuela respondeu.
— Vocês estão aqui analisando o trabalho da Isa? É isso? — Questionou Amanda.
— Não exatamente, mas a Manu tem razão. A decoração de vocês é maravilhosa, no apartamento inteiro. — Falou Pedro.
— Fico satisfeita que vocês tenham gostado. Agora vamos voltar ao ‘não exatamente’. — Disse fazendo aspas com as mãos no final da frase.
Vendo que nenhum dos dois ia falar nada, Amanda decidiu colocar o fim naquela história.
— Vamos lá. Eu vou perguntar e vocês respondem, ok?
— Ok! — Os dois disseram juntos.
— Ótimo. — disse a médica — Até quando vocês pretendiam fugir um do outro para não ter que falar sobre a Julia?
A maneira direta de Amanda perguntar não agradou Manuela. Já Pedro ficou bastante satisfeito por Amanda ter abordado o assunto daquela maneira, ele não gostava mesmo de rodeios, mas o medo da reação de Manu havia deixado o rapaz bem cauteloso sobre aquele tipo de conversa entre os dois.
— Sinceramente eu não tenho ideia. A gente está tentando achar uma solução para essa situação delicada, mas não está sendo fácil. — Desabafou o rapaz.
— Manu? — Amanda insistiu.
— Eu não tenho o que dizer. O Pedro já sabe a minha opinião sobre esse assunto e você também.
Amanda olhou para o rosto da amiga, que continuava encarando o teto, e balançou a cabeça negativamente.
— Manu, vamos falar com honestidade agora. Pode ser?
Manuela não se deu ao trabalho de responder, simplesmente se levantou e sentou no lado oposto da cama. Os amigos se viram obrigados a fazer o mesmo, por fim Amanda e Pedro se sentaram escorados na cabeceira da cama, de frente para Manu, que se sentou na ponta da cama encarando as próprias mãos.
— Você deu um jeito de se encontrar o mínimo possível conosco nos últimos dez dias, tudo bem quanto a isso. Eu acho mesmo que você precisava de um tempo para pensar, mas não tem como fugir do inevitável para sempre. — Prosseguiu Amanda.
Pedro permaneceu calado. A intimidade entre Amanda e Manuela permitia que a médica falasse com a amiga de maneira sempre franca, o fato de Pedro estar ali provavelmente incomodava Manu, mas Amanda sabia que Pedro só queria o melhor para Manuela e certamente era importante que ele participasse daquela conversa, visto que dos três, era ele quem tinha contato com Julia.
— Mais uma vez eu não sei o que você espera que eu diga. — Manuela falou olhando para o rosto da amiga.
— Seja sincera e admita que você está no mínimo curiosa sobre a Julia. Não é possível que depois de tanto tempo você simplesmente não queira saber.
— E se eu realmente não quiser?
— Eu vou aceitar, mas por enquanto você não tem agido como alguém que não se importa. Muito pelo contrário. — Acusou Amanda.
— Talvez a Mandys tenha razão, Manu. Você ter algumas perguntas não é nada demais, afinal todos nós temos perguntas sem respostas quando o assunto é minha prima. — Pedro disse de forma cautelosa.
Manuela detestava ser encurralada e era isso que Amanda estava fazendo. Mais uma vez Manu percebeu a disposição da amiga em fazer com que ela cedesse e admitisse o quanto Julia ainda era capaz de afetar sua vida. O caso era que Manu ainda precisava entender o que estava sentindo, para depois saber como lidar com aquilo. Provavelmente as perguntas estavam todas lá, mas Manu havia aprendido a ignorá—las e não parecia disposta a mudar de postura.
— Na verdade, por maiores que pudessem ser as minhas perguntas, eu não estou interessada em saber como as respostas poderiam afetar a minha vida. — Manu disse seriamente encarando Pedro.
— E você já pensou em como não saber as respostas tem afetado a sua vida nos últimos anos? — Questionou, Amanda.
— Amanda, nós voltamos ao ponto de sempre. Você tem necessidade de discutir o meu passado quando para mim já está tudo acertado e enterrado. Eu não vou ficar debatendo com você algo que simplesmente não tem a menor importância para mim. — ela disse olhando para amiga e depois se voltou para Pedro e continuou — Eu fico realmente feliz que você consiga as respostas que tanto quer e que se acerte com o seu passado. Porque é isso que você quer, só não espere que eu queira o mesmo.
Amanda respirou fundo. Manuela era uma cabeça dura, sempre seria. Para Pedro a reação de Manu fazia todo sentido, mas ainda deixava os dois com um problema técnico a resolver. Julia era prima de Pedro, Manuela uma de suas amigas mais próximas. Em algum momento isso provavelmente colocaria as duas frente—a—frente e isso sim seria algo difícil de lidar.
— Você não quer falar sobre os seus sentimentos, ótimo. Eu sempre respeitei isso, não vai ser agora que eu mudarei de opinião. Ainda assim nós temos um pequeno detalhe, você e a Julia na minha vida é igual encontro inevitável. E aí, como vai ser? — Pedro disse.
— Se acontecer, o que ainda é uma hipótese, nós vamos descobrir. — Manuela falou.
Depois que os amigos a deixaram sozinha, Manu se deitou e demorou bastante para conseguir dormir. A possibilidade de se encontrar com Julia era realmente algo que ela precisava se preparar para saber como agir. Não seria fácil, ela tinha que admitir pelo menos para si mesma que rever a ex-namorada seria no mínimo complexo. Amanda e Pedro não trocaram, naquele momento, as suas impressões da conversa com Manuela, mas para os dois uma coisa ficou bem clara: se Manu não queria falar sobre Julia, tocar no nome de Mateus seria impossível, ao menos por enquanto.
**
Julia chegou na mansão em que Silvia morava por volta das 11 horas da manhã de domingo. Silva havia convidado a sobrinha para almoçar para saber como ela estava e como ia a reconciliação dela e Pedro. Julia não se impressionou com o tamanho da casa da tia, Silvia Alcântara Magalhães tinha muitas posses, herdadas dos pais e conquistadas com o próprio trabalho. Silvia era uma das advogadas mais bem-sucedidas de São Paulo e comandava um dos maiores escritórios de advocacia do país. A natureza prática e independente fez com que ela decidisse se separar do marido e ir viver com filho que havia sido preterido pela família por causa da sua orientação sexual. Silvia nunca conseguiu perdoar o ex-marido por ter virado as costas para o único filho do casal para apoiar o conservadorismo da família Campana.
Julia foi conduzida para a sala de estar por uma governanta muito simpática. Logo após a saída da governanta, Silvia apareceu sorridente de braços abertos para receber a sobrinha.
— Meu amor, eu não me canso de dizer o quanto eu estou feliz em ter você morando no Brasil outra vez. — Silvia falou abraçando a sobrinha de forma carinhosa.
— Ao menos alguém está satisfeito com a minha volta. — Julia falou se sentando ao lado da tia.
— Não fale assim, minha querida. Você sabe muito bem que não é verdade.
Julia apenas sorriu.
— E você e o Pedro? — Continuou Silvia.
— Para ser honesta, eu não sei. — Julia disse desanimada.
— Mais eu sei. Vocês vão se acertar, tenho certeza.
— Eu queria ter essa confiança.
— Querida, eu conheço o meu filho. Ele não vai conseguir não te perdoar, é da natureza do Pedro ceder. Basta ter paciência.
— Eu sei disso, tia. É que na nossa última conversa ele foi muito duro comigo.
— Você sabe que eu não vou passar a mão na sua cabeça, certo? — Silvia esperou pela afirmativa de Julia, que concordou com um aceno de cabeça, e prosseguiu — O Pedro é uma manteiga derretida, mas é a pessoa mais justa que eu conheço. Ele vai te perdoar, mas te poupar de ouvir algumas verdades ele não irá.
— Eu sei, mas isso não faz ser mais fácil ouvir certas coisas.
— Vocês combinaram de se encontrar de novo?
— Não. Eu saí um pouco atordoada da nossa última conversa e não marquei nada. Estou pensando em deixar ele ter a iniciativa do próximo encontro. O que você acha? — Julia falou.
— É uma boa ideia. Eu convidei ele para almoçar conosco, até disse para ele trazer o Will. Assim você o conhecia de uma vez, mas eles já tinham um outro compromisso. — explicou Silvia.
— E eles realmente tinham um compromisso ou foi só uma desculpa?
— Eles tinham. Pedro não mentiria pra mim dessa maneira e de uma forma ou de outra você vai conhecer o Willian.
— Eu espero que o Pedro compartilhe dessa sua opinião, titia.
— Compartilhando ou não, o meu aniversário está próximo e essa será uma ótima oportunidade de reunir todos vocês. — Silvia explicou com um sorriso.
— É verdade. O seu aniversário é uma oportunidade perfeita.
— Sim. Você aproveita e conhece os amigos do Pedro também. Ótimas pessoas, você vai gostar de todos eles.
— São muitos amigos? — Julia questionou curiosa.
— Na verdade, os mais próximos que você precisa conhecer, além do Willian é claro, são as meninas.
Antes de Silvia terminar o que dizia a governanta entrou na sala com o telefone em mãos.
— Desculpe interromper, senhora. É o Pedro. — ela disse indicado o telefone para Silvia.
— Obrigada, Maria. — Silvia disse e se voltando para Julia, conclui o que dizia antes de ser interrompida — Você vai gostar de todas. Um minuto. — ela disse com um sorriso e se levantou para falar com o filho no telefone.
Quando Silvia voltou, depois de desligar o telefone, o assunto anterior foi esquecido. Sem saber, Silvia quase falou sobre Manuela. Talvez Julia fosse achar que era simplesmente uma coincidência de nomes e fosse ignorar que aquela Manuela era o passado que a atormentava incessantemente. O domingo das duas correu muito bem, Julia estava contando com a ajuda da tia para finalmente voltar a trabalhar e o desejo da arquiteta de abrir o próprio escritório começava a ganhar contornos de realidade.
Fim do capítulo
'You and Me' é o nome da música que a Manu toca no piano e é da banda Lifehouse.
Boa semana, pessoas! ♥
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Marta Andrade dos Santos
Em: 10/06/2024
Eita, vai ser um bafafá o encontro delas.
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