Alguém preparada para esse capítulo? Não? Mas, mesmo assim, vamos lá!
Ao Norte de algum lugar
O calor estava ameno, como já bem tinha me acostumado. Olhei para o telefone. Estávamos em cima da hora. Sentei-me no sofá, cruzei as pernas e esperei, balançando-as devagar.
Não demorou para que ela saísse do quarto, segurando um cordão.
— Téo, coloca para mim, por favor? Não estou conseguindo...
E era impossível não perceber o quão bonita ela estava. Na verdade, para mim, ela era sempre estonteante, mas, quando se arrumava do jeito que estava agora, chamava a atenção de qualquer um, principalmente a minha.
Coloquei o cordão, e assim que passei o fecho, beijei seus ombros e seu pescoço em sequência.
— Como eu estou? – disse ela, virando para mim, ajeitando a gola da minha camisa.
— Sou suspeita pra falar – dei com os ombros – você está sempre bonita, então...
— Porr*, eu estou tão nervosa... – ela deixou o ar sair devagar da boca, mas ainda assim, a envolvi com um abraço, encostando minha cabeça em seu ombro.
— Tenho certeza de que você vai ser a melhor dali – e apertei levemente meus braços contra seu corpo, no qual ela respondeu com um suspiro – e, qualquer coisa, estou contigo, tá bom?
Catarina se virou e me beijou levemente aos poucos. Prendi meus braços sob a sua cintura e fiz o mesmo. Sentia que seu batom tinha manchado minha boca no momento que a vi rindo e passando os dedos em meus lábios.
— Bem, vamos? – dei meu braço para que ela o segurasse – Se não, vamos nos atrasar.
Seguimos para um evento onde ela falaria sobre o seu livro publicado junta a outras pessoas da área. Era algo muito importante pra ela, que só falava disso nos últimos dias, tanto pela tensão de falar para uma plateia considerável quanto das pessoas que a procuravam por usá-la como referência em seus estudos.
Apesar de não ser uma profissional na área nem nada, eu gostava de ouvi-la falar empolgada sobre isso, perguntando uma e outra coisa, mesmo sem saber os termos práticos nem nada. Se era importante para ela, também tinha se tornado pra mim.
Ela usava um vestido estonteante. O decote singelo deixava as sardas de seu colo à mostra e eu tentava não prestar atenção enquanto entrávamos no evento, onde ela logo foi levada pelos seus colegas de trabalho, se despedindo de mim com um breve beijo e logo envolvida em um mar de homens de terno.
Encontrei meu lugar na plateia como sua convidada, e, assim que ela entrou com os demais, foi aplaudida de forma empolgada até demais por mim, mas, foi impossível não esconder o quanto estava feliz em vê-la ali, que respondeu com um tímido aceno, enquanto voltava para o seu lugar no centro da mesa. Seu olhar sério, compenetrado, dizia que ela estava realmente nervosa, mas que não ia deixar isso transparecer no meio da plateia de autoridades de sua área. Era típico dela.
Assim que terminou, os convidados e os demais foram liberados para que se servissem da comida e bebida do local. Catarina estava cercada de pessoas que a enchiam de perguntas, então comecei a circular sozinha pelo lugar, esperando por ela. Servi-me de uma taça de champanhe da mesa e me encostei na parede, olhando ao redor. Não conhecia ninguém dali.
Dei um gole no champanhe, afrouxei levemente a gola da minha camisa e senti que alguém se aproximava, mas não dei importância devido ao número de pessoas que tinham ali.
— Teodora, não é?
Levantei as sobrancelhas, surpresa.
— Sim?
Não fazia ideia de quem era, mas, ainda assim, ela estendeu a mão vazia. Na outra, também segurava um champanhe, mas, não parecia estar vestida exatamente para a ocasião. Suas roupas eram mais casuais, como se estivesse ali perto, passou, viu o local e entrou.
― Já ouvi falar de você.
Estendi a mão, cumprimentando brevemente.
― E você seria... – cerrei os olhos, me perguntando se eu já tinha visto em algum lugar, mas, não.
― Ah, não sou ninguém de mais, só conheço a estrela da noite – e apontou com o champanhe para a direção de onde Catarina estava, já de costas para nós e mais distante – o discurso foi legal, não é? Ela fala bem.
― Concordo contigo, apesar de não entender muita coisa referente a comportamento e tudo mais...
Ela deu um riso largo, contendo com a mão em seguida.
— Às vezes, é até melhor não saber. Você prefere ficar nos bastidores dando apoio pra esposa, suponho.
― Ah... – senti minhas bochechas queimando ao ver alguém remetê-la assim para mim – não, ela ainda não é minha esposa de fato. No momento, somos conviventes mesmo.
Ela tomou um gole do champanhe, concordando com a cabeça lentamente.
― Bom, não deixa de ser companheira.
— E como você me conheceu? – apontei com a taça para ela, que me olhou de relance – Disse que tinha ouvido falar de mim, fiquei curiosa em saber como.
— Modo de dizer – e assentiu mais uma vez – eu vi umas fotos de vocês juntas, seu nome e aí todo o contexto é fácil de concluir, sem contar que não é como se você e sua família fosse muito desconhecida... Com todo o respeito.
― Fala na parte dos escândalos ou das ações de mercado? – dizia irônica, e ela riu, balançando a cabeça.
Olhou para onde Catarina estava por alguns bons segundos, como se a analisasse, e depois se virou pra mim, com o sorriso ainda amigável. Secou o conteúdo da taça, gesticulou para que eu fizesse o mesmo e pegou ali ao lado outras duas, deixando as secas na mesa. Entregou a mim e levantou a dela.
― Por que não brindamos por essa conquista da agora doutora Catarina?
Concordei com a cabeça, e assim tocamos uma taça na outra. Ela voltou a sorrir e tomou o conteúdo, assim como eu. No entanto, quando Catarina pareceu desocupar dos demais que a cercavam, ela colocou a outra taça vazia do lado e foi se afastando.
― Você não vai querer falar com ela? – perguntei levantando uma das sobrancelhas, mas, logo negou.
― Não, eu já vou ter que ir, mas... – e colocou a mão contra o peito, fazendo um breve aceno – Mande minhas felicitações a ela.
Quando Catarina chegou, a pessoa já tinha ido embora. Logo ela notou meu olhar confuso.
― O que foi? – disse ela arrumando meu cabelo pra trás – Aconteceu alguma coisa?
― Não, é que... – cerrei as sobrancelhas – Uma amiga sua veio falar comigo, mandou lembranças e foi embora.
― Foi? – Catarina olhou de um lado para o outro – E quem era?
― Não sei... – neguei com a cabeça, procurando por ela para que pudesse mostrar quem era – Não falou o nome.
Olhou mais uma vez ao redor por um rosto conhecido, mas, logo que percebeu que não acharia, deu com os ombros e me puxou pela mão, deixando para lá o que quer que tivesse acontecido.
Ficamos até o final do evento e voltamos para a casa. Trocamos de roupa e nos deitamos na cama. Logo ela dormiu, com seu braço envolvendo minha cintura, mas minha cabeça ia a outro lugar.
Jamais imaginei que um dia estaria ali e, ainda assim, a vida corria bem.
Apesar de toda a briga passada entre mim, meu pai, minha tia Patrícia contra Simone e minha avó, elas tiveram que aceitar o que era deles, o que, consequentemente, acabou sendo meu também. O lado bom de tudo isso era que eu não precisava ter mais contato com elas, e nem fazia questão. Já eles, ainda assim, faziam.
O que me fazia falta mesmo era, além deles, minha mãe e a tia Clarice. Mal via a hora de poder ir para casa e finalmente ter minhas férias, já que Catarina agora entrava de recesso e podíamos ir juntas. Para minha sorte, ficar ali foi só uma questão de tempo até que ela terminasse seus estudos e assim, procurarmos um lugar para chamar de nosso de fato.
Sei que não dava para comparar uma relação com a outra, mas, pensava muito nos meus pais. Eu havia cedido para ficar mais próxima de Catarina, mesmo que isso envolvesse ainda mais viagens por conta do trabalho e períodos fora de casa, mas, ainda assim, o faria de novo, porque toda vez que chegava e a encontrava ali, eu sentia que estava recarregando tudo que havia perdido durante os dias em que não a via, ou diante uma semana corrida em que não se tinha tempo para nada. Se eu pude fazer isso, por que minha mãe não perdoou meu pai e deu mais uma chance a ele?
Para ela, o tempo tinha passado e as coisas haviam mudado demais para pensar em qualquer aproximação que não envolvesse algo estritamente a mim. Já ele, que pensava poder recuperar qualquer tipo de relação com ela, nem que fosse de coleguismo, se viu frustrado e acabou por fim, desistindo. Talvez, se a vida fosse uma comédia romântica, eles perceberiam que no fundo, gostam um do outro e tentariam dar uma chance ao amor, mas, não era o caso.
A verdade era que se tratava de duas pessoas magoadas demais para poder pensar em seguir em frente com qualquer coisa, sendo ele que ainda se mantinha esperançoso com as memórias que tinha, essas que não correspondiam com as da minha mãe.
Talvez como minha relação com Cristiano, que agora tinha mudado de amigo para cunhado, no qual nunca mais se estabilizou da forma que gostaria, assim como parecia que nunca ia mudar os conflitos que tinha com sua irmã.
Mas, estava tudo bem. Eu estava feliz de ter as famílias que tenho, sendo elas a da minha mãe, do meu pai, a da Catarina que me acolheu como se fosse parte dela desde o primeiro momento em que cheguei ali. Tenho uma gratidão e carinho incalculável por eles.
E, apesar de não acreditar que cada um de nós tenhamos o amor da nossa vida, já que se tratava de um sentimento construído aos poucos, tinha mais certeza de que se o tivesse, Catarina cumpria bem esse papel, e torcia para que eu fizesse o mesmo por ela, afinal... Ela também não deixa de ser parte da minha família, ou melhor, da nossa.
No final das contas, as coisas tinham que acontecer do jeito que aconteceram, afinal, se naquele dia, mexendo nas coisas antigas da nossa família junto com minha tia, eu jamais teria encontrado aquela pista do meu pai, tinha parado onde parei e vivido o que vivi, e foi isso que me levou até aqui.
Será que a Teodora lá de trás estaria feliz com o rumo que as coisas tomaram? Eu não saberia dizer, mas a de hoje se sentia muito grata por finalmente encontrar o que tanto procurava: a paz. Essa, que estava nas pequenas coisas, como um café do fim de tarde com a pessoa que ama, risadas nos encontros de família, o abraço afetuoso em um dia frio, uma palavra de afeto em um dia ruim, até mesmo o bater da brisa morna em seu rosto depois de um dia cheio, lembrando que você estava ali, ao norte de algum lugar.
Fechei os olhos, me virei e Catarina me abraçou com mais firmeza, me trazendo ainda mais contra o seu corpo. Senti meus ombros relaxando quase que imediato, como se meu corpo me lembrasse de quem estava ali do meu lado.
Porque a vida perfeita estava ali, naquela tão linda imperfeição que ela tinha, felizmente, se tornado.
Fim do capítulo
Não tenho muito o que dizer, só que sinto que finalmente essa história foi contada do jeito que queria, ou pelo menos próximo a isso kkk agora, trago as reflexões:
Quem seria a pessoa que falou com a Teodora? Cristiano ficou intrigado mesmo por ciúmes ou só não quis ficar próximo pela briga com a irmã? Os pais dela ainda se gostam? Ela tomou os negócios da família? Onde seria esse lugar que seria dela e da sua amada?
Deixei em aberto mesmo porque pra mim seria mais legal que a pessoa que estivesse lendo tivesse sua própria impressão do que quer que tenha acontecido. Deixa margem para muita coisa, possibilidades, enfim...
Eu espero de coração que tenham gostado e, no mais, espero os comentários para dizerem o que acharam!
É sempre um prazer escrever e compartilhar com vocês. Até a próxima <3
Comentar este capítulo:
kasvattaja Forty-Nine
Em: 28/05/2024
Olá, tudo bem?
Lembro-me desta história. Você terminou-a lá por volta de 2020, 2021... Não tenho certeza. Parece-me que ela tinha mais capítulos e mais palavras. Porém, como faz já algum tempo, não lembro-me muito bem. Mesmo assim, parabéns por essa 'nova versão' de sua história. Palavras, como sempre, bem escrita por você.
Aguardando novas histórias.
É isso!
Post Scriptum
'Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim.'
James R. Sherman
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Marta Andrade dos Santos
Em: 26/05/2024
Mas já vou sentir saudades.
Parabéns pela bela história e obrigada por compartilhar.
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