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ACONTECIMENTOS PREMEDITADOS por Nathy_milk

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Palavras: 5276
Acessos: 857   |  Postado em: 26/05/2024

Capitulo 50

Cap 50 - Flávia


         Eu acordei com um calorzinho gostoso no corpo, uma sensação de bem estar, que logo em seguida foi tomada pela boca seca e pela dor de cabeça, antes mesmo de eu entender onde ou o que estava acontecendo. O cabelo da Beatriz, que é mais curtinho, na altura do ombro, estava jogado de lado. Tenho uma lembrança de como ela veio parar na minha cama, mas como eu saí do bar? Calma, calma. 

          A Bia está deitada comigo, bem gostosinho. No mínimo, acordar ela com jeito e com carinho. Continuei ali na mesma posição, com calma e cuidado, puxei o cabelo dela de lado, deixando o pescoço exposto. Com delicadeza e tentando não levantar muito a cabeça, fui aproximando o nariz do pescoço dela, puxando o ar, o cheiro, sentindo a pele quente. Meus olhos estavam esmagados da ressaca, mas o aroma dela é encantador. Puxei o ar em uma intensidade que acabei acordando ela no susto. 

        -  Caraca, que susto. Flávia, que horas são? - falou só virando o rosto, sem se esquivar de mim. 

        - Opa, bom dia.  Seis da manhã Bia. Tá no horário. Mas dá pra eu ficar uma vida aqui com você - apertei o abraço. 

        - Vou levantar e me arrumar - ela levantou direto, sem olhar pra mim, sem conversar, sem nada. Eu voltei a esticar meu corpo na cama, com a cabeça latejando,do. Que dor horrível. Fiquei alguns segundos na cama, mexendo no celular e resolvi levantar. Não consegui levantar de uma vez só não. Tive que sentar primeiro na cama. Como alguém consegue beber todo santo dia, não morre não? Nunca mais coloco uma gota de álcool na boca. Puxei o ar fundo, tentando me recompor. Escutei ao fundo o barulho do chuveiro, sei que a Bia está se arrumando para ir para o DP. 

         Eu não tenho condições de trabalhar, nem vou trabalhar. Eu conversei com o delegado chefe, o Alcino, ele aparentemente me entendeu e me dispensou por alguns dias. Por mais que eu, infelizmente, não fosse casada com a Fabíola, eu sofri um luto pesado, um baque que vai ser difícil me levantar. Por sorte, eu acho, é um luto que venho seguindo e já trabalhando desde que ela ficou ruim, há 3 anos, mas isso não tira a dor. Eu sinto mais uma libertação do que a dor da perda. Fico aliviada que ela tenha finalmente falecido, não que eu esteja comemorando, e jamais vou comemorar isso. Mas prefiro a Fabi ter partido do que ver ela presa em uma cama, comatosa. 

          Segui para a cozinha, desejando mais que tudo, um copo de água. E foi a primeira coisa que peguei, uma água. Desceu ardendo a garganta, mas a dipirona vai ajudar. Eu não tenho nenhuma obrigação com a Bia, mas acho gostoso eu poder fazer um café cedo, é bonito como esse cuidado nosso acontece pelo café fresco. Comecei a passar um e sentei na mesa da cozinha, olhando o celular. Eu fui pro bar, bebi, a Bia me trouxe de volta? A Bruna sumiu mesmo do mapa? Nem uma mensagem, nem uma aparição, será que eu considero ela como desertora ou tenho que ir atrás pra conversar? Espero que haja pelo menos uma desculpa viável, nem que mínima. 

A Bia apareceu na micro cozinha um tempinho depois, já trocada, com roupa de trabalho. Seria, fechada. Será que ela está brava comigo? É possível em decorrência de eu ter bebido, afinal nem é uma coisa que costumo fazer. Ela foi direto na garrafa térmica, e bem séria e firme me falou: Posso pegar?

- Sim, passei pra você.

- Humm, obrigada -  Bia brava comigo é novidade. E não sei se já tenho domínio para lidar com isso - Você não vai trabalhar né?! O Alcino te deu alguns dias? 

- Ele entendeu a situação. Falou que eu poderia ficar o tempo que precisasse, só pediu que eu ficasse atenta ao celular. A operação de tráfico de órgãos está bem avançada, estamos esperando uma deixa para atuar. 

- É bom você tirar uns dias, usar para se recompor - ela realmente estava brava comigo, estava cortando a conversa. Respondendo bem direta. Eu fiquei na “mesa”, na pequena.bancada que temos acompanhando ela, fazendo companhia, algo que sempre fiz. Olhei o celular, sei lá, só fiquei ali. Até que ela terminou o café dela, levantou sem falar nada e seguiu para o quarto dela. Eu enchi mais uma caneca de café e fiquei ali, o que está acontecendo? Aconteceu tanta coisa recentemente - Tchau Flávia, tô indo. 

- Bia - eu saí correndo da micro cozinha, ainda deu tempo de pegar ela na porta - Bia, tá tudo bem? 

-  Sim. 

- Queria te agradecer, por todo o cuidado que teve comigo esses dias e principalmente ontem, no velório e depois no bar - falei sentando no braço do sofá. Estiquei minha mão pra segurar a dela, mas não tive retorno, ela puxou a mão. 

- Flávia, eu sou sua amiga, jamais deixaria você sozinha nessa situação toda. Claro que te daria todo o apoio que precisasse. Mas quero que saiba que eu nunca mais vou em um bar buscar você. Uma das coisas que mais admiro em você é você ser zero álcool. Então, nunca mais irei em um bar te buscar.

- Bia…

- Deixa eu terminar de falar. Você tinha me pedido um tempo pra resolver sua vida, sei que aconteceu toda essa situação com a Fabíola. Não estou te cobrando nada, longe de mim fazer isso, mas não tem mais dormir juntinho, não tem cafezinho junto, não tem mais nada, enquanto você não definir sua situação com a Bruna. Até lá, vamos ser apenas colegas de apartamento e de trabalho, como sempre fomos. - ela falou de um jeito firme, potente, cheia de si, que eu não tive respostas. Não tive palavras, muito menos atitude para questionar mais nada

- Bia.. 

- Eu estou indo trabalhar Flávia. Não quero me atrasar - com a mochila preta pendurada em meia coluna ela saiu, não olhou pra trás, fechou a porta, ouvi o barulho do “passar” a chave e foi. Posso dizer que nunca tinha visto a Beatriz firme, forte, falando como falou agora. Eu me encantei. 

       

        Eu sentei no meu quarto, onde tenho uma bancada de trabalho e abri meu computador. Tem algumas coisas simples que estão batendo na minha cabeça e eu sei que se eu ficar sem fazer nada, todas as imagens e lembranças da Fabíola vão aparecer, então tenho que me distrair. Estou com o relatório da viagem a Votuporanga atrasado e revisando os documentos me lembrei de uma coisa importante que o Nobrega falou: alguém leva as pessoas para fora do país. Nóbrega é o preso que eu visitei, que foi cúmplice do Puca anos atrás. Outra coisa foi na escuta que conseguimos pegar do Puca com o Grilo, eles haviam falado que havia um indivíduo “Das Letra” que levaria as pessoas até Londres e se precisassem acionariam a rede em Portugal. Essas passagens por si só já me trazem uma rede internacional de crime. 

           Uma das coisas que eu e a equipe precisa ficar em alerta por agora é se a tal médica, que está em Portugal volta pro Brasil, se alguém dá parte de sequestro dela, qualquer coisa desse tipo. Não temos ideia de qual será o modo de operação deles, como acionaram ela. Se ela é cúmplice ou vítima, coisinhas que preciso pensar. Outra coisa que pra mim ainda não encaixa, e não posso legalmente acionar nada é a sonegação fiscal da Mayra, pra mim não encaixa o estilo de vida, viagens internacionais frequentes e rápidas, sem alterações na receita federal e trabalha no mesmo jornal que o Evangelista. Podem ser peças de diferentes legos, mas minha experiência fala que é do mesmo.

              Meu celular começou a tocar e na tela Isabelle. Mas não consegue me dar um dia de folga? Tenho que agradecer a ela por todo o apoio também. Atendi o telefone: 

            -  Você está em casa? Tenho uma coisa que preciso te mostrar. 

- Quer que vá no DP? Me manda. 

- Não, eu quero deixar baixo, tô indo aí. Tchau - e desligou o celular, sem me dar tempo de perguntar nada, nem conversar nada. Sei que entre o DP e a minha casa  a pé dá uns 10  minutos, então sei que a Dona Isabelle logo irá bater na minha porta. Avisei o porteiro, autorizando o acesso dela e fiquei esperando. Pouco tempo depois a campainha tocou e eu atendi. 

- Entra Isa - ela estava ofegante, então ofereci uma água, quando ela se acalmou um pouco, começamos a conversar - Fala, o que você achou?

- Cara, lembra do Evangelista né? - confirmei com a cabeça - A namorada dele está ajudando muito. Ela sentou com o pessoal da informática e juntos conseguiram abrir o Drive dele. 

- Opa. Isso pode ajudar muito, acharam alguma coisa importante? 

- Então eles conseguiram abrir o Maps dele com as localizações. Eu peguei as últimas 10 e estou batendo da mais recente pra mais antiga. 

- Tá Isa, e a finalização? O que achou de importante? 

- A antepenúltima localização dele, comunidade do heliopolis, perto do..

- matão de dentro - completei, sentando no sofa ao lado dela, começando a dar importância e acompanhar o raciocínio dela. 

- Exatamente, perto do matão de dentro. Não tenho mais informações, mas ele foi lá. Em seguida ele foi para o aeroporto de Guarulhos e olha essa imagem aqui - Ela pegou o celular e abriu em uma foto.

- É a…, puta que pariu!

- Exatamente, a Mayra, namoradinha da sua namoradinha. Olha bem a imagem - Era uma foto de uma câmera de segurança, provavelmente o print do vídeo. Aparentava ser a sala de um aeroporto mesmo, as cadeiras e o ambiente encaixavam com essa hipótese. A imagem mostra a Mayra conversando com um homem, na casa de 30, 35 anos, e ao fundo, atrás de um banco, uma pessoa tirando foto, provavelmente o Evangelista. 

- Esse aqui tirando a foto é o Evangelista, certo? 

- Exatamente. 

- Isso é uma prova, uma consideração, mas não dá pra falar que ela está envolvida na morte dele. 

- Sim, não dá pra afirmar nada. Mas dá pra dizer que ele, jornalista investigativo, estava acompanhando ela. O armário dele no jornal foi arrombado, ela tem aquelas questões da sonegação, viagens internacionais curtas. 

- Isa, muitas peças, mas nenhum encaixe - um clarão veio na minha cabeça - Você tem o histórico de localização dele né? Abre aí, vamos ver quantas vezes ele foi no aeroporto, talvez encaixe com as viagens dela, aí dá pra afirmar que ele estava investigando ela. E esse cara que ela está conversando no aeroporto, quem é? Entrou no voo com ela? 

- Consegue colocar o rosto dele naquele seu programa de reconhecimento? 

- Vou pegar o computador, vamos trabalhar. Seria estranho descobrirmos que esse cara está desaparecido? - falei gritando enquanto ia ao quarto para pegar o computador

- E que é da favela de Heliópolis. 

- Exatamente. Se ele entrou no avião, pode ter sido levado e não ser um corpo do matão. 

- Mas aí coloca ela no tráfico de pessoas. 

- Chega a tanto Isa? 

- Depende do que conseguimos formular e achar. Descobre primeiro quem ele é- Sentei na mesinha micro da cozinha, ao lado da Isa e comecei a mexer no Afis, sistema de identificação facial. A imagem que temos dele não é a melhor, mas acredito que seja suficiente pro programa - Oh, aqui está o histórico de localizações dele, por enquanto consigo te apresentar dos ultimos 6 meses. 

- Vamos começar com esses, se precisar pegamos mais. Já vai dar uma trabalheira levantar as viagens dela - pensei naquela viagem que a Bruna fez pra São Francisco e a Mayra estava lá, sem nem mala. Puxei meu celular e procurei nas conversas com a Bruna mais ou menos a data. Final de junho, dia 18 - Isa, abre aí, vê se ele foi no aeroporto próximo a 18 de junho, a Mayra fez um bate e volta em São Francisco nesta data. 

- Nem vou olhar cara, nessa data ele já tinha sido morto. Vocês acharam os corpos no matão de dentro um tempinho antes. Porque essa data Flávia. 

- Esse foi a primeira galhada que ganhei da Bruna com a Mayra, ela fez uma viagem de bate volta em São Francisco. 

- Bate e volta, ali? Ninguém faz bate e volta em outro país a não ser que more na fronteira. Nem pro Paraguai ninguém faz bate e volta, gasta pelo menos 2 ou 3 dias. 

- Não vou entrar no mérito. Me vê uma data aí que ele foi no aeroporto, vamos fazer levantamento em várias empresas, principalmente nas que operam pra Londres, que eu onde ela mais vai. 

- ele foi no aeroporto 15 de maio, vê aí o que você consegue - enquanto fui procurando as datas e começando a entrar nos sites das empresas de voo, mas a Isa não consegue ficar quieta - Cara, vc já tomou um chifre da Bruna? 

- Não consegue ficar quieta né Isabelle? 

- Cara, o que essa menina tem? Mel na calcinha? 

- Nos não estávamos com nada formalizado quando isso aconteceu, então eu relevei. 

- Porr*, que coração mole hein sapatao?! 

- Isa, geral erra. Sabe a regra básica do direito, quem cala não falou nada. Se não tínhamos regras definidas, não tinha como ela quebrar. 

- Ah Flávia, que papo sem noção. A sociedade, o convívio humano já traz a regra da fidelidade. 

- Não Isa. Isso é algo negociado entre os casais. Sei lá, tem que haver uma negociação prévia. E não havíamos feito. 

- Ela apareceu Fla? Porque o tempo todo lá no velório, no dia anterior, eu só vi a Bia te dando suporte, a Bruna nada. 

- Então, eu nem sei exatamente o que fazer. Eu nem sei se mando mensagem, se só ignoro. Se denuncio ela como desertora. Não sei. A última coisa que eu falei com ela foi o horário do velório da Fabi, mas nem isso ela me respondeu. Truco! - bati na mesa. 

- achou alguma coisa? 

- 15 de maio ela viajou para Londres. Voltou dia 22 de maio. 

- conseguiu um rastreamento das viagens dela? 

- consegui no site da receita federal, com o meu acesso de investigador. 

- Vamos bater as datas do Evangelista com as da Mayra. Se bater algumas, vou pedir o acesso as câmeras de segurança dessas datas. Tem um café aí sapatao? 

- Nossa Scania, delicada né?! Tem ali atrás, na garrafa - enquanto ela levantava para pegar o café eu fui batendo as duas listas, das viagens relâmpago da Mayra e as visitas do evangelista ao aeroporto. 

- Alguma coisa?

- O que você acha? 

- Que todas as datas batem - encostou atrás de mim olhando o computador.

- Exatamente, todas as datas que você me passou, o evangelista estava no aeroporto e a Mayra também. 

- Truco!  Vou pedir acesso às imagens - ela puxou o computador de dentro da mochila, colocou em cima da mesinha minúscula e começou a redigir o pedido das imagens. Eu aproveitei esse tempinho e levantei para pegar um café pra mim, encostei na pia, com o pensamento longe, sem contar a dor de cabeça da ressaca. Onde eu estava com a cabeça, não bebo a muitos anos. Talvez eu tenha pensado que beber fosse tirar um pouco a imagem da Fabi, continuo com a imagem dela e uma ressaca absurda. 

Meu computador estava rodando a imagem do “acompanhante” da Mayra, ainda sem achar nada. Se pensarmos a nível de tráfico de órgãos e tráfico de pessoas, o Brasil atua como consumidor e distribuidor de vítimas, mas também atua como ponto de passagem para pessoas de outras nacionalidades. Por exemplo, pessoas que fogem de países da América Central, pensando em uma vida melhor, chegam aqui e são iludidas com uma proposta enriquecedora, e no final se tornam vítimas. Moral da história, essa pessoa que está com a Mayra pode nem estar no banco de dados do Brasil. 

Mas para a minha surpresa, enquanto a Isa redigia a petição, o programa de identificação deu um alarme. Achou algumas informações que cruzavam e quatro pessoas que os traços do rosto “batiam”, como a imagem era um print de uma câmera de segurança e a qualidade baixa, era previsto isso acontecer. O programa mostra nomes, documentos e a localização de onde o documento foi feito - Isa, olha aqui, o sistema puxou quatro rostos. 

          - De onde são? 

          - Um de Salvador, um de Pernambuco e dois de São Paulo. Um do interior e o último? 

          - De Heliópolis? 

      - Como você imaginou? - falei ironicamente - Fez o documento na Sé e deu o endereço da favela de Heliópolis. Agora, vou jogar aqui no sistema da PC e ver se acho algum BO com o nome dele. 

- Um de desaparecimento. Cara, nos documentos do Evangelista, tem vários BO de desaparecimento. Não fazia sentido inicialmente, mas agora tem um contexto. 

- Tá com eles aí? 

- Não, deixei no DP, nem ia ficar aqui muito tempo. Vou ir lá buscar. 

- Não, mantém aí fazendo a petição, vou ligar pra Bia. Quando ela vier almoçar traz o documento. 

- Achando motivos pra ligar pra ela Flávia? Cria vergonha nessa cara! 

- AFF Isabelle. Noção você não tem né?!

- Aproveita e pede pra ela te dar uns beijinhos. 

- Faz assim, liga você! Já explica onde estão esses documentos. Afinal, você é delegada, eu só sou investigadora. 

- Eu não, aproveita essa chance de falar com ela, sei que vai alegrar o dia dela. 

- Você quem pensa. Ela tá puta comigo porque eu bebi ontem depois que cheguei em casa. 

- Você nem bebe cara. 

        - Eu estava tão na merd*, sem conseguir dormir, triste com a partida da Fabi, que achei que beber iria me aliviar, acalmar a alma. 

- Flávia, álcool nenhum salva a vida não. Você fica na ressaca e com o problema. Liga aí pra ela e pede o documento, está na terceira gaveta da minha mesa, em uma pasta marrom de zíper. Só me trazer a pasta. Vou terminar a petição aqui.

Eu peguei meu celular e primeiro mandei uma mensagem pra ela, perguntando se eu poderia ligar. Segundos depois ela respondeu que sim. Falei com uma voz calma e mansa e a Bia estava com uma voz normal, pedi a documentação da Isa e terminamos a conversa, simples e rápido como coisa de soldado. 

A Isa estava no telefone acredito que com uma juíza ou com algum auxiliar dela, dando seguimento na petição. Quando temos esse tipo de caso, necessidade de imagem, grampeamento, essas coisas, normalmente cada DP tem um “juiz” de referência, que faz a autorização de acesso. Nesse caso, a Isa como delegada é quem pede diretamente para o Juiz, ou na necessidade do Alcino, que é o delegado chefe do DP. 

- Feito, a juíza autorizou a pedirmos as imagens. Eu acho que podemos ir lá pessoalmente, vai ser mais rápido que seguir toda a cadeia de pedidos. Só esperar ela passar o mandado e vou lá pessoalmente. 

- Não quer que eu vá junto?

- Não é melhor você ficar quieta, descansar depois das suas últimas 48 horas, melhorar dessa ressaca?

- Quando sair o mandado nos vemos. Tô tentando achar algum BO desse cara que estava com a Mayra, mas não acho nada. 

- Essas imagens já devem ter uns dois meses. A família já deveria ter feito um atestado de desaparecimento ou alguma coisa. Consegue o endereço?

- O endereço já está aqui. O que podemos fazer é ir informalmente conversar com a família. Descobrir porquê aeroporto nesse dia, se ainda tem contato com ele. 

- Ele embarcou mesmo? 

- Calma, vou colocar aqui na PF - passou uns minutinhos - passou pelo guichê da PF, o que junto com embarcou. Ou embarcou ou fugiu após a área de embarque. O que não faz muito sentido. 

- Tá, vamos conversar com a família. 

- Eu vou junto. Na verdade, pode ir eu e mais um investigador. 

- Ou pode ir eu e um investigador da minha equipe. Você sossega o facho e fica em casa. 

- Isa, eu preciso ocupar minha cabeça. Cada vez que eu paro, vejo a imagem da Fabi quando morreu, na hora da morte dela, do engasgo. Cabeça ocupada não me faz pensar. 

- Você já marcou o retorno na terapeuta? 

- Já sim, consegui um encaixe para depois de amanhã. Vai querer ir agora falar com a família? Pensei que podemos esperar a Bia, que já deve estar pra chegar, a gente bate as vítimas com as datas. Se encaixar, vamos nas famílias desses desaparecidos, num caminho só. O que acha?

- Cara, tenho certeza que vai bater as datas. 

- As imagens conseguem te mandar? Você tem algum contato no aeroporto? 

- Nenhum contato forte lá. Mas podemos ir lá então, pegamos as imagens e voltamos pra cá pra analisar. 

- Vai você no aeroporto, pega as imagens. Eu espero a Bia chegar com os BO, começo a bater cara crachá. 

- Acha melhor?

- Dividir para conquistar. Não dá pra esquecer que a menina, a tal da Yasmim, companheira do Grilo, chefão, já deve estar pra parir. Pelos meus cálculos, isso deve acontecer entre semana que vem ou a seguinte. Quanto mais coisas documentadas tivermos, melhor. 

- Já falei que só falta um concurso pra você. Cara, você vai ser uma ótima delegada, consegue traçar estratégias muito fácil. 

- Vai logo Isa, pára de enrolar me elogiando - falei dando risada da cara dela, ver ela sem graça é muito bom. Ela olhou pra mim e riu, mas não mostrou a língua nem nada, estamos desenvolvendo uma amizade muito bom, madura, depois que ela entendeu que não vamos ter nada, ficou mais na leve, voltando ao jeito que eu a conhecia. Mas esse é um erro meu, por um bom tempo simplesmente passei o rodo sem pensar no outro lado, sem me preocupar se eu poderia ou não estar machucando alguém. A Isa pegou mais um café, afinal não vive de água e sim de café preto, enquanto ligava para o Alcino, delegado chefe, para passar as atualizações e pedir uma viatura.

A Isa saiu, indo em direção ao DP, mas eu continuei no ape e trabalhando. Mais uma questão passou pela minha cabeça, quem paga essas passagens da Mayra? Será que são pagas por laranjas? Ou ela aproveita as viagens a trabalho, que deveriam ser mensais, para levar as pessoas? Seria uma boa forma de despistar a polícia, isso não dá pra negar. Mas tem mês que ela fez três ou quatro viagens para a Europa, isso precisa do aval de alguém do jornal, não dá pra ter um funcionário que viaja tanto assim. Isso justificaria o ranço que o Antônio, padrinho da Bru, tem de mim. Além de investigadora, não sou a ovelha que ele sabe como controlar. 



           - O que vocês não pedem chorando que eu faço reclamando - a Bia começou a falar quando entrou pela porta. 

           - Oii Bi. Obrigada por trazer os documentos. 

           - Cade a Isabelle? 

          -  Dividimos os esforços, ela foi pro aeroporto pra pegar umas imagens e eu fiquei aqui esperando você chegar, pra correlacionar esses documentos. 

           - Você não deveria estar dormindo ou se distraindo? 

          - acredite Bia, estou me distraindo. Se eu ficar quieta, sentada, volto automaticamente pro velório. E isso doi demais - a Bia foi até a pia, também virou um pouco de café na canequinha, voltou com calma e sentou, olhando a bagunça de papel, computador e anotações. 

          - Como você está da ressaca? 

          - Estou melhor, a dor de cabeça aliviou. Mas o enjôo é quase constante. Como alguém bebe direto? Todo dia ou que seja todo final de semana. 

         - As pessoas tem motivos diferentes e que só elas sabem pra beber assim. Porque resolveu beber ontem? 

           - Eu tentei dormir, mas não conseguia, a imagem da Fabi não sai da minha cabeça. Eu lembrei da hora que ela morreu, depois eu lembrei dela no caixão. Sai pra correr um pouco, pra me distrair mas não deu certo. Achei que bebendo eu iria me distrair ou pelo menos não pensar mais nela. 

            - E deu certo? - ela não estava me criticando, estava cuidando de mim, fazendo eu refletir, conversando. 

          - Por alguns poucos minutos. Mas a ressaca não vale isso. 

         - Fla, eu fui grossa com você de manhã. Está sendo tudo muito estranho e complicado pra mim também. Eu quero que pense em uma coisa: a Fabi faleceu, não tem nada que você possa fazer com isso. Você pode seguir em frente e viver por vocês duas ou você pode se enfiar no álcool, ir se matando aos poucos e não honrar ela. - a Bia segurou minha mão, me dando suporte, dando carinho - isso vai depender de você e das suas escolhas

         Eu estava segurando meu choro, apenas puxando o ar e soltando, mas o que eu queria mesmo era colo, cafuné. Eu estou bem fragilizada, por mais que eu esteja me esfory pra segurar as pontas e passar essa cara de forte. A Bia continuou falando enquanto segurava minha mão fazendo um carinho: 

         - A perda, o luto, leva um tempo para ser superado, não tem como apressarmos, mas não precisamos prolongar, fazer doer mais. 

         -  É tão complicado Bia. Eu estou aliviado dela ter partido, ter acabado o sofrimento, mas está doendo tanto a falta dela, saber que ela partiu - acho que caiu uma lágrima. A Bia levantou da bancada e veio até mim. Me abraçou e me deu um beijinho na testa, carinhoso. Segurou meu rosto, e continuou falando:

         - Essa é a ambiguidade da dor, do luto. Fla, essa dor não vai sumir, mas te prometo que vou estar com você. Todo o tempo. Juntas vamos superar isso. Não tem como esquecer ela, mas tem como seguir em frente, pegar o melhor das lembranças dela. - eu não estava mais conseguindo segurar o choro, a Bia voltou a me abraçar e deixou eu ali o tempo que eu precisei, chorando ate me acalmar. 


         - Vai lavar esse rosto aí. Chega de chorar, te trouxe uma pasta de documento pra você ligar os pontos e se distrair. Lava lá o rosto, que eu vou esquentar alguma coisa pra eu comer. Preciso voltar pro DP.  - eu levantei secando as lágrimas e tentando puxar o ar fundo, com força e soltar devagar. Até ir me acalmando. No banheiro, joguei uma água no rosto, penteei o cabelo com os dedos e prendi ele em um coque nele mesmo. Passei um pouquinho de água nos fios em pé da testa. Eu preciso me recompor, voltar a puxar o ar, achar vida! 

          Voltei pra cozinha, a Bia já tinha esquentado sua comida, estava com o pratinho na mão, e a micro mesa cheia de papel meu. Juntei os papéis rapidamente, dando espaço para ela apoiar o prato. E assim que ela apoiou, comecei a falar. 

           - Bi, obrigada por todo o apoio que você está me dando. Você é uma pessoa linda e maravilhosa. De verdade, obrigada por todo o apoio. 

            - Obrigada nada, pode me agradecer me levando pra um jantar, comida italiana. 

            - Ah, tava demorando. Sabia que iria reverter em alguma coisa. 

        - Claro, te ajudo no emocional, você me ajuda do gordural. É a regra - ela falou batendo na barriga e dando risada, um momento leve, gostoso, e diria íntimo e pessoal. 

            - Na primeira oportunidade que tivermos vou te levar a um restaurante, prometo - ficamos jogando papo fora até ela terminar de almoçar. Esperei ela ir embora pro DP pra eu dar seguimento a investigação, não por esconder algo dela, até porque ela participa da investigação também, mas para dar um tempo de qualidade pra ela, estar realmente ali almoçando com ela. 

            Abri a pasta da Isa e além dos documentos do Evangelista, tinha vários documentos de outros casos. A Isa, por mais que não pareça, é organizada e deixou os “BO” dele organizado e com a identificação “Caso Evangelista”. Tinha uns  7 boletim de ocorrência nessa listagem. A primeira coisa que fiz foi “catalogar”, olhando idade e sex* dos desaparecidos. Desaparecido 01: homem, 32 anos; Desaparecido 02: homem, 30 anos, e assim eu fiz nos 7  BOs, sempre homens de 25 a 35 em média. Abri novamente o site da PF com as viagens da Mayra, mas as datas dos desaparecimentos não batiam, eram sempre depois da viagem, três ou quatro dias depois ou até mesmo uma semana depois. Se com as imagens conseguirmos bater que ela estava no aeroporto com esses desaparecidos, conseguimos abrir um caso contra ela. 

              É uma situação chata, incomoda, mas se quer fazer algo errado vai arcar com isso. Eu não passo a mão na cabeça de bandido, mesmo ela sendo a Mayra. Não tenho raiva dela, não é isso, só não gosto, independente do que evoluir entre eu e a Bruna. Peguei meu telefone e liguei pra Isa: 

- Isa, conseguiu pegar as imagens? 

        - Estou voltando, acho que mais meia hora devo chegar na sua casa. A Beatriz levou os documentos? 

- Trouxe, já dei uma olhada neles. Todas os desaparecidos são homens, na casa dos 30 anos. Os desaparecimentos não batem com as viagens dela, mas batem com alguns dias até duas semanas após as viagens dela. 

- Pra mim isso fecha, vamos dar uma olhada nas imagens do aeroporto, mas vai bater. Iria ser coincidência demais. Segura as pontas que meia hora eu chego ai. 

- Tranquilo - me dei o direito de deitar no sofá nessa meia horinha que a Isa estava voltando pra dar uma descansada, eu estou fisicamente cansada, sem contar a ressaca. Foi uma péssima ideia ter bebido, uma sensação de fim dos tempos. Deitei no sofá da sala mesmo, mas peguei meu celular e abri uma foto da Fabi, camiseta preta, voltando de uma missão, como era linda, sinto tanta saudade. 



           Acordei no susto com o meu celular tocando. Era a Isabelle me ligando. Que saco, ela sabe que pode subir direto. Já avisei o porteiro também. Levantei no susto e atendi: Fala Isa, pode subir direto. 

             - Cara, vem pro DP. Vamos precisar de você, o Alcino pediu pra te acionar. 

             - É pra ir agora agora ou…

             - Cara, toma um banho e vem, vem preparada para operação. 

           - Beleza - eu levantei rapidamente e comecei a me arrumar. Toalha, banho rápido, quarto, calça jeans. A campainha tocou. Só pode ser a Isabelle, mas porque veio aqui, será que demorei tanto? - Já vai - gritei de dentro do quarto. Joguei a camiseta preta por cima, ainda com o cabelo bagunçado, de pé descalço. Fui rapidinho abrir a porta e tenho o péssimo hábito de abrir e ir fazer as coisas, ainda mais porque eu só estou esperando a Isa e já havia autorizado a entrada dela. Fui na lavanderia pegar meu coturno. - Isa, achei que você fosse direto pro DP - falei voltando pra sala, onde dei de cara com a Bruna, de salto, social, a bolsa de lado e a cara de pau. 

         - Oi! Podemos conversar? - eu travei, sem saber exatamente o que fazer, com o cuturno na mão, descabelada e correndo.       


Fim do capítulo


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Comentários para 50 - Capitulo 50:
Mmila
Mmila

Em: 26/05/2024

Essa. Runa em horas inconvenientes....

A batata dela já assou.

Não soube ser companheira ou não querlargar os privilégios.

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tainateixeira
tainateixeira

Em: 26/05/2024

Serio, acho que não tenho mais paciência pras desculpas da Bruna. 

Se a Flávia não mandar ela pro quinto dos infernos, espero que a Bia caia fora. Ela não merece essa pataquada também!!

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edjane04
edjane04

Em: 26/05/2024

É agora que ela manda a Bruna pra casa do caraio?!
Que cara de pau viu!

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