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ACONTECIMENTOS PREMEDITADOS por Nathy_milk

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Palavras: 5604
Acessos: 817   |  Postado em: 12/05/2024

Capitulo 49

CAP 49 - Acontecimentos premeditados - Beatriz!!!


Pois é, sim, é a primeira vez que converso com vocês. A atual situação da Flávia me assustou um pouco, mas não posso deixar de pensar que o destino traça linhas tortas para ações retas. Assustou no sentido de como todos os astros se alinharam, não um assustou por ela em si, porque a Flávia precisa de apoio full, simples assim. 

Então vamos começar pelo começo. Eu terminei com o Gabriel deve ter uns 7 dias, sei lá, acho que ninguém conta o tempo de término, pelo menos eu não. Não vou dizer que éramos um casal sem destino quando começamos, não. Tentamos, ele delicado, fofo. Eu envergonhada, toda tímida. Mas nunca consegui confiar nele para contar o que acontecia em relação ao Ricardo, as visitas em que eu acabava apanhando, as ameaças, essas coisas. Não conseguia contar pro Gabriel e ele, apesar de insistir, não se mostrava querer saber o porquê do meu medo, do meu incômodo. Não que ele devesse saber, mas ter uma ideia do porque eu tenho um medo x, ou o incômodo y, faz um pouco de sentido em um relacionamento. 

Enfim, eu terminar com o Gabriel era uma questão de tempo por eu não confiar nele,não conseguir contar minha vida. Mas tem o outro lado da história, o lado Flávia. Enquanto o Gabriel não se atentava se eu estava bem, a Flávia estava lá do meu lado conversando. Enquanto o Gabriel não sabia de nada sobre o Ricardo, a Flávia discutiu com ele, estourou os pneus do carro. Não que eu quisesse que eles saíssem no braço, só queria que ele sumisse. 

Tá mais de onde eu saí do Ricardo e Gabriel, homens, e parei na Flávia, mulher? Me fiz essa pergunta por meses, conversei muito com a terapeuta. Não acho que tenha tido um marcador, “ah, no dia 5 ela me olhou e me apaixonei”, não. Acho que foi mais uma construção nossa, com um desapego meu. A Flávia nunca investiu em mim, nunca me cantou, sempre foi respeitosa, sempre cuidou. Talvez esse cuidado dela tenha aos pouquinhos se tornado admiração, carinho, atração.

Tive um trabalho meu em desapegar dos meus próprios medos e preconceitos, por mais que hoje as coisas estejam um pouco mais fluidas, acho que nunca imaginei estar atraída por uma mulher. Não tive na adolescência a quedinha por uma amiga, não beijava mulher quando bebia. Não tive esse momento. Mas me encantei pela Flávia, mas acho que não foi um encantamento agudo, foi algo que foi surgindo. Primeiro ela me recebeu bem no DP, depois na equipe, foi me levando para os lugares, me inserindo naquele grupamento. Sempre preocupada comigo, sempre atenta a pequenos sinais, sei lá, acho que fui me soltando aos poucos, confiando, torcendo por um convite de assistir um filme junto, uma xícara de café fresco. 

Me sinto bem próxima a ela, conto as horas para encontrá-la, quero agradá-la, me sinto cuidada e protegida e também quero que ela se sinta assim, cuidada e protegida. Mas nesse lindo arco íris, existem só alguns empecilhos, a Flávia pode não sentir nada por mim e  existe a Bruna, com a ética da Flávia eu duvido que qualquer coisa aconteça entre nós antes dela terminar com a Bruna. Por isso eu aproveitei nossa viagem a trabalho para pelo menos demonstrar. A minha ideia era só insinuação, só um flerte, mas conforme fui me sentindo confiante e chamando a atenção dela, achei uma coragem inédita em mim e me declarei. Sei lá se foi uma declaração, um “deixas as claras”, cartas na mesa. 

Mas no dia seguinte, quando ela retornou do presídio, eu senti a Flávia diferente, um olhar mais fino, um trato mais delicado comigo. Poderia dizer até que me secou, mas posso adubar muito minhas ideias.  Quando ela me  convidou para irmos ao bar, eu senti um certo medo, tensão. A primeira coisa foi qual roupa? Até levei uma roupa bonitinha, por desencargo, mas não pensei que fosse mesmo usar. Por sorte levei  um vestidinho fresco meu, e deve ter ficado jeitoso, porque a Flavinha sorriu quando me viu, novamente achei um sorriso diferente do habitual.

            Quando chegamos no bar, o garçom nos recebeu como casal. No primeiro momento eu fiquei com vergonha, percebi que a Flavinha ficou meio travada pela suposição do camarada, mas nenhuma das duas corrigiu o moço. Sentamos, fomos pedindo nossa comida, eu claro já meti uns chopp pra dentro. Eu estava tão travada com a situação, estava sentindo ela mais cuidadosa comigo, mais carinhosa, mas de um jeito diferente. E a Flávia com todo aquele jeito fofo dela, de líder, conseguiu ir levando aquele jantar de um jeito suave. 

          E como vocês sabem, a Flávia com toda sua plenitude de 1,80, começou a pontuar sobre nos duas, que a partir daquela conversa eu percebi que poderia existir um “nos duas”. Como sempre, ela foi ética e direta, sem rodeios, mas com muito cuidado, muito bom trato, foi me lembrando que ela namora. Ah, imagina se eu esqueceria da louca. Mas pela primeira vez eu vi uma Flávia cansada, incomodada. Ela, claro, não falou mal da Bruna, nem esperaria isso, mas mostrou que precisava de mais apoio, de mais carinho, que a louca estava perdendo ela nos detalhes. A finalização da conversa foi, não estou pedindo que me espere, mas preciso de um tempo pra me resolver. Posso dizer que eu fiquei feliz com a finalização. Dá pra dar um voto de confiança e tempo. 

E dançar com ela? O que foi isso produção. Eu sou toda travada, toda tímida, com medo do meu corpo. A Flávia me chamou pra dançar, mas ela não veio com aquela palhaçada que detesto dos dois pra cá e dois pra lá. Ela estava conduzindo de um jeito que quando percebi que estava dançando com ela. E me perceber dançando com aquele mulherão me deu uma paz, uma sensação de lugar certo, de pessoa certa, sem contar o tesão. Eu gostaria que ela tivesse dado uns beijinhos no pescoço, arranhadinhas nas costas, mas a Flávia não ultrapassou em nenhum momento qualquer linha. Afinal, como ela havia dito anteriormente, ela namora, e precisa de um tempo para se organizar. 

Por mais que tenha; sido uma viagem de trabalho, eu não queria que terminasse, não queria voltar pra São Paulo nem pro nosso dia a dia. Meu medo era que essa viagem e essa conversa tivesse ficado aqui no interior, que a Flávia esquecesse chegando em casa, revendo  a Bruna. Mas as coisas acontecem no momento que devem acontecer e os astros se alinham de um jeito assustador. Quando o sr Luiz ligou, com a Flávia ainda no volante, a maneira como ela ficou, já entendi que algo errado não estava certo. E não estava mesmo. Quando encostamos o carro e ele conversou com ela, eu vi uma Flávia que nunca havia visto, frágil, chorando. Nunca vi a Flávia chorar nesse um ano. 

           Ali naquela situação, naquela fragilidade dela, o mínimo que eu poderia oferecer era todo e qualquer cuidado. Mas conheço ela, sei sobre sua dificuldade em ser cuidada, sobre sempre cuidar, mandar, então em alguns momentos tive que ultrapassar a minha timidez e impor a ela esse cuidado. Voltei dirigindo a viatura, quando paramos forcei ela a comer. Deixei ela dormir no carro. Cara, a Flávia chorou até soluçar, nunca imaginei isso. Se eu pudesse tirava a dor dela com a mão, sentiria por ela. 

            Quando chegamos no hospital que a Fabíola estava, ela nem queria que eu ficasse. Imagina se vou deixar ela sozinha. Isso vai além de sentir qualquer coisa por ela, é de ser amiga, companheira. A Flávia estava afundada, a dor que ela estava sentindo era quase palpável, mas era uma mistura de dor com alívio. Ela sorria e chorava, em momentos lembrava da Fabi e sorria, brincava, em outros simplesmente chorava do nada. Estava com o humor em uma labilidade importante. Fiquei todo o tempo com a Flávia, não reclamei de cansaço, não reclamei de quero ir embora, de nada. Acho que minha função ali era ser amiga, companheira.

            Apesar de tudo que eu sinto pela Flávia e a vontade de ficar com ela, era preciso compreender que talvez eu não fosse a melhor pessoa para estar lá, apesar de me propor e ter ficado no final, então relembrei ela da existência da Bruna louca. “Fla, avisou a Bruna?” Eu perguntei duas ou três vezes, se eu fosse a namorada iria querer estar junto, acompanhar tudo, fazer meu esperado papel. A resposta da Flávia foi só “sim” com a cabeça. Para bom entendedor é só não insistir mais.

           Passamos no DP, eu rezei com todas as minhas forças para não encontrar o Gabriel, por sorte não esbarramos. Eu terminei com ele sobre o pretexto que não está mais dando certo, não estamos encaixando mais. Ele me perguntou se eu tinha alguém, respondi a verdade, não tenho, mas sei que ele me ver agora, cuidando da Flávia, vai rolar uma pulga na orelha. A Flávia entregou a viatura rapidinho e voltou com a Isa. Por mais que eu tenha três pés atrás com a Isa, sei que ela vem se tornando cada vez mais amiga da Flavinha, e quem sou eu para cortar ou reclamar disso. A Isa se propôs a ir no reconhecimento de corpo e na parte burocrática, mentalmente eu agradeci muito, não que eu não quisesse ir, iria de boa, mas estou exausta. 

A Flávia tomou um banho, nem quis comer nada, eu fiz o que eu podia, um copão de café quente e entreguei pra ela. A expressão de risada da Isabelle, foi iconica. Ela e a Flávia conversam muito, não sei a que ponto já conversaram sobre mim, o que a Isa já sabe. Eu teria feito o café de toda forma, é um cuidado mínimo pra quem sempre cuidou de mim. Quando elas saíram acho que até respirei fundo, estou tão tão cansada. Foi banho, comer e dormir. Como sabia que elas estavam na rua resolvendo as coisas, deitei no sofá da sala e deixei o celular no colo, com o som alto para ouvir todo e qualquer barulho. 

            A Isa ‘’ devolveu” a Flávia já tarde, na madrugada, mas não foi a mesma pessoa que ela levou não. Ela deu uma batidinha na porta, eu abri, a Flávia era uma pessoa sem vida, apática, descorada. Uma cara de passando mal. E estava mesmo.

          - Bia, fica de olho nela, ela não está bem - foi a primeira coisa que a Isa falou comigo. A Flávia entrou pela porta de casa como um robô, não me cumprimentou, não falou comigo, simplesmente virou à esquerda e seguiu para o quarto dela. 

           - O que aconteceu lá?

- Caiu a ficha cara. Foi tudo de boa, fizemos a parte burocrática, fomos lá na Brasilândia, a prima da Fabíola discutiu com a Flávia. Tudo normal. Ela tava de boa. Mas na hora de reconhecer o corpo, acho que a ficha caiu. Ela desmaiou lá, tivemos que ser atendidas lá no hospital. Foda. 

           - Imaginei que pudesse acontecer algo assim. 

           - Ela é forte Bia, é um touro, mas tá esgotada. Precisa de muito apoio. 

           - Vou ficar de olho nela, amanhã você vai no velório. 

- Cara, então, eu vou. Mas eu preciso entregar um relatório bem cedo, que já era pra hoje e não consegui. Posso passar aqui umas 10 horas e levo vocês. 

- Não precisa Isa, pegamos um uber. 

- Mano, você não tem noção de onde é o cemitério, é na puta que pariu da zona norte. É longe pra porr*. Amanhã passo aqui e levo vocês. Só fica de olho no horário, tenta acordar ela, essas coisas. Ah, amanhã faz ela comer alguma coisa. A Flávia tem o péssimo hábito de parar de comer quando tá nervosa. 

- Tá, eu fico de olho

          - Ah Beatriz, de olho você tá né?! Isso aí eu já tô sabendo faz tempo - ela falou dando risada de mim, senti meu rosto queimando - Fica com vergonha não cara, eu já to sabendo de tudo. Sou mais você que a manga ch*pada. 

           - Manga ch*pada? 

- A namoradinha dela - não aguentei, dei risada na hora -  A menina não apareceu? Não deu nenhum sinal?

- Eu acho que não e a Flávia está bem chateada com isso. 

- Estranho seria não ficar chateada. Eu ficaria também. Mantém fazendo cafezinho que ela cai na sua, falta pouco Beatriz, falta pouco - falou dando risada e andando - 10 horas amanhã. 

Eu até tentei dormir, mas estava preocupada com a Flávia. Fiquei naquele sono nem lá nem cá, nem dormindo de verdade, nem alerta. Antes das 8 horas da manhã eu escutei uma gritaria, um grito abafado, levantei rápido e corri pro quarto dela, a Flávia estava tendo algum tipo de pesadelo e envolvia a Fabi. Gritava “Fabi, Fabi”. Consegui acordar ela, no susto. A Flávia estava transpirando, pálida, bem longe daquela gostosa, forte, firme, cheia de si. Convenci ela a levantar, tomar um banho e um café. Claro que esse convencimento não foi de todo simples não, foi quase na porr*da. Ou a bonitinha ficaria sem comer absolutamente nada. Acho chique esse hábito dela, “humm, não estou bem, não vou comer”. Se sou eu, já estaria com uma caixa de chocolate aberta na minha frente. 

          Fomos para o cemitério com a carona da Isabelle. Eu e ela fomos puxando papo com a Flávia, tentando distrair mesmo, mas era palpável a tensão da Flávia durante o caminho. Quando passamos pela entrada do cemitério, dava pra ver ela apertando os dentes, os dedos. Eu, que estava no banco de trás, passei a mão pela lateral do banco e fiz um carinho no seu ombro, me mostrando ali, presente. Descemos no estacionamento e logo em seguida já encontrei um banquinho pra Flávia sentar. 

Completamente apática, em silêncio, intrusiva, quieta, ela estava fora do contexto normal. Tinha momentos que a Flavinha olhava para frente, procurando o nada. Nesse período, antes mesmo do caixão da Fabíola chegar, uma mulher louca, grandona, veio pra cima da Flávia e meteu a mão dela, por sorte a Isa chegou a tempo de ajudar, porque eu sou péssima de luta e defesa pessoal, acho que se eu fosse boa não teria apanhado algumas muitas vezes do Ricardo, não que seja engraçado, porque não é, mas é uma comparação válida. 

Eu saí desesperada atrás de gelo e de uma água pra ela, enquanto a Isa fazia o papel de delegada e de apoio emocional. Quando eu voltei com o gelo pra colocar no nariz dela, que sangrava bastante, o Gabriel chegou  e o caixão também. O olhar do Gabriel foi muito desconfortável, parecia que ele estava me avaliando, procurando algum sinal, alguma informações excusa. Ele apareceu com a Ana Lu, deu carona pra ela, foi estranho ver ele com outra pessoa, mas eu abri mão então não posso reclamar. E mais ainda não quero. Não senti nada ao ver ele. 

Eu e a Isa acompanhamos a Flavinha até o caixão pra ela ver a Fabi, gente do céu, que cena dolorosa. Que Deus me permita nunca passar por uma dor dessa. A Flávia chorava sobre o corpo falando eu te amo. Pra entrar na sala do velório, ela não conseguia andar, eu e a Isa praticamente fomos as muletas dela. Acho que se eu pudesse tirava a dor dela com a mão, tirava ela daquele lugar. Que cena triste. Ela beijava o corpo da noiva, rezava colada a Fabi. Como alguém pode ter coragem de falar que ela é culpada de algo? Alguém culpada jamais choraria como ela está chorando. 

- Cara, a Bruna não apareceu, não deu nenhum sinal? - a Isa me perguntou. 

- Acho que não. Estou com o celular da Flavia, por enquanto não tocou, nem nada. 

- Abre aí o celular cara, vamos ver se ela mandou alguma coisa. 

- Não Isa, não vou mexer no celular dela. 

- Ah, eu vou! Me Dá aí o celular  - entreguei o celular da Flávia pra Isa, no fundo eu também queria ver .

            - E você sabe a senha? 

- Oshhh, você não sabe? - queria bater na Isabelle, o menina sem noção - Não requer prática nem habilidade, qualquer criança atenciosa é capaz de desbloquear - falou fazendo o desenho na tela do celular - Pronto Beatriz, vou te dar a chance de ver a conversa com a Bruna, um presente hein?!

- Não vou olhar, é errado. 

- Ai Beatriz, Napoleão não ganhou a guerra no beijinho não. - fiquei com  raiva da Isa, que abri o celular, na conversa com a Bruna. Pra minha surpresa, ou infelizmente certeza, ela cagou pra Flávia. A última coisa que a Flavinha mandou foi a foto do “lembrete” do velório, ontem. Hoje, a Bruna respondeu “Bom dia linda. Como você está? Fla, eu não vou conseguir ir amor. Não consegui te contar antes, mas o Antônio está vendendo o jornal, preciso ficar com ele e ajudar nessa transição. Me perdoa? Mais tarde te ligo e conversamos, pode ser?” 

- Olha essa resposta Isa - que raiva cara.

- Porr*, a Flávia não merece uma resposta dessa. Eu queria ver a Bruna aqui, meter uns tapas nela. - sem eu falar nada, nem pra Isa, muito menos pra Flávia, apaguei a mensagem, posso estar errada, mas a Flávia já está dopada o suficiente de dor para tomar mais essa. Às vezes a ignorância é uma dádiva. 

Fiquei ao lado da Flávia praticamente o tempo, tirando poucos momentos que ela pediu pra dar uma volta sozinha e outro que a mãe dela apareceu brevemente. Em diversos momentos ela precisava de carinho, de acolhimento e eu fui esse lugar. Então, talvez tenha ficado estranho para alguém vendo de fora, mas não me importei, quando ela pediu um abraço ou simplesmente uma companhia para dar uma volta, fui com ela, estava lá. No final de tudo, quando terminou o enterro, a Flávia caiu, desmaiou. Já presenciei ela apagando em momentos de estresse, algumas vezes, então apesar da imagem do desmaio, apenas acolhi, com a ajuda da Isa e voltamos pra casa. 

Acho que chegar em casa, um lugar seguro e protegido pra mim e pra ela foi o limite da minha capacidade. Foi mais ou menos assim: te acompanhei em todo o não seguro e te trouxe de volta pra segurança. Eu precisava de segurança agora, pode não parecer, mas foi difícil pra mim estar com ela todo esse tempo, difícil de esgotamento emocional. Mas é claro que não deixaria a Flávia por essa limitação minha, consegui sustentar e ajudar ela. Mas agora preciso de um tempo meu. Peguei minha roupa, banho, e do banho, cama. Direto. Talvez ela também precise de um tempo, um  espaço para respirar, processar. 


O barulho do interfone gritava na sala. Minha cabeça estava doendo finamente, como um martelo batendo atrás dos olhos, infinitamente. Eu ignorei, tenho no meu íntimo que a Flávia já acordou e atendeu, pq parou de tocar. Posso voltar a dormir, sei que consigo. Merda, voltou a tocar, levantei com raiva e atendi. 

- Pronto. 

- A Sra Bruna está subindo. 

- Ok - só isso consegui responder. Puta que pariu, depois de um dia desse ainda receber a Bruna. Isso passa do meu limite pessoal e do que eu posso fazer pra ajudar a Flávia. Eu vou chamá-la e ela se resolve com a Bruna. Ou melhor, enquanto se resolvem vou sair. Olhei rápido pro quarto da Fla, pelo corredor, ótimo, porta aberta. Cheguei perto, em silencio,  não queria assusta-la. Olhei pela porta, zero Flávia. Onde essa garota está? Puta que pariu, dormi meia hora e a Flávia some. 

- Peeeeeeeeeeeee! - Campainha tocando. Fui rapido até a porta, cadê a Flávia?

- Pois não  - falei abrindo a porta, pra dar de cara com a Bruna, claro que em cima de um salto, como sempre muito bem vestida, elegante e bonita. Como consegue ser sem noção, mas ser bonita? 

- Oi Beatriz. Posso entrar? Preciso falar com a Flávia. - falou com calma, em.um tom polido e aveludado.

- Ah, a Flávia não está! 

- Como assim a Flávia não está? Estou tentando falar com ela, não me atendê, não me responde - já falou um pouco acima do tom. 

- Então, Bruna - continuei na calma, tom aveludado - eu estava dormindo e acordei com o interfone tocando. A Flávia não está! 

- Posso entrar? - ela falou baixo, mas grossa . 

- Tá duvidando de mim? Acha que estou te escondendo algo? 

- Beatriz, eu entendo se a Flávia não quiser falar comigo, mas quero ouvir isso dela. Então vou entrar. Não me impeça - falou mais grossa, rosnando e com a mão na porta, quase empurrando. 

- Bruna, ela não está! Se quer entrar e olhar, entra, faz o que você quiser. - dei um passo ao lado, abrindo o caminho. Ela entrou no apartamento, olhou rapidamente, mas sem chegar ao quarto da Flávia, só dando um giro do horizonte. 

- Pra onde ela foi? Mandei uma mensagem pra ela, ela não me respondeu. Estou tentando ligar pra ela, não me atende. Pra onde ela foi? 

- Eu não sei. Acordei agora e ela não estava em casa. 

- Que bela amiga você! - subiu o tom, começando a falar bem mais agressivamente -  Não sabe que a outra lá morreu?.

- chega! Pode sair! Pode sair! 

- Eu quero falar com a Flávia! Onde ela está? Não vou sair até você me dizer! 

- Eu não sei onde ela está. Ao contrário de você, eu passei o dia todo com ela no velório, voltei cansada e dormi! Ah, passei metade da noite com ela também, vendo corpo, cuidando. Você tava onde? Você tava cuidando da sua namorada? Não, não estava! Então sai daqui! - peguei no braço dela, sem forçar nada, mas firme - Então sai daqui, outro dia você  faz seu teatro pra Flávia. Hoje não! 

- Ah Beatriz, tá sorrindo por dentro  né?! Sorrindo pra ter uma chancezinha com ela.

- Não Bruna, tô apoiando uma amiga que tá na merd*, precisando de carinho, precisando de apoio. Você deveria estar lá com ela, fazendo isso. 

- Eu tenho meus motivos. 

- A venda do jornal? Acha que isso é importante? Acha que vale deixar ela sozinha? Se você tivesse visto a Flávia por um segundo, saberia o quanto ela precisava de você lá! 

- Eu não estava pronta pra ajudar ela - gritou comigo - eu não tenho condições de ajudar ela, de ser a outra, aguentar ela chorando por alguém que morreu. 

- Então você não tem condições de amar a Flávia - comecei a fechar a porta na cara dela. Não houve mão na porta, não tentou me impedir nem gritou. Fechei a porta e nem olhei pelo olho mágico. 

Puxei o ar fundo, tentando achar um pouco de calma no ambiente. Que garota insuportável, mesquinha. Eu também não estou mentalmente saudável, mas fui lá, fiz o que eu podia pela Flávia que estava pior que eu. Não sendo arrogante, mas fiz o papel dela. Enfim, mas a pergunta agora é cade a Flávia? Espero que esteja bem! Deixou a xícara de café em cima da mesa, o que não é normal pra organização da Flávia, mas o café está frio, então faz tempo que deixou a caneca aqui. Já passava das 19h, então trocou o porteiro, o da noite não vai saber o que aconteceu. Será que saiu pra correr, pra espairecer a cabeça? Fui rapidinho no quarto dela, abri o armário que guarda os tênis e realmente, o tênis laranja dela, não estava lá. Deve ter saído pra correr, praticamente sem ter bebido ou comido hoje. Vai dar merd*. 

Trim, Trim -  meu celular tocando, olhei o número, desconhecido. Deve ser telemarketing, desliguei. Dois segundos depois, tocou novamente. Saco que insistência, atendi grosseira -Pronto! 

- Bia? 

- Isso. Quem é? 

- Bia, aqui é a Ana Lu, que faz faculdade com a Flávia. Sabe? 

- Oi, sei sim. Tudo bem? - tentei ser um pouco mais gentil.

- Bia, eu estou em casa. O Sr Olímpio, dono do bar lá da esquina da facul, me ligou falando que a Flávia está lá bebendo. Pediu pra eu ir buscar ela. 

- A Flávia bebendo? Num bar? 

- Então, achei muito estranho. A Flávia tá aí? Sabe onde ela está? 

- Eu acordei e ela não estava no apartamento, não deixou nenhum recado. Saiu com o tênis de corrida. 

- Se você puder, dê uma olhada lá no bar. Achei estranho. 

- Vou lá e te dou um retorno - desliguei o celular já seguindo pro meu quarto pra pegar uma roupa. Depois que coloquei uma calça e um tênis segui, andando rápido, em direção a rua de cima, onde ficam os bares da faculdade da Flávia, especificamente o bar do Sr Olímpio, o qual já vim com ela inúmeras vezes. O estranho é a ideia de a Flávia estar alcoolizada, ela não bebe nada de álcool, nunca falou que estava com vontade de beber, nem nada desse tipo. Mas frente a atual situação dela e ao sumiço, não custa ir lá identificar. 

Por ser uma rua universitária tem aqueles que bebem antes e os que bebem após as aula, então com os “ que bebem antes” a rua não estava cheia, mas estava com vários bares com mesinhas na porta, inclusive o do Sr. Olimpio. Mas olhando de longe estava tudo normal,  não identifiquei a Flávia. Mas assim que entrei no bar em si, encontrei ela sentada, sentada nem é o termo, jogada em uma cadeira, completamente apagada. 

- Opa, a Ana Lu que me mandou, vim buscar a bonita aqui. 

- Menina, boa sorte - o Sr Olimpio veio falar comigo - não sei o que aconteceu, mas foi bravo. 

- Ela tá devendo alguma coisa? 

- Não filha. Ela foi bebendo e pagando. 

- Sr. Olimpio, consegue me ver um cafe com bastante açúcar e um chocolate desse aqui. 

- Ela aprontou muito? Deu trabalho? 

- Menina, achei estranho ela chegar pedindo bebida. Sempre pediu suco aqui. Depois que começou começou a dançar, pediu umas musicas, uns sertanejos aí. Depois sentou na cadeira e chorou até apagar, mas chorou viu. Fiquei preocupado, chorou fundo. 

- Tá  pesado pra ela. Vou dar um chocolate, ver se acorda - Cheguei perto da Flávia, ela estava jogada na cadeira, com a cabeça meio que pro lado e pra tras. 

- Flavinha, flavinha! - falei dando um tranco no ombro - Acorda Flávia - dei um tranco maior. Ela abriu o olho, mas a fala estava tão pastosa que não saia palavra nenhuma. Ajudei ela a sentar melhor, acertando a cabeça, mas logo escorregava de novo. Peguei um pedacinho do chocolate, amassei no dedo e coloquei na lateral da boca dela, mantendo a cabeça em pé para não engasgar - Mastiga isso Flávia, mastiga! - Ela conseguiu seguir meus comandos, ainda sem abrir os olhos, nem responder nada alem de mastigar. 

Fui colocando o chocolate na boca dela, 3 ou 4 vezes, até que o Sr olimpio voltou com um cafe, só que estava bem quente. Joguei em um outro copo, enchi de açúcar e assoprei, mas deixei lá, esperando esfriar um pouco. Voltei a colocar chocolate na boca dela, aos pouquinhos. 

Com os olhos fechados, mas já conseguindo mastigar melhor, ela foi engolindo o chocolate - Fla, tenta tomar esse café aqui - ajudei ela com o copo, ela não conseguiria segurar sozinha - Abre os olhos Flávia, quero ver seus olhos - ela foi aos pouquinhos recobrindo a consciência. Claro que bem bem bem longe da Flávia ativa, saudável, bem. Ela tomou todo o café, babando de tão doce. Ajudei ela a conseguir ficar em pé, a primeira tentativa caiu de novo na cadeira. Na segunda ela conseguiu apoiar em mim, em nenhum momento falou nada, no máximo um sim ou não com o rosto. 

O caminho pra casa, por mais que curto, deu trabalho. Vários momentos achei que ela iria tropeçar e cair de cara. Essa mulher é muito maior que eu, como vou conseguir levantar ela do chão? Eu só conseguia pensar nisso. Quase nos arrastando, eu consegui chegar com ela em casa. Abri a porta do apartamento e coloquei ela no sofá. 

- Vou arrumar alguma coisa pra você comer! E vai comer - ela do sofá apenas sacudiu a cabeça. Continuou sem falar absolutamente nada, acho que o álcool travou ela. Segui para a cozinha, para preparar algo pra ela comer e passar mais um café. Eu quero dar uma bronca nela por ter bebido, mas não sei se na situação dela eu também não teria enchido a cara, já enchi por bem menos. Imagina perder o amor da vida, imagina ser viúva aos 33 anos. Eu não sei se eu aguentaria. Então hoje vou só ser um porto seguro, um lugar de apoio, outra hora dou uma bronca. 

Ela tomou mais um café bem forte e babando açúcar e conseguiu jantar, não muito, mas jantou por ordem. Acho que nem arriscaria ficar sem comer com a firmeza que eu estava falando com ela. 

- Flávia, você pode falar, conversar. Não precisa ficar em silêncio. 

- Minha cabeça está doendo tanto, tô tão na merd* que só quero ficar quieta. Estou quebrada, Bia. 

- Não quer tomar um banho, uma dipirona e ir dormir? Amanhã vai ser um novo dia. 

- Nem sei se consigo ficar em pé no chuveiro. O que eu fiz comigo? - Começou a chorar. 

- Toma um banho, vai se segurando nas paredes. Qualquer coisa você grita que eu te ajudo. 

- Tá - ela levantou cambaleando, mas como sempre regrada. Foi primeiro no quarto pegar a roupa depois na lavanderia pegar a toalha, se arrastando pela parede. Eu deixei, pode ser o primeiro porre, mas precisa entender onde pode chegar bebendo e que isso não pode ser um padrão. Se arrastando foi, se arrastando voltou e entrou no chuveiro. 

Demorou no banho pro padrão dela, mas não pediu ajuda. Escutei o telefone desligando. Um tempo depois ela saiu do chuveiro com o cabelinho penteado, de top e bermuda, cheirosa, uma mistura do frescor do banho com perfume. Estava ainda cambaleando, menos do que quando entrou. O olho estava inchado, talvez de chorar. 

Talvez por uma sexualidade aflorada ou por simples vontade, fiquei encantada com aquele cheiro de frescor da Flávia, cheiro de banho, com um perfume, mais o cheiro de Flávia. Pra mim, ela consegue ser linda de todas as formas, de todo jeito, estou cada dia mais encantada com ela. 

         - Bia - falou voltando da lavanderia - Posso conversar um pouquinho com vc? - eu apenas fiz sim com a cabeça, fiquei na mesma posição. Ela veio com toda calma, tentando não cair para o lado, mas ainda cambaleando um pouco. Segurou minhas duas, olhando direto nos olhos, quase no fundo da alma - obrigada por todo o cuidado e carinho que você teve comigo. Sem você, eu teria caído de um jeito que não dá pra levantar. - eu não respondi nada, apenas puxei ela para um abraço, a Flávia apoiou o rosto no meu ombro, e me apertou no abraço, como se tentasse pegar alguma energia ou amor daquele momento. Eu só fiquei ali, sentindo e cheirinho dela de banho tomado. - Bia, não quero abusar de você, mas você deitaria comigo hoje lá no quarto? 

         - Flávia…. Eu não …

         - Bia, eu preciso de um carinho, de um cafuné, por favor. 

         - Flávia, eu não sou sua namorada. Ela quem deveria estar fazendo isso. 

        - Não é minha namorada por uma simples questão burocrática que ainda não consegui resolver, mas não estou te pedindo pra deitar lá comigo como namorada. Isso é algo importante e não pode ser desvalidado. Estou só pedindo um carinho, não quero dormir sozinha hoje. Vai doer demais. 

-  Você está com tanto álcool que a hora que deitar, vai apagar. 

- Então fica comigo até eu pegar no sono? Só conversando, fazendo um cafuné. Hoje eu preciso ser cuidada Bia, só hoje. E você é a única que quero cuidando de mim, ao meu lado, de quem eu gosto de estar perto. 

- O que você não pede chorando que faço reclamando? - o olhinho dela encheu de lágrimas e voltou a me abraçar, chorando. Dá pra sentir dor dela - vai deitando lá, vou tomar um banho rápido e deito lá com você - Pouco tempo depois, limpa e com um pijama confortável, cheguei ao quarto da Flávia. Ela estava deitada no cantinho da cama dela, deixando todo o resto de espaço. Agachei do lado de lá e dei um beijinho no seu rosto, ela acordou - Quer mesmo que eu deite aí?

 

A Flávia, como sempre me surpreendeu, virou pro meu lado, em silêncio, sem falar nada, passou o braço pela minha cintura e foi me girando, girando seu corpo, eu ajudei, se não iria cair, de modo que passei por ela e deitei na cama. Fiz tudo isso rindo, achei um barato essa atitude dela, ela passou um braço por baixo da minha cabeça e o outro por cima do tórax, aninhou sua cabeça no meu pescoço. Primeiro cheiro fundo, puxando ar, puxando vida. Depois só estreitou o espaço dos corpos, falando: Obrigada por cuidar de mim Bia, gosto muito de você. E deve ter apagado, porque o silêncio dominou o ambiente. 


Fim do capítulo


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Comentários para 49 - Capitulo 49:
Mmila
Mmila

Em: 12/05/2024

Que chamego bom!

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