Despertei ao som da movimentação das pessoas nas ruas. Olho para o relógio e são 7h32. Viro de barriga para cima e fico mirando o teto. Em casa, silêncio total. Ninguém me chama, ninguém precisa que eu faça coisa alguma. Inspiro profundamente e me levanto.

Após tomar café e um banho rápido, visto uma roupa de ginástica e pego minha bike, depois de quase quatro anos sem uso por causa da pandemia e de tudo que veio depois. Dou uma rápida vistoriada nela e encho os pneus com minha bombinha manual. Capacete na cabeça e óculos escuros sigo pelas ruas pedalando o mais rápido que posso. O vento no rosto e a sensação de liberdade há tanto tempo esquecidas não me parecem mais tão prazerosos como eram antes. Falta alguma coisa, algo, alguém.

Hoje é sábado e faz uma semana que voltei sozinha de Triunfo. Ainda nem vi Bianca, pois mal o ano começou, ela viajou por conta de uma denúncia anônima de trabalho escravo no Amapá. Voltou há poucos dias, mas me disse que as coisas estavam tensas na família e que me procuraria depois. Acho que ela está adiando nossa conversa definitiva...

Enquanto pedalo, tudo que consigo fazer é lembrar de flashs de conversas que tive em função da decisão de maama em não voltar pro Recife.

 

“--Mas dinda, como a senhora pôde fazer isso comigo? – reclamava nervosamente – Sabia o tempo todo que maama não iria voltar pro Recife hoje e não me disse nada! – gesticulava – E como vai ser isso? – andava em círculos -- Ela aqui sozinha, contando só com meus irmãos que nunca ajudam e com a senhora que não tem mais idade pra cuidar de gente enferma!

 

--Esquecesse de Elzira. – Leyna acrescentou tranquilamente

 

--Dinda, Elzira fica aqui só até o recesso do Judiciário acabar, depois vai pro Recife também! – salientei – Ela trabalha lá agora, esqueceu disso? – retruquei

 

--Filha, a comadre quis ficar então não seria eu a dar o contra! – Leyna argumentou – Ela me explicou o que pretendia naquela viagem pro casamento que se danou e eu aceitei ajudar, não sabe? – contava – Mãe nenhuma quer servir de peso pra filho e a comadre acha que fizesse tudo que podia. Agora é hora de você viver sua vida e deixar a comadre viver a dela, visse?”

 

“--Por que você não me disse nada, Elzira? – cobrava furiosa – Você confiou seus segredos a mim e nunca te traí! Como pôde? – olhava para ela

 

--Camilla, por favor... – respondeu gesticulando – Foi decisão da tia, eu não podia fazer nada! – justificou-se – E de mais a mais, todas nós achamos que tu já se sacrificasse demais!

 

--E vocês não acham que deveria ser eu a decidir se já me sacrifiquei de mais ou de menos? – perguntei revoltada – Parece que até dona Rute sabia, o mundo sabia, menos eu!

 

--Vai ser melhor assim, mulher! – Elzira me segurou pelos ombros – Do jeito que ia, você ia acabar adoecendo e aí seriam duas precisando de ajuda ao invés de uma, não sabe?”

 

“--Eu não acredito que a senhora tá me abandonando, maama! – acusei com os olhos marejados – Justo a senhora! – derramei uma lágrima sentida

 

--Não diga isso, menina! – respondeu emocionada – É que às vezes a gente tem que abrir mão daquilo que ama... por amor! – olhava nos meus olhos – E não é primeira vez que eu preciso fazer isso...

 

--A senhora não precisava dessa vez! – respondi magoada

 

--Precisava sim, minha filha! – derramou algumas lágrimas -- Eu bem sei...

 

--Como assim bem sabe, maama? – retruquei de imediato – Eu nunca falei que queria que a senhora fosse embora, nunca aleguei nada, nunca reclamei de lhe cuidar! – protestava – A única coisa que fiz foi perder a paciência com algumas de suas crises de ansiedade noturnas que não me deixavam dormir! – esfreguei as mãos nos olhos – E meus irmãos não serão melhores que isso!

 

--Eu ouvi muito bem quando aquela Bianca te disse que os gringo chamaram por ela e você também disse que uns cabra por aí andaram lhe chamando pra botar mais eles nas Europa! – lembrava – Eu não quero ser pedra no caminho de filho! – secou os olhos com o lenço -- Vão simbora as duas mode viver nesses canto nos estrangeiro! – fez um gesto

 

“Então ela ouviu! Acreditei que dormia, mas não...” – pensei surpreendida --A senhora não pode decidir por mim, maama!

 

--Mas por mim eu posso e tá decidido não sabe?”

 

***

 

--Parte de mim se sente aliviada, sabe? Já não me lembrava da última vez em que dormi em paz e eu realmente tava precisando. Imagina, desde 2020... – pausou brevemente – Eu tava numa carga de atividades enlouquecedora! Era cuidar de maama, cuidar de casa, trabalhar... ainda fui arrumar de ser síndica! – riu brevemente – Mesmo com a ajuda de dona Rute e Elzira, tinha coisa que era só comigo mesmo... – passou a mão nos cabelos – Mas ao mesmo tempo me sinto triste. – mirou um ponto no infinito – Também não me sinto tranquila! Maama acha que tem tudo sob controle, mas não é tão simples. Cuidar de alguém exige renúncia e não imagino meus irmãos nessa fidelidade toda...

 

--Claro está que dona Suhaila decidiu ficar em Triunfo pra deixar você livre. – Simone afirmou calmamente – Ela ouviu uma de suas conversas com Bianca e não quis ser a razão de te prender no país ao invés de partir com sua namorada. – cruzou as pernas – Sua mãe sabe que ficar sem você é uma perda imensa pra ela, sob todos os aspectos... daí deduzo que ela deva ter pensado em como administrar isso; apenas ainda não entendi como.

 

--Resumindo a história: Elzira tá na casa com ela ajudando a se organizar e quando voltar pra cá, ao final do recesso no Judiciário, vai começar uma dobradinha entre meus irmãos e duas cuidadoras. Essas mulheres vão trabalhar de forma alternada no horário de 6 da manhã às 8 da noite, quando serão rendidas por um de meus irmãos, que vão se alternar também. Então quem vai estar com maama durante a noite será sempre um deles. Dinda mora perto e também vai dar uma assistência. – explicava – Ela vai fazer hidroterapia numa clínica nova que abriu em Triunfo, vai continuar com a neuro e a psicóloga, mas no atendimento remoto, além de uma fisioterapia que já fazia remotamente também. – gesticulava – Eu pago a neuro, a fisio e a psicóloga e meus irmãos tão em vaquinha pra pagar a hidroterapia e as cuidadoras. – pausou brevemente – Claro que com dinda ali em cima pra esse dinheiro sempre aparecer! – destacou

 

--Hum, parece um bom plano. – a psicóloga considerou – Justo e sem ficar pesado pra ninguém!

 

--Mas eu não tô botando fé! – respondeu de imediato – Quero ver meus irmãos aguentando essa rotina por anos a fio, como foi comigo! – passou a mão nos cabelos – Não consigo relaxar! – ajeitou-se na cadeira – Simone, as crises de ansiedade noturnas de maama são enlouquecedoras! Eu de vez em quando surtava, faz ideia eles! – afirmou descrente

 

--O fato deles se alternarem vai ajudar muito a conseguir passar por isso. – olhava para a paciente – Entendo sua preocupação, mas o que mais te perturba nessa história, Camilla? É a culpa ainda te perseguindo, o medo de se sentir como quem abandona a mãe, pena, saudade, o que seria?

 

Deu um suspiro profundo. – Talvez tudo isso junto... – respondeu pensativa – Maama e eu tivemos uma conversa muito tensa antes que eu fosse embora e, sinceramente, não esperava ouvir o que ouvi. – lembrava do diálogo travado com a mãe

 

“--Meus irmãos não vão saber cuidar da senhora! Eles mal cuidam de si mesmos e da família que formaram! – falava com firmeza – A senhora me perdoe, mas foram muito mal-criados, são homens egoístas, eles não vão aguentar a rotina que cuidar de alguém exige e isso não me deixa tranquila! – olhava para a mulher

 

--Sempre me acusasse de ter criado seus irmãos muito mal. – respondeu chateada – Você acha que não fui boa mãe pra você, não é? – perguntou diretamente

 

Desviou o olhar rapidamente. – Acho que a senhora sempre me exigiu demais, me cobrou demais e sempre foi muito crítica em relação a tudo que eu fazia e faço! – afirmou com um pouco de mágoa – Eu nunca tive as molezas que meus irmãos tiveram!

 

--Eles nasceram em condições bem diferentes de você, minha filha! – retrucou – E eu nunca criei os menino sozinha; tinha seu padrasto!

 

--Eu sei que eles nasceram em condições mais aceitáveis! – devolveu de imediato – Ao contrário de mim, o nascimento deles não prejudicou a senhora. – afirmou com tristeza – E nem meu padrasto agiu como meu pai...

 

--Oxe, mas o seu nascimento não me prejudicou, visse? – Suhaila argumentou revoltada

 

--Como não, maama? – gesticulou – Eu sei o quanto a senhora sofreu por minha causa, dentro e fora da família! – sentia-se culpada – Eu lembro muito bem!

 

--Eu sofri porque o mundo é injusto, não foi por sua causa! – respondeu em voz mais alta – E se fui mais tinhosa com você, era porque eu queria que ninguém tivesse o que falar de minha filha! – gesticulou – Me doía ver o preconceito do povo com você, me doía muito! – derramou uma lágrima – E eu nunca me arrependi num dia sequer de ter deixado você nascer! – garantiu – Amo cada filho meu, -- pausou brevemente -- mas você sempre foi a mais especial... a mais amada... E de você sempre tive muito orgulho!

 

Emocionou-se ao ouvir. – Eu não vou formar família e lhe dar netos como meus irmãos... – abaixou a cabeça brevemente – A senhora se decepcionou muito quando descobriu que eu sou...

 

--Tive medo! – interrompeu a fala da outra – Medo de ver o povo fazer você sofrer, medo de ver alguém com essas fobia que mata as pessoa como você é! – dizia a verdade – Mas nunca mudou nada nos meus sentimento! Eu nunca rejeitei você!

 

Camilla se emocionou ainda mais. – Então por que tá me deixando ir sozinha? – perguntou com lágrimas nos olhos

 

--Porque o amor não é pra prender ninguém; é pra deixar o outro livre!”

 

--Eu lembrei muito do que você me disse uma vez: -- a professora falava controlando a emoção -- que a gente não percebe a realidade, a gente constrói uma realidade na cabeça. Você também me disse que talvez eu visse nas atitudes dos outros algum reflexo de minha atitude comigo mesma...

 

--Exatamente! – concordou – Essa conversa entre vocês duas foi super necessária mas também não me passou despercebido algo que noto desde o início de nosso tratamento. – pausou brevemente – Você sofreu muito preconceito por estar inserida em uma sociedade bastante conservadora e talvez por causa disso tenha se colocado à parte dos seus irmãos. – concluiu – Parece que você não vê qualidades neles. Parece que sua construção de si mesma foi tão à parte, que eles são brasileiros e você não! – percebeu o espanto de Camilla – Sei que você é nascida no Brasil, mas seu sotaque não é pernambucano, seus modos... você é a brasileira mais libanesa que eu já conheci!

 

Pensou no que ouviu. – Talvez... – ponderou – Mas eu sempre fui mais ligada a gidda, giddu, tia Jandira... aprendi árabe com eles, depois estudei por minha conta... – gesticulou – Não sei se foi pra me diferenciar, nunca pensei nisso... – calou-se brevemente – E de fato, não posso dizer que admire meus irmãos... – olhava para a psicóloga – Mas eles também... maama e eu somos unidas e eles parecem não gostar de ninguém, sei lá!

 

--Às vezes, Camilla, basta uma pessoa disposta e todo um elo se cria para unir uma família. – Simone afirmou – Sua madrinha exerce uma autoridade que faz seus irmãos se mexerem, mas ela não é um elo... sua mãe pode ser, você pode ser! – pausou brevemente – Mas lembre-se de que você não tem essa obrigação! – destacou -- A vida tem te mostrado que o seu sentimento de culpa não têm razão de ser, por isso você pode decidir o que fazer daqui por diante com a consciência tranquila, ao invés de decidir por um caminho apenas por se sentir em dívida ou culpada.

 

A professora ficou refletindo sobre o que ouviu.

 

***

 

--Meu Deus, mas como sua maama está? – Camilla perguntava aflita – Bianca, por que você não me procurou, por que só me conta tudo isso agora? – não entendia

 

--Calma, habibem, não fique pensando bobagens! – tentava se explicar – O fato de minha mãe tentar se matar porque meu pai pediu o divórcio e saiu de casa de vez é uma coisa muito vergonhosa pra minha família e eu sabia que se te envolvesse nessa história ia acabar me aborrecendo. – justificou-se – Meus avós, tias, viriam em cima de mim porque deixei alguém de fora ciente de tudo... – pausou brevemente – Deixe que tô dando meu jeito aqui.

 

Deu um suspiro profundo. – Tudo bem. – não gostou do que ouviu – Estimo melhoras pra sua maama e não vou te cobrar nada. Assim que achar que é o momento, me procure. Sabe que temos muito o que conversar. – caminhou para perto da janela

 

--Não tô fugindo e nem te excluindo! – garantiu – Eu te amo, não duvide! – pausou brevemente – Mas agora tenho que ir. Beijos! – despediu-se

 

--Também te amo. Beijos! – ouviu o telefone ser desligado – É... – olhou brevemente para o relógio – Hora da aula. – pegou o material e saiu da sala

 

--Camilla! – uma voz conhecida chamou – Será que dá para gente conversar enquanto caminha? – deu uma corridinha e parou ao lado da morena

 

--Se for rápido. – olhou brevemente para a aluna – O que deseja, Suellen? – caminhavam juntas

 

--Eu queria mudar o tema de minha tese! – afirmou sem rodeios – Tô achando muito massa essa coisa de me envolver com criança e tem umas bichinhas que apresentam espectro autista ou uma questão de saúde complicada que afeta no aprendizado... – gesticulou brevemente – Aquele trabalho da pele eletrônica multissensorial é muito massa, mas eu queria migrar pra neuro informática!

 

Gostou do que ouviu. – Por mim, problema nenhum! – concordou – Tenho me envolvido com sensores no âmbito da neuro informática também e daí a gente vai aprendendo juntas. – olhou rapidamente para a outra – Depois a gente conversa melhor sobre um tema pra você focar.

 

Ficou feliz com a reação. – Ai, eu te amo! – deu um pulinho rápido – Então depois te procuro, tchau! – soprou um beijo e seguiu apressada por outra direção

 

Achou graça. – Ai, ai, Suellen, quem te viu e quem te vê? – falava consigo mesma – Pronto. – abriu a porta da sala onde daria aula – Hora de labutar. – olhou para a turma – Boa tarde, pessoal! – cumprimentou em voz mais alta – Vão ficando espertos que hoje a gente vai fazer muito experimento nessa aula! – sorriu

 

--Professora, é verdade que vai ter greve? – um aluno perguntou

 

--Começa quando, professora? – uma jovem indagou

 

--É verdade que o sindicato de vocês vai fazer um colegiado hoje pra decidir sobre isso? – outro rapaz questionou

 

--Ah! – não sabia o que dizer – “Gente, e não é que eles tão mais por dentro do que eu?” – pensou – “Que vergonha, Camilla!” – colocou seu material em cima da mesa – Vamos fazer nossos experimentos primeiro e depois a gente pensa nisso. Por ora, tem ninguém em greve aqui! – disfarçava sua ignorância – “Esse tempo cuidando de maama me deixou bem por fora dessas movimentações da categoria, Ave Maria!”

 

***

 

--Camilla do céu, você não sabe o que aconteceu hoje! – Marta foi logo dizendo assim que a morena cruzou a portaria do prédio – Adivinhe quem veio aqui, loura que nem um buda de ouro, e com cada oclão que parecia até aqueles bicho de pelúcia zóiudo?

 

--Não faço ideia. – seguiram juntas até o elevador

 

--Dona Sibele! – revelou – Disse que voltou dos Estados Unidos e quer negociar!

 

--Negociar? – achou graça – Tá bem. – entraram no elevador – Mas ela que não me venha de conversa fiada! – apertou o botão do andar

 

--Ela falou que refletiu e quer resolver da melhor forma. – repetia o que ouviu – E você não imagina! – fez um breve suspense – Veio toda vestida de mulher gato!

 

A professora riu mais uma vez. – Ai, ai, que figura! – balançou a cabeça divertida

 

--Vamos marcar uma reunião de condomínio e chamar ela pra discutir tudo junto? – Marta propôs – Tô com o telefone dela aqui. – mostrou um cartãozinho – Deixou comigo.

 

--Pode ser. – concordou – Vamos marcar.

 

***

 

--Eu entendo que vocês tenham botado meu apartamento pra alugar, que tenham arrendado meu sítio e ainda tenham vendido umas coisa minha pra cobrir o rombo do condomínio e não guardo mágoas, não sabe? Meu coração é puro!

 

--Rombo que só existe por causa da senhora, devo dizer. – Camilla destacou

 

Sibele não respondeu ao comentário. – Também fiquei muito envergonhada quando o fuxico sobre o condomínio chegou na igreja que eu frequentava nos Estados Unidos. Passei cada vexame, ouvi cada carão... – cruzou as pernas – E aquilo tudo me fez refletir que eu vivia uma vida que não era pra mim, não era o que eu queria! Era o que meu pai queria! – olhava para os demais – E agora mudei, não sabe? – ajeitou os óculos na cabeça – Chega de ser uma pessoa que eu não sou!

 

--Ô, dona Sibele, isso aqui é reunião do condomínio, não é sessão de grupo de auto ajuda! – Valdo foi logo dizendo – Dissesse que queria negociar, mas então? – cobrou

 

--Poderia ser mais objetiva, por favor? – Camilla fortaleceu a cobrança

 

--Então... – pausou brevemente – Eu queria pagar o que me cabe em troca de ter meu apartamento e meu sítio de volta. – propôs – Aceito fazer em 24 parcelas sem juros!

 

--Hashtag descarada! – uma moradora respondeu

 

A professora riu do absurdo. – Dona Sibele, eu acho que a senhora não entendeu muito bem o que foi feito aqui. – olhava para a mulher – A senhora comprovadamente roubou o condomínio, fugiu pros Estados Unidos pra não pagar o que devia e daí nós entramos com um pedido de penhora dos seus bens, ganhamos e demos destinação. – explicou brevemente – Seu apartamento foi alugado num contrato de dois anos e o sítio foi arrendado por cinco anos; isso não vai mudar! – afirmou enfática – A menos que a senhora pague o que nos deve em dez prestações e arque com as multas de cancelamento de contrato de aluguel e arrendamento! – cruzou as pernas – Claro que tudo isso devidamente documentado e lavrado em cartório!

 

--Hashtag Camilla detonando! – a vizinha apoiou

 

--Ninguém confia na senhora aqui! – Marta afirmou

 

--Acho bom aceitar, porque pode ir presa, visse? – Marcos ameaçou – A gente não esquece de sua patifaria nesse prédio!

 

Sibele não esperava ouvir aquilo. – Ave Maria, mas tudo isso é bem diferente do que eu pensava em negociar! – reclamou

 

--É pegar ou largar! – Camilla continuava firme – E a história de ir parar no xilindró ainda é real! – sorriu irônica

 

--Aff! – a ex síndica suspirou – Eu vou conversar com meu advogado, pensar... – considerou – Condições muito duras aqui.

 

--E se era só isso, -- a professora dava o assunto por encerrado – seu Genaro, pode concluir a ata que não temos mais o que tratar nessa reunião. – olhou para o homem – Estamos conversados? – levantou-se olhando para os demais

 

O grupo foi se dispersando e se preparando para subir para seus respectivos andares. Sibele aproximou-se de Camilla, que terminava de arrumar alguns documentos na pastinha do prédio, e a abordou falando em tom mais baixo. – A gente pode ter um particular?

 

--Nem pensar! – recusou de imediato – O que eu tinha pra conversar com a senhora já foi! – seguiu para perto do elevador

 

--Professora ganha mal, passa perrengue com aluno, cês tão pra entrar de greve... – a mulher insistiu – Quem não quer melhorar de vida? – piscou para a outra – As faculdade do governo andam numa merd* de fazer gosto! – comentou – Não seria bom se livrar dessas peitica?

 

--Boa noite pra senhora também. – entrou no elevador junto com dois vizinhos e apertou o botão do andar – “Mas será possível que até dona Sibele sabia dessa greve menos eu?” – pensou intrigada – “Ando tão lesada que não percebo mais nada? Por isso que maama bolou um plano, providenciou as coisas nem sei como, todo mundo sabia menos a patona aqui!” – concluiu – “Eu hein, Camilla, acorda pra vida!”

 

***

 

--Agora minha mãe passa bem. Tia Jasmine vai ficar uns tempos com ela no apartamento, do qual meu pai generosamente abriu mão. – comentou ironicamente – Acho que caiu a ficha que não adianta fazer essas coisas que aquele casamento já era e não tem mais volta!

 

--Assim espero! – prestava atenção ao que ouvia – Mas agora, o casal que precisa ser discutido somos nós. – olhava para a namorada – Você me cobrou uma decisão e depois de muito refletir sei exatamente o que vou fazer.

 

As duas mulheres conversavam na casa da professora.

 

--Já se tranquilizasse mais com dona Suhaila vivendo novamente em Triunfo? – a advogada perguntou nervosamente – E o robozinho, tem conseguido prestar atenção nela com ele? – sorriu – Elzira me disse que quando saiu de lá achou que as coisas tavam sob controle, mas não falou desse robô!

 

--Fiz um bate e volta no domingo passado, levei ele, maama protestou, praguejou, amaldiçoou o pobre mas aceitou. – riram brevemente – Tá com um delay danado mas é melhor do que nada.

 

--Será que da Suíça vai continuar dando pra ver as imagens dele? – Bianca arriscou

 

--Só vou descobrir depois que chegarmos lá. – a professora respondeu naturalmente

 

Bianca levantou-se do sofá e abriu a boca sem produzir som.

 

Fim do capítulo