Maama vive altos e baixos nas crises de ansiedade, assim como com as dores. Nos últimos dias novamente não tem me deixado dormir; às vezes até Elzira não dorme. Por mais que me esforce, isso me deixa impaciente e nervosa. Sempre que voltamos do centro maama fica melhor, mas logo passa o efeito positivo.

Bianca veio me procurar para pedir perdão depois daquela discussão por ciúmes de Elzira, mas vira e mexe ressuscita a história de que estou apaixonada pela prima. Relevo apenas porque as coisas com a família dela não estão fáceis. Barbara não deu mais notícias desde que chegou no Canadá e a mãe delas parece que perdeu o rumo.

Da mesma forma, soubemos que Xarid andava se embebedando e se apresentava como um mendigo pelas ruas da cidade, o que deixou maama ainda mais angustiada. Aproveitei o feriado de finados e fui sozinha para Triunfo querendo entender o que se passava com meu irmão.

 

--Então agora é assim que você vive? – Camilla abordava o homem largado em um banco de praça – Vai continuar com pena de si mesmo até quando? – sentou-se do lado dele – Abraçado com garrafa de pinga... – observou – Que fundo de poço, viu?

 

--Ave Maria, tá até fedido! – Yurem comentou ao se aproximar – Ficasse longe do chuveiro desde quando? – perguntou para o irmão

 

--Já é hora de parar de dar vexame, cabra! – Zyah falou ao parar ao lado de Xarid

 

--Humpf! – fez uma expressão contrariada – Viesse do Recife até aqui só pra vir pagar lição pra cima de mim, muié? – levantou-se de cara feia – Dispenso vocês tudo! – tropeçou -- Vão simbora! – desconjurou – Pestes! – falava com voz arrastada

 

A professora achou graça. -- Vim apenas porque maama tá em crise e pior ficou ao saber que um dos filhos se apresenta como um mendigo bêbado. – levantou-se também – Eu não sou mulher de dar viagem perdida e você vai conversar comigo. – olhava nos olhos -- Vamos pra sua casa. – falava com educada firmeza – Aí você toma um banho, faz a barba e veste roupas limpas.

 

--Você não manda em mim! – gesticulou e se afastou trocando as pernas – Quero saber de conversa não! – andava cambaleando

 

--Eu não disse, mana? – Zyah olhou para a mulher – Xarid não quer saber de conversa!

 

--Ninguém aqui tá pedindo. – Camilla afirmou observando o irmão cambalear – Ele vai pra casa com a gente agora!

 

***

 

--Puta merd*... – Xarid acordava se sentindo mal – Onde é que...? – olhou ao redor e se surpreendeu ao ver a irmã sentada em uma cadeira em frente a cama

 

--Poupando seu tempo de fazer perguntas: -- cruzou as pernas – pegamos você no lombo, te trouxemos pra sua casa a força e nossos irmãos te deram um banho daqueles. Yurem lutou pra fazer sua barba, mas deu pro gasto. – falava com seriedade – Fiz chá amargo e depois de beber você vomitou tudo que tinha direito. Aí te jogamos nessa cama, Yurem e Zyah foram embora e fiquei aqui esperando o belo adormecido acordar. – olhava para o homem

 

--Humpf! – passou a mão na cabeça e se espreguiçou – Você e a maldita mania de achar que pode se meter na vida de todo mundo! – reclamou de cara feia

 

Achou graça. – Se quiser reclamar, pegue a senha e entre na fila, habibi. Tô nem aí! – respondeu ironicamente – Mas como te disse, embora você nem lembre que tem maama, ela sofre por sua causa e eu não aceito ver isso! – afirmou enfática – Então me diz o que aconteceu e o que tá acontecendo, porque ultimamente você só tem se metido em histórias mal contadas!

 

--Te contar pra que? Como se você me ajudasse... – sentou-se na cama com dificuldade

 

--Não sou de passar na cara, mas... vamos lá: quando Ricky precisou operar e você caiu da moto, quem tava de frente pra resolver tudo fui eu! – Xarid abaixou a cabeça – As outras coisas que me pediu não passaram de futilidades e isso eu não banco! – respondeu com firmeza – Já bastou Elzira ter sido usada por você durante tantos anos pra satisfazer seus desejos e os caprichos de Aline Maria! – acusou – E falando nela, me explica essa história de separação porque custo a acreditar que sua ex mulher saiu daqui com menino, mala e cuia por causa de uma denúncia de assédio sexual! – prestava atenção no homem – Não que eu considere um motivo pequeno, muito pelo contrário, mas sei que infelizmente a maioria das mulheres atura muita coisa até chegar nesse ponto de ir embora! – pausou brevemente – Acho que atualmente, goste ou não, sou a única pessoa que você tem pra desabafar. A menos que queira que mais alguém saiba dos seus enroscos!

 

--Claro que não quero! – levantou a cabeça e gastou uns instantes calado – Eu fui pego como bode expiatório no trabalho... – esfregou as mãos nas pernas – Tinha uma garota do setor de Asseio e Conservação que o gerente vivia mexendo, bulindo e ela não fazia nada. Aí os outro colega acharo que podia fazer igual, não sabe? – contava – Um belo dia trocaram o gerente por uma gerenta e essa muié recebeu da ouvidoria todas queixa que o outro sentava em cima. – gesticulou – Lá no meio tava a queixa do assédio... – pausou brevemente – Então a gerenta decidiu curiar e num belo dia que eu tava sozinho no refeitório mais a garota, ela chegou. Aí me pegou pra pato, me esculhambou na frente da equipe inteira e me demitiu por assédio!

 

Estranhou o que ouviu. – Essa tal gerenta não teria feito isso se não tivesse visto ou ouvido você em situação comprometedora. – deduziu – Não me diga que você achou que já que todo mundo abusava, então podia abusar também e daí tava perturbando a colega em pleno refeitório?

 

--Ah... – passou a mão na cabeça – Eu só tava falando uns gracejo bobo... – admitiu – Coisa do bicho homi, não sabe?

 

Riu do absurdo. – Acho incrível como você justifica o fato de ser homem pra viver fazendo titica, ao contrário da criação que recebeu! – balançou a cabeça contrariada – Bem feito, macho alfa! Perdeu o emprego e ainda ficou mal falado na cidade!

 

--É assim que você quer me ajudar? – tentou se levantar mas não conseguiu – Dor de cabeça da porr*! – reclamou

 

Ignorou o protesto. -- E Aline Maria te deixou por causa disso, dessa história? – continuou questionando – O que é que tá por trás dessa separação, Xarid? – queria saber – Não me diga que ela descobriu sobre você e Elzira? – arriscou

 

--Deus que me livre! – benzeu-se – Minha história com Elzira tem que ser um segredo pra levar pra cova! – afirmou enfático -- Tá bom, Camilla, o que aconteceu foi o seguinte: -- decidiu falar de uma vez – tinha um colega do trabalho pra quem eu contava umas coisa de homi, ele sabia que eu tinha amante mas nem sonhava de saber quem era. Pensava que era muié de lá, do trabalho. – gesticulou – Agora ele tá saindo com uma garota que frequentava a cademia de Aline Maria e quando estourou a fofoca dos negócio de assédio, ela foi logo contar que eu tinha amantes. – fez cara feia – Aline Maria me botou contra a parede e preferi assumir que tinha uma ruma de amante no trabalho do que confessar que o tempo todo era só Elzira.

 

--E aí ela achou meio demais, foi embora e como a vida inteira você nunca soube viver sem mulher pra cuidar de suas coisas e lhe dizer o que fazer... – gesticulou – surtou e se danou por aí. – concluiu – Especialmente agora que até Elzira te deu um pé! – salientou -- Mas acho que já deu, né? Viver bebendo e perambulando pela cidade não vai te levar a lugar algum, se é que você ainda não percebeu! – reparava no irmão

 

--Eu não sei o que fazer, Camilla... – confessou – A coisa que eu mais tinha medo nessa vida era perder a muié e os menino... e foi justamente o que aconteceu...

 

--Pois eu vou te dizer o que fazer. E vou dizer uma vez só!  – debruçou-se sobre as próprias pernas – Saia dessa esparrela, procure emprego, se afaste de más companhias, evite farras e o mais importante: aproxime-se de maama! – olhava nos olhos – Ligue pra ela, demonstre que se importa e incentive nossos irmãos a fazer o mesmo! – aconselhou – Procure sempre por seus filhos, sem ficar se oferecendo pra voltar pra maama deles. E pague pensão pros garotos, sem ficar mendigando dinheiro! – falava com firmeza – Aí, talvez, te vendo mais maduro, Aline Maria poderá mudar de opinião e voltar pra você.

 

--Será? Você acha? – perguntou esperançoso – De repente os menino também podia convencer...

 

--Tome vergonha na cara, saia da adolescência de uma vez por todas e tente agir como um homem decente e pai de família! – levantou-se – Embora eu ache que você mereceu tudo que levou, não quero ver maama e nem os meninos sofrendo por causa de um bêbado de rua! – Xarid novamente abaixou a cabeça – Agora eu vou lá na dinda. – pegou a bolsa – Espero nunca mais ter o desprazer de te ver como o farrapo que vi hoje, porque se acontecer mais uma vez esqueça que tem família! – advertiu – Eu mesma vou fazer a cabeça de todo mundo pra te dar o desprezo! – ameaçou

 

--Vôti?! – arregalou os olhos e levantou a cabeça

 

--Estamos conversados. – caminhou até a porta do quarto – Sorte sua que Zyah deixou duas quentinhas pra você na geladeira. – avisou – Mas corre atrás, porque ninguém vai ficar fazendo comidinha pra você! – deu tchauzinho – Fui! – seguiu até a sala – “E só por maama eu mobilizei a família pra te tirar do ralo!” – pensava – “Não fosse Elzira e os meninos, eu jamais iria me preocupar em manter o seu segredinho, Xarid!” – abriu a porta da casa do outro e partiu

 

***

 

--Mãe, o que a senhora tem na cabeça, hein? – Bianca reclamava olhando para a mulher pelo retrovisor – Se colocar espontaneamente como refém de um centro de candomblé farsante? – estava revoltada

 

--Mas eu nem sabia que era refém! – Jade protestou – Só descobri isso na hora que a polícia chegou fazendo enxame! – passou a mão nos cabelos – No meu entendimento tava fazendo o tal ritual de deitar pra santa! – argumentou

 

--E tudo isso pra tentar fazer meu pai largar a amante? – questionou revoltada – A senhora tá depenando seu patrimônio com gente inescrupulosa a troco de nada! -- criticou

 

--Eu luto por essa família, minha filha, não faço coisas a troco de nada! – revoltou-se – E pare de me repreender na frente dos outros, visse? – referia-se a Camilla

 

Nos últimos tempos a mãe de Bianca andava peregrinando entre feiticeiros e ciganas picaretas na tentativa de “salvar” o casamento. Por agora, ela havia pago uma pequena fortuna para fazer um ritual em um falso centro de candomblé no bairro da Jaqueira.

 

--Ela se aperreia desse jeito porque podia ter acontecido algo de ruim com a senhora, dona Jade. – Camilla comentou enquanto dirigia – Vai que os trambiqueiros daquele falso centro, além de ladrões, fossem também psicopatas ou coisa do tipo? – olhou rapidamente para a outra pelo retrovisor

 

--Minha mãe não pensa nessas coisas! – Bianca retrucou cruzando os braços – Pra salvar meu pobre pai dos braços da amante malvada vale tudo, até colocar a cabeça a prêmio! – ironizou – Tive que sair do trabalho mais cedo, tirar você da Universidade e pra que? Pra atender um chamado da polícia que resgatou minha mãe como refém de um bando de farsantes! – gesticulou

 

Jade deu um suspiro profundo e nada respondeu.

 

***

 

--É por isso que eu não vejo a hora de sumir daqui! – Bianca andava de um lado a outro revoltada – Bem fez Barbara que meteu o pé e ligou o botão foda-se pra essa família louca! – passou a mão nos cabelos – Minha mãe tá se colocando em risco por nada e ainda tá torrando a reserva financeira que tem! – não se conformava – Fico de bexiga lixa com uma fuleiragem dessas!

 

--Eu posso imaginar, é uma situação muito chata. – Camilla observava a namorada circulando a ermo na sala do apartamento – E ela nem quis passar a noite aqui com você, né?

 

--Esperando pra ver se meu pai vai dormir em casa! – revirou os olhos – É revoltante!

 

--E é a decisão dela... – levantou-se – Quando estiver com a cabeça mais fria busque sua maama pra uma conversa. – aconselhou – Você não pode sair do país e deixá-la perdida como está. É capaz de fazer uma loucura!

 

--Ultimamente minha mãe só faz loucuras, amore! – cruzou os braços – Tá demais! – balançou a cabeça contrariada – E eu não tenho paciência pra aturar isso!

 

--Maama também faz coisas que me tiram do sério, como a mania de me chamar durante a noite e pedir pra levantar da cama e deitar de novo, tornar a levantar e tornar a deitar... Tem vezes que passamos horas só nisso, minha lombar vai pro saco e me sobram duas ou uma hora de sono efetivo. – contava – Eu fico louca, reclamo... é difícil... – suspirou – Mas é a minha maama! Assim como, apesar de umas maluquices, dona Jade é a sua maama. – aproximou-se da namorada – E esse fato não pode ser esquecido, minha linda!

 

--Não sou como você, habibem. – afastou-se e caminhou até a janela – Minha mãe fez as escolhas dela e eu as minhas. – virou-se de frente para a amada – Agora só falta você fazer as suas!

 

Camilla sentiu um incômodo frio na barriga ao ouvir aquilo.

 

***

 

--Camilla, bota os computador mode a gente ver a lista de casamento de Raimundinho! – Suhaila pediu

 

--Por favor, filha! – Leyna pediu – Lutfi me mandou o tal do link pelo zap mas eu bato no bicho e abre umas telinha que eu não entendo nada!

 

--Até eu fiquei curiosa com essa lista! – Elzira comentou excitada – Adoro essa coisa de casamento! -- suspirou

 

--Calma, meninas! – a professora chegava na sala trazendo o notebook – Aguardem mais dois minutinhos e vamos saciar essa curiosidade toda! – comentou bem-humorada enquanto posicionava o computador sobre a mesa – A senhora pode se sentar aqui, maama. – arrumou a cadeira – Dinda senta aqui pertinho e todo mundo vê a lista. – copiou o link no aplicativo e clicou

 

Elzira veio trazendo a tia que se acomodou na cadeira. Leyna também veio e se sentou ao lado da outra.

 

--E pode ver aí nos leptópi e sair pra curiar nas loja, filha? – Leyna perguntou curiosa – Aproveitar que tô aqui visitando vocês mode comprar, não sabe? No Recife tem muito mais as coisa que em Triunfo!

 

--Hoje em dia a pessoa compra pela internet, dinda. – Camilla preenchia algumas informações para acessar a lista – Aí a loja mesmo entrega no endereço que o casal registrou. – arregalou os olhos – Ave Maria!

 

--O que? – Elzira perguntou curiosa – Desconjuro! – arregalou os olhos também

 

--Ô, comadre, que doidiça é essa? – Suhaila perguntou escandalizada – Raimundinho vai casar e é os convidado que paga a conta? – olhou para a mulher – Vôti!

 

--E eu lá sabia disso? – respondeu de imediato – Camilla, procura aí pra ver se não tem coisa que uma cristã possa pagar! – pediu ao olhar para a afilhada – Quem dá conta disso aí?

 

--Dinda, olha, sei não... – mexia na barra de rolagem – O que eu vejo é isso aqui: -- começou a ler – cozinha planejada para 20 m2, quarenta mil reais, mobiliário de quarto completo, dezoito mil, smart room, dezesseis mil, banheira de hidromassagem jacuzzi wifi embutido, setenta e cinco mil... – balançou a cabeça abismada – O que tem de mais barato aqui é uma smart TV de 42” por cinco mil e lá vai fumaça! – acabou rindo – No way!

 

--Gente, quem será que vai ter dinheiro pra dar essas coisas? – Elzira perguntou abismada

 

--Ói, comadre, escuta aqui: -- Leyna tocou o braço de Suhaila – vamo no shopping amanhã e cada uma compra um joguinho de cama, pronto! – decidiu – Raimundinho parece até que endoidou-se, eu hein!

 

--Eu acho que vou comprar um joguinho de toalha. – Elzira sorriu sem graça – Ainda continuo meio tesa, não sabe?

 

--E eu vou dar uma panela, porque todo mundo precisa disso. – a professora falou – “Deus meu, quero só ver como vai ser esse casamento!” – pensou desconfiada

 

***

 

--Camilla do céu, eu te procurei hoje o dia inteiro! – Bianca entrava como um foguete na casa da outra – Onde se metesse que esse celular não dava sinal de vida! – reclamou – Liguei mais de mil vezes, mandei zap, SMS... – colocou a bolsa em cima da poltrona

 

--Pelo amor de Deus, fale baixo, criatura! – pediu quase aos sussurros – Hoje veio uma acupunturista aqui e maama tá dormindo como um anjo! Não quero que ela acorde, por favor! Elzira também tá dormindo. – fez sinal de silêncio – Meu celular deu problema e parou de funcionar logo que cheguei na Universidade. – justificou-se – Também recebi uns visitantes inesperados, dei várias aulas... Mas me diz, o que aconteceu? – olhava para a amada

 

--A OIT deu a resposta e eu fui selecionada! – respondeu rapidamente – E eles disseram que posso levar uma pessoa, seja quem for, que eles vão ajudar na obtenção do visto permanente e tals! – olhava nos olhos – Perguntei se relacionamento homoafetivo tava incluso nessas condições e a resposta foi sim! – falava com ansiedade – Diz que você vai comigo, Camilla? – pediu súplice – Até aumentaram meu prazo pra me estabelecer: me deram até março!

 

Camilla sentiu o coração acelerar. – Nossa, linda, eu... – não sabia o que fazer – Primeiro deixa eu te dar os parabéns! – abraçou-a – Você mereceu, não me surpreendo, muito pelo contrário! Só sinto orgulho!

 

Desvencilhou-se do abraço nervosamente. – Eu não quero parabéns, quero sua resposta! – cobrou – Por favor, Camilla, você tem toda condição de se estabelecer por lá! – insistiu

 

Passou a mão nos cabelos e andou um pouco pela sala. – É incrível como as coisas acontecem... – continuava falando baixo – Eu disse que recebi uns visitantes inesperados, não foi? – pausou brevemente – A Faculdade de Ciências da Universidade de Zurique se juntou com o Departamento de Tecnologia da Informação e Engenharia Elétrica da ETH e formaram o Institute of Neuroinformatics. – contava – Resumindo a história, fui convidada pra integrar o Sensors Group; primeiro como professora convidada e conforme for... como efetiva.

 

--Meu Deus, Camilla! – exclamou empolgada e logo se conteve no tom de voz – Será que você não vê? – segurou a namorada pelos braços – Tudo tá colaborando pra você ir comigo! – sorriu – Sua maama pode ficar aqui com Elzira, que tá engrenando no trabalho! Dona Rute ajuda! – deu um pulinho – Já que seu irmão se separou, se dona Suhaila quiser voltar pra Triunfo ele pode muito bem cuidar dela! E dona Leyna vai ajudar, além do fato de ter Zyah, Yurem e as famílias por perto!

 

--Bianca... – desvencilhou-se devagar – Eu me sinto tão dividida! – confessou – Não é fácil aceitar que você vá pra Suíça sozinha, mas é muito difícil deixar maama do jeito que está! Ela parece que nunca avança! Sempre que melhora vem uma recaída... – suspirou – Não me peça pra tomar uma decisão dessas assim e agora de supetão!

 

--Amore, eu te peço essa decisão desde que essa história toda começou e não foi aqui e nem agora! – caminhou até a poltrona e pegou a bolsa – Meu prazo é março, o seu é janeiro! – apontou para a professora – E chega de enrolação! – caminhou até a porta, abriu e foi embora

 

Camilla ficou parada no meio da sala sem saber o que fazer ou pensar.

 

***

 

--Queridas, cheguei! – a professora anunciou ao chegar em casa – Cadê todo mundo? – perguntou brincalhona

 

--Oi, Camilla. – Rute apareceu na sala – Sua mãínha tá lanchando na cozinha e Elzira tá tomando banho, não sabe?

 

--Vou dar um beijinho em maama e correr pro meu banheiro! Tô me sentindo imunda e também preciso de um bom banho! – seguiu até a cozinha – Oi, maama, como passou o dia? – beijou-lhe a testa e colocou a bolsa em cima de uma cadeira

 

--O de sempre: muita dor e o teu robô pistingo me seguindo por todo canto! – respondeu desanimada

 

--Hoje ela sofreu, visse? – Rute se aproximou – Não teve trégua na dor! – balançou a cabeça pensativa – E olhe que rezei o terço e mais dois Salve Rainha! – gesticulou

 

--Mas vai melhorar, se Deus quiser. – olhou entristecida para a mãe – “Tadinha, como sofre o meu bebê...” – pensou penalizada

 

--Ói, teve uns homi atrás de você. – Suhaila lembrou enquanto mastigava

 

--É verdade! – Rute lembrou-se também – Um vizinho chamado Valdo, seu Valdo. – olhava para a professora – Pediu pra você procurar por ele urgente e disse que tinha que ver com a bomba.

 

--Ah! Essa maldita bomba que vive dando problema! – revirou os olhos – Acho que vou logo atrás dele porque quando tomar banho vou querer paz!

 

--Camilla, olhe... – Rute ficou sem graça – Eu convidei umas senhora mode rezar sua mãínha... elas tão pra chegar... – sorriu encabulada – Não queria incomodar mas é porque o sofrimento de dona Suhaila me deixa num aperreio...

 

--Tudo bem, dona Rute, sem problema. – concordou – Deixa eu ir lá ver o que houve!

 

--Come primeiro, menina! – a mãe protestou – Chegasse do trabalho e fica de barriga vazia?

 

--Depois dessa fiquei até sem fome, maama. – passou a mão nos cabelos – Deixa eu ir lá. – deu tchauzinho – Inté! – saiu da cozinha

 

***

 

--E aí deu uns problema na bomba, dona Marta me chamou pra ver o que era e eu chamei um bombeiro das antiga que conheço desde os tempo de solteiro, não sabe? – Valdo contava a história – Ele até consertou a bomba, mas fiquemo aperreado porque a casinha da bomba reserva tava vazia. – olhava para a professora – Não fosse umas peça que ele tinha, nem sei se ia dar pra consertar hoje. – gesticulava – Será que dona Sibele roubou a bomba reserva? – perguntou curioso

 

--Acho que não. – lembrou-se de um detalhe – Venha comigo, por favor. – começaram a andar -- Depois que Pombinha se mudou e saiu levando aqueles enfeites de natal, dona Sibele mudou a fechadura da porta do almoxarifado e disse que ia deixar a bomba reserva lá dentro, porque tava pra fazer uma reforminha na casa de bombas. – contava a história – Eu até falei pra ela que não podia contar só com a bomba 01 – pegou o molho de chaves -- e ela falou que o pedreiro ia montar uma bomba de backup enquanto durasse a obra. – destrancou a porta do almoxarifado -- Aí depois não me liguei mais nisso. – abriu a porta – A bomba reserva deve estar aqui. – acendeu as luzes

 

--Mas logo que entrasse de síndica, vim aqui mais Marcos e nada de bomba! – retrucou ao entrar no local – Dona Sibele deve de ter roubado!

 

--Não, esse tipo de coisa não me parece do interesse dela. – Camilla vistoriava o almoxarifado – O que é isso? – após alguns minutos viu um imenso saco preto imprensado em uma prateleira – Ajuda a tirar isso daqui, por favor? – sentiu o peso – Vixe!

 

--Deixe puxar. – o homem pediu – Diacho pesado! – reclamou

 

Os dois puxaram com força diferentes extremidades do saco, fazendo-o cair no chão.

 

--Olha a bomba aí! – a morena apontou – Sabia que dona Sibele não teria interesse de roubá-la. – prestou atenção no saco – Só não sei porque ela escondeu a bomba atrás desse saco. – pôs as mãos na cintura – Ou se ela queria era esconder o saco e a bomba acabou esquecida! – considerou

 

--Pelo menos a bomba taí! – Valdo retirou o equipamento do lugar – Tá de noite, mas vou chamar meu menino mode instalar ela no lugar, não sabe? – olhou para a outra – Posso?

 

--Claro, por favor. – concordou de imediato – Enquanto isso vou ver o que diacho tem dentro desse saco! – abaixou-se e começou a tentar abri-lo – “Um monte de coisa pra fazer em casa, as amigas de dona Rute prestes a chegar e eu vendo essas pintingas!” – pensou – “Odeio condomínio!” – ao abrir o saco constatou o conteúdo e arregalou os olhos – “Ave Maria!” – fechou rapidamente

 

--E o que tem aí? – Valdo perguntou intrigado

 

--Um monte de cacareco. – levantou-se rapidamente – Tudo bem, seu Valdo, pode instalar a bomba reserva com seu filho. – disfarçava – Eu vou voltar pra casa porque ainda tenho muito a fazer e espero visitas.

 

O homem se despediu com a cabeça e partiu com a bomba nas mãos. A professora colocou o saco no lombo e saiu do almoxarifado fechando a porta rapidamente.

 

“E agora, que fim vou dar nisso aqui?” – pensou sem saber o que fazer – “Acho que vou jogar na caçamba de lixo lá fora!”

 

Nisso, cinco senhoras adentravam o hall do prédio acompanhadas por Rute.

 

--E essa é minha patroa. – apontou para a mulher – É a filha de dona Suhaila. – sorriu – Moça de família, prendada e uma filha exemplar! – elogiou. As mulheres sorriram e saudaram simpáticas

 

--Oi, boa noite. – a professora cumprimentou sorridente – Obrigada por virem orar por minha maama. – olhou para a cuidadora -- Dona Rute, pode subir com as senhoras que eu já vou. – ajeitou o saco nas costas – Daqui a pouco subo. – movimentou-se para se afastar – Oxe?! – sentiu um puxão inesperado

 

--Filha, a pontinha do saco se enganchou na perna do sofá... – uma das mulheres observou

 

Nisso o saco rasgou e uma diversidade de vibradores e p*nis de borracha de todos os tamanhos, cores e formatos rolaram pelo chão se espalhando por todas as partes.

 

--Minha Nossa Senhora! – Rute arregalou os olhos sem esperar pelo que via – Desconjuro!

 

“Ô, meu Pai Santo, e tinha que acontecer isso justo na frente delas?” – a professora pensou envergonhada – Não é o que as senhoras estão pensando! – tentava explicar

 

--Vixe! – uma das mulheres pegou do chão um p*nis com cabeça de porco – Misericórdia! – benzeu-se

Fim do capítulo