Boa tarde, leitoras! Esse capítulo se passa logo depois do último que foi narrado pela Júlia (ou seja, depois do capítulo 5 “Eu odeio você”). Espero que gostem!
Gostaria de dedicar esse capítulo para a Leidi Gonçalves, que está fazendo aniversário hoje, tudo de bom, querida, e muito obrigada pelo carinho e por estar sempre aqui!
Capitulo 7 – Emergindo
Algumas horas antes
Sofia
“Você pode não ter 35, ou 25 anos
Mas tem 18 e bebeu demais pra qualquer idade.
Então, se eu fosse você, tomaria isso com um suco de laranja quando acordar.
Beijos, Júlia.”
Reviro os olhos quando acordo e leio o bilhete que a Júlia tinha deixado em cima do meu criado mudo. Basta esse simples movimento para a minha cabeça inteira latejar de dor, puta que pariu.
Me levanto com dificuldade e caminho até o meu espelho. Eu tô um desastre, e a claridade que está aqui agora não me deixa mentir. A luz do dia atravessa as cortinas e invade o meu quarto. Nem sei por quantas horas dormi. Acho que o equivalente por uma vida inteira de sono e mesmo assim tenho vontade de deitar de novo e só acordar em outra vida. Uma bem menos complicada.
Meu biquíni secou no meu corpo e eu estou vestindo uma camiseta que não faço ideia de como veio parar em mim. Olho contrariada para o comprimido que ela havia deixado ao lado do bilhete. Infelizmente, acho que eu ia precisar dele.
Fragmentos dos últimos acontecimentos (incluindo a tarde de ontem) invadem a minha mente enquanto procuro algo mais descente para vestir:
A minha sensação de desamparo total depois da nossa briga. O fato de eu ter usado a festinha do meu irmão como desculpa pra poder extravasar e colocar para fora tudo o que tava sentindo... me castigando mais uma vez dando em cima daquele garoto que jamais me teria (por motivos óbvios). Aí ela aparece do nada e começa a dizer aquelas coisas, como se tivesse algum direito sobre mim depois de tudo... Meu Deus, como eu a odiava.
Sempre seria assim, ela me protegeria de todo o mau na sua melhor versão de madrinha protetora, o que me dá enjoo só de pensar.
Ela não fez aquilo por gostar de mim. Só agiu daquele jeito pra poder provar pra minha mãe, mais uma vez, que ela errou em não ter a deixado ser a minha madrinha. Era só essa dívida eterna e estúpida que elas teriam uma com a outra. Acho que sempre foi sobre isso, e sempre seria.
Por um momento... por um momento eu pensei que ela tinha passado a me ver de uma forma diferente, da mesma forma louca que eu venho me sentindo em relação a ela.
Enquanto a única prova que eu tinha tido disso era algo que ela me disse quando estava completamente bêbada.
Um sorriso amargo surge na minha boca. Eu tô cansada, cansada de me iludir tanto assim. De ir para as nuvens em um momento e bastar um segundo para me levar para o chão novamente e, a cada queda, tudo se tornar ainda mais difícil.
Era tão injusto. Eu não tinha escolhido isso. Não tinha escolhido nascer nessa família, ou ser a filha da minha mãe. Eu não tinha escolhido ela. A Júlia já estava presente desde o meu primeiro suspiro, quando eu não tinha absolutamente qualquer poder de escolha. Se pudesse mesmo escolher, escolheria sofrer por algo mais fácil, pelo menos, por algo mais possível, com certeza.
xxx
Minhas bochechas estão pegando fogo e o suor desce pelas minhas costas, por debaixo da camiseta. Mesmo assim, estou em êxtase, resultado da endorfina liberada no meu sangue após três partidas seguidas de vôlei de praia. Durante o ano, eu sempre acabo esquecendo o quão boa é essa sensação.
Tento não pensar que ano passado a Júlia tinha ido me ver jogar todos os dias. Assim como ela havia dito que faria esse ano, antes de tudo começar a dar errado entre nós duas e antes de eu estragar as coisas ou deixar com que ela arruinasse com todo o resto.
Pego a sacola de pano que deixei perto da quadra de areia improvisada e estendo a minha canga entre alguns guarda-sóis. Tiro o meu short de legging que uso para fazer exercícios, ou seja: quase nunca. Caminho na direção do mar até meus pés pisarem na areia gelada e o resquício de uma onda passar sobre eles.
Assim como a areia, a água está fria também, mas estou com tanto calor que não me importo. Passo a rebentação até ficar no fundo o suficiente para as ondas não quebrarem mais em mim e raso o suficiente pra os meus pés tocarem na areia, caso precisasse. Jogo as minhas pernas para cima e ergo o meu tronco para boiar. Olho para cima e uma imensidão azul parece me engolir. Aos poucos vou me acostumando com a claridade direta em contato com os meus olhos.
Estou imersa na água. Não ouço nada. Percebo que eu adorava aquilo. Me faz ter cinco anos de novo. Estou com os meus óculos de natação à procura das pulseirinhas da Júlia no fundo da nossa piscina. A minha brincadeira preferida do verão.
Ela dizia que jogava as suas próprias pulseiras porque tinha certeza que eu as traria de volta. Porque ela acreditava em mim desse jeito. Me lembro de um dia estar ficando sem ar, mas ainda faltava a última pulseira, a que a mãe dela tinha dado pelo seu aniversário de quinze anos. Essa era a mais importante de todas, a que valia mais pontos. Eu queria respirar, mas ao mesmo tempo a deixar orgulhosa.
"Você é mesmo a minha Sofish" ela diria quando me visse emergindo com todas as pulseirinhas na mão. Eu avisto a última. Meu coração se enche de felicidade. Vou nadando o mais rápido que posso para alcançá-la, até porque o meu ar está acabando e não tenho muito mais tempo.
O som agudo de um apito me desperta das minhas lembranças. Coloco os meus pés para o fundo novamente, mas não sinto nada em baixo deles, merd*.
Olho para a praia, ela tinha ficado pelo menos umas cinco vezes mais distante agora, fora que eu não parecia estar no mesmo lugar de quando entrei. Mas que droga, não sei como fui parar tão longe e em tão pouco tempo.
Começo a tentar me mover dali, afinal, eu nado na nossa piscina antes mesmo de saber formular frases. Não pode ser tão diferente aqui. Bato os pés enquanto dou algumas braçadas, mas quanto mais eu nado, mais parece que não saio do lugar. Não, pior do que isso, quanto mais me esforço para alcançar a praia mais tenho a sensação de estar sendo jogada para o mar aberto.
Começo a ficar cansada e ofegante de dar tantas braçadas e meu corpo vai cedendo. Minhas pernas se debatem na água até estar esgotada e nervosa o suficiente pra não conseguir mais pensar direito.
O meu corpo afunda.
A última pulseira está em cima do ralo da piscina e é tudo o que vejo. Me inclino para alcançá-la, mas algo puxa e prende o meu cabelo. Eu grito por ela e água entra pela minha garganta. Não consigo respirar, a pressão é quase insuportável sobre os meus pulmões.
Sinto o impacto de algo afundar na água, em minha direção, o que me dá motivos para tentar nadar até a superfície, uma última vez. Eu avisto algo laranja assim que meu corpo emerge depois de muito tempo. Me agarro a ele como se aquilo fosse tudo o que tivesse me restado. Sou envolvida pela sua espuma, cabelos loiros preenchem o meu campo de visão e respiro aliviada. Ela chegou a tempo, ela me salvou, de novo.
– Júlia? – É a primeira palavra que vem em minha mente.
– Não... O meu nome é Emma, olha: – Uma garota, que agora eu vejo que tem quase a minha idade, aponta para o seu uniforme e o que está escrito nele, aos poucos, vai me trazendo de volta para a realidade. – Sou Salva-Vidas, faço o monitoramento dessa região. Qual é o seu nome?
– Hum... – Dou um pigarro. A água salgada do pouco que engoli é o suficiente para arranhar a minha garganta. – Sofia... Sofia Maria.
Só estando entre a vida e a morte mesmo pra me levar a dizer o meu nome completo.
– Vem, vamos te levar para a praia. – Ela diz e sinto o meu corpo inteiro paralisar.
– Não, eu não consigo. – O meu trauma vivo dentro de mim me faz querer congelar.
– Ei, eu já te peguei, ok? Você não vai mais afundar. Você... você estava indo bem. Vi que sabe nadar. – Vejo que ela tenta me animar – Mas não ia conseguir nadando contra a corrente.
– Olha só... – Ela chama a minha atenção. – Eu vou nadar e nos levar para aquela direção. – Aponta para o lado esquerdo. – Aí sim, quando a gente conseguir escapar da força da corrente, vou começar a ir em direção à praia. – A sua voz calma me passa confiança, e relaxo um pouco. – Por que não me ajuda batendo os pés? Aposto que você consegue fazer isso. – Ela pisca os olhos para mim.
Ok, Sofia, não seja tão ridícula, não mais do que você já foi quase morrendo afogada na praia que você frequenta desde que tinha menos de um ano de idade.
Ela começa a me puxar por meio da boia laranja, nadando pela lateral, como me disse que faria. A garota realmente parece saber o que está fazendo, já que nos tira d’água em menos de um minuto.
Minha garganta ainda incomodada com a água salgada me faz tossir algumas vezes assim que chegamos na areia e sento na minha canga.
– Você engoliu água. Eu posso chamar os primeiros socorros e...
– Não. – Me adianto. – É que eu não quero criar ainda mais confusão com isso. – Tento me explicar. Nem imagino o que minha mãe faria se soubesse disso. – E acho que já passei vergonha o suficiente por hoje.
– Ei, Emma, está tudo bem? Quer que eu chame reforços? – Um rapaz mais ou menos da idade de Emma e vestindo o mesmo uniforme aparece atrás de nós acompanhado por mais um terceiro Salva-Vidas.
– Não... Está tudo sobre controle, ela vai ficar bem agora, né? – Ela lança um olhar para mim.
Concordo mexendo a cabeça.
Vejo que ela não para de olhar para a minha camiseta. Não sei se é pelo o que está escrito nela: “O mundo tem problemas maiores do que meninos que beijam meninos e meninas que beijam meninas” ou se era porque ela havia ficado basicamente transparente depois de molhada. Droga. Cruzo os braços contra o peito de maneira instintiva.
– Gostei da camiseta. – Ela se abaixa pra falar comigo com um sorriso no canto dos lábios. – Mas acho melhor cobrir isso aí. – Diz me entregando uma toalha do Corpo de Bombeiros e olhando para os seus colegas de trabalho atrás da gente.
Entendi, ela não se importava, mas se sentia incomodada por ver os meninos me olhando desse jeito.
– Obrigada. – Digo me enrolando no tecido que parece o melhor dos mundos agora.
– Você está bem mesmo? Não estava tentando se matar nem nada do tipo, né? – Ela pergunta ainda abaixada, para que só eu pudesse ouvir.
– Sim... quero dizer, sim, eu estou bem, e não, não estava tentando me matar, óbvio. Só... só estava tentando recriar aquela cena do clipe da Taylor Swift, sabe? Aquele em que ela está em alto mar se segurando em um piano para não afundar? – Tento aliviar a tensão, mas ela só levanta e me olha como se eu tivesse acabado de dizer que converso com macacos voadores ou algo do tipo.
Ótimo.
Tinha me esquecido que nunca fui muito bem compreendida por pessoas da minha idade. Aliás, por ninguém, só por ela.
– Eu acho que vou ficar aqui por mais algum tempo. – Digo.
Espremo os olhos para poder enxergá-la, os raios do fim do dia penetrando em minha retina. Ela soltou o cabelo depois que saímos da água, o que a deixou ainda mais interessante, se é que isso é possível.
Algo em seu rosto me parece tão familiar.
Não, eu não acho que ela se pareça com a Júlia, se é o que estão pensando.
– Você se importa que eu fique? – Pergunto.
– A praia é pública. – Ela me lança um sorriso. – Nós vamos estar bem ali. – Aponta para a casinha vermelho e amarela. – Caso precisar.
Fico ali sentada tentando recuperar o fôlego até os últimos feixes de luz serem levados pelo sol que desaparece no horizonte.
Bem, pelo menos a minha camiseta tinha secado, já tô no lucro.
Junto todas as minhas coisas e começo a caminhar na direção da casinha Salva-Vidas. Pela movimentação, acho que é o fim do turno deles. Passo pela Emma e vejo que trocou de roupa, está de regata branca e short jeans agora, super gata.
– Obrigada por isso. – Digo entregando a toalha pra ela. – E por ter salvado a minha vida, é claro.
– É o meu trabalho. – Ela é direta.
Ok, acho que não poderia ter sido mais seca.
Começo a caminhar quando a escuto atrás de mim.
– A Taylor Swift aí bebe alguma coisa? – Ela pergunta e deixo escapar um sorriso sem querer.
– Tá brincando? Você não viu como ela virou aquele copo no último Super Bowl? – Eu digo e a vejo sorrir de volta, finalmente se entregando às minhas tentativas de fazê-la rir.
Isso.
– Não é a primeira vez que isso acontece, na verdade. – Digo depois de estarmos acomodadas no banco acolchoado a prova d’água e estampado com flores tropicais.
Ela me trouxe para um dos três barzinhos que ficam perto da praia. Está tocando “Boys Don't Cry” de The Cure quando uma das funcionárias chega com o nosso pedido: duas Corona long neck e uma porção de batatas fritas. Eu não gostava muito de cerveja, pra ser sincera, mas decidi que não me faria mal dar uma variada de vez em quando.
– Primeira vez do quê? Que você tenta se afogar no mar? – Ela zomba e eu reviro os olhos.
– Eu sei que é o que deve estar parecendo agora, mas... não foi o que aconteceu, tá? Eu só ando um pouco distraída.
Tanto que se eu não me cuidar essa “distração” ainda vai me matar um dia.
– Tudo bem. – Ela responde pacientemente.
– Na verdade, não foi a primeira vez que quase morri afogada, foi o que eu quis dizer. A primeira foi quando eu tinha uns cinco anos, na piscina da minha casa. Eu estava brincando com a... – Limpo a garganta. – Uma conhecida da família, sabe? De buscar objetos no fundo da piscina, quando meu cabelo prendeu no ralo.
– Você teve muita sorte de ter acontecido com um adulto por perto, sabe quantos casos desses acabam em morte infantil por ano? Você se espantaria. Na nossa infância acontecia com bem mais frequência, mas ainda assim é algo mais comum do que se imagina.
– É... Sorte. – Jogo no ar e se faz um silêncio.
Estou dando um gole na minha cerveja quando vejo ela tirar uma latinha de metal de dentro da bolsa e pegar um pedacinho de papel seda.
– Você vai acender isso aqui? – Pergunto sem conseguir esconder o meu choque enquanto ela coloca a erva triturada no centro do papel e o enrola em seguida.
Se minha mãe visse isso provavelmente surtaria em três níveis diferentes.
– Acredite... – Ela diz fechando a seda com os lábios. – Ninguém se importa. Além do mais... eu sou a única Salva-Vidas daqui, acho que meio que mereço. – Ela o acende com seu isqueiro. – Você quer?
Aceno que não com a cabeça, meio sem jeito.
– Deixa eu adivinhar. Você nunca...
– Eu sou meio careta, eu sei. – Me adianto. – Você tem algum problema com isso? – Levanto uma de minhas sobrancelhas.
Ela me analisa um pouco enquanto assopra a fumaça.
– Nenhum.
Queria saber porque ela me olha tanto, mas ainda não sou capaz de decifrá-la a esse ponto.
– Quem é Júlia? – Ela pergunta de repente e eu quase pulo do banco com o seu nome.
– Oi?
– Foi do que você me chamou, não foi?
Ah, maravilha. Ainda teve isso.
– É o nome dos meus problemas, eu acho. – Desabafo em um sussurro enquanto estico a mão até a cestinha das batatas fritas, dizendo aquilo mais pra mim mesma do que pra ela.
– Amorosos? – Ela sonda.
O meu coração bate de forma descompassada. A olho com certa perplexidade.
O que a fez pensar que era disso que se tratava?
– Não. – Digo prontamente. – Eu diria que familiares, dependendo do ponto de vista.
– Ah... esses aí eu conheço bem. – Ela dá um longo gole em sua cerveja. – Sabe, desde que eu te vi, você não me pareceu estranha. A gente não se conhece de algum lugar? O que você costuma fazer? – Ela muda de assunto.
Ela também me achava familiar?
– Fora quase morrer afogada nas horas vagas? – Eu digo e ela ri.
Eu gosto da sua risada. É espontânea, sincera. E ela não tenta esconder que está se divertindo comigo, e eu meio que gosto disso.
– Eu... – Fico pensando em algo interessante para dizer. Algo que não envolva a Júlia, ou então a minha mãe e o “Sr. Perfeito". – Ando de bicicleta, tenho uma coleção de DVDs, trabalho em um Sebo e...
– Espera. – Ela me interrompe. – Você é a garota do Sebo do Imperador? A que me indicou uns filmes trashs? – Ela ri com satisfação.
– E você é aquela garota! – Falo com empolgação. Agora tudo fazendo sentido. Ela era Salva-Vidas, o que explica muito bem o seu bronzeamento impecável. – Você tem bom gosto. Acho que somos as únicas da nossa geração que ainda curtem esse tipo de coisa.
Era muito raro ver alguém da minha idade atrás de CDs ou DVDs, geralmente sempre iam lá pelos livros.
– No meu caso, eu diria que é mais por falta de outra opção mesmo. O nosso velho aparelho de DVD foi a única coisa que a minha mãe pareceu não se importar que eu levasse quando não me deixou muita opção além de sair de casa. E o dinheiro que eu ganho não é o suficiente para despesas extras como Streamings ou TV por assinatura, então...
Ela tinha sido expulsa de casa? A Emma faz a minha mãe parecer a melhor mãe do mundo, e me sinto meio culpada.
– Demais para alguém que acabou de conhecer? – Ela deve ter notado a cara de espanto que eu provavelmente não soube disfarçar.
– Não, eu só... Sinto muito que tenha passado por isso. Deve ser uma merd*.
– É uma merd* mesmo, mas está tudo bem. Já faz alguns anos, na verdade. – Ela diz e toma mais um gole da sua cerveja, seus pensamentos ficando distantes por um momento.
Anos? Ela não parece ser muito mais velha do que eu, talvez só uns dois anos a mais, no máximo. Ela saiu de casa ainda adolescente? Não consigo imaginar o quão difícil deve ter sido.
– Ainda não acredito que você trabalhe lá. Aquele lugar é o paraíso. – Percebo quando tenta mudar de assunto, de novo.
– É, mas você salva vidas, literalmente. Isso é bem mais empolgante, tenho certeza. – Entro no jogo dela, respeitando a sua vontade.
– Na verdade, não é tão emocionante como todo mundo pensa. Hoje mesmo tive que chamar a atenção de um moleque irritante umas mil vezes enquanto o pai dele estava no restaurante vendo tudo e não fazendo nada, vai ver achou que eu tinha cara de babá particular.
– Que babaca. – Eu falo e ela me olha com um olhar de admiração.
– O pior você nem sabe. – Ela continua. – O menino ainda teve a ousadia de me dizer que ia pedir pro pai me demitir porque eu não deixei ele entrar na água, acredita?
– E o que você disse?
– “Pede mesmo, por favor, eu quero ir pra casa.”
Nós gargalhamos alto assim que ela termina de dizer aquilo. Quanto mais eu a conhecia, maior se tornava o meu fascínio por ela.
Pela primeira vez, me sinto bem por estar com alguém da minha idade. No final das contas ela parecia me entender e eu não me sentia um completo peixe fora da água, que é o que geralmente acontecia quando eu conversava com alguém com menos de uns trinta anos.
– Essa é a parte que ninguém te conta. – Ela dá uma dragada em seu baseado e depois assopra a fumaça. – Pra ser sincera, você foi o acontecimento mais empolgante do meu dia.
A Emma me olha daquele jeito de novo, e sinto o meu coração bater num misto de entusiasmo e inquietação.
– Seu nome é Maria Sofia, né?
– Antes fosse. É Sofia Maria. – Reviro os olhos. – Acho que minha mãe tava cumprindo alguma promessa, só pode.
Ela ri de novo.
– É diferente...
– Por diferente você quer dizer horrível?
– Não, por diferente eu quero dizer legal mesmo. Mas se você não gosta... Que tal Sofi, então?
Sinto os meus batimentos falharem de novo. Vai ser sempre assim toda vez que ouvir algo que me faça lembrar dela?
Só tem uma pessoa que me chama assim, e eu ainda não estou pronta pra abrir mão disso. Na verdade, não sei se um dia eu estaria. É como se aquele pequeno espaço da minha vida pertencesse somente a ela, independentemente de qualquer coisa.
– É um pouco brega também. – Tento me esquivar.
– Maria?
Só Maria? Aquilo sim era algo novo. Diferente de tudo.
Nunca pensei que seria tão bom me sentir uma outra pessoa. Distante da tríade composta pela Júlia, Clóvis e minha mãe ou daquela ciranda triste que havia se tornado a minha vida, onde todos sairiam perdendo alguma coisa no final.
– Maria parece perfeito pra mim.
Fim do capítulo
Oooi minhas queridas!
Eu fiz tanta coisa nesses últimos dias que parece que a última vez que atualizei a história foi há semanas atrás, então já estava morrendo de saudade disso!
O que estão achando dessas duas juntas?
A entrada de Emma na história foi uma forma que eu encontrei de explorar algumas coisas que eu não poderia fazer de outra forma, então eu curti e estou curtindo muito me aprofundar nessa personagem.
Maaaas, quem me segue nas redes sociais sabe pra quem eu tô torcendo, mas vou reiterar: Se apeguem na Emma com moderação, porque a nossa Sofia já tem dona! Hahahaha
O próximo capítulo vai ser narrado pela Júlia, o que será que vem por aí???
Obrigada pela parceria diária, aqui e nas minhas redes sociais, vocês são incríveis e com certeza fazem qualquer esforço valer a pena!
Até o próximo capítulooo, não me abandonem!
Meu Instagram, pra quem quiser: @alinavieirag
OBS: Sei que estou devendo a resposta em alguns comentários e peço desculpas por isso, essa semana foi um pouco corrida e tive que dar prioridade em adiantar os capítulos, mas prometo responder assim que conseguir!
Feliz aniversário mais uma vez, Leidi!
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Elliot Hells
Em: 05/08/2024
Julia que se prepare, pq temos uma atacante no campo!
Sem cadastro
Em: 01/03/2024
Gostei muito de ler esse episódio, achei de uma sensibilidade e profundidade tremenda, esses sentimentos, os quais Sofia tem em relação a Júlia, chega a ser filosófico e dramático ao mesmo tempo. Por que, Sofia, após se chatear ainda mais ao lembrar como Julia se comportou na festa do seu irmão. -Faz uma análise de como ela agiu como se sentisse algo por ela, mas, desacreditada que seja verdade, apesar de num momento de porre, Julia ter confessado sentir alguma coisa.
Entretanto, cansada desses altos e baixos, em que ela cria a ilusão de que as coisas vão ser diferentes, que seus sentimentos serão correspondidos com a mesma intensidade.
Depois do bilhetinho deixando por Julia, que expressava cuidados para com ela, isso potencializa mais, porque ela está saturada da amiga a ver apenas alguém que necessita de proteção além da conta. E, também ela vê como se fosse uma disputa entre sua mãe e Julia. - Como se dissesse : "está vendo o que perdeu não me deixando ser madrinha de sua filha"? Algo desse tipo. - E o clímax do drama estão elucidada na fala de Sofia quando ela diz : " que não pediu para ser filha da mãe" e, ainda, que "Julia já estava presente desde o primeiro suspiro, antes que tivesse qualquer poder de escolha." foi muito poético, almatico, tocou fundo, sentir a imensidão do sofrimento de Sofia.- Que amor grandioso é esse?
Num determinado momento, ela diz odiar a Júlia, mas, por mais que ela tente não consegue- por que tudo faz lembrar dela. Isso está intrínseco, até mesmo, quando ela está boiando e acaba entrando numa corrente marítima, levando -a entrar em pânico - A lembrança de quando criança, Julia jogava as pulseiras na piscina para que ela as encontrasse, e ela as fazia com maior entusiasmo que dispunha, porque sempre admirou muito Julia, desde garotinha.
Muito satisfeita, viu? Adorei o POV de Sofia. Esperando agora o POV de Júlia para entender com maiores detalhes o o que vai nos pensamentos dela.
Valeu, Autora!
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Zanja45
Em: 29/02/2024
Olá, querida autora!
Fiz alguns questionamentos no episódio "Eu odeio você". Você escreveu uma nota justificando o motivo de ainda não ter respondido a algumas perguntas. Porém, quero agradecer a ti, pois me senti contemplada neste episódio "Emergindo" que esclareceu as minhas dúvidas quanto a sexualidade de Sofia e também sobre a inserção de Bruno, mesmo que ainda, intencionalmente ou não.
Até breve!
alinavieirag
Em: 01/03/2024
Autora da história
Oi querida!
Sim, eu vou tentar deixar mais claro ao longo dos capítulos a sexualidade das duas.
A da Sofia eu já defini desde o início (ela é lésbica), mas entendi a sua dúvida, realmente o capítulo "Eu odeio você" deixou algumas brechas, então quis esclarecer neste capítulo (até porque já tinha visto o seu comentário, só não tinha conseguido responder ainda!)
Até breve!
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Leidigoncalves
Em: 29/02/2024
Nossa que presente maravilhoso, ainda mais que teve um pouco mais de Ema kkk, sei que que você falou pra se apegar a ela com moderação, mas já é tarde de mais, ela merece uma viver uma linda história, claro que não com a Sophia kkk, mas que você coloque alguém muito especial na vida dela, quero muito saber como vai ser o desenvolver.
Não vejo a hora de Julia e Sophia se resolverem, infelizmente sei que vão passar um perrengue com a mãe da Sophia ????.
Adorei o capítulo de presente, muito obrigada mesmo, minha semana foi tão corrida que só consegui responder hoje, mas fiquei sabendo que foi inenarrável o prazer de ter lido esse capítulo maravilhoso bem no dia do meu aniversário.
Já tô ansiosa pelo próximo, bjs!
alinavieirag
Em: 01/03/2024
Autora da história
Aaaah, querida! Muito obrigada pelo comentário!
Quero muito conseguir dar um desfecho maravilhoso para Emma, pois ela merece tudo de bom mesmo!
Sim, também não vejo a hora de Sofia e Júlia juntas! E sim, a mãe da Sofia ainda vai dar muito trabalho hahaha
Aaaah, que bom que gostou do capítulo e da dedicatória, espero ter conseguido fazer jus a essa data tão importante!
Obrigada por estar sempre aqui e pelo carinho de sempre!
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patty-321
Em: 27/02/2024
Eita Sofia, vc quase vai pro outro lado. A Emma é super legal, mas quero ver o desenrolar do love entre Julia e Sofia. Bjs
alinavieirag
Em: 01/03/2024
Autora da história
Simm, adoro a Emma também, mas a Júlia tem prioridades nessa história e no meu coração! hahaha
Pode aguardar que você ainda vai ver muitoo de Sofia e Júlia juntas por aqui!
Muito obrigada por comentar! Bjs
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Brescia
Em: 26/02/2024
Boa noite bióloga.
Capítulo leve, fresco, delicado e com suas nuances. Adorei o papo, passou tão rápido que quando me dei conta já estava na última linha. Parabéns, como sempre, por capturar e nos transportar para um lugar mágico.
alinavieirag
Em: 01/03/2024
Autora da história
Boa tarde, querida!
Que lindo o seu comentário, fico imensamente feliz por ser capaz de te trazer essa leveza e frescor e por conseguir te transportar para esse lugar mágico!
Muito obrigada por estar aqui e por comentar!
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