Capitulo 6
ASTRID ESTAVA SENTADA NO CAFÉ & CONFORTO, enquanto observava seu laptop, vasculhando imperfeições em seu projeto. Jordan Everwood a havia tirado do sério, revirando os olhos e franzindo a boca com cada proposta que fazia. Isso a deixava irritada, o que a fazia revirar novamente seu projeto em busca de imperfeições.
Uma cadeira fora puxada ao lado dela, era Piper Delacorte.
- Flexionar a mandíbula assim não fará bem ao seu maxilar. – alertava ela, algo que certamente Astrid já sabia.
- Já sei disso, se for para relatar o óbvio por favor peço que saía, estou tentando trabalhar. – expressou de forma ácida, o que fez Astrid perceber que Piper rolou os olhos, mas se deteve em observar mais aquele olhar. A loira sentia que aquela mulher de madeixas brancas podia ler cada poro seu e molécula. Já havia conversado com Delilah e sabia que Piper tinha se formado em psicologia e Direito, então, sentia-se nua agora.
Mas diferente do que se passava na cabeça de Astrid, não eram os saberes herdados pela psicologia, bom, até eram esses saberes, contudo a outra sabia conhecia o olhar Astrid Parker de pânico. Piper já vira aquele olhar quando a outra experenciou o luto de Isabel Parker-Green e viu uma Astrid tentar e se esforçar constantemente para fazer a mãe sorrir por algo e não conseguiu fazer.
- Você não fracassou. – disse Piper de uma vez e foi olhada rapidamente por Astrid com uma expressão de interrogação. – Seu projeto. – tentou explicar Piper se nutrindo de suas experiências em analises de pessoas e o quanto conhecia Astrid. – Vi seu portfolio e o projeto que entregou ao Simon e se formos olhar de uma forma geral, você não fracassou, você está entregando o que o Simon acha que é certo para Everwood.
- Acha que é o certo? – perguntou Astrid ainda sem entender o que a outra queria dizer, mas ouvindo nitidamente as palavras “você não fracassou”.
Bingo! A mulher a estava analisando, pensava Astrid.
Astrid escutou Piper suspirar e retomar a fala.
- Você trabalha e dá muito duro Astrid, cobra muito de si mesmo um perfeccionismo que sabemos que não existe, que por vezes a simetria está na assimetria das coisas. Partindo desse ponto, a Pousada Everwood está passando por problemas financeiros e precisará da sua ajuda para se reerguer, isso é literalmente um pedido de salvamento. Você sabe que a pousada é um símbolo de Bright Falls, há uma herança histórica incrível, não acredito só na parte do fantasma da Dama Azul, mas todo o romance por trás da história. Aquela pousada significa muito para todos nós e a Jordie só está tentando dizer isso para você. Que talvez assim, não seja possível encontrar mais de Everwood. – enquanto Piper continuava Astrid a escutava com atenção. – Peço para que converse com ela, afinal é sua chefe de carpintaria e vocês duas precisam se entender e resolver. Mergulhe nos encantos de Everwood, Parker e deixe se envolver.
- Você está dizendo isso baseado na sua análise que acabou de fazer sobre mim, enquanto me observava? – quis saber Astrid em tom defensivo.
- Não, não estou baseando isso em uma análise, mas o quanto eu lembro de você na nossa infância e certamente você ainda se cobra bastante. – Astrid escutou aquelas palavras como um soco no estomago.
Quando terminou a sua descrição, Astrid sentiu a mão de Piper por cima da dela e um calor estranhou passou por seu peito e aquele aperto, soco e sensação de fracassar haviam se dissipado. Até mesmo a cobrança parecia algo pequeno agora.
- Eu entendo o que quer dizer, - tornou a loira. - apenas não compreendia aquela aspereza toda da Senhorita Everwood, ela podia ao menos ter falado e evitado toda aquela tensão. – a loira se referia a Jordan agora.
- Eu sei, já conversei com ela e Jordie está alertada sobre isso. Você sabe da lenda da dama azul?
Astrid apenas contou que sabia que havia morrido em um dos quartos da pousada. Enquanto isso, ela escutou a mais alta contar que a história do fantasma de Alice Everwood era muito mais do que uma história de assombração ou fantasmas, mas sim sobre amor.
Conta a lenda que a jovem Everwood, na flor dos seus 18 anos, teria descoberto que seu amado estava noivo de outra e passou a nunca mais sair de casa, sempre usando um pingente com uma pedra lápis-azúli de um tom intenso no pescoço. Dessa descoberta, contava a lenda que Alice gostava de tomar um pouco de ar fresco e observar as estrelas, enquanto refletia sobre o seu amor perdido. Devido a isso, na flor da sua idade, aos 23 anos, faleceu de tuberculose e se tornado a dama-azul de Everwood. Por essa grande razão o programa de Natasha Rojas, o Pousada Adentro, tinha se interessado pela história.
Escutar aquela história sempre trazia grande reflexão para Astrid e até mesmo para a Piper. A design pensou que talvez no fundo a outra poderia estar certa e ela deveria tentar uma trégua e conversar com Jordan Everwood. Aquele lugar era especial para ela também, sobretudo, gostaria de entregar algo a altura para a gentil Prudence.
Aquilo fez com que Astrid e Jordan trabalhassem juntas quanto a questão do design e a deixava cada vez mais ocupada. Pesquisa e novos tons eram atribuídos as paredes, bem como conseguiu com que Jordan pudesse revitalizar alguns dos móveis da antiga Pousada sem interferências ou tensões entre elas. Se pegava muitas vezes até tarde na Pousada Everwood, o que acabava jantando por lá mesmo, de vez em quando até ajudou Piper com a comida para os residentes dali e muitos ficaram surpresos com ambas cozinhando juntas.
Aqueles momentos de comemoração, compartilhamento e amizade se tornava especial para Astrid, não acreditando que no tempo de adolescência as duas implicavam tanto uma com a outra. Embora que ao mesmo tempo a deixava confusa.
Quando terminaram de jantar e lavar a louça, Astrid encontrou Piper sentada no antigo quarto de Alice Everwood acompanhada de Freud, com o olhar que ela conhecia bem e seu coração desabou em orgulho. Ela estava no ramo a dez anos e conhecia muito bem aquele olhar, o olhar de amor, de estar satisfeita.
- O que achou? – quebrou o silêncio e tirou Piper dos seus pensamentos.
- É lindo! – vocês fizeram um belo de um trabalho. – está totalmente incrível, Parker. Você e Jordie são incríveis juntas.
- Eu também achei que ficou perfeito, há simetria em toda a assimetria. – relembrou da frase da outra, o que fez ambas sorrirem de forma cúmplice.
- É bom ver você relaxada de novo. – Astrid recebia o olhar de Piper, não era só um olhar de admiração, orgulho ou satisfação, parecia algo mais que ela não soube descrever, mas estava curiosa.
Freud foi até ela para dar uma lambida na mão e ela rapidamente já sabia que o garotão desejava um carinho e assim retribuiu. Ambas decidiram se sentar no chão daquele quarto, com o border collie entre elas, acariciando sua pelagem sedosa e suavemente Astrid sentia um roçar de dedos se encontrarem, mas não ligou, estava compenetrada em contar as últimas para a mulher a sua frente.
- Graças a conversa que você deve ter tido, Jordan e eu nos resolvemos e decidimos por trabalhar juntas. – contava para a outra tudo o que estavam tramando. – Como estávamos nas primeiras filmagens e toda aquela tensão pairava de uma forma horrível, resolvi conversar com ela, sentamos durante um dia inteiro, reorganizamos os projetos. Os tons, trabalhei com ela de forma incansável e foi aí que decidi compartilhar os créditos de design com ela. – A revelação de Astrid, deixava Piper surpresa.
- Uau! Então vocês irão dividir o crédito de design e o que a Natasha Rojas achou disso tudo?
- Primeiro ela não achou nada bom, queria a tensão que estava ocorrendo, mas depois que ela viu o novo projeto e como estávamos trabalhando juntas era um tempero especial. – Astrid explicava. – O fato da tensão ter acontecido e também aquele olhar preocupado do design com o melhor para o seu cliente, foi o que a capturou. Natasha Rojas viu algo que a muito não encontrava em design com anos de profissão nas costas.
- E o que ela viu? – Astrid olhava para aqueles olhos azuis curiosos e empolgados com a sua história, sentia-se como uma narradora.
- O amor, humildade e o comprometimento em deixar o cliente mais do que feliz, sobretudo, deslumbrado e apaixonado com o resultado da reforma. Aquele olhar que vi você fazendo à pouco com o resultado desse quarto da dama-azul. – Astrid olhava ao redor admirando a luz adentrar da lua tocar e se espalhar nos vitrais que davam um tom azul e da mais pura tranquilidade ali.
- Quer dizer que a Natasha Rojas achou melhor esse tempero do que somente intrigas e tensões?
- Sim, embora dê audiência, ela encontrou nesse momento tudo. Teve a tensão, bem como o reconhecer e ponderar e mais ainda o trabalhar em equipe e é isso que devemos aprender. – Astrid respondeu. – E também não é bom ter alguma picuinha com o chefe da carpintaria ou pode dar o troco em você.
As garotas estavam rindo quando a porta do quarto da dama-azul, Alice Everwood fechou com tudo fazendo os três corpos se assustarem de uma vez só.
- Parece que Alice Everwood está bronqueando a gente por estarmos fazendo algazarra no seu quarto tão tarde da noite.
- Com toda certeza está. – concordou Astrid com a outra e passaram a sair dali.
Fim do capítulo
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